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Neoplasmas cutâneos em cães: 656 casos (2007-2014) em Cuiabá, MT

Cutaneous neoplasms in dogs: 656 cases (2007-2014) from Cuiabá, MT

RESUMO:

Os neoplasmas cutâneos em cães apresentam elevada e relevante prevalência em todo o Brasil. Sendo assim, objetivou-se determinar a frequência e algumas características epidemiológicas dos neoplasmas cutâneos em cães diagnosticados no Laboratório de Patologia da Universidade Federal de Mato Grosso (LPV-UFMT), Cuiabá, entre os anos de 2007 a 2014. Foram revisados os protocolos de necropsias e biopsias do LPV-UFMT, de cães com neoplasmas cutâneos. Dados referentes à idade, sexo, raça dos cães afetados, localização anatômica, tamanho, diagnóstico histomorfológico e comportamento biológico foram coletados e analisados através de uma análise estatística descritiva. Adicionalmente o teste χ2, foi utilizado para associações entre comportamento biológico e tamanho da massa. Dos 3566 exames realizados, 656 (18,4%) foram diagnosticados como tumores cutâneos sendo cães adultos e idosos das raças Pit Bull, Boxer e Poodle os mais acometidos. Dentre os 11 padrões morfológicos mais diagnosticados o mastocitoma, carcinoma de células escamosas (CCE) e os tumores de origem vascular foram os mais frequentemente relatados. Em relação ao sítio anatômico, a cabeça foi a mais acometida. A maioria dos tumores benignos apresentaram menos de 1cm de diâmetro e os malignos de 3 a 5cm. O aumento de neoplasmas em adultos e idosos pode estar relacionado ao somatório de danos causados por agentes carcinogênicos e o comprometimento imunológico.

TERMOS DE INDEXAÇÃO:
Neoplasmas cutâneas; tumores; caninos domésticos; dermatopatologia; estudo retrospectivo; patologia

ABSTRACT:

Canine cutaneous neoplasms present high and relevant prevalence throughout Brazil. Here we determine the frequency and epidemiological characteristics of canine cutaneous neoplasms in dogs diagnosed at the Laboratory of Veterinary Pathology of the Federal University of Mato Grosso (LPV-UFMT), Cuiabá, from 2007 to 2014. The necropsy and biopsy protocols from canine cutaneous neoplasms diagnosed at the LPV-UFMT were reviewed. Data regarding age, sex, breed of affected dogs, anatomical location, size, histomorphological diagnosis and biological behavior of the tumors were evaluated through a descriptive statistical analysis. In addition, the χ2 test was used for associations between biological behavior and mass size. Of the 3566 examinations performed, 656 (18.4%) were diagnosed as cutaneous tumors being adult and old dogs of Pit Bull, Boxer and Poodle races most affected. Among the diagnoses, 11 morphological patterns were the most prevalent, being mastocytoma, squamous cell carcinoma (SCC) and tumors of vascular origin most frequently reported. In relation to the anatomical site, the head was the most affected. Most of the benign tumors were less than 1cm in diameter and the malignant were 3 to 5cm. The increase of neoplasms in adults and old age dogs may be associated to the sum of damage caused by carcinogenic agents and the immunological impairment.

INDEX TERMS:
Neoplasms; dogs; tumours; dermatopathology; retrospective study; Cuiabá; pathology

Introdução

Os distúrbios de pele representam aproximadamente 37,3% dos casos de diagnóstico histomorfológico em cães (Meirelles et al. 2010Meirelles A.E.W.B., Oliveira E.C., Rodrigues B.A., Costa G.R., Sonne L., Tesser E.S. & Driemeier D. 2010. Prevalência de neoplasmas cutâneos em cães da região metropolitana de Porto Alegre/RS: 1.017 casos (2002-2007). Pesq. Vet. Bras. 30(11):968-973. <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-736X2010001100011>
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). Dentre as alterações, as neoplasias cutâneas são frequentemente relatados em vários estados brasileiros como Pará, Ceará, Paraíba, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul assumindo prevalências que variam de 46,7% a 96,1% (De Nardi et al. 2002De Nardi A.B., Rodaski S., Sousa R.S., Costa T.A., Macedo T.R., Rodigheri S.M., Rios A. & Piekarz C.H. 2002. Prevalência de neoplasias e modalidades de tratamentos em cães, atendidos no hospital veterinário da universidade federal do Paraná. Arch. Vet. Sci. 7(2):15-26. <http://dx.doi.org/10.5380/avs.v7i2.3977>
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, Bellei et al. 2006Bellei M.H.M., Neves D.D., Gava A., Liz P.P. & Pilati C. 2006. Prevalência de neoplasias cutâneas diagnosticadas em caninos no estado de Santa Catarina, Brasil, no período entre 1998 a 2002. Revta Ciênc. Agrovet. 5(1):73-79., Felisberto et al. 2010Felisberto A.C.T., Carvalho G.D., Favarato E.S. & Silva A.S.A. 2010. Casuística de cães atendidos com suspeita de neoplasias no Hospital Veterinário da Univiçosa, no período de 2007 a 2009. Anais II Simpósio Prod. Acadêmica. Viçosa 2(1):177-182., Meirelles et al. 2010, Priebe et al. 2011Priebe A.P.S., Riet-Correa G., Paredes L.J.A., Costa M.S.F., Silva C.D.C. & Almeida M.B. 2011. Ocorrência de neoplasias em cães e gatos da mesorregião metropolitana de Belém, PA entre 2005 e 2010. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 63(6):1583-1586. <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-09352011000600042>
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, Andrade et al. 2012Andrade R.L.F.S., Oliveira D.M., Dantas A.F.M., Souza A.P., Nóbrega Neto P.I. & Riet-Correa F. 2012. Tumores de cães e gatos diagnosticados no semiárido da Paraíba. Pesq. Vet. Bras. 32(10):1037-1040. <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-736X2012001000016>
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, Bastos et al. 2017Bastos R.S.C., Farias K.M., Lopes C.E.B., Pacheco A.C.L. & Viana D.A. 2017. Estudo retrospectivo de neoplasias cutâneas em cães da região metropolitana de Fortaleza. Revta Bras. Hig. San. Anim. 11(1):39-53. <http://dx.doi.org/10.5935/1981-2965.20170005>
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), prevalecendo os de comportamento maligno (Meirelles et al. 2010, Fernandes et al. 2015Fernandes C.C., Medeiros A.A., Magalhães G.M., Juan Szabó M.P., Queiroz R.P., Silva M.V.A. & Soares N.P. 2015. Frequência de neoplasias cutâneas em cães atendidos no hospital veterinário da universidade federal de uberlândia durante os anos 2000 a 2010. Biosc. J. 31(2):541-548. <http://dx.doi.org/10.14393/BJ-v31n2a2015-22371>
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).

A incidência de neoplasmas em pele de cães deve-se a alguns fatores como: (1) a pele ser o maior órgão do corpo e representar uma barreira física entre o ambiente e organismo (Fernandes et al. 2015Fernandes C.C., Medeiros A.A., Magalhães G.M., Juan Szabó M.P., Queiroz R.P., Silva M.V.A. & Soares N.P. 2015. Frequência de neoplasias cutâneas em cães atendidos no hospital veterinário da universidade federal de uberlândia durante os anos 2000 a 2010. Biosc. J. 31(2):541-548. <http://dx.doi.org/10.14393/BJ-v31n2a2015-22371>
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), (2) estar diretamente exposta à fatores oncogênicos que, de alguma forma, promovem danos, propiciando o desenvolvimento de neoplasias (Martinez et al. 2006Martinez M.A.R., Francisco G., Cabral L.S., Ruiz R.G. & Festa Neto C. 2006. Genética molecular aplicada ao câncer cutâneo não melanoma. Anais Bras. Dermatol. 81(5):405-419. <http://dx.doi.org/10.1590/S0365-05962006000500003>
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), (3) a pele apresentar elevado índice de degeneração celular e elevada mitose, favorecendo a ocorrência de mutações e propiciando o aparecimento de neoplasmas (Murphy 2006Murphy S. 2006. Skin neoplasia in small animals. 1. Pinciples of diagnosis and management. Clin. Pract. 28(5):266-227.), (4) há facilidade na visualização da lesão, por parte dos tutores, quando comparado a outros órgãos (Merlo et al. 2008Merlo D.F., Rossi L., Pellegrino C., Ceppi M., Cardellino U., Capurro C., Ratto A., Sambucco P.L., Sestito V., Tanara G. & Bocchini V. 2008. Cancer incidence in pet dogs: findings of the animal tumor registry of Genoa, Italy. J. Vet. Intern. Med. 22(4):976-984. <http://dx.doi.org/10.1111/j.1939-1676.2008.0133.x.> <PMid:18564221>
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) e (5) devido à variedade dos componentes estruturais da epiderme e derme, nos quais cada tipo celular pode desenvolver um tipo de neoplasma (Bastos et al. 2017Bastos R.S.C., Farias K.M., Lopes C.E.B., Pacheco A.C.L. & Viana D.A. 2017. Estudo retrospectivo de neoplasias cutâneas em cães da região metropolitana de Fortaleza. Revta Bras. Hig. San. Anim. 11(1):39-53. <http://dx.doi.org/10.5935/1981-2965.20170005>
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).

Acredita-se que fatores como a predisposição genética, histórico familiar, idade dos cães e a exposição à radiação ultravioleta favoreçam o aparecimento de neoplasias (Gallagher & Lee 2006Gallagher L.T.K. & Lee T.K. 2006. Adverse effects of ultraviolet radiation: a brief review. Prog. Biophys. Mol. Biol. 92(1):119-131. <http://dx.doi.org/10.1016/j.pbiomolbio.2006.02.011> <PMid:16580054>
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). Trabalhos internacionais demonstraram variação entre as prevalências dos tumores cutâneos caninos (Scott & Paradis 1990Scott D.W. & Paradis M. 1990. A survey of canine and feline skin disorders seen in a university practice. Small Animal Clinic, University of Montréal, Saint-Hyacinthe, Québec (1987-1988). Can. Vet. J. 31(12):830-835. <PMid:17423707>, Goldschmidt & Shofer 1992Goldschmidt M.H. & Shofer F.S. 1992. Skin Tumors of the Dog and Cat. 2nd ed. Pergamon, Oxford, p.45-117., Hill et al. 2006Hill P.B., Lo A., Eden C.A.N., Huntley S., Morey V., Ramsey S., Richardson C., Smith D.J., Sutton C., Taylor M.D., Thorpe E., Tidmarsh R. & Williams V. 2006. Survey of the prevalence, diagnosis and treatment of dermatological conditions in small animals in general practice. Vet. Rec. 158(16):533-539. <http://dx.doi.org/10.1136/vr.158.16.533> <PMid:16632525>
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), provavelmente devido as diferenças geográficas associadas às diferenças na susceptibilidade, hábitos e a fatores ambientais (Souza 2005Souza T.M. 2005. Estudo retrospectivo de 761 tumores cutâneos em cães. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS. 280p.). Exemplos disso é o carcinoma de células escamosas (CCE), hemangioma e hemangiossarcoma, frequentemente mencionadas em cães que habitam áreas com elevada incidência solar (Gross et al. 2009Gross T.L., Lhrke P.J., Walder E.J. & Affolter V.K. 2009. Doenças de Pele do Cão e do Gato: diagnostico clinico e histopatológico. 2ª ed. Roca, São Paulo. 889p.).

Embora os neoplasmas cutâneas em cães representem uma importante fração diagnóstica de vários laboratórios de patologia animal (De Nardi et al. 2002De Nardi A.B., Rodaski S., Sousa R.S., Costa T.A., Macedo T.R., Rodigheri S.M., Rios A. & Piekarz C.H. 2002. Prevalência de neoplasias e modalidades de tratamentos em cães, atendidos no hospital veterinário da universidade federal do Paraná. Arch. Vet. Sci. 7(2):15-26. <http://dx.doi.org/10.5380/avs.v7i2.3977>
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, Bellei et al. 2006Bellei M.H.M., Neves D.D., Gava A., Liz P.P. & Pilati C. 2006. Prevalência de neoplasias cutâneas diagnosticadas em caninos no estado de Santa Catarina, Brasil, no período entre 1998 a 2002. Revta Ciênc. Agrovet. 5(1):73-79., Meirelles et al. 2010Meirelles A.E.W.B., Oliveira E.C., Rodrigues B.A., Costa G.R., Sonne L., Tesser E.S. & Driemeier D. 2010. Prevalência de neoplasmas cutâneos em cães da região metropolitana de Porto Alegre/RS: 1.017 casos (2002-2007). Pesq. Vet. Bras. 30(11):968-973. <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-736X2010001100011>
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, Priebe et al. 2011Priebe A.P.S., Riet-Correa G., Paredes L.J.A., Costa M.S.F., Silva C.D.C. & Almeida M.B. 2011. Ocorrência de neoplasias em cães e gatos da mesorregião metropolitana de Belém, PA entre 2005 e 2010. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 63(6):1583-1586. <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-09352011000600042>
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, Andrade et al. 2012Andrade R.L.F.S., Oliveira D.M., Dantas A.F.M., Souza A.P., Nóbrega Neto P.I. & Riet-Correa F. 2012. Tumores de cães e gatos diagnosticados no semiárido da Paraíba. Pesq. Vet. Bras. 32(10):1037-1040. <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-736X2012001000016>
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, Fernandes et al. 2015Fernandes C.C., Medeiros A.A., Magalhães G.M., Juan Szabó M.P., Queiroz R.P., Silva M.V.A. & Soares N.P. 2015. Frequência de neoplasias cutâneas em cães atendidos no hospital veterinário da universidade federal de uberlândia durante os anos 2000 a 2010. Biosc. J. 31(2):541-548. <http://dx.doi.org/10.14393/BJ-v31n2a2015-22371>
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), há pouca utilização de técnicas especiais no diagnóstico, como por exemplo a imuno-histoquímica. Somado a isso, em muitos casos há falta de informações por parte dos tutores, dificultando a acurácia diagnóstica e estudos epidemiológicos (Bellei et al. 2006Bellei M.H.M., Neves D.D., Gava A., Liz P.P. & Pilati C. 2006. Prevalência de neoplasias cutâneas diagnosticadas em caninos no estado de Santa Catarina, Brasil, no período entre 1998 a 2002. Revta Ciênc. Agrovet. 5(1):73-79.).

Embora o diagnóstico de neoplasmas cutâneos em cães seja rotineiro nos laboratórios de patologia veterinário, levantamentos epidemiológicos no Brasil são escassos, sendo observado apenas em 7 dos 26 estados, como previamente relatado. Sendo este, no conhecimento dos autores, o primeiro estudo epidemiológico dos tumores cutâneos em cães realizado no estado de Mato Grosso.

A identificação de risco para o desenvolvimento de câncer é um fator-chave na gestão da saúde do indivíduo e da população. Diante disso, este artigo visou determinar a frequência e algumas características epidemiológicas dos neoplasmas cutâneos diagnosticados histomorfologicamente em cães no LPV-UFMT, Cuiabá, no período de 2007 a 2014.

Material e Métodos

Foi realizado um estudo retrospectivo de neoplasmas cutâneos em cães, entre os anos de 2007 a 2014, diagnosticados pelo Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso (LPV-UFMT), campus Cuiabá. Entre as informações encontradas nos arquivos, foram selecionados: raça, idade, sexo, tamanho da massa tumoral e localização anatômica da massa no corpo do animal e o diagnóstico.

Todos os casos eram provenientes de necropsias e biópsias, por incisão cirúrgica e/ou punch dermatológico, realizadas no Hospital Veterinário da UFMT (Hovet-UFMT) e clínicas veterinárias particulares das quatro mesorregiões do estado: Centro-sul (15˚35’56”S e 56˚05’41”W; 15˚38’52” e 56˚07’59”); Sudoeste (14˚37’40” e 57˚30’25”); Sudeste (16˚28’16”S e 54˚38’13”W; 15˚33’35”S e 54˚17’49”W); e Norte (11˚52’22”S e 55˚29’53”W; 13˚50’18”S e 56˚04’50”W; 12˚44’09”S e 56˚30’00”W) (IBGE 2017IBGE 2017. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mato Grosso. Disponível em <Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=510340 > Acesso em 2 mar. 2017.
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). Consideraram-se os diagnósticos morfológicos que constavam nos protocolos originais, buscando apenas quando necessário a padronização dos critérios escolhidos neste estudo através das classificações histomorfológicas descritas por Gross et al. (2009)Gross T.L., Lhrke P.J., Walder E.J. & Affolter V.K. 2009. Doenças de Pele do Cão e do Gato: diagnostico clinico e histopatológico. 2ª ed. Roca, São Paulo. 889p. e Goldschmidt & Shofer (1992)Goldschmidt M.H. & Shofer F.S. 1992. Skin Tumors of the Dog and Cat. 2nd ed. Pergamon, Oxford, p.45-117..

A localização das neoplasias foi anatomicamente separada em: cabeça, pescoço, membro, tórax, abdômen, períneo, cauda e escroto e múltiplas localizações, seguindo a metodologia de Fernandes et al. (2015)Fernandes C.C., Medeiros A.A., Magalhães G.M., Juan Szabó M.P., Queiroz R.P., Silva M.V.A. & Soares N.P. 2015. Frequência de neoplasias cutâneas em cães atendidos no hospital veterinário da universidade federal de uberlândia durante os anos 2000 a 2010. Biosc. J. 31(2):541-548. <http://dx.doi.org/10.14393/BJ-v31n2a2015-22371>
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. As faixas etárias foram divididas em: filhotes (até um ano de idade), adultos (de um a oito anos de idade) e idosos (acima de oito anos de idade) (Souza et al. 2006Souza T.M., Fighera R.A., Irigoyen L.F. & Barros C.S.L. 2006. Estudo retrospectivo de 761 tumores cutâneos em cães. Ciência Rural 36(2):555-560. <http://dx.doi.org/10.1590/S0103-84782006000200030>
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). O sexo foi descrito como macho ou fêmea.

Para a avaliação estatística foi realizada uma análise descritiva do banco de dados sendo posteriormente averiguada a distribuição de frequências e suas classificações. As associações entre comportamento biológico do tumor de pele e tamanho foi realizado através do teste qui-quadrado (Software R.3.1.1).

Resultados

De 2007 a 2014 o LPV-UFMT diagnosticou 3.566 exames, originados de necropsia e biópsias, de cães e, destes, 656 (18,4%) eram neoplasmas cutâneos. A prevalência destes tumores oscilou durante os oito anos estudados (Fig.1). Entre as 656 amostras, apenas 356 (54,3%) havia registro da mesorregião originada, distribuindo-se em: 328 (50,0%) da região Centro-Sul, 17 (2,6%) Sudoeste, 6 (0,9%) Sudeste e 5 (0,8%) Norte (Fig.2).

Fig.1.
Prevalência dos 656 neoplasmas cutâneos de cães diagnosticados de 2007 a 2014 no Laboratório de Patologia Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso.

Fig.2.
Origem dos 656 neoplasmas cutâneos de cães diagnosticados no Laboratório de Patologia Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso. Ni = Dado não informado; * Local aproximado da cidade de Cuiabá. Fonte: Adaptado do IBGE, 2017IBGE 2017. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mato Grosso. Disponível em <Disponível em http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=510340 > Acesso em 2 mar. 2017.
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.

A idade dos cães acometidos variou entre quatro meses e 18 anos (média de 7,7 anos), com predomínio (50,2%) dos adultos. Fêmeas representaram 50,6% dos cães e machos 49,4% da população estudada. Não foi observada diferença significativa entre sexo, ocorrência de neoplasmas e idade (Quadro 1). No entanto, ao analisar o sexo em função das raças (Quadro 2), observou-se maior ocorrência em machos nas raças Shitzu (80%) e Fila brasileiro (64,7%) e fêmeas nas Cocker Spaniel (66,7%), Rotweiller (61,3%) e Poodle (61,1%).

Quadro 1.
Total de tumores da pele diagnosticados no Laboratório de Patologia Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso, distribuído por idade em relação ao sexo, de 2007 a 2014

Quadro 2.
Descrição das 20 principais raças caninas em função da quantidade de animais, idade média, sexo e principais diagnósticos histomorfológicos de tumores da pele em cães diagnosticados de 2007 a 2014 no Laboratório de Patologia Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso

Os cães com raça definida (CRD) apresentaram-se em quantidade numérica superior aos sem raça definida (SRD) (463/656; [70,57%]) e perfizeram 36 variações raciais. As 10 de maior ocorrência (54%) estão listadas no quadro 2. As 26 raças não inclusas, devido à baixa ocorrência, foram: Fox Paulistinha (1,37%), Dog Alemão e Bassed Hound (1,21 cada), Maltês (0,91%), Lhasa apso, York Shire, Schnauzer e Sharpei (0,76% cada), Beagle e Dobermann (0,6% cada), Dálmata e Pug (0,45% cada), Pastor Belga, Spitz Alemão, Golden Retriever, Scottish terrier e Bull terrier (0,3% cada), American Staffordshire Terrier, Border collie, Blue hiller, Bulldog Alemão, Dog Argentino, Pointer, Weimarainer e West Highland (0,15% cada).

No diagnóstico histomorfológico (Quadro 3) predominou os tumores mesenquimais (41%) seguidos dos epiteliais, tumores de células redondas (TCR) e melanocíticos (31,7%, 21,5% e 5,8%, respectivamente). Os mesenquimais mais diagnosticados foram: mastocitoma (30,11), hemangioma (20,82), hemangiossarcoma (17,84%) e lipoma (11,15%); os epiteliais: carcinoma de células escamosas (CCE) (27,4%), tricoblastoma (13,46%) e adenoma de glândula sebácea (9,61%); TCR: linfoma (38,29%), histiocitoma (26,24%) e tumor venéreo transmissível (TVT) (13,47%); e melanocíticos: melanoma (92,1%). Estes 11 diagnósticos representaram 70,9% dos 43 tipos tumorais diagnosticados neste estudo.

Quadro 3.
Descrição dos tumores cutâneos de cães em função da quantidade de animais, raça mais acometida, local anatômico e sexo diagnosticados no Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso, entre 2007 e 2014

Ao relacionar o diagnóstico histomorfológico e sexo (quadro 3) observou-se que em machos havia maior ocorrência de adenoma e carcinoma da glândula hepatóide (80% e 71,4% respectivamente), adenoma de glândula lacrimal (80%), histiocitoma (64,9%) e TVT (63,2%); e em fêmeas o tricoepitelioma (100%), lipoma (73,3%), melanoma (65,7%) e melanocitoma (66,7%).

O diagnóstico histomorfológico em função da raça (Quadro 3) apontou que os neoplasmas originados de estruturas do folículo piloso foram mais observados nas raças Poodle e Lhasa Apso, glandulares na Poodle, vasculares, linfoma e histiocitoma no Pit Bull, melanocíticos no Rottweiler e mastocitoma no Boxer.

Com relação às raças em função do diagnóstico histomorfológico (Quadro 2): o Fila Brasileiro, Boxer e Labrador Retriever foram as mais acometidas por mastocitoma, com 35,1%, 25% e 16,6%, respectivamente; o American Pit Bull Terrier (Pit Bull) por hemangiossarcoma (22,8%), CCE e hemangioma (19,49%); o Poodle por adenoma sebáceo (20,3%) e tricoblastoma (12,9%); e o Shitzu por tricoblastoma (40%). A idade média, sexo e principais diagnósticos histomorfológico nas 10 raças de maior ocorrência estão detalhadas no quatro 2.

Quanto ao comportamento biológico há predomino da forma benigna (380/656; 57,93%). Do total de neoplasmas cutâneos inclusos, apenas 441 (67,23%) apresentavam registro do tamanho da massa e, destes, 253/441 (57,4%) eram benignos (quadro 4). Há diferença estatística na relação entre o tamanho dos tumores e sua classificação biológica (p=0.0008206). Um total de 59,6% (112/188) dos neoplasmas malignos apresentavam de 3 a 5cm de diâmetro, sugerindo malignidade.

Quadro 4.
Correlação entre comportamento biológico e tamanho tumoral de 441 de 656 tumores da pele em cães diagnosticados no Laboratório de Patologia Veterinária, Universidade Federal de Mato Grosso, de 2007 a 2014

Quanto à localização anatômica: O papiloma, melanoma e tricoblastoma acometeram predominantemente à cabeça (76,9%, 52,9% e 44,4% respectivamente); o hemangiossarcoma, hemangioma, mastocitoma e CCE o abdômen (31,7%, 27,7%, 24,3% e 24%); e o Adenoma e carcinoma de células hepatóides, TVT, hemangiossarcoma e hemangioma o períneo (100%, 100%, 94,7%, 29,3% e 23,4%) (Quadro 3). Entre os tumores mesenquimais houve predomínio de ocorrência nos membros (50/269) e abdômen (47/269), epiteliais a cabeça (65/208) e períneo (34/208), TCR múltiplos locais (42/141) e melanocítico a cabeça (16/38). O local de maior ocorrência entre os 656 neoplasmas cutâneos é a cabeça, seguida pelos membros, e o de menor é a cauda seguida pelo pescoço.

Discussão

A incidência dos neoplasmas cutâneos em cães apresentou oscilação, no entanto é possível notar aumento na casuística, semelhante ao observado em Santa Maria (Souza et al. 2006Souza T.M., Fighera R.A., Irigoyen L.F. & Barros C.S.L. 2006. Estudo retrospectivo de 761 tumores cutâneos em cães. Ciência Rural 36(2):555-560. <http://dx.doi.org/10.1590/S0103-84782006000200030>
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) e Fortaleza (Bastos et al. 2017Bastos R.S.C., Farias K.M., Lopes C.E.B., Pacheco A.C.L. & Viana D.A. 2017. Estudo retrospectivo de neoplasias cutâneas em cães da região metropolitana de Fortaleza. Revta Bras. Hig. San. Anim. 11(1):39-53. <http://dx.doi.org/10.5935/1981-2965.20170005>
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). Acredita-se que este aumento esteja relacionado à: crescente preocupação dos clínicos veterinários e tutores em fazer o diagnóstico das lesões de pele (Viana et al. 2014Viana D.A., Pinto J.N., Souza L.P., Pacheco A.C.L., Morais G.B., Evangelista J.S.A.M. & Silva L.D.M. 2014. Estudo retrospectivo das neoplasias mamárias caninas em Fortaleza e região metropolitana de 2003 a 2011. Ciênc. Anim. 24(1):35-45.); e à aproximação entre cão e tutor, favorecendo a visualização precoce das massas (Bastos et al. 2017Bastos R.S.C., Farias K.M., Lopes C.E.B., Pacheco A.C.L. & Viana D.A. 2017. Estudo retrospectivo de neoplasias cutâneas em cães da região metropolitana de Fortaleza. Revta Bras. Hig. San. Anim. 11(1):39-53. <http://dx.doi.org/10.5935/1981-2965.20170005>
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).

A mesorregião com maior casuística (50%) foi à centro-sul (Cuiabá e Várzea Grande), provavelmente decorrente da proximidade geográfica ao LPV-UFMT, situado na cidade de Cuiabá. Os cães adultos (1 a 8 anos) foram os mais afetados (50,15%) por neoplasma cutâneo, seguido pelos idosos (33,54%), corroborando com Meirelles et al. (2010)Meirelles A.E.W.B., Oliveira E.C., Rodrigues B.A., Costa G.R., Sonne L., Tesser E.S. & Driemeier D. 2010. Prevalência de neoplasmas cutâneos em cães da região metropolitana de Porto Alegre/RS: 1.017 casos (2002-2007). Pesq. Vet. Bras. 30(11):968-973. <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-736X2010001100011>
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e Bastos et al. (2017)Bastos R.S.C., Farias K.M., Lopes C.E.B., Pacheco A.C.L. & Viana D.A. 2017. Estudo retrospectivo de neoplasias cutâneas em cães da região metropolitana de Fortaleza. Revta Bras. Hig. San. Anim. 11(1):39-53. <http://dx.doi.org/10.5935/1981-2965.20170005>
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. Sugere-se que a prolongada exposição da pele à carcinógenos ambientais (Bellei et al. 2006Bellei M.H.M., Neves D.D., Gava A., Liz P.P. & Pilati C. 2006. Prevalência de neoplasias cutâneas diagnosticadas em caninos no estado de Santa Catarina, Brasil, no período entre 1998 a 2002. Revta Ciênc. Agrovet. 5(1):73-79.) e o comprometimento do sistema imunológico (Modiano & Breen 2007Modiano J.F. & Breen M. 2007. The etiology of cancer, p.3-30. In: Withrow S.J. & Vail D.M. (Eds), MacEwen’s Small Animal Clinical Oncology. 4th ed. Saunders Elsevier, St Louis.) são fatores envolvidos no aparecimento das neoplasias nesta faixa etária.

Não foi observada diferença estatística entre o diagnóstico e a predisposição sexual, no entanto os adenomas e carcinomas hepatóides foram mais observados em machos e os lipomas em fêmeas. Dados similares foram observados por Meirelles et al. (2010)Meirelles A.E.W.B., Oliveira E.C., Rodrigues B.A., Costa G.R., Sonne L., Tesser E.S. & Driemeier D. 2010. Prevalência de neoplasmas cutâneos em cães da região metropolitana de Porto Alegre/RS: 1.017 casos (2002-2007). Pesq. Vet. Bras. 30(11):968-973. <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-736X2010001100011>
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e Hobert et al. (2013)Hobert M.K., Brauer C., Dziallas P., Gerhauser I., Algermissen D., Tipold A. & Stein V.M. 2013. Infiltrative lipoma compressing the spinal cord in 2 Large-Breed dogs. Can. Vet. J. 54(1):74-78. <PMid:23814306> respectivamente. No presente estudo não há dados em relação à castração dos animais, impossibilitando associar a neoplasia com a produção hormonal e a idade, como o realizado por Torres de la Riva et al. (2013)Torres de la Riva G., Hart B.L., Farver T.B., Oberbauer A.M., Messam L.L.M.V., Willits N. & Hart L.A. 2013. Neutering dogs: Effects on joint disordes and cancers in Golden Retrievers. PLos One. 8(2):1-7. <http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0055937> <PMid:23418479>
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.

Entre os cães CRD houve predomínio de Pit Bull, Boxer e Poodle, semelhante aos demais trabalhos realizados (Andrade et al. 2012Andrade R.L.F.S., Oliveira D.M., Dantas A.F.M., Souza A.P., Nóbrega Neto P.I. & Riet-Correa F. 2012. Tumores de cães e gatos diagnosticados no semiárido da Paraíba. Pesq. Vet. Bras. 32(10):1037-1040. <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-736X2012001000016>
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, Fernandes et al. 2015Fernandes C.C., Medeiros A.A., Magalhães G.M., Juan Szabó M.P., Queiroz R.P., Silva M.V.A. & Soares N.P. 2015. Frequência de neoplasias cutâneas em cães atendidos no hospital veterinário da universidade federal de uberlândia durante os anos 2000 a 2010. Biosc. J. 31(2):541-548. <http://dx.doi.org/10.14393/BJ-v31n2a2015-22371>
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). A elevada incidência de neoplasmas em cães CRD sugere predisposição genética (Gross et al. 2009Gross T.L., Lhrke P.J., Walder E.J. & Affolter V.K. 2009. Doenças de Pele do Cão e do Gato: diagnostico clinico e histopatológico. 2ª ed. Roca, São Paulo. 889p.), resultando em múltiplas gerações de cães acometidos pelo mesmo neoplasma (Davis & Ostrander 2014Davis B.W. & Ostrander E.A. 2014. Domestic dogs and cancer research: a breed-based genomics approach. ILAR J. 55(1):59-68. <http://dx.doi.org/10.1093/ilar/ilu017> <PMid:24936030>
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). Como o observado neste estudo, o Boxer é um exemplo de raças que é comumente acometida por mastocitoma (Pizzoni et al. 2017Pizzoni S., Sabattini S., Stefanello D., Dentini A., Ferrari R., Dacasto M., Giantin M., Laganga P., Amati M., Tortorella G. & Marconato L. 2017. Features and prognostic imact of distant metastases in 45 dogs with de novo stage IV cutaneous mast cell tumours: a prospective study. Vet. Comp. Oncol. 16(1): 28-36. <PMid:28233400>) e hemangiossacoma (Meirelles et al. 2010Meirelles A.E.W.B., Oliveira E.C., Rodrigues B.A., Costa G.R., Sonne L., Tesser E.S. & Driemeier D. 2010. Prevalência de neoplasmas cutâneos em cães da região metropolitana de Porto Alegre/RS: 1.017 casos (2002-2007). Pesq. Vet. Bras. 30(11):968-973. <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-736X2010001100011>
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); e o Pit Bull por tumores vasculares e CCE (Fernandes et al. 2015Fernandes C.C., Medeiros A.A., Magalhães G.M., Juan Szabó M.P., Queiroz R.P., Silva M.V.A. & Soares N.P. 2015. Frequência de neoplasias cutâneas em cães atendidos no hospital veterinário da universidade federal de uberlândia durante os anos 2000 a 2010. Biosc. J. 31(2):541-548. <http://dx.doi.org/10.14393/BJ-v31n2a2015-22371>
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).

Adicionalmente, a presença de tumores vasculares na raça Pit Bull pode ser favorecida pela exposição da pele à radiação solar devida ao pelo curto e pouca pigmentação cutânea que estes animais possuem (Goldschmidt & Shofer 1992Goldschmidt M.H. & Shofer F.S. 1992. Skin Tumors of the Dog and Cat. 2nd ed. Pergamon, Oxford, p.45-117.). Entretanto, é importante salientar que não possuímos o número total de cães desta raça, o que nos impossibilita descartar a possibilidade de vício ambiental nas amostras.

Embora o TVT não tenha sido apontado como um dos cinco tumores mais diagnosticados, a sua frequência foi alta (2,9%) quando comparada a estudos realizados em Porto Alegre e Santa Maria (Souza et al. 2006Souza T.M., Fighera R.A., Irigoyen L.F. & Barros C.S.L. 2006. Estudo retrospectivo de 761 tumores cutâneos em cães. Ciência Rural 36(2):555-560. <http://dx.doi.org/10.1590/S0103-84782006000200030>
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, Meirelles et al. 2010Meirelles A.E.W.B., Oliveira E.C., Rodrigues B.A., Costa G.R., Sonne L., Tesser E.S. & Driemeier D. 2010. Prevalência de neoplasmas cutâneos em cães da região metropolitana de Porto Alegre/RS: 1.017 casos (2002-2007). Pesq. Vet. Bras. 30(11):968-973. <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-736X2010001100011>
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). Entretanto, considerada baixa quando comparada a Uberlândia (Fernandes et al. 2015Fernandes C.C., Medeiros A.A., Magalhães G.M., Juan Szabó M.P., Queiroz R.P., Silva M.V.A. & Soares N.P. 2015. Frequência de neoplasias cutâneas em cães atendidos no hospital veterinário da universidade federal de uberlândia durante os anos 2000 a 2010. Biosc. J. 31(2):541-548. <http://dx.doi.org/10.14393/BJ-v31n2a2015-22371>
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), Paraíba (Andrade et al. 2012Andrade R.L.F.S., Oliveira D.M., Dantas A.F.M., Souza A.P., Nóbrega Neto P.I. & Riet-Correa F. 2012. Tumores de cães e gatos diagnosticados no semiárido da Paraíba. Pesq. Vet. Bras. 32(10):1037-1040. <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-736X2012001000016>
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), Belém (Priebe et al. 2011Priebe A.P.S., Riet-Correa G., Paredes L.J.A., Costa M.S.F., Silva C.D.C. & Almeida M.B. 2011. Ocorrência de neoplasias em cães e gatos da mesorregião metropolitana de Belém, PA entre 2005 e 2010. Arq. Bras. Med. Vet. Zootec. 63(6):1583-1586. <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-09352011000600042>
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), Curitiba (De Nardi et al. 2002De Nardi A.B., Rodaski S., Sousa R.S., Costa T.A., Macedo T.R., Rodigheri S.M., Rios A. & Piekarz C.H. 2002. Prevalência de neoplasias e modalidades de tratamentos em cães, atendidos no hospital veterinário da universidade federal do Paraná. Arch. Vet. Sci. 7(2):15-26. <http://dx.doi.org/10.5380/avs.v7i2.3977>
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) e Lages (Bellei et al. 2006Bellei M.H.M., Neves D.D., Gava A., Liz P.P. & Pilati C. 2006. Prevalência de neoplasias cutâneas diagnosticadas em caninos no estado de Santa Catarina, Brasil, no período entre 1998 a 2002. Revta Ciênc. Agrovet. 5(1):73-79.). Por disseminar-se durante o coito (Komnenou et al. 2015Komnenou A.T., Thomas A.L., Kyriazis A.P., Poutahidis T. & Papazoglou L.G. 2015. Ocular manifestations of canine transmissible venereal tumour: a retrospective study of 25 cases in Greece. Vet. Rec. 176(20):523. <http://dx.doi.org/10.1136/vr.102968> <PMid:25888603>
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), ou contato físico (Lima et al. 2013Lima T.B., Marinho P.V.T., Lira R.N., Jark P.C., Melo J.F.P. & Oliveira L.C.R. 2013. Apresentação atípica de tumor venéreo transmissível cutâneo em um cão. Vet. Zootec. 20(1):57-61.), este neoplasma apresenta-se com frequência elevada em áreas com grande quantidade de cães errantes. Acreditamos que a incidência de TVT em Cuiabá está sendo subestimada, pois grande parte destes diagnósticos é decorrente da análise citomorfológica, as quais não foram incluídas neste estudo.

Neste trabalho, os melanomas representaram 5,3% (35/656) dos diagnósticos, enquanto os CCE perfizeram 8,7%, sendo semelhante ao levantamento de neoplasia em pele de cães realizado em Fortaleza (Bastos et al. 2017Bastos R.S.C., Farias K.M., Lopes C.E.B., Pacheco A.C.L. & Viana D.A. 2017. Estudo retrospectivo de neoplasias cutâneas em cães da região metropolitana de Fortaleza. Revta Bras. Hig. San. Anim. 11(1):39-53. <http://dx.doi.org/10.5935/1981-2965.20170005>
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). O risco de desenvolver melanoma aumenta quando há exposição solar intensa de forma crônica ou ocasional (Armstrong & Kricker 1993Armstrong B.K. & Kricker A. 1993. How much melanoma is caused by sun exposure? Melanoma Res. 3(6):395-401. <http://dx.doi.org/10.1097/00008390-199311000-00002> <PMid:8161879>
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) ou queimaduras solares (Oliveria et al. 2006Oliveria S.A., Saraiya M., Geller A.C., Heneghan M.K. & Jorgensen C. 2006. Sun exposure and risk of melanoma. Arch. Dis. Childhood 91(2):131-138. <http://dx.doi.org/10.1136/adc.2005.086918> <PMid:16326797>
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). Em humanos, há 25 vezes mais risco de desenvolver melanoma em pessoas brancas do que em negras (American Cancer Society 2015American Cancer Society 2015. Cancer Facts and Figures. Disponível em <Disponível em http://www.cancer.org > Acesso em 2 mar. 2017.
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). Neste trabalho, o Rottweiler foi a raça mais acometida por melanoma, provavelmente por serem mantido nos quintas das casas devido ao grande porte sendo utilizados para a proteção.

Diferente de outros estudos (Fernandes et al. 2015Fernandes C.C., Medeiros A.A., Magalhães G.M., Juan Szabó M.P., Queiroz R.P., Silva M.V.A. & Soares N.P. 2015. Frequência de neoplasias cutâneas em cães atendidos no hospital veterinário da universidade federal de uberlândia durante os anos 2000 a 2010. Biosc. J. 31(2):541-548. <http://dx.doi.org/10.14393/BJ-v31n2a2015-22371>
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, Bastos et al. 2017Bastos R.S.C., Farias K.M., Lopes C.E.B., Pacheco A.C.L. & Viana D.A. 2017. Estudo retrospectivo de neoplasias cutâneas em cães da região metropolitana de Fortaleza. Revta Bras. Hig. San. Anim. 11(1):39-53. <http://dx.doi.org/10.5935/1981-2965.20170005>
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), neste trabalho a maioria dos tumores apresentaram comportamento benigno (57,93%) e menos de 1 cm de tamanho (46,3%). Dado similar foi observado por Sorenmo et al. (2009)Sorenmo K.U., Kristiansen V.M., Cofone M.A., Shofer F.S., Breen A.-M., Langeland M., Mongil C.M., Grondahl A.M., Teige J. & Goldschmidt M.H. 2009. Canine mammary gland tumors; a histological continuum from benign to malignant; clinical and histopathological evidence. Vet. Comp. Oncol. 7(3):162-172. <http://dx.doi.org/10.1111/j.1476-5829.2009.00184.x> <PMid:19691645>
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, no qual a maioria dos tumores benignos eram pequenos no momento do diagnóstico, reforçando o resultado do presente estudo no qual há predomínio de tumores benignos com menos de 1cm de diâmetro e malignos de 3 a 5cm.

Devido à variedade de células epiteliais que compõem a pele (Fernandes et al. 2015Fernandes C.C., Medeiros A.A., Magalhães G.M., Juan Szabó M.P., Queiroz R.P., Silva M.V.A. & Soares N.P. 2015. Frequência de neoplasias cutâneas em cães atendidos no hospital veterinário da universidade federal de uberlândia durante os anos 2000 a 2010. Biosc. J. 31(2):541-548. <http://dx.doi.org/10.14393/BJ-v31n2a2015-22371>
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), esperava-se que os neoplasmas de origem epitelial fossem os mais prevalentes. Entretanto, os mesenquimais foram os mais frequentemente diagnosticados, provavelmente devido ao mastocitoma, o qual sozinho perfez um total de 30,11% de todos os tumores diagnosticados. As diferenças entre as prevalências nestes grupos possivelmente é um reflexo da população canina e a influência ambiental (Mukaratirwa et al. 2005Mukaratirwa S., Chipunza J., Chitanga S., Chimonyo M. & Bhebhe E. 2005. Canine cutaneous eoplasms: prevalence and influence of age, sex and site on the presence and potential malignancy of cutaneous neoplasms in dogs from Zimbabwe. J. S. Afr. Vet. Assoc. 76(2):59-62. <http://dx.doi.org/10.4102/jsava.v76i2.398> <PMid:16108522>
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).

A variação na ocorrência tumoral nos diferentes sítios anatômicos sugere haver predisposição ao desenvolvimento neoplásico em determinados locais (Kaldrymidou et al. 2002Kaldrymidou H., Leontides L., Koutinas A.F., Saridomichelakis M.N. & Karayannopoulou M. 2002. Prevalence, distribution and factors associated with the presence and the potential for malignancy of cutaneous neoplasms in 174 dogs admitted to a clinic in northern Greece. J. Vet. Med. 49(2):87-91. <http://dx.doi.org/10.1046/j.1439-0442.2002.jv408.x> <PMid:11958472>
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). Os mesenquimais predominaram na região do tronco e pouca ocorrência na cabeça e pescoço. Acredita-se que isso ocorra devido os três principais diagnósticos deste grupo (mastocitoma, hemangioma e lipoma) estar localizados em menos de 10% nesta região (Kaldrymidou et al. 2002Kaldrymidou H., Leontides L., Koutinas A.F., Saridomichelakis M.N. & Karayannopoulou M. 2002. Prevalence, distribution and factors associated with the presence and the potential for malignancy of cutaneous neoplasms in 174 dogs admitted to a clinic in northern Greece. J. Vet. Med. 49(2):87-91. <http://dx.doi.org/10.1046/j.1439-0442.2002.jv408.x> <PMid:11958472>
https://doi.org/10.1046/j.1439-0442.2002...
). O CCE predominante (42,1%%) em abdômen é comum em pele despigmentada, ou apenas parte dela, (Fernandes et al. 2015Fernandes C.C., Medeiros A.A., Magalhães G.M., Juan Szabó M.P., Queiroz R.P., Silva M.V.A. & Soares N.P. 2015. Frequência de neoplasias cutâneas em cães atendidos no hospital veterinário da universidade federal de uberlândia durante os anos 2000 a 2010. Biosc. J. 31(2):541-548. <http://dx.doi.org/10.14393/BJ-v31n2a2015-22371>
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). É interessante ressaltar que o melanoma oral apresenta comportamento mais agressivo (Gross et al. 2009Gross T.L., Lhrke P.J., Walder E.J. & Affolter V.K. 2009. Doenças de Pele do Cão e do Gato: diagnostico clinico e histopatológico. 2ª ed. Roca, São Paulo. 889p.), enquanto o que ocorre em pele com pelo tendem a menor agressividade (Bergman 2007Bergman P.J. 2007. Canine oral melanoma. Clin. Tech. Small Anim. Pract. 22(2):55-60. <http://dx.doi.org/10.1053/j.ctsap.2007.03.004> <PMid:17591290>
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), evidenciando a importância da localização anatômica no comportamento e predisposição tumoral.

Conclusões

Tumores cutâneos em cães apresentam prevalência de 18,4%. Houve predomínio de 11 padrões morfológicos distintos, sendo o mastocitoma, CCE e tumores vasculares os mais prevalentes.

Pit Bull e boxer foram as raças mais acometidas.

A maioria dos neoplasmas cutâneos de 1cm de diâmetro é benigna e localiza-se na cabeça.

A idade, a raça e o sexo são fatores que influenciam o desenvolvimento de alguns neoplasmas cutâneos de cães.

Agradecimentos

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelo auxílio financeiro durante a execução deste trabalho.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul 2018

Histórico

  • Recebido
    21 Ago 2017
  • Aceito
    30 Ago 2017
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