Resumos
O objetivo deste trabalho foi realizar o isolamento e analisar o perfil de resistência antimicrobiana de Enterococcus de carcaças de frango resfriadas e congeladas comercializadas no Distrito Federal, detectando genes de resistência antimicrobiana e identificando as espécies Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium por reação polimerase em cadeia. Foram analisadas 100 carcaças de frangos, das quais foram isoladas 50 cepas de Enterococcus spp., sendo 42% de E. faecalis e 2% de E. faecium. O teste de susceptibilidade antimicrobiana demonstrou que todas as cepas isoladas apresentaram resistência a pelo menos um antimicrobiano, dos quais 90,47% das cepas de E. faecalis, 100% das cepas de E. Faecium e 82,14% dos Enterococcus spp. apresentaram resistência à Tetraciclina; 80,95% das cepas de E. faecalis e 35,71% das cepas de Enterococcus spp. foram resistentes à Eritromicina; 39,28% dos Enterococcus spp. e 23,80% dos E. faecalis à Ciprofloxacina e 28,57% dos E. faecalis apresentaram resistência ao Cloranfenicol. Foram detectados os genes de resistência antimicrobiana erm(B), vanC-1, aph(3')-llla, ant(6)-la, vanB, vanA, aac(6')-le-aph(2'')-la, erm(A) e tet(M) - este último mais frequente. Estes resultados sugerem sérios problemas para a Saúde Pública, uma vez que esses microrganismos podem possuir a capacidade de transmitir genes de resistência antimicrobiana para outros microrganismos presentes na microbiota intestinal de humanos e animais, podendo inviabilizar o uso destas drogas para tratamentos clínicos.
Enterococcus faecalis; Enteroccus faecium; resistência antimicrobiana; tetraciclina; cloranfenicol; carcaças de frango
The aim of this study was to isolate and analyze the antimicrobial profile resistance of Enterococcus from cooled and frozen poultry carcasses commercialized at the Federal District area, detecting the antimicrobial resistance genes and identifying Enterococcus faecalis and Enterococcus faecium by polymerase chain reaction. One hundred poultry carcasses were analyzed and 50 strains of Enterococcus spp. were isolated, of which 42% were E. faecalis and 2% E. faecium. The antimicrobial susceptibility test showed that all isolates were resistant to at least one antibiotic; 90,47% of E. faecalis, 100% of E. faecium and 82,14% of Enterococcus spp. were resistant to Tetracycline; 80,95% of E. faecalis and 35,71% of Enterococcus spp. strains were resistant to Erythromycin; 39,28% of Enterococcus spp. and 23,80% of E. faecalis to Ciprofloxacin, and 28,57% of E. faecalis were resistant to Chloramphenicol. There were detected erm(B), vanC-1, aph(3')-llla, ant(6)-la, vanB, vanA, aac(6')-le-aph(2'')-la, erm(A) and tet(M) resistance genes, the last one most often verified. The results might suggest problems for public health due the high resistance, since these microorganisms have ability to transmit genes for antimicrobial resistance to others in the intestinal tract of humans and animals. Thus, the use of these drugs for clinical treatment could be hindered.
Enterococcus faecalis; Enteroccus faecium; antimicrobial resistance; tetracycline; chloramphenicol; poultry carcasses
ANIMAIS DE PRODUÇÃO
Resistência antimicrobiana em Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium isolados de carcaças de frango
Antimicrobial Resistance of Enterococcus faecalis and Enterococcus faecium isolated from poultry carcasses
Ana Claudia F. Borges de Campos; Nara R. Souza; Patrícia H.C. da Silva; Ângela P. Santana* * Autor para correspondência: patvet@unb.br
Laboratório de Microbiologia de Alimentos (LAMAL), Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, Universidade de Brasília (UnB), Campus Darcy Ribeiro, ICC Sul ASS 128/10, Brasília, DF 70910-900, Brasil
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi realizar o isolamento e analisar o perfil de resistência antimicrobiana de Enterococcus de carcaças de frango resfriadas e congeladas comercializadas no Distrito Federal, detectando genes de resistência antimicrobiana e identificando as espécies Enterococcus faecalis e Enterococcus faecium por reação polimerase em cadeia. Foram analisadas 100 carcaças de frangos, das quais foram isoladas 50 cepas de Enterococcus spp., sendo 42% de E. faecalis e 2% de E. faecium. O teste de susceptibilidade antimicrobiana demonstrou que todas as cepas isoladas apresentaram resistência a pelo menos um antimicrobiano, dos quais 90,47% das cepas de E. faecalis, 100% das cepas de E. Faecium e 82,14% dos Enterococcus spp. apresentaram resistência à Tetraciclina; 80,95% das cepas de E. faecalis e 35,71% das cepas de Enterococcus spp. foram resistentes à Eritromicina; 39,28% dos Enterococcus spp. e 23,80% dos E. faecalis à Ciprofloxacina e 28,57% dos E. faecalis apresentaram resistência ao Cloranfenicol. Foram detectados os genes de resistência antimicrobiana erm(B), vanC-1, aph(3')-llla, ant(6)-la, vanB, vanA, aac(6')-le-aph(2'')-la, erm(A) e tet(M) este último mais frequente. Estes resultados sugerem sérios problemas para a Saúde Pública, uma vez que esses microrganismos podem possuir a capacidade de transmitir genes de resistência antimicrobiana para outros microrganismos presentes na microbiota intestinal de humanos e animais, podendo inviabilizar o uso destas drogas para tratamentos clínicos.
Termos de indexação:Enterococcus faecalis, Enteroccus faecium, resistência antimicrobiana, tetraciclina, cloranfenicol, carcaças de frango.
ABSTRACT
The aim of this study was to isolate and analyze the antimicrobial profile resistance of Enterococcus from cooled and frozen poultry carcasses commercialized at the Federal District area, detecting the antimicrobial resistance genes and identifying Enterococcus faecalis and Enterococcus faecium by polymerase chain reaction. One hundred poultry carcasses were analyzed and 50 strains of Enterococcus spp. were isolated, of which 42% were E. faecalis and 2% E. faecium. The antimicrobial susceptibility test showed that all isolates were resistant to at least one antibiotic; 90,47% of E. faecalis, 100% of E. faecium and 82,14% of Enterococcus spp. were resistant to Tetracycline; 80,95% of E. faecalis and 35,71% of Enterococcus spp. strains were resistant to Erythromycin; 39,28% of Enterococcus spp. and 23,80% of E. faecalis to Ciprofloxacin, and 28,57% of E. faecalis were resistant to Chloramphenicol. There were detected erm(B), vanC-1, aph(3')-llla, ant(6)-la, vanB, vanA, aac(6')-le-aph(2'')-la, erm(A) and tet(M) resistance genes, the last one most often verified. The results might suggest problems for public health due the high resistance, since these microorganisms have ability to transmit genes for antimicrobial resistance to others in the intestinal tract of humans and animals. Thus, the use of these drugs for clinical treatment could be hindered.
Index terms:Enterococcus faecalis, Enteroccus faecium, antimicrobial resistance, tetracycline, chloramphenicol, poultry carcasses.
INTRODUÇÃO
Os Enterococcus spp. compõem a microbiota intestinal de seres humanos e animais saudáveis e estão amplamente distribuídos no ambiente (Biavasco et al. 2007, Casal et al. 2009, López et al. 2009, Riboldi et al. 2009). As duas espécies mais importantes, E. faecium e E. faecalis, estão frequentemente implicadas em infecções em animais e humanos imunocomprometidos, como bacteremia, septicemia, infecções do trato urinário, infecções de feridas, meningites e endocardites (Cauwerts et al. 2007, Gama 2008, Kense et al. 2011, Zou et al. 2011). Sabe-se que os Enterococcus spp. são propensos a sofrer seleção a cada administração de antimicrobiano, levando à formação de um reservatório animal de Enterococcus spp. resistentes, que podem infectar os seres humanos tanto por contato direto com animais como através da ingestão de alimentos de origem animal (Kaszanyitzky et al. 2007, Oliveira et al. 2010, Vignaroli et al. 2011). No trato gastrintestinal, os genes de resistência adquiridos podem ser transferidos por elementos móveis de DNA, tanto para outros da espécie como outros agentes zoonóticos, mesmo que em testes de antibiograma os Enterococcus não apresentem resistência (Bogaard et al. 2002, Cauwerts et al. 2007). No contexto do Brasil, como um dos maiores produtores exportadores mundiais de carnes de aves, é de notório conhecimento que, no sistema de criação de frangos, drogas antimicrobianas podem ser utilizadas como agentes terapêuticos e/ou promotores de crescimento (Oliveira et al. 2010). No intuito de se verificar uma possível relação, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA realizou um estudo preliminar e de âmbito nacional, unicamente em carcaças congeladas de frangos, em que se verificou o monitoramento da prevalência e da resistência bacteriana para Enterococcus e Salmonella (Brasil 2008b), sem maiores detalhamentos do número de amostras analisadas por região do país.
No Brasil, há poucos levantamentos a respeito da ocorrência de cepas de Enterococcus em alimentos de origem animal, tendo sido os relatos clínicos os mais publicados, em que se analisam cepas isoladas de pacientes humanos em hospitais. No contexto internacional, a Dinamarca se destaca em relação à realização de levantamentos de ocorrência desta bactéria em carnes e outros alimentos de origem animal, bem como a análise de resistência antimicrobiana e detecção de genes de resistência, em trabalhos conduzidos por Aarestrup et al. (2000). Diante do exposto, o presente trabalho teve por objetivo pesquisar cepas de Enterococcus spp. resistentes isoladas de carcaças resfriadas e congeladas de frango comercializadas na região do Distrito Federal.
MATERIAL E MÉTODOS
Origem das amostras e isolamento microbiológico. Foram adquiridas 100 amostras de carcaças de frango, sendo 54 carcaças resfriadas e 46 congeladas, de diversas marcas comercializadas em 20 estabelecimentos comerciais localizados no Distrito Federal no período de Junho a Dezembro de 2010. As amostras foram adquiridas simulando uma situação real de compra pelo consumidor, sendo, portanto um estudo observacional (Pereira 1995), onde uma unidade amostral adquirida era composta por uma carcaça inteira, com embalagem íntegra, sem qualquer sinal de violação, e dentro do prazo de validade. As amostras foram transportadas até o Laboratório de Microbiologia de Alimentos (LAMAL) da UnB em caixas isotérmicas e posteriormente acondicionadas em refrigerador a 4°C, para em seguida proceder ao isolamento microbiológico.
A metodologia utilizada para o isolamento de Enterococcus spp. foi a descrita por López et al. (2009). Para cada colônia isolada foi feito a coloração de Gram, o teste de catalase e hidrólise enzimática da L-pyrrolidonyl-beta-naphtylamide (PYRTEST - PROBAC do Brasil®). As colônias com morfologia de cocos Gram positivos, negativos para catalase e positivos para PYR foram submetidas à realização do antibiograma.
Identificação por PCR das espécies Enterococcus faecalis e E. faecium e teste de suscetibilidade antimicrobiana. Para a identificação das espécies E. faecalis e E. faecium foi realizada uma PCR-multiplex de colônia utilizando os primers ddlE. faecalis e ddlE. faecium, descritos por Titze-de-Almeida et al. (2004), em que amplificam fragmentos de 941bp e 550bp, respectivamente. A programação para amplificação utilizada foi descrita por estes mesmos autores. Foi feita análise de Qui-quadrado (p=0,05) para verificar a relação entre tipos de carcaças (congeladas e resfriadas) e as espécies identificadas.
Para cada colônia isolada foi realizado o teste de antibiograma, e as bases farmacológicas analisadas foram: Ampicilina (10µg), Vancomicina (30µg), Teicoplanina (30µg), Gentamicina (10µg), Eritromicina (15µg), Ciprofloxacina (5µg), Enrofloxacina (5µg), Tetraciclina (30µg), Cloranfenicol (30µg), Ceftazidima (30µg) e Cefalotina (30µg), todos da marca BIO-RAD®. O método utilizado foi o de disco de difusão, conforme recomendado por National Committee for Clinical Laboratory Standards (NCCLS, 2003).
Detecção de genes de resistência antimicrobiana através da PCR. Para a realização da detecção dos genes de resistência por PCR, foram utilizadas colônias isoladas conforme descrito por Titze-de-Almeida et al. (2004). Para a identificação dos genes de resistência aos antimicrobianos, foram utilizados os primers vanA, vanB, vanC-1 e vanC-2/3 para Vancomicina; os primers ant(6)-Ia, aac(6')-Ie-aph(2'')-Ia e aph(3')-IIIa para Aminoglicosídeos; os primers erm(A), erm(B), erm(C) para Macrolídeos; e o primer tet(M) para Tetraciclina (Torres et al., 2003). As condições para a realização da PCR-multiplex para detecção dos genes de resistência à Vancomicina foram as mesmas utilizadas na diferenciação das espécies E. faecium e E. faecalis. Para a identificação de genes de resistência à Macrolídeos e Aminoglicosídeos foi utilizado o protocolo descrito por Angot et al. (2000), com aumento na temperatura de anelamento de 47°C para 52°C, com objetivo de minimizar o aparecimento de reações inespecíficas. Foram definidos 35 ciclos de 94°C por 5 min, 94°C por 30s, 52°C por 45s, 72°C por 1 min e uma extensão final de 72°C por 10 min. A detecção de genes de resistência para Tetraciclina foi realizada segundo protocolo descrito por Rahman et al. (2008), composto por 30 ciclos de 94°C por 1 min, 56°C por 30s, 72°C por 1 min e uma extensão final de 72°C por 5 min.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Isolamento microbiológico em amostras de frango resfriado e congelado comercializados no Distrito Federal
Das amostras de carcaças de frango analisadas, 29 resfriadas (53,7%) e 21 congeladas (45,65%) foram positivas para a pesquisa de Enterococcus spp., totalizando 50 (50%) carcaças positivas. Este resultado foi similar aos observados por Fracalanzza et al. (2007) e Leite & Franco (2009), que verificaram 56,8% e 37% para a presença de Enterococcus spp. em carne de frango do Estado do Rio de Janeiro, respectivamente. Riboldi et al. (2009), em diversos tipos de alimentos, relataram 54,6% de presença de Enterococcus spp. na região Sul do Brasil. Em pesquisa efetuada em todo o Brasil, detectou-se a presença de Enterococcus spp. em 98,7% das carcaças de frango congeladas (Brasil 2008b). Na aplicação do teste do Qui-quadrado, não houve diferença significativa (p>0,05) entre os tipos de carcaça (resfriada e congelada) para a frequência de presença de Enterococcus spp.
Identificação por PCR das espécies Enterococcus faecalis, E. faecium e realização do teste de resistência antimicrobiana
Das 50 cepas de Enterococcus spp. isoladas, 21 (42%) foram identificadas como E. faecalis e uma (2%) como E. faecium, sendo que as outras 28 (56%) foram consideradas como Enterococcus spp. por obterem resultado negativo na PCR para identificação das duas espécies pesquisadas. O resultado da eletroforese da PCR pode ser visualizado na Figura 1. Estes resultados foram similares aos verificados por Fracalanzza et al. (2007), em que detectaram-se 85 (50.9%) cepas de E. faecalis e cinco (3%) de E. faecium em amostras de carne de frangos do Rio de Janeiro. Riboldi et al. (2009) detectaram 27 (48,21%) cepas de E. faecalis, 23 (41%) de E. faecium e seis (10,7%) de Enterococcus spp. isoladas de diversos alimentos na região Sul do Brasil. Na pesquisa do PREBAF (Brasil 2008b), foi verificada a presença de 61,4% de E. faecalis e 2,2% de E. faecium. Chan et al. (2008), que pesquisaram Enterococcus spp. em amostras de fezes de frangos e amostras de água provenientes de criação de frangos, em Kelantan na Malásia, observaram 47 (47%) cepas de E. faecalis e 22 (22%) de E. faecium.
Com relação ao teste de resistência antimicrobiana, os resultados encontrados estão dispostos no Quadro 1. Todas as cepas (100%) de Enterococcus isoladas foram resistentes a pelo menos um antimicrobiano testado. Sobre a resistência à Ceftazidima e à Cefalotina, Hammerum, Lester & Heuer (2010) e Kasimoglu-Dogru, Gencay & Ayaz (2010) relataram que os Enterococcus spp. possuem resistência intrínseca a esta classe de antimicrobiano. Observaram-se 90,47% dos E. faecalis, 100% dos E. faecium e 82,14% dos Enterococcus spp. resistentes à Tetraciclina e 80,95% dos E. faecalis e 35,71% dos Enterococcus spp. resistentes à Eritromicina, sendo similares aos resultados encontrados por Busani et al. (2004) em carne de frango na Itália, com 95% dos E. faecium e 81% dos E. faecalis resistentes a Tetraciclina e 55% de E. faecalis resistentes a Eritromicina, não observando o mesmo em cepas de E. faecium. Kasimoglu-Dogru, Gencay & Ayaz (2010), na região de Ancara na Turquia, constataram resistência à Tetraciclina em 98% dos E. faecium e 100% dos E. faecalis e à Eritromicina em 90% dos E. faecium e 94% dos E. faecalis, isolados de pele de pescoço de frango. O PREBAF (Brasil 2008b) relatou resistência à Tetraciclina em 91,9% dos Enterococcus spp. e à Eritromicina em 89,2% na região do Distrito Federal. Entretanto, frequências menores já foram observadas em Enterococcus spp. isolados de carne de frango (Fracalanzza et al. 2007). Importante ressaltar que o uso deste antimicrobiano na alimentação de frangos é proibido no Brasil desde 2009 (Brasil 2009). Com relação aos Macrolídeos, a Tilosina e a Espiramicina são de uso permitido como promotores de crescimento (Brasil 2008a) e o alto nível de resistência à Eritromicina provavelmente está relacionado a ampla utilização dessa classe de antimicrobiano em criação animal (Aslam et al. 2010, Zou et al. 2011).
Foram observados 23,80% dos E. faecalis e 39,28% dos Enterococcus spp. resistentes à Ciprofloxacina. Em Portugal, 27,5% dos Enterococcus isolados do ambiente de criação de frangos apresentaram resistência a este antimicrobiano (Costa et al. 2010). Busani et al. (2004) relataram 51% dos E. faecium e 10% dos E. faecalis resistentes à Ciprofloxacina em carne de frango na Itália. Neste trabalho, não foi observada resistência à Ciprofloxacina em cepas de E. faecium, sendo que há descrições de cepas com resistência intermediária à Quinolonas (Klare et al. 2003, Aslam et al. 2010).
Foram observados 28,57% de E. faecalis resistentes ao Cloranfenicol. Entretanto, não houve isolados de E. faecium resistentes. No Brasil, o uso de Cloranfenicol em animais destinados a alimentação foi banido em 2003 (Brasil 2003). Kasimoglu-Dogru, Gencay & Ayaz (2010) relataram resistência ao Cloranfenicol em 38% dos E. faecalis e em 53% de E. faecium isolados de pele de pescoço de frango na Turquia, onde é proibido, não descartando o uso ilegal deste antimicrobiano ou a possibilidade da resistência de se prolongar na população mesmo após a remoção da pressão seletiva.
Observaram-se 57,14% de E. faecalis com resistência intermediária à Vancomicina, sendo que os demais isolados foram sensíveis. Riboldi et al. (2009) encontraram resistência à Vancomicina em 3,5% dos E. faecalis e resistência intermediária de 7,4% dos E. faecalis isolados de alimentos. Entretanto, Fracalanzza et al. (2007) não verificaram resistência em amostras de carne de frango e leite em E. faecalis e E. faecium. Segundo Oliveira et al. (2010), resultados de sensibilidade à Vancomicina apoiam a eficiência da proibição do uso desse Glicopeptídeo. Entretanto, testes de resistência devem ser mantidos na rotina, por ainda se observar relatos de resistência intermediária a esse antimicrobiano.
Todos os isolados testados de E. faecalis e E. faecium apresentaram sensibilidade à Ampicilina e 14,28% de E. faecalis foram resistentes à Gentamicina. Riboldi et al. (2009) relataram resistência à Ampicilina de 11,1% das cepas de E. faecalis isolados de alimentos diversos e resistência à Gentamicina em 22,2% de E. faecalis e 13% em E. faecium. Frequências maiores foram relatadas por Busani et al. (2004), que encontraram resistência à Ampicilina em 20% dos E. faecium e 22% dos E. faecalis isoladas de carne de frango; e 10% dos E. faecium e 11% dos E. faecalis demonstraram resistência à Gentamicina. A Anvisa (Brasil 2008b) relatou em Enterococcus spp. a resistência à Gentamicina em 27% em carcaças de frango congeladas no Distrito Federal e todas as amostras apresentaram sensibilidade à Ampicilina, embora não seja mencionado o número de amostras analisadas nesta região.
Detecção de genes de resistência antimicrobiana
Os resultados da detecção dos genes de resistência antimicrobiana nas 50 cepas de Enterococcus isoladas das carcaças de frangos encontram-se no Quadro 2 e as bandas de identificação dos genes podem ser visualizadas nas Figuras 1 e 2. Observaram-se 93% dos Enterococcus spp. resistentes à Tetraciclina com o gene tet(M), sendo similar aos resultados obtidos por Gama (2008) na cidade de Porto Alegre, em que 90% das cepas de Enterococcus spp. resistentes à Tetraciclina, isolados de alimentos e de processos infecciosos, possuíam o gene tet(M). Poeta et al. (2005) em Portugal, relataram que o gene tet(M) foi encontrado em todas as cepas resistentes à Tetraciclina em Enterococos isolados de animais selvagens. Agersø, Pedersen & Aarestrup (2006) na Dinamarca, observaram que o gene tet(M) foi detectado em 95% dos E. faecium e E. faecalis isolados de humanos, suínos e frangos de corte.
Com relação à presença de genes de resistência a Macrolídeos, 22 (85%) amostras de Enterococcus resistentes à Eritromicina no antibiograma apresentaram o gene erm(B), sendo similar ao estudo efetuado por López et al. (2009) na Espanha, que demonstrou que todas as 12 cepas isoladas de Enterococcus spp. que apresentaram resistência à Eritromicina foram positivas para os gene erm(B), e cinco cepas apresentaram o gene erm(A). Zou et al. (2011) efetuaram uma pesquisa em E. faecalis isolados de suínos na China e observaram que 54 cepas apresentaram o gene erm(B) e 37 cepas demostraram possuir o gene erm(A). Aslam et al. (2010) descreve a presença do gene erm(B) em 50% dos E. faecium, já os genes erm(A) e erm(C) não foram encontrados em nenhum isolado.
Neste estudo, no que diz respeito à presença de genes de resistência aos Aminoglicosídeos, todas as amostras de E. faecalis resistentes à Gentamicina no teste de susceptibilidade antimicrobiana apresentaram o gene aac(6')-Ie-aph(2'')-Ia. Ainda, 38% dos E. faecalis e 21,42% de Enterococcus spp. apresentaram o gene ant(6)-la; e 42,9% de E. faecalis e 25% Enterococcus spp. apresentaram o gene aph(3')-IIIa. Similarmente, Gama (2008) relatou que 100% das amostras resistentes à Gentamicina apresentaram o gene aac(6')-Ie-aph(2'')-Ia. López et al. (2009) relataram que das 11 cepas isoladas de Enterococcus spp. resistentes à Estreptomicina, sete foram positivas para o gene ant(6)-la. O gene aph(3')-llla foi detectado em cinco cepas isoladas, de um total de seis, de E. gallinarum resistentes à Canamicina. Uma cepa positiva para o gene vanC-1 demonstrou alto nível de resistência à Gentamicina no teste de susceptibilidade antimicrobiana e esta apresentou o gene aac(6')-Ie-aph(2'')-Ia. Poeta et al. (2005), em uma pesquisa em Portugal em animais selvagens, relataram que o gene aac(6')-Ie-aph(2'')-Ia foi observado em duas cepas de E. faecalis com alto nível de resistência à Gentamicina, e três cepas demonstraram resistência antimicrobiana à Canamicina e também apresentaram o gene aph(3')-llla.
Observaram-se a presença de 15 isolados de Enterococcus spp. e oito de E. faecalis com gene vanC-1, sete de Enterococcus spp. com gene vanB e quatro de E. faecalis com gene vanA. Xavier (2007), em uma pesquisa de isolamento de Enterococcus spp. de amostras de fezes de frangos realizada no Distrito Federal, relataram o gene vanC-1 em 13% das cepas isoladas e nenhuma cepa foi positiva para os genes vanA e vanB. Biavasco et al. (2007) relataram que o achado de vanA em E. faecalis em carne sugere um envolvimento de alimentos na propagação de Enterococcus spp. resistentes aos Glicopeptídeos para seres humanos. Agersø et al. (2008) relatam que E. faecalis resistente à Vancomicina presente em carne de peru pode ser uma fonte de transmissão deste microrganismo resistente à Vancomicina para o intestino saudável de humanos.
Cauwerts et al. (2007) concluíram que Enterococcus isolados de aves carregando genes de resistência antimicrobiana podem não apenas transferir estes genes para outros microrganismos, possivelmente patogênicos, mas podem representar um perigo à saúde humana no caso de transferência desses genes para bactérias zoonóticas. Além disso, Enterococcus spp. podem ser transferidos, direta ou indiretamente, para o homem, onde eles podem ser capazes de causar doenças ou dispersar seus genes de resistência antimicrobiana entre a microbiota gastrointestinal. Riboldi et al. (2009) comentam que uma das razões que podem explicar o surgimento da resistência antimicrobiana em Enterococcus spp. isolados de alimentos pode estar relacionado ao uso massivo de antibióticos na agricultura, uma vez que estudos têm demonstrado que o mesmo gene de resistência foi encontrado simultaneamente em alimentos e pacientes. Investigações experimentais mostraram que o plasmídeo de resistência pAMβ1 foi transferido entre E. faecalis, E. faecium e Lactobacillus reuteri no trato digestivo de camundongos e transferido entre cepas de L. curvatus em salsichas fermentadas, corroborando com a hipótese de que Enterococcus resistentes podem contaminar os alimentos, entrar no trato gastrointestinal humano e colonizar os seres humanos e/ou passar seus genes de resistência para bactérias comensais presentes no trato intestinal humano, situação de risco para a saúde pública (Riboldi et al. 2009).
CONCLUSÃO
Os resultados encontrados alertam para o fato da presença de Enterococcus spp. multirresistentes em carcaças de frango no Distrito Federal com possibilidade de transmissão de genes de resistência antimicrobiana para outros microrganismos em humanos e animais, o que pode acarretar sérios problemas para a Saúde Pública, uma vez que inviabiliza o uso destes medicamentos em tratamentos clínicos. São necessários mais estudos para uma melhor compreensão do assunto e para identificar a real fonte de contaminação destes alimentos por esta bactéria, bem como a origem da resistência antimicrobiana.
Agradecimentos.- À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão de bolsa de mestrado.
Recebido em 28 de novembro de 2012.
Aceito para publicação em 11 de março de 2013.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
02 Jul 2013 -
Data do Fascículo
Maio 2013
Histórico
-
Recebido
28 Nov 2012 -
Aceito
11 Mar 2013