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The age of discontinuity: guidelines to our changing society

RESENHA BIBLIOGRÁFICA

The age of discontinuity - guidelines to our changing society

João Bosco Lodi

The age of discontinuity - guidelines to our changing society

PETER F. DRUCKER. Nova Iorque, Harper and Row, 1969, 393 páginas.

Terminada a leitura dêsse livro e olhando-se para o conjunto da obra de DRUCKER, tem-se a sensação de que êsse autor trabalha quase alternadamente com duas linhagens de idéias: de um lado, a análise da emprêsa econômica sob o aspecto da administração por objetivos; de outro lado, a análise da sociedade e seus elementos cambiantes. A primeira linhagem está representada por Concept of Corporation, Prática de Administração, Administração Lucrativa e, mais recentemente, O Gerente Eficaz. Essa seqüência é interrompida alternadamente pelos ensaios sociais que constituem sua outra linhagem de pensamento, A Nova Sociedade e Fronteiras do Amanhã, de que o presente livro é continuação. Na Idade da Descontinuidade, DRUCKER propõe-se a interpretar as mudanças mais recentes da sociedade industrial, as quais permitem uma imagem do ano 2.000.

Colocando-se numa posição diferente daquela de KAHN e WIENER no conhecido estudo sobre O Ano 2.000, DRUCKER argumenta que hoje é moda falar sôbre o ano 2.000, apesar de sua difícil previsibilidade. O único aspecto previsível do futuro próximo é o sentido das tendências, obtido pela acurada análise de projeções quantitativas; nesse sentido a obra de KAHN-WIENER é modelar. Ora, a história moderna tem apresentado descontinuidades ou saltos qualitativos, para usar uma linguagem hegeliana, que surpreendem o estudioso das tendências estatísticas. As tendências continuadas são apenas uma das dimensões do futuro. A projeção quantitativa mais acurada não prediz o mais importante: o significado dos fatos e números no contexto de amanhã. Daí a razão do título do livro.

O novo livro de DRUCKER procura analisar o significado ou o aspecto qualitativo de acontecimentos de hoje que podem plasmar o amanhã. Apesar de limitado à cena social, o livro trabalha interdisciplinarmente com economia, política e outras ciências sociais, com tecnologia, pedagogia e outros conhecimentos.

Segundo DRUCKER, há quatro principais áreas onde existem descontinuidades: a) tecnologias genuinamente novas: "As próximas décadas de tecnologia se assemelharão mais às últimas décadas do século passado - nas quais, em cada poucos anos, surgia uma grande Indústria de nova tecnologia - do que à continuidade tecnológica e industrial dos últimos cinqüenta anos"; b) grandes mudanças na economia mundial: "O mundo tornou-se um único mercado, um shopping center global". Isto vai exigir a mudança da economia internacional, no sentido em que a temos hoje, para a economia mundial, com novas e adaptadas instituições, tal como a corporação multinacional; c) o padrão de vida social e política está mudando ràpidamente para o de uma sociedade pluralista: a internacional estudantil de 1968 e as crises dentro da Igreja Católica indicam que as grandes organizações tradicionais estão sofrendo pressões para mudar; d) a mais importante das mudanças é a importância do conhecimento como capital e principal recurso da economia. Esta análise realça o problema dos novos homens no poder, os profissionais do conhecimento, e das novas emergentes indústrias do conhecimento. DRUCKER prevê, dentro de alguns anos, os Estados Unidos exportando mais conhecimentos (know-how) do que hoje exportam bens manufaturados e bens de produção.

O leitor segue essa análise pensando no impacto que tiveram sobre DRUCKER as obras de SERVAN-SCHREIBER quanto à organização multinacional, as de MAC-LUHAN quanto à globalização das comunicações e as obras de SIMON e ETZIONI sobre as organizações complexas; o GALBRAITH de O Estado Industrial Moderno e o KABN de O Ano 2.000.

A nosso ver, DRUCKER não foi tão único e original neste livro, como o foi em Prática de Administração de Empresas. O presente livro, que é provavelmente o mais longo que escreveu, é um riquíssimo acervo de dados para o estudioso de tendências da sociedade, mas não tem uma grande idéia ou descoberta original. Mesmo na seção mais original do livro, que é a Parte IV, onde é analisada a Sociedade do Conhecimento, não vamos encontrar mais do que uma elaboração de idéias que já estavam em Fronteiras do Amanhã (1959). São as seguintes as teses principais dessa parte final:

a) a emergência do conhecimento como figura central em nossa sociedade e como fundamento da economia e da ação social muda drásticamente a posição, o significado e a estrutura do mesmo conhecimento;

b) essa mudança criará uma economia do conhecimento, assim como estão se criando as indústrias do conhecimento, cujo produto representou em 1965 um têrço do produto nacional bruto norte-americano;

c) nos últimos 20 anos, a base da economia nos países desenvolvidos mudou do trabalho manual para o trabalho do conhecimento, e o centro de gravidade dos gastos passou dos bens para o conhecimento;

d) o trabalhador do conhecimento está assumindo um papel central na nova organização. Não sabemos ainda como administrá-lo para conseguir sua melhor produtividade - aliás essa será a grande tarefa administrativa do final do século, assim como no final do século passado a grande tarefa foi tornar o trabalhador manual mais produtivo;

e) a educação é, nas sociedades avançadas, o investimento maior, mesmo comparado com as despesas de guerra. As instituições educacionais tornadas demasiado grandes estão sofrendo mudanças, porque estão no ponto em que a mudança quantitativa alterou sua qualidade;

f) assim como as organizações econômicas passaram da ênfase no produto para a ênfase no mercado, a universidade está passando da ênfase na matéria para a ênfase na aplicação, ou no uso final. O que antes se chamava conhecimento agora se chama informação;

g) o sintoma dessa transição é que o conhecimento está deixando de ser um fim em si mesmo, para tornar-se um meio para algum resultado. Não é um bem em si mesmo; é neutro, podendo ser usado para o bem e para o mal;

h) a política do conhecimento requer a fixação de prioridades, tendo em conta as necessidades mais urgentes, a diversificação, a flexibilidade e a competição;

i) o problema moral central da sociedade será a responsabilidade dos instruídos. Pela primeira vez, historicamente, os homens de conhecimento, os cientistas, estão tomando o poder. A ciência é o poder.

O nôvo livro de DRUCKER reúne informações maciças, sendo de leitura agradável e muito útil. Pensando em têrmos de aplicação específica, êle se torna ainda mais útil, quando destinado a dois tipos de leitor. O primeiro é o leitor envolvido na chamada questão universitária, isto é, aquêle que tem alguma relação com a reorganização das universidades. O segundo é o empresário e o administrador de indústrias de informação, organizações onde predomina um trabalho profissional de nível científico e cujo produto seja informação.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Jul 2015
  • Data do Fascículo
    Set 1969
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