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Fatores Associados aos Transtornos Mentais Comuns em Caminhoneiros

Resumo

Este estudo objetivou identificar os fatores de risco dos Transtornos Mentais Comuns (TMC) em uma amostra de 565 caminhoneiros brasileiros. Para a coleta de dados, foram utilizados o Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), Subescalas da Escala de Riscos Psicossociais e questionários sociodemográfico, laboral e de estressores ocupacionais. Os resultados obtidos por meio da análise de Regressão Logística Binária Multivariada explicaram 39,9% das variações dos TMC. A variável preditora de maior impacto foi o estressor ocupacional jornada de trabalho que implicou em um aumento de 5,41 vezes mais chance do caminhoneiro apresentar TMC. Os resultados sugerem ações por parte dos gestores quanto à organização do trabalho e por parte do poder público no que diz respeito às condições externas de trabalho.

Palavras-chave:
transtornos mentais comuns; caminhoneiros; saúde ocupacional; fatores de risco; estressores ocupacionais; análise de regressão logística binária multivariada

Abstract

This study aimed to identify the risk factors of Common Mental Disorders (CMD) using a sample of 565 Brazilian truck drivers. For data capture were applied the Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), Scale subscale of Psychosocial risks and questionnaire with socio-demographic, working and occupational stressors. The results obtained by multivariate binary logistic regression analysis, have explained the 39.9% of variation on CMD. The occupational stressor working hours is the predictor variable with highest impact, may implying in an increase of 5.41 times more chance of the trucker to present CMD. The results indicate actions by management level as work organization and public authorities with regard to the external work conditions.

Keywords:
common mental disorders; truck drivers; occupational health; risk factors; occupational stressors; multivariate binary logistic regression analysis

Os Transtornos Mentais Comuns (TMC) são classificados como um quadro de sofrimento psíquico de natureza não psicótica e multidimensional, devido à coexistência de várias sintomatologias e constituem um grupo de problemas de saúde mental frequente na população, que acarreta sofrimento e prejuízos funcionais (Goldberg & Huxley, 1992Goldberg, D., & Huxley, P. (1992). Common Mental Disorders: A bio-social model. Routledge. https://doi.org/10.1002/smi.2460080416.
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). Os autores definem os TMC como transtornos somatoformes de ansiedade e depressão, compreendendo os sintomas de insônia, fadiga, exaustão, negligência, diminuição da libido, perda de apetite, humor deprimido, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração, queixas somáticas e inespecíficas.

Os TMC causam perdas consideráveis no funcionamento e na saúde do indivíduo (World Health Organization [WHO], 2017World Health Organization. (2017). Depression and other common mental disorders: Global health estimates. Division of Mental Health. http://www.who.int/mental_health/management/depression/prevalence_global_health_estimates/en/
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) e indicam grande probabilidade de absenteísmo nas atividades laborais e redução de produtividade (Reichenheim et al., 2014Reichenheim, M. E., Moraes, C. L., Lopes, C. S., & Lobato, G. (2014). The role of intimate partner violence and other health-related social factors on postpartum common mental disorders: A survey-based structural equation modeling analysis. BMC Public Health, 14(427), 1-14. https://doi.org/10.1186/1471-2458-14-427
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; WHO, 2017World Health Organization. (2017). Depression and other common mental disorders: Global health estimates. Division of Mental Health. http://www.who.int/mental_health/management/depression/prevalence_global_health_estimates/en/
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), representando um alto custo social e econômico (Fonseca & Carlotto, 2011Fonseca, R. M. C., & Carlotto, M. S. (2011). Saúde mental e afastamento do trabalho em servidores do judiciário do Estado do Rio Grande do Sul. Psicologia em Pesquisa, 5(2), 117-125. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-12472011000200004
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; Goldberg & Huxley, 1992Goldberg, D., & Huxley, P. (1992). Common Mental Disorders: A bio-social model. Routledge. https://doi.org/10.1002/smi.2460080416.
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; Ludermir & Melo Filho, 2002Ludermir, A. B., & Melo Filho, D. A. D. (2002). Condições de vida e estrutura ocupacional associadas a transtornos mentais comuns. Revista de Saúde Pública, 36(2), 213-221. https://doi.org/10.1590/S0034-89102002000200014
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). A identificação dos TMC em trabalhadores pode impedir afastamentos por longos períodos e reduzir custos (Stansfeld et al., 2011Stansfeld, S. A., Fuhrer, R., & Head, J. (2011). Impact of common mental disorders on sickness absence in an occupational cohort study. Occupational & Environmental Medicine, 68(6), 408-413. https://doi.org/10.1136/oem.2010.056994
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).

O número de pessoas acometidas por TMC vem aumentando consideravelmente nos países de baixa renda, devido ao crescimento da população e ao aumento da expectativa de vida (Nunes et al., 2016Nunes, M. A., Pinheiro, A. P., Bessel, M., Brunoni, A. R., Kemp, A. H., Benseñor, I. M., & Schmidt, M. I. (2016). Common mental disorders and sociodemographic characteristics: Baseline findings of the Brazilian longitudinal study of adult health (ELSA-Brasil). Revista Brasileira de Psiquiatria, 38(2), 91-97. https://doi.org/10.1590/1516-4446-2015-1714
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; WHO, 2017World Health Organization. (2017). Depression and other common mental disorders: Global health estimates. Division of Mental Health. http://www.who.int/mental_health/management/depression/prevalence_global_health_estimates/en/
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). Os TMC podem estar associados às características demográficas, condições de vida, estrutura de trabalho (Ludermir & Melo Filho, 2002Ludermir, A. B., & Melo Filho, D. A. D. (2002). Condições de vida e estrutura ocupacional associadas a transtornos mentais comuns. Revista de Saúde Pública, 36(2), 213-221. https://doi.org/10.1590/S0034-89102002000200014
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) e estressores ocupacionais (Carlotto et al., 2015Carlotto, M. S., & Câmara, S. G. (2015). Prevalence and risk factors of common mental disorders among teachers. Revista de Psicología del Trabajo y de las Organizaciones, 31(3), 201-206. https://doi.org/10.1016/j.rpto.2015.04.003
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; Carlotto & Câmara, 2015Carlotto, M. S., & Câmara, S. G. (2015). Prevalence and risk factors of common mental disorders among teachers. Revista de Psicología del Trabajo y de las Organizaciones, 31(3), 201-206. https://doi.org/10.1016/j.rpto.2015.04.003
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; Fonseca & Carlotto, 2011Fonseca, R. M. C., & Carlotto, M. S. (2011). Saúde mental e afastamento do trabalho em servidores do judiciário do Estado do Rio Grande do Sul. Psicologia em Pesquisa, 5(2), 117-125. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-12472011000200004
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). São muito investigados em trabalhadores, pois causam absenteísmo, incapacidade para o trabalho e aposentadoria precoce e podem ser considerados um problema de saúde pública, devido às altas prevalências encontradas (Silva-Junior & Fischer, 2014Silva-Junior, J. S. D., & Fischer, F. M. (2014). Adoecimento mental incapacitante: Benefícios previdenciários no Brasil entre 2008-2011. Revista de Saúde Pública, 48(1), 186-190. https://doi.org/10.1590/S0034-8910.2014048004802
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).

No Brasil, investigações revelam que sua prevalência tem se associado ao sexo feminino (Carlotto et al., 2015Carlotto, M. S., & Câmara, S. G. (2015). Prevalence and risk factors of common mental disorders among teachers. Revista de Psicología del Trabajo y de las Organizaciones, 31(3), 201-206. https://doi.org/10.1016/j.rpto.2015.04.003
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; Nunes et al., 2016Nunes, M. A., Pinheiro, A. P., Bessel, M., Brunoni, A. R., Kemp, A. H., Benseñor, I. M., & Schmidt, M. I. (2016). Common mental disorders and sociodemographic characteristics: Baseline findings of the Brazilian longitudinal study of adult health (ELSA-Brasil). Revista Brasileira de Psiquiatria, 38(2), 91-97. https://doi.org/10.1590/1516-4446-2015-1714
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; Rodriguez-Lopez et al., 2016Rodriguez-Lopez, M., Arrivillaga, M., Holguín, J., León, H., Ávila, A., Hernández, C., & Rincón-Hoyos, H. G. (2016). Perfil del paciente hiperfrecuentador y su asociación con el trastorno ansioso depresivo en servicios de atención primaria de Cali, Colombia. Revista Peruana de Medicina Experimental y Salud Publica, 33(3), 478-488. https://doi.org/10.17843/rpmesp.2016.333.2335
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; Silva et al., 2017Silva, J. L. L. D., Moreno, R. F., Soares, R. D. S., Almeida, J. A., Daher, D. V., & Teixeira, E. R. (2017). Prevalência de transtornos mentais comuns entre trabalhadores marítimos do Rio de Janeiro. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, 9(3), 676-681. https://doi.org/10.9789/2175-5361.2017.v9i3.676-681
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), idade menor (Carlotto & Câmara, 2015Carlotto, M. S., & Câmara, S. G. (2015). Prevalence and risk factors of common mental disorders among teachers. Revista de Psicología del Trabajo y de las Organizaciones, 31(3), 201-206. https://doi.org/10.1016/j.rpto.2015.04.003
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; Nunes et al., 2016Nunes, M. A., Pinheiro, A. P., Bessel, M., Brunoni, A. R., Kemp, A. H., Benseñor, I. M., & Schmidt, M. I. (2016). Common mental disorders and sociodemographic characteristics: Baseline findings of the Brazilian longitudinal study of adult health (ELSA-Brasil). Revista Brasileira de Psiquiatria, 38(2), 91-97. https://doi.org/10.1590/1516-4446-2015-1714
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), raça negra, estado civil separado ou viúvo, baixa escolaridade (Ludermir & Melo Filho, 2002Ludermir, A. B., & Melo Filho, D. A. D. (2002). Condições de vida e estrutura ocupacional associadas a transtornos mentais comuns. Revista de Saúde Pública, 36(2), 213-221. https://doi.org/10.1590/S0034-89102002000200014
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; Nunes et al., 2016Nunes, M. A., Pinheiro, A. P., Bessel, M., Brunoni, A. R., Kemp, A. H., Benseñor, I. M., & Schmidt, M. I. (2016). Common mental disorders and sociodemographic characteristics: Baseline findings of the Brazilian longitudinal study of adult health (ELSA-Brasil). Revista Brasileira de Psiquiatria, 38(2), 91-97. https://doi.org/10.1590/1516-4446-2015-1714
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) e renda (Nunes et al., 2016Nunes, M. A., Pinheiro, A. P., Bessel, M., Brunoni, A. R., Kemp, A. H., Benseñor, I. M., & Schmidt, M. I. (2016). Common mental disorders and sociodemographic characteristics: Baseline findings of the Brazilian longitudinal study of adult health (ELSA-Brasil). Revista Brasileira de Psiquiatria, 38(2), 91-97. https://doi.org/10.1590/1516-4446-2015-1714
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; Silva et al., 2017Silva, J. L. L. D., Moreno, R. F., Soares, R. D. S., Almeida, J. A., Daher, D. V., & Teixeira, E. R. (2017). Prevalência de transtornos mentais comuns entre trabalhadores marítimos do Rio de Janeiro. Revista de Pesquisa: Cuidado é Fundamental Online, 9(3), 676-681. https://doi.org/10.9789/2175-5361.2017.v9i3.676-681
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).

Notoriamente, o contexto do trabalho frequentemente passa por diversas alterações. No caso, a categoria profissional de caminhoneiro passou por mudanças significativas desde 2012. A profissão, caracterizada por jornadas extensas de trabalho, alta exigência no cumprimento dos prazos de entrega, ausência de pausas para descanso, horário irregular de trabalho, trabalho noturno, hábitos de alimentação não saudáveis (Alessi & Alves, 2016Alessi, A., & Alves, M. K. (2016). Hábitos de vida e condições de saúde dos caminhoneiros do Brasil: Uma revisão da literatura. Ciência & Saúde, 8(3), 129-136. https://doi.org/10.15448/1983-652x.2015.3.18184
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; Apostolopoulos et al., 2016Apostolopoulos, Y., Sönmez, S., Hege, A., & Lemke, M. (2016). Work strain, social isolation and mental health of long-haul truckers. Occupational. Therapy in Mental Health, 32(1), 50-69. https://doi.org/10.1080/0164212X.2015.1093995
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; Cavagioni et al., 2009Cavagioni, L. C., Pierin, A. M. G., Batista, K. D. M., Bianchi, E. R. F., & Costa, A. L. S. (2009). Health problems, hypertension and predisposition to stress in truck drivers. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 43(SPE2), 1267-1271. https://doi.org/10.1590/S0080-62342009000600021
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; Van der Beek, 2012Van der Beek, A. J. (2012). World at work: Truck drivers. Occupational & Environmental Medicine, 69(4), 291-295. https://doi.org/10.1136/oemed-2011-100342
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), elevado consumo de bebidas alcoólicas e drogas inibidoras do sono e a alta prevalência de acidentes de trânsito (Mir et al., 2012Mir, M. U., Khan, I., Ahmed, B., & Razzak, J. A. (2012). Alcohol and marijuana use while driving an unexpected crash risk in Pakistani commercial drivers: A cross-sectional survey. BMC Public Health, 12(145), 1-7. https://doi.org/10.1186/1471-2458-12-145
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) passou a ser regida por uma lei específica, visando à melhoria das condições laborais desses profissionais.

As mudanças iniciaram com a implantação da Lei do Motorista, a 12.619, em 2012, e, em 2015, em nova versão, a Lei 13.103. Esta prevê uma jornada de trabalho flexível (até 12 horas), pontos de parada, horários de refeição, interstício, hora extra e espera. Também foi incluído o exame toxicológico na renovação da Carteira Nacional de Habilitação (CNH), admissão e demissão quando empregado, estabelecendo assim uma nova relação do caminhoneiro com o seu trabalho, que anteriormente era regida pelo artigo 62 da Consolidação das Leis Trabalhistas, que não previa a fixação de horário laboral.

A atividade de conduzir um caminhão foi associada a sintomas de estresse, ansiedade, síndrome de burnout, sofrimento psicológico, abuso de substâncias, depressão e outros distúrbios psiquiátricos (Apostolopoulos et al., 2010Apostolopoulos, Y., Sönmez, S., Shattell, M. M., & Belzer, M. (2010). Worksite-induced morbidities among truck drivers in the United States. AAOHN Journal, 58(7), 285-296. https://doi.org/10.3928/08910162-20100625-01
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). Krueger (2013Krueger, G. P. (2013). Health and wellness for commercial truck, bus and motorcoach drivers: Wellness report. American Society of Safety Engineers.) refere que a ocupação profissional do caminhoneiro é prejudicial ao bem-estar destes trabalhadores, devido à forma como o trabalho se constitui e se organiza.

Estudos realizados com essa população apontaram uma variação de prevalência de 6,1% (Ulhôa et al., 2010Ulhôa, M. A., Marqueze, E. C., Lemos, L. C., Silva, L. G. D., Silva, A. A., Nehme, P., & Moreno, C. R. D. C. (2010). Distúrbios psíquicos menores e condições de trabalho em motoristas de caminhão. Revista de Saúde Pública, 44(6), 1130-1136. https://doi.org/10.1590/S0034-89102010000600019
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) a 33% (Cavagioni et al., 2009Cavagioni, L. C., Pierin, A. M. G., Batista, K. D. M., Bianchi, E. R. F., & Costa, A. L. S. (2009). Health problems, hypertension and predisposition to stress in truck drivers. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 43(SPE2), 1267-1271. https://doi.org/10.1590/S0080-62342009000600021
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) de TMC. Os fatores que se associaram aos TMC no estudo de Ulhôa et al. (2010Ulhôa, M. A., Marqueze, E. C., Lemos, L. C., Silva, L. G. D., Silva, A. A., Nehme, P., & Moreno, C. R. D. C. (2010). Distúrbios psíquicos menores e condições de trabalho em motoristas de caminhão. Revista de Saúde Pública, 44(6), 1130-1136. https://doi.org/10.1590/S0034-89102010000600019
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) foram a alta demanda psicológica, o baixo apoio social e o estressor jornada extensa de trabalho. Referir cansaço, diminuição da concentração, considerar-se estressado, ter problemas pessoais ou no trabalho e transportar cargas em que a pressão por horário é constante foram os fatores associados aos TMC no estudo de Cavagioni et al. (2009Cavagioni, L. C., Pierin, A. M. G., Batista, K. D. M., Bianchi, E. R. F., & Costa, A. L. S. (2009). Health problems, hypertension and predisposition to stress in truck drivers. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 43(SPE2), 1267-1271. https://doi.org/10.1590/S0080-62342009000600021
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).

Estudos indicam que a organização do transporte rodoviário pode afetar a saúde mental destes trabalhadores (Bigelow et al., 2012Bigelow, P. L., Betts, D., Hogg-Johnson, S., Anick, B.C., Sieber, W. K., Skinner, M., & Jakubicek, P. (2012). Health, safety, and wellness of truck drivers in Canada. In freight demand modeling: Tools for public-sector decision making, Summary of a conference (Vol. 40; pp. 95-105). Transportation Research Board.; Lemke et al., 2015Lemke, M., Hege, A., Perko, M., Sönmez, S., & Apostolopoulos, Y., (2015). Work patterns, sleeping hours and excess weight in commercial drivers. Occupational Medicine 65(9), 725-731. https://doi.org/10.1093/occmed/kqv080
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; Van der Beek, 2012Van der Beek, A. J. (2012). World at work: Truck drivers. Occupational & Environmental Medicine, 69(4), 291-295. https://doi.org/10.1136/oemed-2011-100342
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). Considerando que os fatores ambientais são os responsáveis pelos TMC (Goldberg & Huxley, 1992Goldberg, D., & Huxley, P. (1992). Common Mental Disorders: A bio-social model. Routledge. https://doi.org/10.1002/smi.2460080416.
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), é indispensável à análise do contexto laboral deste trabalhador para compreender e evitar o adoecimento (Apostolopoulos et al., 2016Apostolopoulos, Y., Sönmez, S., Hege, A., & Lemke, M. (2016). Work strain, social isolation and mental health of long-haul truckers. Occupational. Therapy in Mental Health, 32(1), 50-69. https://doi.org/10.1080/0164212X.2015.1093995
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; Shattell et al., 2010Shattell, M., Apostolopoulos, Y., Sonmez, S., & Griffin, M. (2010). Occupational stressors and the mental health of truckers. Issues in Mental Health Nursing, 31(9), 561-568. https://doi.org/10.3109/01612840.2010.488783
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; Van der Beek, 2012Van der Beek, A. J. (2012). World at work: Truck drivers. Occupational & Environmental Medicine, 69(4), 291-295. https://doi.org/10.1136/oemed-2011-100342
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).

O modal do transporte pode ser considerado um segmento vulnerável e de alto risco, considerando a natureza da organização deste trabalho (Apostolopoulos et al., 2016Apostolopoulos, Y., Sönmez, S., Hege, A., & Lemke, M. (2016). Work strain, social isolation and mental health of long-haul truckers. Occupational. Therapy in Mental Health, 32(1), 50-69. https://doi.org/10.1080/0164212X.2015.1093995
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; Lemke et al., 2015Lemke, M., Hege, A., Perko, M., Sönmez, S., & Apostolopoulos, Y., (2015). Work patterns, sleeping hours and excess weight in commercial drivers. Occupational Medicine 65(9), 725-731. https://doi.org/10.1093/occmed/kqv080
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). As longas jornadas, as condições das estradas, os poucos locais disponíveis para esses trabalhadores poderem alimentar-se e realizar sua higiene pessoal, o distanciamento da convivência com a família e a responsabilidade no trânsito e com os equipamentos revelam as condições de trabalho destes profissionais (Bigelow et al., 2012Bigelow, P. L., Betts, D., Hogg-Johnson, S., Anick, B.C., Sieber, W. K., Skinner, M., & Jakubicek, P. (2012). Health, safety, and wellness of truck drivers in Canada. In freight demand modeling: Tools for public-sector decision making, Summary of a conference (Vol. 40; pp. 95-105). Transportation Research Board.; Delfino & Moraes, 2015Delfino, L. G., & Moraes, T. D. (2015). Percepções sobre adoecimento para caminhoneiros afastados pelo sistema de previdência social. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 6(2), 113-137. https://doi.org/10.5433/2236-6407.2015v6n2p113
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; Lemke et al., 2015; Ulhôa et al., 2010Ulhôa, M. A., Marqueze, E. C., Lemos, L. C., Silva, L. G. D., Silva, A. A., Nehme, P., & Moreno, C. R. D. C. (2010). Distúrbios psíquicos menores e condições de trabalho em motoristas de caminhão. Revista de Saúde Pública, 44(6), 1130-1136. https://doi.org/10.1590/S0034-89102010000600019
https://doi.org/10.1590/S0034-8910201000...
).

Considerando que há 2.645.992 motoristas de caminhão operando no território brasileiro, movimentando cerca de 61,1% da carga transportada no País (Confederação Nacional do Transporte [CNT], 2016Confederação Nacional do Transporte. (2016) Boletim estatístico do Transporte. http://www.cnt.org.br/Boletim/boletim-estatistico-cnt
http://www.cnt.org.br/Boletim/boletim-es...
) e que sua saúde física e mental é importante para a segurança da população nas estradas (Apostolopoulos et al., 2016Apostolopoulos, Y., Sönmez, S., Hege, A., & Lemke, M. (2016). Work strain, social isolation and mental health of long-haul truckers. Occupational. Therapy in Mental Health, 32(1), 50-69. https://doi.org/10.1080/0164212X.2015.1093995
https://doi.org/10.1080/0164212X.2015.10...
), é necessário ampliar a compreensão acerca das condições de trabalho a que os caminhoneiros estão expostos, bem como, identificar os riscos e os estressores presentes na prática laboral, que predizem o acometimento por TMC. Pelo exposto, este estudo de delineamento observacional, analítico, de corte transversal tem como objetivo identificar os fatores sociodemográficos, laborais, riscos psicossociais e estressores ocupacionais associados aos TMC em caminhoneiros.

Método

Participantes

Participaram da amostra do tipo não probabilística, 565 caminhoneiros brasileiros em exercício profissional há mais de quatro meses, tempo de impacto dos estressores sobre a saúde, de acordo com estudo longitudinal realizado por Schonfeld (1996Schonfeld, I. S. (1996). Relation of negative affectivity to self-reports of job stressors and psychological outcomes. Journal of Occupational Health Psychology, 1, 397-412. https://doi.org/10.1037/1076-8998.1.4.397
https://doi.org/10.1037/1076-8998.1.4.39...
). Foi utilizado como critério de seleção o sexo masculino, que predomina com 99,8% na profissão (CNT, 2016Confederação Nacional do Transporte. (2016) Boletim estatístico do Transporte. http://www.cnt.org.br/Boletim/boletim-estatistico-cnt
http://www.cnt.org.br/Boletim/boletim-es...
), possuir Carteira Nacional de Habilitação (CNH) de categoria “C” ou “E”, modalidades exigidas ao profissional caminhoneiro.

A amostra consistiu de 565 caminhoneiros brasileiros. A maioria possuía companheira fixa (86,2%, n=487); filhos (77,2%, n=436); e escolaridade em nível de ensino médio (52,9%, n=299). A idade média foi de 37,7 anos (DP=9,44, amplitude = 20 a 71) e salário médio de R$ 2.808,38 (DP=1105,22, amplitude = 1.000 a 15.000).

Quanto às características laborais, a maioria mantinha vínculo empregatício (85,8%, n=485), viajava sem acompanhante (89,2%, n=504) e tinham, em média, 11,7 anos de experiência profissional (DP=9,5, amplitude = 1 a 45). Os participantes trabalhavam, em média, 24 dias ao mês (DP=2,34, amplitude = 15 a 30) e a carga horária diária média era de 12 horas (DP=2,41, amplitude = 5 a 18).

Quanto ao tipo de rota, 54,2% (n=306) percorriam pequenos trechos rodoviários, não pernoitando na estrada a trabalho - rota curta; 14,2% (n=84) trabalhavam de dois a seis dias na estrada - rota média; e 24,4% (n=138) viajavam mais de sete dias, trabalhando em longos trechos rodoviários - rota longa. Quanto ao tipo de carga, 37,7% (n=213) transportavam madeira; 21,8% (n=123) cargas variadas; 14,7% (n=83) granel; 11,9% (n=67) alimentos; 9,9% (n=56) carga viva; e 2,3% (n=13) fluídos.

Instrumentos

Foi utilizado um instrumento autoaplicável constituído de quatro blocos:

  1. Questionário sociodemográfico (idade, situação conjugal, filhos, escolaridade) e laboral (tipo de vínculo, presença de acompanhante nas viagens, quantidade de dias que se encontra em viagem/trabalho, quantidade de dias de folga, remuneração, carga horária trabalhada/dia, tempo de atuação profissional e tipo de carga transportada).

  2. Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20), desenvolvido por Harding et al. (1980) e com avaliação das evidências de validade para o Brasil realizada por Mari e Willians (1986Mari, J. J., & Williams, P. (1986). A validity study of a psychiatric screening questionnaire (SRQ-20) in primary care in the city of Sao Paulo. The British Journal of Psychiatry, 148(1), 23-26. https://doi.org/10.1192/bjp.148.1.23
    https://doi.org/10.1192/bjp.148.1.23...
    ). Nessa, apresentou sensibilidade de 86,33% e especificidade de 89,31%. O poder discriminante para diagnóstico psiquiátrico do SRQ-20 foi 0,91. O instrumento possui 20 itens, que avaliam duas dimensões (sintomas físicos - quatro itens e distúrbios psicoemocionais - dezesseis itens). É composto por quatro grupos de sintomas (Humor Depressivo/Ansioso, Sintomas somáticos, Decréscimo de energia vital, Pensamentos depressivos), que são avaliados por meio de uma escala dicotômica (sim/não) para cada uma das suas questões. Para cada resposta afirmativa, pontua-se o valor de 1, tendo como resultado o seu somatório. Os escores obtidos indicam a probabilidade de presença de distúrbios não psicóticos, que pode variar de 0 (nenhuma probabilidade) a 20 (probabilidade extrema). A consistência interna obtida no presente estudo, avaliada pelo coeficiente de Kuder-Richardson (KR20), foi de 0,80.

  3. Subescalas da Escala de Estressores Psicossociais no Contexto Laboral (Ferreira et al., 2015Ferreira, M. C., Milfont, T. L., Silva, A. P. C., Fernandes, H. A., Almeida, S. P., & Mendonça, H. (2015). Escala para avaliação de estressores psicossociais no contexto laboral: Construção e evidências de validade. Psicologia: Reflexão e Crítica, 28(2), 340-349. https://doi.org/10.1590/1678-7153.201528214
    https://doi.org/10.1590/1678-7153.201528...
    ). Foram utilizadas seis subescalas totalizando 31 itens: 1. Conflito e ambiguidade de papéis (cinco itens, α = 0,77), referindo-se à falta de clareza em relação às próprias funções e ao recebimento de demandas contraditórias sobre as funções desempenhadas, neste estudo α = 0,67; 2. Sobrecarga de papéis (seis itens, α = 0,71), que consiste no excesso de tarefas solicitadas ao empregado, neste estudo α = 0,65; 3. Falta de suporte social (seis itens, α = 0,77), que se refere às dificuldades advindas da falta de suporte emocional recebido pelos colegas e superiores, no cotidiano do trabalho, neste estudo, α = 0,84; 4. Falta de autonomia (cinco itens, α = 0,71), que se refere às dificuldades de planejar e de tomar decisões acerca das próprias tarefas, controles de trabalho, neste estudo α = 0,67; 5. Conflito trabalho-família (cinco itens, α = 0,75), que percebe a relação de incompatibilidade entre as responsabilidades associadas à família e ao trabalho, neste estudo α = 0,61; 6. Pressão do grau de responsabilidade (quatro itens, α = 0,77), acerca de pessoas e de equipamentos que o empregado possui no desempenho de suas funções, nesse estudo α = 0,89. Esses itens foram avaliados por meio de uma escala de frequência de cinco pontos (0 “nunca” a 4 “diariamente”).

  4. Questionário de estressores ocupacionais para caminhoneiros, elaborado especificamente para este estudo com base na literatura sobre estressores destes profissionais (Cavagioni et al., 2009Cavagioni, L. C., Pierin, A. M. G., Batista, K. D. M., Bianchi, E. R. F., & Costa, A. L. S. (2009). Health problems, hypertension and predisposition to stress in truck drivers. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 43(SPE2), 1267-1271. https://doi.org/10.1590/S0080-62342009000600021
    https://doi.org/10.1590/S0080-6234200900...
    ; Delfino & Moraes, 2015Delfino, L. G., & Moraes, T. D. (2015). Percepções sobre adoecimento para caminhoneiros afastados pelo sistema de previdência social. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 6(2), 113-137. https://doi.org/10.5433/2236-6407.2015v6n2p113
    https://doi.org/10.5433/2236-6407.2015v6...
    ; Silva et al., 2016Silva, L. G. D., Luz, A. A. D., Vasconcelos, S. P., Marqueze, E. C., & Moreno, C. R. D. C. (2016). Vínculos empregatícios, condições de trabalho e saúde entre motoristas de caminhão. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 16(2), 153-165. https://doi.org/10.17652/rpot/2016.2.675
    https://doi.org/10.17652/rpot/2016.2.675...
    ; Ulhôa et al., 2010Ulhôa, M. A., Marqueze, E. C., Lemos, L. C., Silva, L. G. D., Silva, A. A., Nehme, P., & Moreno, C. R. D. C. (2010). Distúrbios psíquicos menores e condições de trabalho em motoristas de caminhão. Revista de Saúde Pública, 44(6), 1130-1136. https://doi.org/10.1590/S0034-89102010000600019
    https://doi.org/10.1590/S0034-8910201000...
    ; Van der Beek, 2012Van der Beek, A. J. (2012). World at work: Truck drivers. Occupational & Environmental Medicine, 69(4), 291-295. https://doi.org/10.1136/oemed-2011-100342
    https://doi.org/10.1136/oemed-2011-10034...
    ). Este possui 14 itens que avaliaram a Infraestrutura das rodovias e dos postos de paradas (condições de estradas, postos de atendimento, condições dos locais de repouso, local para alimentação), a Insegurança (assaltos e roubos), o Trânsito (congestionamento, acidentes), a Poluição (sonora, ambiental), a Jornada de trabalho, a Remuneração, os Sistemas Eletrônicos de Controle, e, as equipes de apoio operacional. Os itens foram avaliados por uma escala de quatro pontos (1 “nada estressante” a 4 “muito estressante”). A consistência interna, avaliada pelo coeficiente de Kuder-Richardson (KR20), foi de 0,77.

Procedimentos de Coleta de Dados

Inicialmente, fez-se contato com os locais para expor o objetivo da pesquisa e estabelecer a logística de coleta de dados, no período de março a junho de 2017. Foi realizado um estudo piloto de instrumento no mês de fevereiro de 2017, com 12 caminhoneiros não pertencentes à amostra do estudo, o que resultou na sugestão de um estressor ocupacional - equipes de apoio operacional, a ser incluído no instrumento.

A aplicação foi realizada de forma coletiva e presencial pela pesquisadora e por cinco profissionais psicólogas previamente treinadas, em seis empresas do ramo de transporte, três Centros de Formação de Condutores (CFCs), dois postos de combustíveis e 15 turmas do Curso de Movimentação de Produtos Perigosos e Cargas Indivisíveis destinado a estes profissionais.

A coleta foi realizada após a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sendo os instrumentos preenchidos nos próprios locais e recolhidos após a finalização. O tempo de preenchimento foi, em média, de 50 minutos. O estudo tem aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) sob o número CAAE: 62418116.7.0000.5344.

Procedimentos de Análise de Dados

Inicialmente foram realizadas estatísticas descritivas das variáveis de estudo em termos da sua distribuição absoluta e relativa. As variáveis quantitativas contínuas foram categorizadas com base em seus quartis com pontos de corte em Q1, >Q2 a Q3 e superior a Q3.

As possibilidades de respostas dos instrumentos foram transformadas em variáveis categóricas dicotômicas. As subescalas da escala de Estressores Psicossociais no Contexto Laboral foram categorizadas pela mediana (2,50), sendo que abaixo deste valor foi considerada ausência de risco e pontuações acima do valor como presença do risco. Para os estressores ocupacionais as respostas 1 e 2 foram categorizadas como avaliação não estressante e as possibilidades de resposta 3 e 4 consideradas estressante.

Para a análise bivariada entre variáveis categóricas, foi utilizado o teste Qui-quadrado de Pearson (χ2), teste exato de Fisher (simulação de Monte Carlo), com o objetivo de exploração inicial das associações brutas. As análises comparativas foram complementadas com estimativa da medida de efeito, oOdds Ratio (OR) bruto, com intervalo de confiança de 95% (IC95%).

Em função do elevado número de fatores preditores e considerando-se o tamanho amostral para uma das respostas dependentes (Com TMC = 37), as variáveis independentes foram analisadas por blocos alocados da seguinte forma: Bloco 1 - Dados Sociodemográficos; Bloco 2 - Laborais; Bloco 3 - Estressores Ocupacionais; e Bloco 4 - Riscos Psicossociais.

A variável desfecho foi os TMC, mensurados pelo SQR-20, sendo considerados suspeitos de TMC os caminhoneiros que responderam a sete ou mais perguntas positivamente, com base no estudo de Santos, Araújo, Pinho e Silva (2010Santos, K. O. B., Araújo, T. M. D., Pinho, P. D. S., & Silva, A. C. C. (2010). Avaliação de um instrumento de mensuração de morbidade psíquica: estudo de validação do Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20). Revista Baiana de Saúde Publica, 34(3), 544-60. http://files.bvs.br/upload/S/0100-0233/2010/v34n3/a1881.pdf
http://files.bvs.br/upload/S/0100-0233/2...
). Assim, todos os que tiveram esse número de respostas positivas compuseram o grupo com TMC.

Foi implementada a técnica de Regressão Logística Binária Multivariada. As variáveis selecionadas para análise multivariada foram todas as variáveis independentes com valores de p ≤ 0,200 na análise bivariada, com o objetivo de evitar a exclusão de variáveis potencialmente importantes (Hosmer & Lemeshow, 2000Hosmer, D.W., & Lemeshow, S. (2000). Applied logistic regression. John Wiley & Sons.).

Para seleção das variáveis representativas, foi usado o método de seleção Backward condicional, a partir do modelo saturado. Para detectar a adequação/qualidade dos modelos gerados, consideraram-se os testes conhecidos como Pseudo R2 - Cox, Snell e Nagelkerk - que indicam o poder de explicação das variáveis independentes sobre a variável dependente. A associação da regressão entre as variáveis independentes e o desfecho foi analisada com o teste da razão de máxima verossimilhança (likelihood-ratiotest - 2LL ou -2log).

A probabilidade de entrada gradual das variáveis no modelo foi de 0,05 e para a remoção, de 0,10. Em relação ao ponto de corte, a significância foi de 0,50 para o máximo de 20 interações. Os níveis de significância inferiores a 0,01 foram considerados significativos com base no critério de Bonferroni. Os dados foram analisados no programaStatistical Package for Social Sciencesversão 22 (PASW, Inc., Chicago, IL) para Windows, sendo que, para critérios de decisão estatística, adotou-se o nível de significância de p < 0,05.

Resultados

A prevalência encontrada de TMC foi de 6,5%. Os resultados apresentados na Tabela 1 evidenciam que, entre as variáveis sociodemográficas nenhuma obteve associação estatisticamente significante com TMC nesta etapa da análise.

Tabela 1
Caracterização dos Dados Sociodemográficos segundo a Classificação TMC

Os resultados da Tabela 2 indicam as associações com as características laborais. Verifica-se que as variáveis, rota de trabalho, remuneração, jornada diária e tipo de carga transportada foram associadas aos TMC.

Tabela 2
Caracterização dos Dados Laborais segundo a Classificação TMC

Quanto aos estressores ocupacionais (Tabela 3), verifica-se que todos foram associados aos TMC. A jornada de trabalho (9,98) e as condições das estradas (9,68) foram os estressores mais expressivos com relação às razões de chance para os TMC.

Tabela 3
Distribuição Absoluta e Relativa dos Estressores Ocupacionais segundo a Classificação TMC

A Tabela 4 indica as associações dos TMC com os Riscos Psicossociais no contexto laboral. As dimensões conflito e ambiguidade de papéis, sobrecarga de papéis, falta de autonomia, conflito trabalho-família e pressão do grau de responsabilidade apresentaram associações estatisticamente significantes.

Tabela 4
Dimensões dos Riscos Psicossociais no Contexto do Trabalho segundo a classificação TMC

Na Tabela 5, apresentam-se os fatores preditores do grupo com TMC para cada um dos blocos elencados neste estudo, com exceção do bloco das variáveis sociodemográficas, pois, na análise bivariada, nenhuma variável atingiu o mínimo de significância utilizado, ou seja, superior a 0,200.

Tabela 5
Modelos de Regressão Logística Binária Multivariada para Explicar os TMC

No bloco das variáveis laborais, o modelo inicial foi composto pelos fatores Rota, Remuneração, Jornada diária e Tipo de carga. O modelo final foi definido em cinco etapas, que classificou corretamente 50,0% do grupo com TMC; e 55,3% do grupo sem TMC, o que implica uma proporção média de 52,6% de acertos. Conforme estatística de Nagelkerke, estima-se que o modelo final foi capaz de explicar 17,3% das variações registradas no grupo com TMC.

Em relação ao bloco das variáveis referentes aos estressores ocupacionais, o modelo inicial foi composto por todos os itens do instrumento. Já o modelo final, elencado como o mais fidedigno para responder os com TMC, em 10 etapas, classificou corretamente 68,6% dos casos analisados. No grupo com TMC, a proporção de acerto foi de 56,7%. De acordo com os resultados da Tabela 4, permaneceram como representativos no modelo final, os estressores Acidentes, Condições das estradas, Locais de alimentação, bem como, os fatores Jornada de trabalho e a Remuneração. O conjunto de fatores que formaram o modelo final respondeu por 31,1% (Nagelkerk) das variações observadas no grupo com TMC.

No que se refere ao bloco de variáveis Riscos psicossociais, foram elencadas a participar do modelo inicial as dimensões conflito e ambiguidade de papéis, sobrecarga de papéis, falta de autonomia, conflito trabalho/família e pressão do grau de responsabilidade. No modelo final, selecionado em 3 etapas, observou-se uma maior proporção de classificação correta, 70,8% dos casos sem TMC e com TMC.

As dimensões de maior impacto para explicar os TMC foram a presença de conflito trabalho/família e a pressão do grau de responsabilidade. O poder de explicação sobre as variações dos TMC foi estimado em 32,8% (Nagelkerk).

A Tabela 6 apresenta o modelo geral de Regressão Logística Binária Multivariada, que analisou simultaneamente todos os potenciais preditores, observa-se que a capacidade de explicação sobre as variações dos TMC foi de 39,9% (R2 de Nagelkerk), enquanto que a proporção de casos classificados corretamente para o modelo total alcançou 79,8%, sendo 86,2% (n=351) no grupo sem TMC e 73,3% (n=22) no grupo com TMC. As variáveis associadas aos TMC foram: jornada diária acima de 12 horas; carga transportada variada; os estressores condições das estradas, locais para alimentação e jornada de trabalho; e os riscos psicossociais, conflito trabalho-família e pressão do grau de responsabilidade. No que se refere aos fatores de maior impacto para explicar os TMC, os resultados apontaram que a presença do estressor jornada de trabalho implicou um aumento de 5,41 vezes mais chance do caminhoneiro apresentar TMC; o estressor condições das estradas, 4,53 vezes mais; e a presença do risco psicossocial de conflito trabalho/família, 3,43 vezes mais chance de TMC. As demais variáveis constantes no modelo, embora não tenham apresentado um nível mínimo de significância representativo, são importantes, pois influenciam de certa forma o poder de explicação das variáveis efetivamente significativas, conforme indicadores Cox, Snell e Nagelkerk.

Tabela 6
Modelo Geral Explicativo para os TMC

Discussão

O presente estudo buscou identificar os fatores sociodemográficos, laborais, riscos psicossociais e estressores ocupacionais associados aos TMC em caminhoneiros. Os resultados indicaram que as variáveis laborais jornada diária acima de 12 horas, tipo de carga variada, os estressores condições das estradas, locais para alimentação e jornada de trabalho, bem como, os riscos psicossociais conflito trabalho-família e pressão do grau de responsabilidade constituem fatores associados aos TMC.

O elemento associado ao adoecimento psíquico com maior chance de acometimento foi o estressor ocupacional jornada de trabalho. Este resultado confirma estudo realizado por Ulhôa et al. (2010Ulhôa, M. A., Marqueze, E. C., Lemos, L. C., Silva, L. G. D., Silva, A. A., Nehme, P., & Moreno, C. R. D. C. (2010). Distúrbios psíquicos menores e condições de trabalho em motoristas de caminhão. Revista de Saúde Pública, 44(6), 1130-1136. https://doi.org/10.1590/S0034-89102010000600019
https://doi.org/10.1590/S0034-8910201000...
), sendo a variável de maior risco, indicando um aumento da chance de 2,68 vezes de apresentar TMC.

A jornada diária de trabalho do caminhoneiro autorizada pela lei 13.103 é de até 12 horas de trabalho. Esta carga horária pode ocasionar aumento da fadiga e risco de acidente, também ocorre uma elevação exponencial do risco de acidente a partir das 12 horas (Narciso & Mello, 2017Narciso, F. V., & Mello, M. T. D. (2017). Safety and health of professional drivers who drive on Brazilian highways. Revista de Saúde Pública, 51(26), 1-7. https://doi.org/10.1590/s1518-8787.2017051006761
https://doi.org/10.1590/s1518-8787.20170...
). No presente estudo, o profissional que perfaz uma jornada acima de 12 horas apresenta um aumento na chance de 3,33 vezes maior de ter TMC; e entre os que consideram a jornada de trabalho um estressor, a chance é de 5,41. Em síntese, a jornada de trabalho excessiva, geralmente marcada por longas horas, pressão por entrega, tarefas repetitivas, horas de condução ininterrupta, horários irregulares de trabalho e descanso insuficiente têm sido associados a uma série de problemas de saúde mental (Apostolopoulos et al., 2010Apostolopoulos, Y., Sönmez, S., Shattell, M. M., & Belzer, M. (2010). Worksite-induced morbidities among truck drivers in the United States. AAOHN Journal, 58(7), 285-296. https://doi.org/10.3928/08910162-20100625-01
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).

Esses resultados são importantes e elucidativos na medida em que os profissionais que realizam jornadas extensas estão expostos a muitos fatores de risco, como sono, estresse, hábitos não saudáveis, doenças e complicações médicas. Consequentemente, ficam expostos a eventos adversos na condução de veículos, aumentando o risco de colisão (Crizzle et al., 2017Crizzle, A. M., Bigelow, P., Adams, D., Gooderham, S., Myers, A. M., & Thiffault, P. (2017). Health and wellness of long-haul truck and bus drivers: A systematic literature review and directions for future research. Journal of Transport & Health, 7(A), 90-109. https://doi.org/10.1016/j.jth.2017.05.359
https://doi.org/10.1016/j.jth.2017.05.35...
). Alguns autores sinalizam que o ambiente de trabalho expõe os caminhoneiros a longas horas de trabalho, turnos prolongados, poluição sonora e ambiental e estilo de vida que não favorece a saúde (Bigelow et al., 2012Bigelow, P. L., Betts, D., Hogg-Johnson, S., Anick, B.C., Sieber, W. K., Skinner, M., & Jakubicek, P. (2012). Health, safety, and wellness of truck drivers in Canada. In freight demand modeling: Tools for public-sector decision making, Summary of a conference (Vol. 40; pp. 95-105). Transportation Research Board.; Lemke et al., 2015Lemke, M., Hege, A., Perko, M., Sönmez, S., & Apostolopoulos, Y., (2015). Work patterns, sleeping hours and excess weight in commercial drivers. Occupational Medicine 65(9), 725-731. https://doi.org/10.1093/occmed/kqv080
https://doi.org/10.1093/occmed/kqv080...
; Van der Beek, 2012Van der Beek, A. J. (2012). World at work: Truck drivers. Occupational & Environmental Medicine, 69(4), 291-295. https://doi.org/10.1136/oemed-2011-100342
https://doi.org/10.1136/oemed-2011-10034...
), tornando esses trabalhadores mais vulneráveis, com altos níveis de estresse ocupacional, o que aumenta o risco de distúrbios psicológicos (Apostolopoulos et al., 2013Apostolopoulos, Y., Sönmez, S., Shattell, M. M., Gonzales, C., & Fehrenbacher, C. (2013). Health survey of US long-haul truck drivers: Work environment, physical health, and healthcare access. Work, 46(1), 113-123. https://doi.org/10.3233/WOR-121553
https://doi.org/10.3233/WOR-121553...
).

A associação dos TMC com o tipo de carga transportada pode ser explicada por demandar uma adaptação constante do profissional, devido ao cuidado, transporte e a carga e descarga serem diferentes a cada viagem (Van der Beek, 2012Van der Beek, A. J. (2012). World at work: Truck drivers. Occupational & Environmental Medicine, 69(4), 291-295. https://doi.org/10.1136/oemed-2011-100342
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). Também na perspectiva das múltiplas tarefas, a variabilidade das cargas influencia os modos de condução e seus efeitos, principalmente, em relação ao tempo necessário para a entrega da carga (Delfino & Morais, 2015Delfino, L. G., & Moraes, T. D. (2015). Percepções sobre adoecimento para caminhoneiros afastados pelo sistema de previdência social. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 6(2), 113-137. https://doi.org/10.5433/2236-6407.2015v6n2p113
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).

As condições das estradas, outro estressor associado aos TMC, afetam a segurança do condutor e do veículo, deixando o profissional mais exposto a acidentes, quebra de veículo, aumento do consumo de combustível, entre outras variáveis importantes na condução segura e econômica (Silva et al., 2016Silva, L. G. D., Luz, A. A. D., Vasconcelos, S. P., Marqueze, E. C., & Moreno, C. R. D. C. (2016). Vínculos empregatícios, condições de trabalho e saúde entre motoristas de caminhão. Revista Psicologia Organizações e Trabalho, 16(2), 153-165. https://doi.org/10.17652/rpot/2016.2.675
https://doi.org/10.17652/rpot/2016.2.675...
; Ulhôa et al., 2010Ulhôa, M. A., Marqueze, E. C., Lemos, L. C., Silva, L. G. D., Silva, A. A., Nehme, P., & Moreno, C. R. D. C. (2010). Distúrbios psíquicos menores e condições de trabalho em motoristas de caminhão. Revista de Saúde Pública, 44(6), 1130-1136. https://doi.org/10.1590/S0034-89102010000600019
https://doi.org/10.1590/S0034-8910201000...
). As condições das estradas têm sido consideradas um estressor enraizado no ambiente do transporte (Shattell et al., 2012Shattell, M, Apostolopoulos, Y., Collins, C., Sonmez, S., & Fehrenbacher, C. (2012). Trucking organization and mental health disorders of truck drivers. Issues in Mental Health Nursing, 33(7), 436-444. https://doi.org/10.3109/01612840.2012.665156
https://doi.org/10.3109/01612840.2012.66...
; Shattell et al., 2010Shattell, M., Apostolopoulos, Y., Sonmez, S., & Griffin, M. (2010). Occupational stressors and the mental health of truckers. Issues in Mental Health Nursing, 31(9), 561-568. https://doi.org/10.3109/01612840.2010.488783
https://doi.org/10.3109/01612840.2010.48...
). As más condições das rodovias e estradas brasileiras estão retratadas no estudo da CNT (2016Confederação Nacional do Transporte. (2016) Boletim estatístico do Transporte. http://www.cnt.org.br/Boletim/boletim-estatistico-cnt
http://www.cnt.org.br/Boletim/boletim-es...
), que aponta que 58,2% da malha rodoviária apresenta algum tipo de problema, o que eleva o custo operacional do transporte rodoviário, aumenta a probabilidade de acidentes, diminui o desempenho dos veículos e a qualidade do serviço prestado, como também produz malefícios ao meio ambiente.

O estressor locais para alimentação refere-se ao fato de que a organização do trabalho não favorece o caminhoneiro no sentido de realizar suas refeições de forma adequada, por falta de locais apropriados e, quando existem, estão sob custódia de postos de combustíveis (Delfino & Morais, 2015Delfino, L. G., & Moraes, T. D. (2015). Percepções sobre adoecimento para caminhoneiros afastados pelo sistema de previdência social. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, 6(2), 113-137. https://doi.org/10.5433/2236-6407.2015v6n2p113
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), devido ao abastecimento do veículo estar vinculado a oportunidade de aproveitar a infraestrutura disponível nestes locais. Os locais utilizados para alimentação são geralmente a cozinha (caixa) do caminhão ou restaurantes de beira de estrada (Cavagioni et al., 2009Cavagioni, L. C., Pierin, A. M. G., Batista, K. D. M., Bianchi, E. R. F., & Costa, A. L. S. (2009). Health problems, hypertension and predisposition to stress in truck drivers. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 43(SPE2), 1267-1271. https://doi.org/10.1590/S0080-62342009000600021
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; Paris et al., 2013Paris, P., Grandi, G., Siviero, J., & Pereira, F. B. (2013). Sono, estado nutricional e hábitos de vida de caminhoneiros. Ciência & Saúde, 6(3), 197-205. https://doi.org/10.15448/1983-652x.2013.3.13000
https://doi.org/10.15448/1983-652x.2013....
).

A oferta de alimentos, na maioria das vezes, é de alto valor calórico e de baixo valor nutritivo (Cavagioni et al., 2009Cavagioni, L. C., Pierin, A. M. G., Batista, K. D. M., Bianchi, E. R. F., & Costa, A. L. S. (2009). Health problems, hypertension and predisposition to stress in truck drivers. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 43(SPE2), 1267-1271. https://doi.org/10.1590/S0080-62342009000600021
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), com impactos diretos na saúde do trabalhador, tornando-o vulnerável à hipertensão arterial, ao excesso de peso, entre outras doenças (Alessi & Alves, 2016Alessi, A., & Alves, M. K. (2016). Hábitos de vida e condições de saúde dos caminhoneiros do Brasil: Uma revisão da literatura. Ciência & Saúde, 8(3), 129-136. https://doi.org/10.15448/1983-652x.2015.3.18184
https://doi.org/10.15448/1983-652x.2015....
; Shattell et al., 2012Shattell, M, Apostolopoulos, Y., Collins, C., Sonmez, S., & Fehrenbacher, C. (2012). Trucking organization and mental health disorders of truck drivers. Issues in Mental Health Nursing, 33(7), 436-444. https://doi.org/10.3109/01612840.2012.665156
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). A associação do estressor locais para alimentação ao acometimento de TMC é um resultado recente na literatura, provavelmente, devido à necessidade das paradas e pausas, resultado da aplicação da lei do caminhoneiro.

Quanto aos riscos psicossociais no contexto laboral, as dimensões pressão do grau de responsabilidade e conflito trabalho-família foram associadas aos TMC. A primeira dimensão é entendida como a responsabilidade do trabalhador com pessoas e equipamentos; e a segunda refere-se à incompatibilidade das responsabilidades das esferas trabalho e família (Ferreira et al., 2015Ferreira, M. C., Milfont, T. L., Silva, A. P. C., Fernandes, H. A., Almeida, S. P., & Mendonça, H. (2015). Escala para avaliação de estressores psicossociais no contexto laboral: Construção e evidências de validade. Psicologia: Reflexão e Crítica, 28(2), 340-349. https://doi.org/10.1590/1678-7153.201528214
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).

A pressão do grau de responsabilidades pode ser explicada pelas mudanças da organização do trabalho destes profissionais e pela alta demanda de responsabilidades a que estão sujeitos (Van der Beek, 2012Van der Beek, A. J. (2012). World at work: Truck drivers. Occupational & Environmental Medicine, 69(4), 291-295. https://doi.org/10.1136/oemed-2011-100342
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). Com o advento da tecnologia, os caminhões estão equipados com rastreadores e controladores, o que gera pressão sobre o profissional, que tem o dever de informar todas suas ações a uma central, que regula e o monitora durante 24 horas.

A pressão de tempo (Shattell et al., 2012Shattell, M, Apostolopoulos, Y., Collins, C., Sonmez, S., & Fehrenbacher, C. (2012). Trucking organization and mental health disorders of truck drivers. Issues in Mental Health Nursing, 33(7), 436-444. https://doi.org/10.3109/01612840.2012.665156
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; Shattell et al., 2010Shattell, M., Apostolopoulos, Y., Sonmez, S., & Griffin, M. (2010). Occupational stressors and the mental health of truckers. Issues in Mental Health Nursing, 31(9), 561-568. https://doi.org/10.3109/01612840.2010.488783
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), o trânsito, a segurança viária e a responsabilidade pelos demais condutores (Apostolopoulos et al., 2016Apostolopoulos, Y., Sönmez, S., Hege, A., & Lemke, M. (2016). Work strain, social isolation and mental health of long-haul truckers. Occupational. Therapy in Mental Health, 32(1), 50-69. https://doi.org/10.1080/0164212X.2015.1093995
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) são estressores presentes na rotina do transporte rodoviário. A exigência do prazo de entrega da carga, muitas vezes insuficiente, expõe estes profissionais (Shattell et al., 2010Shattell, M., Apostolopoulos, Y., Sonmez, S., & Griffin, M. (2010). Occupational stressors and the mental health of truckers. Issues in Mental Health Nursing, 31(9), 561-568. https://doi.org/10.3109/01612840.2010.488783
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) a um contexto gerador de riscos psicossociais (Van der Beek, 2012Van der Beek, A. J. (2012). World at work: Truck drivers. Occupational & Environmental Medicine, 69(4), 291-295. https://doi.org/10.1136/oemed-2011-100342
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). Outra demanda refere-se à interação comercial com os clientes, por ser considerado o canal de comunicação, reporta dificuldades e busca soluções para os problemas.

O conflito trabalho-família refere-se à organização do trabalho destes profissionais, que promove um distanciamento familiar. O caminhoneiro tende a não participar dos eventos familiares e das interações diárias, vitais para o vínculo familiar, devido aos seus modos de vida e exigências de trabalho contínuo (Apostolopoulos et al., 2016Apostolopoulos, Y., Sönmez, S., Hege, A., & Lemke, M. (2016). Work strain, social isolation and mental health of long-haul truckers. Occupational. Therapy in Mental Health, 32(1), 50-69. https://doi.org/10.1080/0164212X.2015.1093995
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; Shattell et al., 2010Shattell, M., Apostolopoulos, Y., Sonmez, S., & Griffin, M. (2010). Occupational stressors and the mental health of truckers. Issues in Mental Health Nursing, 31(9), 561-568. https://doi.org/10.3109/01612840.2010.488783
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).

O isolamento resultante da falta de convívio com amigos e familiares, a ausência de rotina familiar por longos períodos, a solidão, a ansiedade e a depressão são fatores que o caminhoneiro enfrenta diariamente no exercício de sua profissão (Apostolopoulos et al., 2016Apostolopoulos, Y., Sönmez, S., Hege, A., & Lemke, M. (2016). Work strain, social isolation and mental health of long-haul truckers. Occupational. Therapy in Mental Health, 32(1), 50-69. https://doi.org/10.1080/0164212X.2015.1093995
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; Bigelow et al., 2012Bigelow, P. L., Betts, D., Hogg-Johnson, S., Anick, B.C., Sieber, W. K., Skinner, M., & Jakubicek, P. (2012). Health, safety, and wellness of truck drivers in Canada. In freight demand modeling: Tools for public-sector decision making, Summary of a conference (Vol. 40; pp. 95-105). Transportation Research Board.; Lemke et al., 2015Lemke, M., Hege, A., Perko, M., Sönmez, S., & Apostolopoulos, Y., (2015). Work patterns, sleeping hours and excess weight in commercial drivers. Occupational Medicine 65(9), 725-731. https://doi.org/10.1093/occmed/kqv080
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; Van der Beek, 2012Van der Beek, A. J. (2012). World at work: Truck drivers. Occupational & Environmental Medicine, 69(4), 291-295. https://doi.org/10.1136/oemed-2011-100342
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), ocasionando maior risco de sofrimento mental a estes trabalhadores (Fan et al., 2012Fan, Z. J., Bonauto, D. K., Foley, M. P., Anderson, N. J., Yragui, N. L., & Silverstein, B. A. (2012). Occupation and the prevalence of current depression and frequent mental distress, WA BRFSS 2006 and 2008. American Journal of Industrial Medicine, 55(10), 893-903. https://doi.org/10.1002/ajim.22094
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). Os caminhoneiros destinam uma multiplicidade de papéis ao cônjuge, como a educação dos filhos, a economia do lar e a responsabilidades com a casa, o que causa estresse familiar, por estar longe do convívio regular (Apostolopoulos et al.,2016Apostolopoulos, Y., Sönmez, S., Hege, A., & Lemke, M. (2016). Work strain, social isolation and mental health of long-haul truckers. Occupational. Therapy in Mental Health, 32(1), 50-69. https://doi.org/10.1080/0164212X.2015.1093995
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; Shattell et al., 2012Shattell, M, Apostolopoulos, Y., Collins, C., Sonmez, S., & Fehrenbacher, C. (2012). Trucking organization and mental health disorders of truck drivers. Issues in Mental Health Nursing, 33(7), 436-444. https://doi.org/10.3109/01612840.2012.665156
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; Shattell et al., 2010Shattell, M., Apostolopoulos, Y., Sonmez, S., & Griffin, M. (2010). Occupational stressors and the mental health of truckers. Issues in Mental Health Nursing, 31(9), 561-568. https://doi.org/10.3109/01612840.2010.488783
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).

Por fim, o caminhoneiro está sujeito a estressores considerados endêmicos do setor do transporte, como as longas jornadas de trabalho, condições de condução causadas pelo trânsito e ambiente, combinação de remuneração baseada em quilômetros rodados, pressão por entregas, muitas vezes enfrentando riscos físicos, de segurança, acidentes de trânsito e ausência de redes de apoio para cuidados médicos, além da discriminação existente na profissão, solidão, ansiedade e depressão (Apostolopoulos et al., 2016Apostolopoulos, Y., Sönmez, S., Hege, A., & Lemke, M. (2016). Work strain, social isolation and mental health of long-haul truckers. Occupational. Therapy in Mental Health, 32(1), 50-69. https://doi.org/10.1080/0164212X.2015.1093995
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, Shattell et al., 2012Shattell, M, Apostolopoulos, Y., Collins, C., Sonmez, S., & Fehrenbacher, C. (2012). Trucking organization and mental health disorders of truck drivers. Issues in Mental Health Nursing, 33(7), 436-444. https://doi.org/10.3109/01612840.2012.665156
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; Shattell et al., 2010Shattell, M., Apostolopoulos, Y., Sonmez, S., & Griffin, M. (2010). Occupational stressors and the mental health of truckers. Issues in Mental Health Nursing, 31(9), 561-568. https://doi.org/10.3109/01612840.2010.488783
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). Segundo os autores, estressores ocupacionais têm refletido na diminuição da expectativa de vida dos caminhoneiros e causado uma série de comorbidades.

Conclusão

Os resultados do estudo revelam um perfil de risco constituído por variáveis laborais, psicossociais e estressores ocupacionais, confirmando que fatores ambientais e contextuais são importantes para desenvolvimento dos TMC, conforme Goldberg e Huxley (1992Goldberg, D., & Huxley, P. (1992). Common Mental Disorders: A bio-social model. Routledge. https://doi.org/10.1002/smi.2460080416.
https://doi.org/10.1002/smi.2460080416...
). Esses apontam para a necessidade de uma maior atenção à saúde ocupacional desta categoria profissional, desassistida nesta área devido à organização do seu trabalho (Apostolopoulos et al., 2016Apostolopoulos, Y., Sönmez, S., Hege, A., & Lemke, M. (2016). Work strain, social isolation and mental health of long-haul truckers. Occupational. Therapy in Mental Health, 32(1), 50-69. https://doi.org/10.1080/0164212X.2015.1093995
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, Shattell et al., 2012Shattell, M, Apostolopoulos, Y., Collins, C., Sonmez, S., & Fehrenbacher, C. (2012). Trucking organization and mental health disorders of truck drivers. Issues in Mental Health Nursing, 33(7), 436-444. https://doi.org/10.3109/01612840.2012.665156
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; Shattell et al., 2010Shattell, M., Apostolopoulos, Y., Sonmez, S., & Griffin, M. (2010). Occupational stressors and the mental health of truckers. Issues in Mental Health Nursing, 31(9), 561-568. https://doi.org/10.3109/01612840.2010.488783
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). Nesse sentido, sugerem-se redes de apoio em saúde mental em locais estratégicos como medida cabível e de rastreabilidade, uma vez que a dificuldade de acesso à saúde nas estradas ocasiona um descuido com a saúde destes trabalhadores (Cavagioni et al., 2009Cavagioni, L. C., Pierin, A. M. G., Batista, K. D. M., Bianchi, E. R. F., & Costa, A. L. S. (2009). Health problems, hypertension and predisposition to stress in truck drivers. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 43(SPE2), 1267-1271. https://doi.org/10.1590/S0080-62342009000600021
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; Shattell et al., 2012Shattell, M, Apostolopoulos, Y., Collins, C., Sonmez, S., & Fehrenbacher, C. (2012). Trucking organization and mental health disorders of truck drivers. Issues in Mental Health Nursing, 33(7), 436-444. https://doi.org/10.3109/01612840.2012.665156
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).

Mudanças na Lei 13.103/2015 com relação jornada de trabalho destes trabalhadores é necessária. A carga horária aprovada pela lei (12h) não assegura as condições de segurança destes trabalhadores (Narciso & Mello, 2017Narciso, F. V., & Mello, M. T. D. (2017). Safety and health of professional drivers who drive on Brazilian highways. Revista de Saúde Pública, 51(26), 1-7. https://doi.org/10.1590/s1518-8787.2017051006761
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), e no presente estudo a jornada foi o preditor mais relevante no acometimento por TMC. A fiscalização e a intervenção no setor de transporte em relação à jornada de trabalho é uma maneira de preservar a saúde ocupacional deste trabalhador.

A melhoria das condições das estradas brasileiras faz parte do Planejamento Nacional de Logística e Transportes (PNLT), cabendo, assim, aos órgãos competentes assegurar a sua implementação, a fim de melhorar as condições de trabalho destes profissionais, evitando o desgaste e a quebra do veículo, os acidentes, as dificuldades de trajeto e congestionamentos. Acerca dos locais para alimentação, sugere-se utilizar o projeto do Ministério do Transporte (portaria nº 944), acerca dos Pontos de Parada e Descanso como possibilidades de local adequado para a alimentação destes trabalhadores. Também se recomendam informações relativas a práticas alimentares saudáveis, em paradas de caminhão.

A implementação de ações em âmbito organizacional faz-se necessária. Cabe às empresas e aos gestores o desenvolvimento de programas de promoção e de prevenção à saúde ocupacional, por meio de treinamentos, palestras e campanhas educativas. Também um olhar acerca dos prazos de entrega na oportunidade de fechamento de contratos, é imprescindível para assegurar condições adequadas de trabalho destes trabalhadores.

Ações voltadas à logística das rotas, oportunizando ao trabalhador um maior convívio com a família auxiliam no equilíbrio das esferas trabalho e família. Outra ação seria a disponibilidade de Wi-Fi para acesso às mídias sociais, conectando o caminhoneiro à empresa, à família e aos amigos, a fim de estabelecer redes de apoio social. Pela organização do trabalho do setor rodoviário, em que o isolamento social é uma constante, o uso das mídias teria um impacto positivo no sentido de reduzir o distanciamento e o acompanhamento das vivências familiares e sociais.

É importante destacar duas forças do estudo, como o poder de predição das variáveis que constituíram o modelo explicativo dos TMC, sendo esta considerada alta (39,9%) (Hair et al., 2009Hair, J. F., Black, W. C., Babin, B. J., & Anderson, R. E., & Tatham, R. L. (2009). Análise multivariada de dados. Bookman.), e a proporção de casos classificados corretamente (79,8%). Quanto às limitações, a investigação apresenta algumas que devem ser consideradas para a leitura dos seus resultados. A primeira diz respeito ao seu desenho transversal, que impossibilita estabelecer relações de causalidade. A segunda é devido ao tipo de amostra não aleatória que não permite a generalização de seus resultados. A terceira, pelo fato de que parte da coleta foi realizada em empresas de trabalho dos respondentes e em locais de renovação de habilitação, que podem gerar vises de resposta na medida em que o trabalhador pode ter tido algum tipo receio em responder itens que podem comprometer sua permanência no emprego ou ter renovada sua habilitação. Uma quarta limitação pode ser o efeito do trabalhador sadio (viés de auto seleção) que, muitas vezes, exclui o possível doente, pois trabalhadores mais saudáveis são mais propensos a permanecer na força de trabalho do que aqueles que estão doentes (McMichael, 1976McMichael, A. J. (1976). Standardized mortality ratios and the healthy worker effect': Scratching beneath the surface. Journal of Occupational and Environmental Medicine, 18(3), 165-168. https://doi.org/10.1097/00043764-197603000-00009
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).

Nesse sentido, sugere-se a realização de estudos longitudinais de métodos mistos de múltiplas fontes permitindo ampliar a compreensão dos padrões comportamentais e na elaboração de modelos explicativos e preditivos de variáveis no campo da PSO (Abbad & Carlotto, 2016Abbad, G. S., & Carlotto, M. S. (2016). Analyzing challenges associated with the adoption of longitudinal studies in Work and Organizational Psychology. Revista Psicologia: Organizações e Trabalho, 16(4), 340-348. https://doi.org/10.17652/rpot/2016.4.12585
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). Nessa perspectiva, ampliaria o conhecimento sobre como se desenvolve, ao longo do tempo, o processo de estresse ocupacional e sua relação com os sintomas que caracterizam os TMC e o poder preditivo das variáveis que compuseram o modelo.

Também contribuiria para a confirmação do modelo de estudos com amostras probabilísticas estratificadas em empresas de transportes de diferentes modalidades. Tal estratégia permitiria o acesso a uma população delimitada e construção de cálculo amostral incluindo caminhoneiros em situação de afastamento do trabalho para estimar a prevalência dos TMC e os fatores de risco diminuindo o efeito do trabalhador sadio e possibilitando a generalização dos resultados.

Este estudo contribuiu para ampliar o conhecimento dos fatores de riscos a que estes profissionais estão sujeitos, possibilitando pensar ações de prevenção e de promoção à saúde mental. Essas poderiam assegurar melhores condições psíquicas destes profissionais e, prevenir afastamentos por adoecimentos de longo período uma vez que os TMC são preditores de outros agravos ocupacionais assim como prevenir o afastamento por abandono profissional.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Set 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    21 Mar 2018
  • Aceito
    23 Nov 2018
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