Acessibilidade / Reportar erro

Notícia: Segunda Conferência Internacional Reconstruindo a Psicologia da Saúde

News: Second International Conference on Reconstructing Health Psychology

Notícia:

Segunda Conferência Internacional Reconstruindo a Psicologia da Saúde1 1 Os interessados em acompanhar os trabalhos dos conferencistas ou fazer contato com o grupo podem consultar a página www.med.mun.ca/health01.

Tereza Cristina Cavalcanti Ferreira de Araujo2 1 Os interessados em acompanhar os trabalhos dos conferencistas ou fazer contato com o grupo podem consultar a página www.med.mun.ca/health01.

Universidade de Brasília

News: Second International Conference on Reconstructing Health Psychology

Entre 23 e 25 de agosto de 2001, foi organizada a Segunda Conferência Internacional Reconstruindo a Psicologia da Saúde na Aston University, em Birmingham, Inglaterra, com a participação de representantes de 13 países. Este encontro, presidido por David Marks, editor do Journal of Health Psychology, deu continuidade às discussões sobre o desenvolvimento teórico, metodológico e assistencial da Psicologia da Saúde instauradas por ocasião do evento anterior realizado no Canadá.

Dentre os trabalhos desenvolvidos em diversos centros internacionais de pesquisa, vale destacar a instigante apresentação de Doug Carroll (University of Birmingham) que propôs uma meta-análise de pesquisas longitudinais, que adotaram metodologias quantitativas em uma tentativa de estabelecer associação entre saúde e estresse. Ao comparar os dados obtidos na América do Norte junto a sujeitos acometidos por doenças coronarianas, um ano após o episódio crítico, com os equivalentes levantados no Reino Unido, não foi possível verificar correlação positiva entre depressão e ansiedade com mortalidade. Se na investigação norte-americana foram identificados sintomas de depressão e ansiedade, os quais foram associados ao aumento da mortalidade, todavia estudo semelhante desenvolvido na Escócia não conduziu a tal comprovação. Do mesmo modo, em uma extensa investigação, ao longo de duas décadas, junto a mais de 6.500 indivíduos, não foi possível prever mortalidade a partir de indicadores de estresse inicialmente detectados. O pesquisador alerta para os vieses metodológicos dessas investigações e critica a negligência quanto à influência de fatores culturais na definição das noções implicadas em projetos de saúde. Em síntese, certamente doença grave pode estar associada à mortalidade, mas não necessariamente depressão, ansiedade e estresse. Considerando as medidas priorizadas pelos programas de saúde em diferentes países a partir das informações propaladas por tais investigações, o alerta de Doug Carroll parece fundamental e, uma vez mais, aponta para a necessidade de trabalhos de meta-análise semelhantes.

Catherine Campbell (London School of Economics) em sua palestra sobre programas de prevenção do HIV na África do Sul, conclamou a colaboração estreita entre psicólogos da saúde acadêmicos e ativistas da saúde para que seja possível ampliar a compreensão sobre comportamentos de saúde, evitando-se os riscos das idéias críticas sem ações críticas. Com experiência de intervenção junto a uma comunidade caracterizada por altos níveis de pobreza, desigualdade de gênero, conflitos étnicos e violência (30% dos trabalhadores nas minas e 60% das mulheres jovens na África do Sul são portadores do HIV), Campbell insiste sobre a necessidade da renegociação coletiva das identidades sociais e sexuais e no desenvolvimento do senso de controle da saúde desses grupos e de seus membros. Visando a conquista dos "meios de capacitação" e da consciência crítica, sobretudo pelos segmentos sociais atingidos pela marginalização no mundo globalizado, sugere intervenções à luz da perspectiva de Paulo Freire.

Para David Marks (City University of London), é possível distinguir três principais abordagens atuais na área. A primeira, e provavelmente a mais amplamente difundida, corresponde à Psicologia da Saúde Clínica, caracterizada por ações no âmbito do sistema de saúde, ou seja, hospitais, clínicas e centros de saúde. Está voltada, principalmente, para grupos de pacientes com disfunções específicas, tais como diabetes e câncer. Além da intervenção terapêutica, busca otimizar os serviços prestados através do planejamento de pesquisas com enfoque predominantemente quantitativo e quasi-experimental. A segunda abordagem destina suas ações para a melhoria da saúde da população em geral, mas acaba por focalizar grupos vulneráveis e de risco em sua perspectiva de cunho preventivo. Utiliza métodos epidemiológicos e visa a avaliação dos programas implementados, podendo ser denominada Psicologia da Saúde Pública. E por fim, a Psicologia da Saúde Comunitária, cujas propostas de promoção da saúde mental e física estão direcionadas para famílias e comunidades, visando à emancipação e mudança social. Emprega uma abordagem multi-metodológica, associando pesquisadores, profissionais e representantes comunitários.

Michael Murray (Memorial University of Newfoundland) defendeu a revitalização da Psicologia da Saúde. Nesse sentido, tanto pesquisador quanto sujeito participante têm papel fundamental na evolução deste campo de conhecimento e atuação. Do ponto de vista metodológico, Lucy Yardley (University of Southampton) acrescentou a urgência na superação das oposições entre paradigma interpretativo ou construtivista das abordagens qualitativas e o paradigma científico ou positivista das abordagens quantitativas.

Wendy Stainton Rogers (Open University), autora do livro The Psychology of Gender and Sexuality, criticou o enfoque patológico em estudos sobre a sexualidade humana, sobretudo aqueles voltados para a masculinidade, os quais reduzem gênero a uma oposição binária, amplificando os estereótipos sexuais. Além de não contemplar as necessidades de compreensão da atualidade, tais pesquisas continuam a reproduzir o tradicional e restrito modelo biomédico.

Vale destacar ainda que, na ocasião, foi criada a International Society of Critical Health Psychology, cujo presidente indicado é o canadense Michael Murray. A Terceira Conferência Internacional com previsão para 2003 deverá ser realizada na Nova Zelândia e será organizada por Kerry Chamberlain (Massey University).

Recebido em 11.10.2001

Aceito em 08.11.2001

2 Endereço: UnB, Instituto de Psicologia, Brasília, DF, 70910-900 E- mail: araujotc@unb.br.

  • 1
    Os interessados em acompanhar os trabalhos dos conferencistas ou fazer contato com o grupo podem consultar a página
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      29 Abr 2002
    • Data do Fascículo
      Ago 2001

    Histórico

    • Recebido
      11 Out 2001
    • Aceito
      08 Nov 2001
    Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, 70910-900 - Brasília - DF - Brazil, Tel./Fax: (061) 274-6455 - Brasília - DF - Brazil
    E-mail: revistaptp@gmail.com