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Le chefe d'entreprise et la mobilité sociale

RESENHAS

Le chefe d'entreprise et la mobilité sociale

Flávio P. Sampaio

Escola de administração de empresas de São Paulo

LE CHEFE D'ENTREPRISE ET LA MOBILITÉ SOCIALE Por Marcel Bresard, n.º 6 da Coleção "Méthodes et Philosophie de l'Organization" (Editions de L'Entreprise Moderne, Paris, 1961, 9, 50 NF).

Com prefácio de Louis Salleron, o livro obedece ao seguinte esquema: cap. I - Desmistificação da questão social - O papel privilegiado da emprêsa; cap. II - O diagnóstico do problema - A formação de classes sociais - Forças de expansão e de conservação - Critérios de seleção de pessoal - Motivos de escolha de profissão etc.; cap, III - A estratificação social - Controles experimentais etc. - Dois casos concretos; cap. IV - Comparações internacionais de tendências profissionais a partir da profissão dos pais e do prestigio social de outras profissões.

A coleção "Méthodes et Philosophie de l'Organization" vem enriquecendo a bibliografia francesa no campo dos estudos relacionados com os problemas da Administração de Emprêsas e da Sociologia Econômica e Industrial.

"Le Chef d'entreprise et la mobilité sociale", embora não pareça ser o melhor trabalho dentro da coleção (em São Paulo, o INEP publicou em 1960, obra mais objetiva: Mobilidade e Trabalho), desenvolve uma análise bastante útil e curiosa sobre o problema da mobilidade social, assunto de grande atualidade, que desafia, para a pesquisa e a ação, dentre outros interessados, os sociólogos e os dirigentes de emprêsas. De apresentação despretensiosa, êsse opúsculo de 128 páginas se inicia com o prefácio de Louis Salleron, diretor da coleção, que coloca algumas premissas bem formuladas sobre a responsabilidade das emprêsas face aos processos de mudança social acentuada que se verifica no mundo, neste início da 2.ª metade do século XX. "Tudo indica", diz ele, "que os "managers" de hoje estão inclinados a associar o conjunto de seus colaboradores a uma concepção renovada do Trabalho e da Economia". "Um novo estilo de vida pode nascer de uma versão nova da vida", e comenta: "os prejuízos sociais correspondem geralmente a estruturas econômicas e políticas de longa data superadas; e se êles, às vêzes, refletem ou mesmo conservam valores autênticos, constituem, com freqüência, fenômenos de empedernimento que embaraçam gravemente as transformações desejáveis do corpo social". É uma questão de ótica social.

No Brasil atual vai acesa a polêmica entre duas posições que querem se apresentar como polares e inconciliáveis, com vistas à maior estatização das instituições sócio-econômicas ou à intransigente defesa da livre-emprêsa "tout-court". Parece que um entendimento mais profundo e menos apaixonado da questão exige alguns esclarecimentos e conhecimento objetivo da realidade social, de que a mobilidade é um dos aspectos mais autênticos. "E não é contra as estruturas que se faz necessária a mobilidade, mas sim contra as estruturas caducas ou artificiais. A maior parte delas reside no domínio mental".

Ainda em trabalho recente, o Deão da "Graduate School of Business, Michigan State University" sustenta que a "única constante no mundo de hoje é a mudança" e que se as emprêsas querem sobreviver, devem aprender como ajustar-se a um grande e poderoso govêrno central". Se essa interpretação dos fatos da conjuntura sócio-econômica é válida para os Estados Unidos, a meca da livre emprêsa, sê-lo-á, segundo tudo indica, para as áreas de economia em desenvolvimento. Essa é a tese central do livro de Mareei Bresard.

"Ora", diz o prefácio, "é aqui que o papel dos responsáveis pela Economia se afigura capital. Estando os dirigentes de emprêsas situados no ponto mais sensível da vida social, êles podem orientá-la mais que os outros" e acrescenta: "é difícil saber qual é e qual pode ser o ponto ótimo da mobilidade social. Mas é relativamente fácil saber, em uma determinada situação, quais são os obstáculos incômodos que se erguem contra uma mobilidade desejável".

E continua: "o progresso técnico e a expansão econômica são as condições ideais da mobilidade". O que não se deve é permitir que essas condições fiquem abandonadas a si mesmas pois podem favorecer um clima de egoísmo, falta de imaginação de pessoas e grupos envolvidos, de rotina ou de um materialismo grosseiro, "Então, o estado centralizador, o socialismo nivelador, a burocratização, a "robotização" acenam à impaciência de um largo contingente com todas as oportunidades de segurança na promoção das massas, enquanto que se dissipam as chances de liberdade na diversificação das pessoas e no desempenho das elites".

A sociedade de hoje é uma sociedade em expansão, mais nas áreas até há pouco submetidas ao colonialismo econômico e naquelas ditas subdesenvolvidas por estagnação das próprias forças de crescimento.

"Mas, em que pode interessar esta ciência da mobilidade social aos chefes de emprêsa?" pergunta o autor. E quase todo o livro se desenvolve procurando mostrar que "a emprêsa é atualmente um lugar privilegiado no plano da dinâmica social, pois seus pontos de inserção na realidade se situam no nascedouro das coisas, nas zonas fronteiriças, lá onde se dão os encontros dos indivíduos e grupos, onde se dão os intercâmbios e as trocas, as criações, a própria fonte, enfim, das correntes onde nascem as necessidades e as tensões".

O dirigente de emprêsa poderá, se se aparelhar para isso, favorecer uma sadia mobilidade social nos quadros de sua emprêsa, poderá contribuir para as promoções que são, freqüentemente, um exemplo individual de ascensão social". "Melhor ainda (diz o livro), desde que êle tome consciência do problema, em lugar de se contentar em agir somente no interêsse imediato e direto de seu negócio, ou por sentimento social inato, êle se põe em posição de integrar sua ação em uma política geral de promoção social e mesmo de um bem-estar liderado pelo chefe inovador".

O livro que faz amplo estudo reflexivo sobre os riscos de se produzirem, pela mecanização da vida, monstros, biológica e moralmente, através de um gigantismo representado pelos fenômenos de massa, tratados por aquêles que preferem ignorar as noções de limites, de otimum, de harmonia, de maturação, de diferenciação, de qualidade, conclui por propor que "como não existe uma fórmula de contabilidade que permita criar-se um código público de mobilidade social é, em conseqüência, em tôda parte onde a vida está presente que se oferecem chances de agir". "A empresa constitui um dêsses lugares privilegiados".

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    10 Ago 2018
  • Data do Fascículo
    Jun 1963
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