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Editorial

EDITORIAL

"A Cultura da Qualidade é o resultado de um processo de educação permanente onde se busca não a satistação como um fim em si mesma, mas a oportunidade de crescimento."

Quando E. F. Schumacher, nos anos 50 e 60, desenvolveu todo um trabalho de reflexão que acabou por culminar em sua obra mais conhecida- Small is Beautiful- ele não estava apenas criticando a maneira pela qual os economistas avaliam a produção e o progresso das nações, mas sinalizando a necessidade de se incorporar um novo atributo na avaliação e medida do desenvolvimento econômico: a qualidade.

Além disso, ele procurou demonstrar que toda Teoria Econômica está baseada num certo sistema de valores humanos, de tal sorte que, quando este sistema muda, deve-se alterar a Teoria e, portanto, a forma de se avaliar o resultado da produção econômica e as políticas de seu desenvolvimento.

O que Schumacher havia descoberto é que a questão qualidade é função dos valores do sistema social em análise e, desta forma, deve ser trabalhada de uma forma contingencial e não-prescritiva.

Curiosamente, Schumacher ficou conhecido- e, talvez, ele próprio tenha se confundido- pela apologia do "ser pequeno" e não pela sua principal contribuição ao pensamento contemporâneo que foi a da qualidade de vida. Numa época em que desenvolvimento econômico foi sinônimo de propensão a consumir, houve uma voz- a de Schumacher- que se levantou para questionar a "qualidade" deste consumo e, indiretamente, o próprio numerador de sua eficiência: a efetiva satisfação no viver.

Esta mudança nos valores de análise sócío-econômica levanta questões que estão além da esfera de governo. Talvez esteja além dos valores que presidem as relações atuais entre o capital e o trabalho. Compreende uma mudança da visão "Malthusiana" dos insumos de produção em direção a um questionamento do resultado do que fazemos com estes insumos em termos de qualidade de vida, o que tem provocado uma redefinição do próprio "papel" dos recursos humanos e das organizações na atividade econômica.

Sinais desta transmutação de valores aparecem na redefinição das fronteiras e das relações interorganizacionais, no surgimento da organizações substantivas, na redesooberta dos custos e dos valores efetivos da produção econômica das empresas e das nações, na conscientização ambiental e nas mudanças -do "formato" das relações empregatícias.

Em Administração a questão da qualidade se apresenta de maneira muito singular, uma vez que ela está envolvida tanto com a "produção" da satisfação de clientes, como com a qualidade de vida do sistema social responsável por esta 'produção'. Em outras palavras, a qualidade é tanto uma exigência de mercado quanto uma responsabilidade social - e, até por que não? - direta ou indiretamente relacionada com o progresso das nações.

Ao nível organizacional, a qualidade deve estar inserida nas pautas das decisões sobre terceirização e parcerias, na gestão de recursos humanos, no processo poético da renovação geracional, nas questões ambientais e nas estratégias de obtenção de vantagens competitivas.

Infelizmente, a qualidade tem sido inserida nas organizações por um outro caminho: o da necessidade de reduções de custos e da simples sobrevivência organizacional. A falta de cultura da qualidade tem feito as organizações utilizá-la como cortina de fumaça para disfarçar programas de redução de custos e de deslocamentos de poder.

Enquanto os administradores não entenderem que programas de qualidade moderna não devem dissimular objetivos reais, podemos estar correndo o risco de sepultar mais um movimento importante no desenvolvimento da gestão empresarial. Enquanto os estudiosos não fizerem uma leitura da qualidade enquanto oportunidade do crescimento - pessoal, corporativo ou social - será dificil caminharmos em direção a uma avaliação mais "fina" do real sentido do progresso econômico.

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Nesta edição, mais uma vez a RAE procura inovar, criando uma seção orientada para as questões da gestão ambiental a RAE AMBIENTAL. Atende a uma recomendação da Direção Geral da Fundação Getúlio Vargas no sentido de consolidar seu papel como instituição sensivel a causa ambiental. Tanto através de publicações esporádicas, quanto de publicações sistamáticas, a Fundação Getúlio Vargas tem firmado uma tradição de contribuir com a Ecologia e com a Gestão Ambiental.

A partir da edição nº 2192, quando publicamos um número voltado para questões ambientais, a Direção da RAE estabeleceu um firme propósito de incorporar definitivamente esta temática em suas publicações. Fomentou artigos e definiu posteriormente um formato gráfico e uma linha editorial de maneira que a RAE AMBIENTAL não se transforme numa publicação episódica.

Nada mais justo que o texto de autoria da Professor Benedicto Silva - A Vez de um Pacto Planetário - tenha sido escolhido pelo Editor da RAE como a primeira publicação da RAE AMBIENTAL. Afinal foi ele o autor da proposta de inclusão de um "encarte verde" nas publicações da FGV.

Prof. Marílson Alves Gonçalves

Diretor e Editor da RAE

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jun 2013
  • Data do Fascículo
    Abr 1993
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