Acessibilidade / Reportar erro

Razão ou sensibilidade?

Razão ou sensibilidade?

Fotografias e textos de Claude Lévi-Strauss

Seleção e Montagem: Sylvia Caiuby Novaes.

TT: Tristes Trópicos, São Paulo, Companhia das Letras, 1996.

SB: Saudades do Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1994.

"Então compreendo a paixão, a loucura, o equívoco das narrativas de viagem. Elas criam a ilusão daquilo que não existe mais e que ainda deveria existir, para escaparmos da experiência esmagadora de que 20mil anos de história se passaram". (TT38)

"Em plena cidade o gado disputava a rua com o bonde"

"Consideradas restropectivamente essas imagens já não me parecem tão arbitrárias.Aprendi que a verdade de uma situação não se encontra em sua observação cotidiana, mas nessa destilação paciente e fragmentada que o equívoco do perfume talvez já me convidasse a por em prática, na forma de um trocadilho espontâneo, veículo de uma lição simbólica que eu não estava em condições de formular claramente. Menos do que um percurso, a exploração é uma escavação: só uma cena fugaz, um canto de paisagem, uma reflexão agarrada no ar permitem compreender e interpretar horizontes que de outro modo seriam estéreis". (TT45-46)

"Odeio as viagens e os exploradores". (TT 15)

"Gostaria de ter vivido no tempo das verdadeiras viagens, quando um espetáculo ainda não estragado, contaminado e maldito se oferecia em todo o seu esplendor..." (TT 39)

"No final das contas, sou prisioneiro de uma alternativa: ora viajante antigo, confrontado com um prodigioso espetáculo, do qual tudo ou quase lhe escapava - pior ainda, inspirava troça e desprezo -, ora viajante moderno, correndo atrás dos vestígios de uma realidade desaparecida. Nestas dusa situações sou perdedor, e mais do que parece: pois eu me lamento diante das sombras, não seria impermeável ao verdadeiro espetáculo que está tomando forma neste instante mas para cuja observação meu grau de humanidade ainda carece da sensibilidade necessária?" (TT40)

"Longe de serem primitivos, os índios, tais como os conhecemos desde que se começou a estudá-los no século passado, sobrevivem como os restos dessas civilações".

"Dizimados por epidemias de sarampo em 1945 e depois em 1975, reduzidos a cerca de setecentos a oitocentos, os Nambikwara levam hoje uma vida precária junto a missões protestantes e postos indigenistas,

"Certamente porque muitos anos se passaram - o mesmo número, porém -, a fotografia já não me provoca nada de semelhante. Meus clichês não são uma parte, preservada fisicamente e como por milagre, de experiências nas quais todos os sentidos, os músculos, o cérebro achavam-se envolvidos: são apenas os indícios delas. Indícios de seres, de paisagens e de acontecimentos que sei ainda que vi e conheci; mas, após tanto tempo, nem sempre me lembro onde ou quando. Os documentos fotográficos me provam sua existência, sem testemunhar a seu favor, nem torná-los sensíveis a mim" (SB9).

"Examinadas de novo, essas fotografias me dão a impressão de um vazio, de uma falta daquilo que a objetiva é intrinsecamente incapaz de captar"(SB9).

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Mar 2000
  • Data do Fascículo
    1999
Universidade de São Paulo - USP Departamento de Antropologia. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo. Prédio de Filosofia e Ciências Sociais - Sala 1062. Av. Prof. Luciano Gualberto, 315, Cidade Universitária. , Cep: 05508-900, São Paulo - SP / Brasil, Tel:+ 55 (11) 3091-3718 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: revista.antropologia.usp@gmail.com