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EDITORIAL

A RAC tem a satisfação de publicar uma edição especial, com seis artigos da área de Estratégia em Organizações. Tendo em vista a existência de artigos já aprovados na fila para publicação no periódico, a apresentação de edições especiais possibilita maior agilidade na divulgação e na disseminação do conhecimento. Embora a RAC tenha adotado mecanismos de divulgação ahead of print, disponibilizando os artigosonline antes da atribuição definitiva a um volume/número, a publicação final do artigo sempre é um motivo de orgulho para autores e também para a equipe editorial.

Além disso, a citação de artigos publicados definitivamente é facilitada, permitindo uma maior rastreabilidade do impacto da produção do autor e do periódico. Ainda nesse sentido, edições temáticas podem gerar um maior interesse de um público específico e culminar em maior quantidade de citações, por agregar, em um mesmo número, artigos que compartilhem um mesmo tema central.

É importante enfatizar que o tema de estratégia é amplo e sua abrangência pode ser ilustrada pela diversidade de subtemas tratados nos artigos dessa edição: conexão entre estratégia e capitalismo, formulação e execução de estratégias políticas, capacidades dinâmicas, teoria dos stakeholders versus teoria da dependência de recursos, competição setorial e alianças estratégicas.

A despeito de os tópicos serem diversos, os trabalhos trazem uma preocupação comum associada ao estudo das razões pelas quais organizações obtêm sucesso ou falham, que constitui uma questão central em estratégia (Porter, 1991Porter, M. E. (1991). Towards a dynamic theory of strategy. Strategic Management Journal, 12(S2), 95-117. doi: 10.1002/smj.4250121008
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). Sob um aspecto mais específico, por exemplo, Rumelt, Schendel e Teece (1994)Rumelt, R. P., Schendel, D. E., & Teece, D. J. (1994). Fundamental issues is strategy. In R. P. Rumelt, D. E. Schendel, & D. J. Teece (Eds.), Fundamental issues is strategy: a research agenda (pp. 9-53). Boston: Harvard Business School University Press. estabelecem como questão fundamental a forma como empresas obtêm e mantêm vantagens competitivas.

Métodos de investigação na área de Estratégia são também bastante diversos. O leitor poderá apreciar, nesta edição, desde ensaio teórico até análise empírica. Avaliações qualitativas e estudos quantitativos são também apresentados. São também discutidas proposta de modelo bem como revisões sobre um subtema.

Considerando a amplitude de subtemas e de abordagens metodológicas na área de estratégia, um ponto importante a ser considerado está ligado a um debate recente promovido em editorial do Strategic Management Journal. No editorial, Bettis, Gambardella, Helfat e Mitchell (2014)Bettis, R. A., Gambardella, A., Helfat, C., & Mitchell, W. (2014). Theory in strategic management. Strategic Management Journal, 35(10), 1411-1413. doi: 10.1002/smj.2308
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discutem o conceito de teoria em administração estratégica, explicitando que a teoria se preocupa com relações lógicas e causais entre um conjunto de conceitos, e não simplesmente com associações.

Para Whetten (1989)Whetten, D. A. (1989). What constitutes a theoretical contribution? Academy of Management Review, 14(4), 490-495. doi: 10.5465/AMR.1989.4308371
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, uma teoria completa apresenta elementos essenciais associados às seguintes questões: (a) O que: quais fatores devem ser logicamente consideradas para explicar um determinado fenômeno?; (b) Como: uma vez identificados os fatores, como eles estão relacionados?; (c) Por que: qual a dinâmica que justifica a escolha de fatores e a proposição de relações causais?; e (d) Quem, Quando e Onde: quais elementos ou condições limitam as proposições do modelo? Obviamente, a pergunta fundamental envolve o porquê de elementos da teoria estarem ligados, refletindo-se no que Porter (1991)Porter, M. E. (1991). Towards a dynamic theory of strategy. Strategic Management Journal, 12(S2), 95-117. doi: 10.1002/smj.4250121008
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estabelece como cadeia de causalidade.

Assim, contribuições teóricas envolvem ampliar ou modificar uma teoria existente ou, alternativamente, estabelecer uma nova teoria (Bettis, Gambardella, Helfat, & Mitchell, 2014Bettis, R. A., Gambardella, A., Helfat, C., & Mitchell, W. (2014). Theory in strategic management. Strategic Management Journal, 35(10), 1411-1413. doi: 10.1002/smj.2308
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). Embora o significado de contribuição teórica parecer ser imediato, o seu entendimento não é universal, principalmente quando se consideram pesquisas científicas. Para Whetten (1989)Whetten, D. A. (1989). What constitutes a theoretical contribution? Academy of Management Review, 14(4), 490-495. doi: 10.5465/AMR.1989.4308371
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, estudos que contemplem as questões O que e Como, ao simplesmente adicionarem ou excluírem fatores, dificilmente alteram a lógica fundamental de um modelo existente. Para Whetten (1989)Whetten, D. A. (1989). What constitutes a theoretical contribution? Academy of Management Review, 14(4), 490-495. doi: 10.5465/AMR.1989.4308371
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, investigar a questão Por que tende a ser um caminho mais promissor, embora mais difícil, por tipicamente integrar perspectivas de outras áreas do conhecimento.

É importante destacar também que avanços em relação às questões Quem, Quando e Onde são comumente insuficientes para identificar limitações no escopo de aplicação ou na abrangência de uma teoria (Whetten, 1989Whetten, D. A. (1989). What constitutes a theoretical contribution? Academy of Management Review, 14(4), 490-495. doi: 10.5465/AMR.1989.4308371
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). Todavia, Bettis et al. (2014)Bettis, R. A., Gambardella, A., Helfat, C., & Mitchell, W. (2014). Theory in strategic management. Strategic Management Journal, 35(10), 1411-1413. doi: 10.1002/smj.2308
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reconhecem que embora muitas teorias tenham sido desenvolvidas no âmbito de mercados desenvolvidos tradicionais, pesquisas que expandam o entendimento sobre administração estratégica em nível global são bem vindas. Mais particularmente, tendo em vista o crescimento dos negócios entre outras fronteiras, há oportunidades de desenvolvimento de teoria que contemplem premissas, conceitos e relações que se diferenciam das configurações dos mercados tradicionalmente estudados (Bettis et al., 2014Bettis, R. A., Gambardella, A., Helfat, C., & Mitchell, W. (2014). Theory in strategic management. Strategic Management Journal, 35(10), 1411-1413. doi: 10.1002/smj.2308
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).

Assim, fica o desafio aos pesquisadores que desenvolvem pesquisas no Brasil de avançarem o conhecimento e a teoria de administração estratégica, aproveitando-se, por exemplo, de elementos originais de nosso mercado, que possam contribuir para um melhor entendimento das fontes de vantagens competitivas e dos mecanismos de criação de valor, com o objetivo de investigar fatores de sucesso e fracasso de organizações. Nesse contexto, esta edição especial é formada por um conjunto de artigos que exploram Estratégia a partir de diferentes subtemas, métodos e organizações.

No primeiro artigo, O Que Gestão Estratégica Tem a Ver com Capitalismo(s)?, Alexandre de Almeida Faria, Takeyoshi Imasato e Ana Lucia Malheiros Guedes, por "meio de um diálogo com a área de estudos internacionais", discutem que "a hegemonia euro-americana contemporânea em" gestão estratégica "ajuda a construir a autoridade legítima de estrategistas das grandes corporações, tanto a invisibilizar estrategistas euro-americanos de Estado quanto a deslegitimar estrategistas e organizações do resto do mundo"

O segundo artigo, Formulação e Execução de Estratégias Políticas no Setor de Etanol: Um Modelo Processual, de Antonio Thiago Benedete da Silva, Carlos Afonso Caldeira e Rodrigo Bandeira-de-Mello, a partir de em estudo qualitativo, "sugere um modelo para o processo de formulação e execução de estratégias políticas, discutindo, em termos teóricos, as especificidades desse processo." para o caso específico de políticas para o setor de etanol.

Já o terceiro artigo, Capacidades Dinâmicas: O Que são e Como Identificá-las?, de Dimária Silva e Meirelles e Álvaro Antônio Bueno Camargo, "propõe um modelo integrador das várias definições apresentadas pelos autores pesquisados em que os elementos determinantes da existência de capacidades dinâmicas incluem o conjunto de comportamentos, habilidades, rotinas, processos e mecanismos de aprendizagem e governança do conhecimento, voltados para a mudança e a inovação.".

No quarto artigo, Gestão dos Stakeholders na Captação de Recursos nos Hospitais Filantrópicos e Religiosos, Fábio Augusto Martins, Amélia Ferreira-da-Silva e Carlos Machado-Santos, com "base em fontes documentais e em entrevistas semiestruturadas com os presidentes dos conselhos de administração, desenvolveu-se um estudo comparativo de dois casos (hospitais)", cruzando "os fundamentos da Teoria dosStakeholders com a Teoria da Dependência de Recursos."

No quinto artigo, Competição Bancária: Comparação dos Comportamentos de Bancos Públicos e Privados, Tiago Sammarco Martins, Adriana Bruscato Bortoluzzo e Sérgio Giovanetti Lazzarini, a partir dos "resultados de um modelo de regressão em três estágios, ... foi constatado que os bancos públicos apresentam comportamento mais próximo à competição perfeita do que os privados, ainda que aqueles tenham algum poder de mercado."

Finalmente, o sexto artigo, Two Decades of Research on Strategic Alliances: Analysis of Citations, Co-citations and Themes Researched, de Manuel Portugal Ferreira, José Eduardo Storopoli e Fernando Ribeiro Serra, analisam "a pesquisa em alianças estratégicas em 31 periódicos de topo em Administração, num período de 20 anos, entre 1993 e 2012", indicando "fundações sobre as quais pesquisas futuras possam se desenvolver para colmatar lacunas conceituais e empíricas".

Esperamos que a edição especial permita que pesquisadores possam em uma única edição do periódico, ter acesso a artigos que tragam diversos insights sobre a prática de a teoria de estratégia em organizações.

Desejamos a todos uma ótima leitura.

Referências

  • Bettis, R. A., Gambardella, A., Helfat, C., & Mitchell, W. (2014). Theory in strategic management. Strategic Management Journal, 35(10), 1411-1413. doi: 10.1002/smj.2308
    » https://doi.org/10.1002/smj.2308
  • Porter, M. E. (1991). Towards a dynamic theory of strategy. Strategic Management Journal, 12(S2), 95-117. doi: 10.1002/smj.4250121008
    » https://doi.org/10.1002/smj.4250121008
  • Rumelt, R. P., Schendel, D. E., & Teece, D. J. (1994). Fundamental issues is strategy. In R. P. Rumelt, D. E. Schendel, & D. J. Teece (Eds.), Fundamental issues is strategy: a research agenda (pp. 9-53). Boston: Harvard Business School University Press.
  • Whetten, D. A. (1989). What constitutes a theoretical contribution? Academy of Management Review, 14(4), 490-495. doi: 10.5465/AMR.1989.4308371
    » https://doi.org/10.5465/AMR.1989.4308371

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014
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