Acessibilidade / Reportar erro

Terapia de casos refratários

RESENHA

Terapia de casos refratários

Geraldina Porto Witter

Universidade Camilo Castelo Branco e Academia Paulista de Psicologia, São Paulo, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Av. Pedroso de Morais, 144, ap.302 Pinheiros - 05420-000 - São Paulo E-mail: gwitter@uol.com.br

McKay, D., Taylor, S. & Abramwitz, J. S. (Orgs.). (2011). Cognitive Behavioral Therapy and refratory cases: Turning failure into success. Washington, DC, US: American Psychological Association, xii+432 p. Também disponível em http://psychet.apa.org/books/12070/001.pdf.

Em decorrência de diversas variáveis, nem sempre a psicoterapia alcança os objetivos desejados, a despeito das tentativas e do número de vezes em que a pessoa com problemas comportamentais busca solução para os mesmos. Tais casos são designados como refratários. O livro aqui resenhado apresenta estratégias bem sucedidas desenvolvidas no enfoque de Terapia Comportamental Cognitiva, hoje a mais atuante e com maior sustentabilidade em evidências.

Os autores são doutores e pesquisadores conhecidos e organizaram a obra com o apoio da American Psychological Association (APA), contando também com a colaboração de outros autores conhecidos. São 18 capítulos, cada um focalizando um histórico de difícil solução e que, com o devido atendimento comportamental cognitivo, pode se transformar em êxito. Os problemas focados pelos diversos autores foram: pânico com agorafobia, respostas limitadas ao tratamento, ansiedade social, comportamento obsessivo-compulsivo, ansiedade generalizada, estresse pós-traumático, distúrbios alimentares, depressão, uso de substâncias, controle de impulso, problemas sexuais, insônia, cólera, hipocondria e ansiedade em relação à saúde, personalidade limítrofe, paralisias, comportamento antissocial e psicopatológico.

O primeiro dos 18 capítulos foi escrito pelos organizadores do livro e fornece uma base histórico-conceitual e de evidências que por si só justificam a elaboração do livro. Lembram avanços já históricos de eventos e exigências que passaram a ser feitas desde os anos 90 em relação aos protocolos de psicoterapia que apresentaram evidências do efeito de tratamento, lembrando que experimentos com caso único são chamados provavelmente eficazese são úteis quando não testados a ainda ou antes é uma proposta em experiência. Muitos tratamentos com adequados suportes empíricos estão disponíveis na Terapia Comportamental ou Cognitivo-Comportamental (CBT), mas nem sempre estão sendo usadas nas clínicas. Entre as variáveis do cliente que não levam a ter êxito no tratamento destaca algumas para as quais a CBT tem recursos: gerenciamento cognitivo ou intelectual baixo, conhecimento do problema pelo paciente, comorbidade e diagnóstico. Também destaca que fatores do terapeuta podem influir. Faz um sumário contrastivo do tratamento com base empírica e a prática com apoio empírico e salienta que a análise das falhas pode ser um bom aprendizado no desenvolvimento de intervenções mais eficazes e no refinamento de práticas empiricamente sustentadas.

O segundo capítulo é uma ampliação do referencial teórico-conceitual e foi escrito por Federici, Rowa e Antony. Os autores tratam do ajustamento da CBT quando o paciente não responde ou responde pouco no processo psicoterapêutico. Retomam os fatores selecionados ao cliente, ao terapeuta e ao diagnóstico e formas de mudar a CBT para transformar o fracasso em êxito, tais como: rever a base, modificar o conteúdo das sessões, enfatizar as expectativas, as tarefas complementares feitas em casa, a mudança nas liberações e o atendimento das comorbidades. Apresentam uma síntese de novas maneiras de atuação para obter os resultados esperados. As estratégias focam: motivação, aceitação da internação, controle emocional, técnicas para treino de capacidades específicas, busca da perfeição. Dentre variáveis a mudar no comportamento do psicoterapeuta citam: trabalhar a aliança, mudar expectativas, interferências comportamentais.

Cada um dos capítulos seguintes enfoca um dos problemas arrolados no início desta resenha, todos escritos por especialistas e produtores científicos que atuam na área. Na impossibilidade de descrever todos no espaço aqui disponível optou-se por apresentar um capítulo para que o leitor tenha uma ideia da estrutura que é a mesma norteadora dos demais temas.

O capítulo sobre Pânico com Agorafobia foi elaborado por Magaro e Craske. Começa com uma breve revisão conceitual e da história do problema, retornando aos clássicos da área até chegar às contingências atuais no atendimento de pessoas com pânico. Revisões recentes de pesquisas na área evidenciaram que a CBT apresenta dados com êxito sustentado em evidências no tratamento do tema. Descrevem a relevância do distúrbio do pânico, sua definição e a importância de se obter a mudança comportamental para o bem-estar do paciente e sua integração familiar no trabalho e na sociedade. Relatam os avanços na CBT para obter êxito no tratamento, indicando os procedimentos, êxito e fatores associados, bem como os problemas de comorbidade de humor, médicas, uso de drogas etc., e ainda os sinais de recuperação a que se deve estar atento. Apresentam um estudo de caso bem descrito como exemplo de intervenção psicoterapêutica. Nas conclusões, destacam o fato de a CBT ser considerada a primeira linha eficiente no tratamento do pânico e da agorafobia, embora ainda haja muito que se pesquisar para saber as razões de alguns pacientes não responderem ao tratamento como o esperado e sugestões para mudar este quadro. Há boas estratégias com evidências conhecidas, mas há necessidade de mais pesquisas, especialmente na presença de comorbidades associada, ao problema enfocado.

Em todos os capítulos a bibliografia é principalmente constituída por artigos de revistas e algum livro ou texto histórico. É de alto nível, pertinente e atualizada. São textos muito úteis para terapeutas que atendem pacientes com os problemas enfocados, bem como para supervisores de estágio e pesquisadores que estejam interessados nos tópicos apresentados em cada capítulo.

Os artigos são de leitura estimulante e apresentam novos horizontes e possibilidades de atendimento eficaz de problemas que atingem muitas pessoas. São também contribuições efetivas para a atualização profissional e a capacitação de recursos humanos.

Geraldina Porto Witteré doutora em Ciências, livre-docente em Psicologia Escolar; professora emérita da UFPa, do UNIPÊ e da UNICASTELO, coordenadora da Extensão e do Comitê de Ética em Pesquisa da UNICASTELO e membro da Academia Paulista de Psicologia

  • Endereço para correspondência:

    Av. Pedroso de Morais, 144, ap.302
    Pinheiros - 05420-000 - São Paulo
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Jan 2012
    • Data do Fascículo
      Dez 2011
    Universidade de São Francisco, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia R. Waldemar César da Silveira, 105, Vl. Cura D'Ars (SWIFT), Campinas - São Paulo, CEP 13045-510, Telefone: (19)3779-3771 - Campinas - SP - Brazil
    E-mail: revistapsico@usf.edu.br