Acessibilidade / Reportar erro

Confiança como fator de redução da vulnerabilidade humana no ambiente de trabalho

Resumos

O ambiente de trabalho predominante atualmente nas organizações complexas pode tanto atuar em favor da maior produtividade quanto debilitar a coesão e os laços de cooperação no trabalho. Neste último caso, faz emergir nos profissionais das empresas uma sensação de vulnerabilidade, traduzida por relacionamentos mais efêmeros e superficiais, que arrefecem a ação das pessoas. Neste artigo, trabalhou- se com a premissa de que o estabelecimento de um ambiente de confiança pode neutralizar essa sensação. O estudo teve como fim investigar se os profissionais percebem fragilidade nas relações de trabalho, como reagem à situação, e quais suas influências no processo de gestão. O material discursivo, recolhido de entrevistas em profundidade com gerentes de organizações multinacionais e nacionais de grande e médio porte, traz explicações para os motivos que levam à instalação da sensação de vulnerabilidade no trabalho. Essas reflexões permitem inferir que é possível instalar procedimentos de gestão, padrões de comportamento e cultura organizacional que atuem na reversão desse estado de coisas e desenvolvam ambientes de trabalho mais propícios.

Trabalho; confiança; coesão; vulnerabilidade; relacionamentos


The currently predominant working environment in complex organizations may either operate in favor of enhanced productivity or weaken the cohesion and ties of cooperation in the workplace. In the latter case it causes professionals to experience a feeling of vulnerability, which translates into more ephemeral and superficial relationships that have the effect of moderating people's actions. This article worked with the assumption that establishing an atmosphere of trust may neutralize this feeling. The purpose of the study was to investigate if professionals perceive any fragility in their working relations, how they react to the situation and how it influences the management process. The material collected from in-depth interviews with managers of major and medium-size multinational and national organizations provides explanations for the reasons that lead to the installation of a feeling of vulnerability at work. These reflections allow us to infer that it is possible to install management procedures, behavior standards and an organizational culture that operate to reverse this state of affairs and to develop a favorable working environment.

Work; trust; cohesion; vulnerability; relationships


ARTIGOS

Confiança como fator de redução da vulnerabilidade humana no ambiente de trabalho

Rosa Maria FischerI; José Gaspar Nayme NovelliII

IFEA-USP

IIIBMEC - BRASÍLIA

RESUMO

O ambiente de trabalho predominante atualmente nas organizações complexas pode tanto atuar em favor da maior produtividade quanto debilitar a coesão e os laços de cooperação no trabalho. Neste último caso, faz emergir nos profissionais das empresas uma sensação de vulnerabilidade, traduzida por relacionamentos mais efêmeros e superficiais, que arrefecem a ação das pessoas. Neste artigo, trabalhou- se com a premissa de que o estabelecimento de um ambiente de confiança pode neutralizar essa sensação. O estudo teve como fim investigar se os profissionais percebem fragilidade nas relações de trabalho, como reagem à situação, e quais suas influências no processo de gestão. O material discursivo, recolhido de entrevistas em profundidade com gerentes de organizações multinacionais e nacionais de grande e médio porte, traz explicações para os motivos que levam à instalação da sensação de vulnerabilidade no trabalho. Essas reflexões permitem inferir que é possível instalar procedimentos de gestão, padrões de comportamento e cultura organizacional que atuem na reversão desse estado de coisas e desenvolvam ambientes de trabalho mais propícios.

Palavras-chave: Trabalho, confiança, coesão, vulnerabilidade, relacionamentos.

ABSTRACT

The currently predominant working environment in complex organizations may either operate in favor of enhanced productivity or weaken the cohesion and ties of cooperation in the workplace. In the latter case it causes professionals to experience a feeling of vulnerability, which translates into more ephemeral and superficial relationships that have the effect of moderating people's actions. This article worked with the assumption that establishing an atmosphere of trust may neutralize this feeling. The purpose of the study was to investigate if professionals perceive any fragility in their working relations, how they react to the situation and how it influences the management process. The material collected from in-depth interviews with managers of major and medium-size multinational and national organizations provides explanations for the reasons that lead to the installation of a feeling of vulnerability at work. These reflections allow us to infer that it is possible to install management procedures, behavior standards and an organizational culture that operate to reverse this state of affairs and to develop a favorable working environment.

Keywords: Work, trust, cohesion, vulnerability, relationships.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Artigo recebido em 27.01.2005. Aprovado em 31.01.2008.

Rosa Maria Fischer

Professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo Doutora em Ciência Política pela Faculdade de Ciências Sociais, Universidade de São Paulo Interesses de pesquisa nas áreas de administração do terceiro setor, gestão de pessoas do terceiro setor e sociologia das organizações E-mail: rfischer@usp.br Endereço: Av. Prof. Luciano Gualberto 908, FEA I, Sala C13, Butantã, São Paulo – SP, 05508900

José Gaspar Nayme Novelli

Professor dos cursos de Pós-graduação em Administração no Ibmec – Brasília Doutor em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo Interesses de pesquisa nas áreas de estratégia, planejamento, gestão de pessoas, confi ança e consumo E-mail: gnovelli@uol.com.br Endereço: Quadra SQN 209, Bloco A, Ap. 105, Asa Norte, Brasília – DF, 70854010

  • AAKER, D. A,; KUMAR, V.; DAY, G. S. Pesquisa de marketing São Paulo: Atlas, 2001.
  • ABBAGNANO, N. História da filosofia v. 12. Lisboa: Presença, 2001
  • BARDIN, L. Análise de conteúdo Lisboa: Edições 70, 2000.
  • BAUMAN, Z. Sociedade líquida. Folha de S. Paulo, São Paulo. 19.10.2003. Entrevista concedida a Maria Lúcia Garcia Pallares-Burke. Caderno Mais!
  • BURBACH, R. e outros. Globalization and its discontents: the rise of post-modern socialisms. Cambridge: Regional Studies, 1998.
  • COLEMAN, J. S. Foundations of social theory. Cambridge: The Belknap Press of Harvard University Press, 1990.
  • COOPER, D.; SCHINDLER, P. Métodos de pesquisa em administração Porto Alegre: Bookman, 2003.
  • DAVIS, J. H.; SCHOORMAN, D. F.; MAYER, R. C.; TAN, H. H. The trusted general manager and business unit performance: empirical evidence of a competitive advantage. Strategic Management Journal, v. 21, n.5, p. 563-576, 2000.
  • DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS ECONÔMICOS DIEESE. A situação do trabalho no Brasil. São Paulo: Dieese, 2001.
  • DIMAGGIO, P. Conclusion: the futures of business organization and paradoxes of change. In: DIMAGGIO, P. (Org). The twenty-first century firm: changing economic organization in international perspective. Princeton: Princeton University Press, 2001.
  • DRUCKER, P. F. O advento da nova organização. In: Harvard Business Review. Gestão do conhecimento. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
  • ECHEVERRÍA, R. Empresa emergente: a confiança e os desafios da transformação. Brasília: Universal UCB, 2001.
  • FREITAS, H.; JANISSEK, R. Análise léxica e análise de conteúdo: técnicas complementares, seqüenciais e recorrentes para exploração de dados qualitativos. Porto Alegre: Sphinx, Sagra Luzzatto, 2000.
  • FUKUYAMA, F. Confiança: as virtudes sociais e a criação da prosperidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
  • HARDY, C.; PHILLIPS, N.; LAWRENCE, T. Distinguishing trust and power in interorganizational relations: forms and façades of trust. In: LANE, C.; BACHMAN, R. (Ed). Trust within and between organizations: conceptual issues and empirical applications. New York: Oxford University Press., 2000.
  • HEIDEGGER, M. Ser e tempo Parte I. Petrópolis: Vozes, 1999.
  • HEIDEGGER, M. Ser e tempo Parte II. Petrópolis: Vozes, 1990.
  • INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA IBGE. Associativismo, representação de interesses e intermediação política. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 20.11.2003.
  • INWOOD, M. Dicionário Heidegger. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
  • KRAMER, R. M. Trust and distrust in organizations: emerging perspectives, enduring questions. Annual Review of Psychology, v. 50, p.569-598, 1999.
  • KURZ, R. O colapso da modernização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
  • LAWLER III, E. E. From the ground up: six principles for building the new logic corporation. San Francisco: Jossey-Bass, 2000.
  • LUHMANN, N. Confianza. Barcelona: Anthropos; México: Universidad Iberoamericana; Santiago do Chile: Instituto de Sociologia. Pontificia Universidad Católica de Chile, 1996.
  • NUNES, B. Heidegger & ser e tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
  • DATAFOLHA. O PAÍS DOS DIREITOS DE PAPEL. Folha de S. Paulo, São Paulo, 24.03.2002. Caderno Especial.
  • O'REILLY III, C. A.; PFEFFER, J. Hidden Value: How great companies achieve extraordinary results with ordinary people. Boston: Harvard Business School Press, 2000.
  • PEREIRA, J. L. R. A fenomenologia heideggeriana em Ser e tempo. Revista Filovirtua. Disponível em: <http://geocites.yahoo.com.br> Acesso em 16.01.2003.
  • PEYREFITTE, A. A sociedade da confiança: ensaio sobre as origens e a natureza do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999.
  • PFEFFER, J. Seven practices of successful organizations. California Management Review, v. 40, n. 2, p. 96-122, 1998.
  • POWELL, W.; DIMAGGIO, P. El nuevo institucionalismo en el análisis organizacional. México, DF: Fondo de Cultura Económica, 1999.
  • REINA, D.; REINA, M. Trust and betrayal in the workplace: building effective relationships in your organization. San Francisco: Berrett-Kohler, 1999.
  • RODRIK, D. Por qué hay tanta inseguridad económica en América Latina? Revista de la CEPAL, n. 73, P 7-31, 2001. Disponível em: <http://www.eclac.cl> Acesso em 20.04.2003.
  • ROSSEAU, D. ; M. e outros. Not so different after all: a cross-discipline view of trust. Academy of Management Review, v. 23, n. 3, p. 394-404, 1998.
  • SAMPSON, P. Qualitative research and motivation research. Amsterdam: Esomar, 1991.
  • SENGE, P. A quinta disciplina: arte e prática da organização que aprende. São Paulo: Nova Cultural e Best Seller, 2001.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Nov 2012
  • Data do Fascículo
    Jun 2008

Histórico

  • Aceito
    31 Jan 2008
  • Recebido
    27 Jan 2005
Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de S.Paulo Av 9 de Julho, 2029, 01313-902 S. Paulo - SP Brasil, Tel.: (55 11) 3799-7999, Fax: (55 11) 3799-7871 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: rae@fgv.br