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A teoria geral da administração é uma ideologia?

ARTIGOS

A teoria geral da administração é uma ideologia?

Maurício Tragtenberg

Professor de política da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

A administração, enquanto organização formal burocrática, realiza-se plenamente no Estado, antecedendo de séculos ao seu surgimento na área da emprêsa privada.

O segrêdo da gênese e da estrutura da teoria geral da administração, enquanto modêlo explicativo dos quadros da emprêsa capitalista, deve ser procurado onde "certamente seu desenvolvimento mais pujante se dá: no âmbito do Estado".1 1 Touraine, Alain. Historia general dei trabajo. México, Ed. Grijalbo, 1965. vol. 4.

Enquanto o capitalismo industrial, estruturando a emprêsa burocrática, encontrou, nos vários modelos da teoria geral da administração de Taylor aos estruturalistas ou sistêmicos, um modêlo explicativo, no século XX, a transição das sociedades pré-industriais a industriais gerou um modêlo recorrente do "modo de produção asiático", neste século unido à máquina. Daí, a emergência da burocracia como poder funcional e polltlco.2 2 Marx, Karl. El capital. Madrid, Ed. Aguilar, 1930. v. único e Weber, Max. Economia y sociedad. México, Ed. Fondo de Cultura Económica, 1944. v. 4, cap. 7, p. 176-78. O "modo asiático de produção" fôra enunciado inicialmente por John Stuart Mill em 1848 e Montesquieu no seu L'esprit des lois, posteriormente desenvolvido sistemàticamente por Marx, Karl. In: El capital. v. único, cap. 11, p. 244; Weber, Max, Economia y sociedad. v. 4, cap. 7, p. 176-78; Godelier. El modo de producclón asiático. Argentina, Ed. Universitaria de Córdoba: Witfogel, Karl. Wirtschaft un Gesselchaft China's. v. 1, desenvolvendo sistemàticamente o tema em Oriental despotism, a comparative study of total power. Yale, 1951. elemento típico das civilizações orientais,3 3 "Êsse modo de produção aplica-se em geral a países com grandes extensões desérticas, onde as condições climáticas obrigavam, a um atendimento particular, à organização da irrigação artificial pelos canais; essa área estende-se pelo Saara aos plateaux mais elevados: o Egito Antigo, Mesopotâmia, Arábia, Pérsia, Índia e Tartária". Baizacou, Hélène Antoniadis. Byzance et le mode de production asiatique. La pensée. p. 49. em plena era cibernética. Foi Hegel que, no plano lógico, operacionalizou o conceito "burocracia" em nível do Estado e da emprêsa.

Hegel é um dos primeiros estudiosos da burocracia, enquanto poder administrativo e político, formulando o conceito: "onde o Estado aparece como organização acabada",4 4 Hegel. Principes de la philosophie du droit. Paris, Ed. Galimard, 1940. considerado em si e por si 5 5 Hegel, op. cit. p. 190. "que se realiza pela união íntima do universal e do individuai".6 6 Hegel, op. cit. p. 191.

Para Hegel, o Estado como "realidade moral", como "síntese do substancial e do particular,7 7 Hegel. op. cit. p. 196. contém o interêsse universal enquanto tal, que é sua substância,8 8 Hegel. op. cit. p. 200. deduzindo-se então, ser o Estado, a "instância suprema que suprime tôdas as particularidades no seio de sua unidade".9 9 Hegel. op. cit. p. 218.

Sendo o Estado para Hegel a "realidade em ato" da liberdade concreta10 10 Hegel. op. Cit. p. 195. que se "conhece", pensa e realiza pelo fato de sê-lo,11 11 Hegel. op. cit. p. 190. sua finalidade é a integração dos interêsses particulares e individuais. Essa integração não suprime a antinomia (interêsse geral) e a sociedade (conjunto de interêsses corporativos e particulares). Essa antinomia manifesta-se na existência de interêsses particulares das coletividades que pertencem à sociedade civil e que estão fora do "universal em si mesmo e por si do Estado" e são administrados pelas "corporações nas comunas e em outros sindicatos e classes por suas autoridades: presidentes, administradores. Êsses negócios, que êles cuidam, representam a propriedade e o interêsse dessas esferas particulares",12 12 Hegel. op. cit. p. 220. o que não impede a transitividade do espírito corporativo da burocracia emprêsarial privada, à pública do Estado, na medida em que ela "nasce da legitimidade das esferas particulares e transforma-se internamente, ao mesmo tempo, em espírito do Estado, pois encontra nêle o meio para atingir seus fins particulares".13 13 Hegel. op. cit. p. 226.

Hegel procura sintetizar na corporação (entendida como burocracia privada) e no Estado (entendido como burocracia pública acabada), as múltiplas determinações que levam à tensão entre o interêsse particular e o universal do Estado; na existência da burocracia que pressupõe as corporações, ela, enquanto burocracia estatal, é o formalismo de um conteúdo situado fora dela: a corporação privada.14 14 Para Hegel, na medida em que se estrutura a carreira burocrática no Estado, êste passa a constituir finalidade privada do funcionário; para prevenir essa disfunção, Hegel apela à "formação moral dos funcionários públicos".

O objetivo do Estado torna-se o objetivo da burocracia, cujo espírito é o segrêdo mantido no plano interno pela rigidez hierárquica no fluxo de comunicação, e pelo seu caráter de corporação fechada, no plano externo. Encontramos assim em Hegel as determinações conceituais que permitem a análise da burocracia do Estado, da burocracia enquanto poder político que antecede em séculos a emergência da burocracia determinada pelas condições técnicas da emprêsa capitalista, oriunda da Revolução Industrial.

A burocracia, enquanto classe dominante (detentora dos meios de produção) elemento de mediação com a sociedade global, exercendo o poder político, perfila-se ante a história como uma forma de dominação burocrático-patrimonial ou "modo asiático de produção". No modo asiático de produção, o déspota oriental representa a confluência de um processo social que se inicia com a burocracia surgindo das necessidades técnicas (irrigação da terra arável) finalizando como poder de exploração, efetuando-se assim a transitividade da burocracia cumprindo funções de organização e supervisão para o monopólio do poder político.15 15 "Os efeitos da cooperação simples no modo asiático de produção, aparecem em seu aspecto colossal nas gigantescas obras dos antigos asiáticos, egipcios e etruscos. Na antiguidade, tais estados asiáticos, depois de empregarem a maioria de seus recursos na área civil e militar, possuíam um excedente de produtos para converter em obra de ornamento e utilidade. O dominio que, sôbre mão-de-obra de tal população não ocupada na agricultura e o poder exclusivo para dispor de tal excedente, possuíam o rei e os sacerdotes, oferecia-lhes os meios para levantar aquêles ingentes monumentos que cobria o país. Utilizou-se quase exclusivamente a fôrça humana para construção e transporte daquelas estátuas colossais e daquelas enormes massas cuja possibilidade de terem sido transportadas ainda hoje nos assombra. Para tanto, bastou concentrar uma multidão de trabalhadores e unificar seu esfôrço." Marx, Karl. El capital. Madrid, Ed. Aguillar, 1931. v. único, cap. 1, p. 244.

O modo de produção asiático surge na sociedade quando aparece o excedente econômico, que determina uma divisão maior de trabalho separando mais rìgidamente agricultura e artesanato, que reforçam a economia consuntiva,16 16 Para Max Weber, economia consuntiva é sinônimo de economia natural; no entanto "não se conhece ainda nos séculos XIV e XV, por exemplo, entre os Médici, a separação sistemática do regime de economía consuntiva (natural e economía lucrativa)." Weber, Marx. Historia económica general. México. Ed. Fondo de Cultura Económica, 1956. p. 8. à qual sobrepõe-se o poder representado pelo chefe supremo ou uma assembléia de chefes de família. Dá-se a apropriação do excedente econômico por uma minoria de indivíduos sem retribuição à sociedade. Daí a exploração assume a forma de dominação, não de um indivíduo sôbre outro, mas de um indivíduo que personifica uma função sôbre a comunidade.17 17 Conforme pesquisa do jurista-historiador Maitland, F. W. The survival of archaic comuníties, In: Collected papers. Cambridge, 1911. 2 v. , e ainda Weber, Marx. Der Srat un den Charakter der altgermanischen Sozial-verfassung. Im Jahrbf. Nationalökonomie un Statistik, v. 83, 1904. idêntico processo, acentua Max Weber, deu-se na formação da Iugoslávia e Croácia contrariando a tese de Pelsker J., Die serbische Zadruga. Zeistschrf, Sozial un Wirtschafteeschichte, v. 7, 1900. que vê nessa estrutura o resultado da organização tributária de Bizâncio. A necessidade da cooperação simples, onde a máquina tem papel secundário e a divisão de trabalho é incipiente para a realização de obras que sobrepassam as comunidades, vai requerer uma direção centralizada para coordenar os seus esforços. Na medida em que isso se dá, unido à eficiência do trabalho, é possível a transformação do sentido funcional da autoridade superior em instrumento de exploração das comunidades subordinadas, quando se dá a apropriação da terra pelo Estado, que mantém a propriedade comunal. O indivíduo continua na posse da terra como membro de sua comunidade particular.

Assim, a cultura de irrigação junto com a horticultura e a irrigação pelos grandes rios criam a necessidade de uma supervisão centralizada que irá recrutar mão-de-obra relativamente ampla.

A sorte dos judeus no Egito está ligada a êsse processo; são recrutados à fôrça para as expedições dos reis assírios e babilónicos que, com seus séquitos, procuram reunir mão-de-obra para construção de canais e cultivo das zonas desérticas. Nesse sentido, a via fluvial do Nilo desempenhou papel vital na centralização burocrática,18 18 "Sem ela (a via fluvial do Nilo) não teria a centralização burocrática alcançado, no Egito, o grau que efetivamente alcançou". Weber, Marx, Economía y sociedad. v. 4, cap. 6, p. 602. atuando como fator decisivo na formação de uma hierarquia de clientes subordinada diretamente ao Estado patrimonial-burocrático.19 19 No Egito antigo deu-se "a submissão da povoação a prestações pessoais numa proporção que antes não fôra possível e conduziram o Antigo Império a uma situação em que tôda povoação estava organizada numa hierarquia de clientes (dependentes), na qual o homem sempre foi considerado boa prêsa; em alguns casos foi incorporado as quadrilhas de escravos de Faraó". Weber, Marx, op. cit. v. 4, cap. 7, p. 128.

O contrôle da água em grande escala é dirigido pelo Estado e seu caráter centralizado e despótico no Egito repetia-se na antiga Mesopotâmia20 20 A respeito, o magistral estudo de Rustow, Alexander. Ortsbestimmuung der Gegenwart. Zurich, Erlenbach, 1950-52. 2 v. e China onde os cultivadores passivos e ignaros estão "sob direção de uma classe letrada de funcionários que planejam e executavam o plano. Incapaz de organizar-se, o camponês chinês sofre a dominação tirânica do Estado.21 21 Weber, Max. op. cit. vol. 4, cap. 7, p. 178. Daí a supremacia tirânica da burocracia estatal chinesa",22 22 Maspero, H. & Balazs, E. Histoire et institutions de la Chinne ancienne. France, Éd. PUF, 1967, cap. 1, 4.ª parte, p. 169-70, retomando uma tese idêntica desenvolvida por Witfogel, Karl, Oriental despotism, Yale, 1951. reforçada pela ausência ainda maior dos senhorios territoriais, que apesar dela ainda existiam no Egito, tendo sido substituídos pela burocracia construtora de canais, de depósitos para armazenamento de tributos in natura, de onde os funcionários retiravam suas congruas ou emolumentos, abastecendo o Exército. No início da época histórica da China, dar-se-á a regularização das águas, atribuída às qualidades carismáticas de um soberano demiurgo, o grande YU.23 23 Conforme Maspero, H. & Baiazs, E. op. cit. p. 170, idêntico processo dera-se na América com os incas, onde, num nível de tecnologia neolítica, a burocracia "governava teocràticamente sôbre uma sociedade hidráulica simples". Witfogel, K. op. cit. p. 117. Tal ponto de vista é reforçado por um cronista incaico da época, Vega, Garcilaso de la. Comentarios reaies de los Incas. 1945, v. 1, cap. 1, p. 282 observara "a falta de retribuiç ão pelos serviços prestados no trabalho obrigatório das estradas, construção de pontes, canais de irrigação e nas terras do Estado".

O modo de produção asiático não é confinado ao Egito antigo. A Mesopotâmia, China ou o Império incaico conheciam-no. Êle aparece na Rússia por ocasião da invasão huna, determinando a longo prazo "certos aspectos da vida social e econômica que a nós ocidentais podem parecer impostos pela Revolução Autoritária (1917), mas que são de fato prolongamentos de instituições preexistentes, desenvolvimentos decorrentes de pensamento da antiga Rússia",24 24 Meyer, Monique. L'entreprise industrielle d'état en Union Sovietique. Paris, Ed. Cujas, 1964. p. 11. fornecendo a chave para a compreensão da realidade russa contemporânea.

Na Rússia antiga, a comunidade de aldeia (ebchtchins), posse coletiva do solo, é uma criação do govêrno, imposta aos camponeses por razões administrativo-fiscais, onde, conforme o Ruskaya Pravda (o direito russo) o "proprietário eminente de tôda a terra é o Grão-Principe. Os boiardos constituem um exército móvel mantido pelo Príncipe que 'convida' sua gente" para recolher tributos em gêneros, mel, cera, cereais, etc.; o mesmo se faz nas cidades organizadas comunalmente. Os "homens do Príncipe" aparecem como proprietários rurais com terras para sua subsistência e sobretudo domínios florestais. Em 1326, o Metropolita de Vladimir instala-se em Moscou colocando, assim tôda a influência de um clero a serviço do Grão-Príncipe, fornecendo, quadros, à burocracia estatal. O Grão-Príncipe distribuiu domínios aos camponeses (pomestye) a título precário, em recompensa pelos seus serviços, constituindo uma nova aristocracia ligada ao poder, os boiardos. Êstes submetiam-se ao Grão-Príncipe e participavam do seu Conselho, a Duma.25 25 "A influência mongólica na transmissão à Rússia dos métodos despóticos do estatismo da China, aparece com clareza na Rússia de Moscou, eis que os mongóis conheciam êsses métodos quando submeteram a Rússia (1273-40), pois anteriormente haviam conquistado a China (1211-22) e o Turquestão em 1219-20. Desde 1215, Geneis Khan tinha um conselheiro chinês de alto nível, Yeh-lú-Ch'u-Ts'ai. Em 1253, o Grande Khan Mongke, no intuito de um contrôle racional da área sob seu domínio, ordenou a Pieh-erh-ke que fizesse um censo na Rússia". American Philosophical Society. History of Chinesa society. Philadelphia, 1949. V. 36.

Êste Estado onipotente, fundado nas prestações forçadas de serviço, exercendo um contrôle máximo sôbre a propriedade territorial, constitui-se num elemento básico para explicação da persistência do mesmo, através do tempo, conforme explica Summer.

Modernamente na URSS o modo asiático de produção predomina de forma recorrente, no seu aspecto mais significativo: o realce ao domínio da burocracia enquanto poder político, no regime do capitalismo do Estado.26 26 Não há nenhum livro que fale do Capitalismo do Estado na época do comunismo. Marx mesmo não escreveu nada a respeito, morreu sem deixar nenhuma citação exata, nenhum argumento irrefutável." Lênin. La révolution bolcheviste. Paris, Ed. Payot, p. 279. " Êsse regime é uma combinação inédita27 27 "O Capitalismo de Estado, tal como é visto por nós, não é analisado em nenhuma teoria ou literatura." Lênin. op. cit. p. 279. de iniciativa individual no plano econômico com a economia do Estado.28 28 "Um tipo misto, em que a iniciativa privada limitada pela estatização - o Estado somos nós". Lênin. op. cit., p. 279.

O capitalismo de Estado, ou melhor, o processo de modernização levado a efeito por uma elite, industrializante sob a direção de um partido único, implica nos seus inícios, já na burocracia.29 29 "Falamos do renascimento parcial da burocracia no interior do regime soviético." Lênin. O capitalismo de estado e o impôsto em espécie. Curitiba, Guaíra, s/d. p. 46. Essa burocratização já ameaça, três anos após a tomada do poder por Lênin,30 30 "Vemos apresentar-se êsse mal diante de nós, ainda mais claramente, mais ameaçador e mais nítido", (Lênin. op. cit p. 47) concluindo que na Rússia "a burocracia não está no Exército, mas nos serviços". Lênin. op. cit. p. 47. o regime na sua totalidade. O monopólio do poder, pelo partido único, é o elemento que assegura a seleção da elite dirigente,31 31 "Pois ainda que haja poucas exceções, os quadros de direção não podem chegar geralmente ao nível de diretor de fábrica sem a condição prévia de serem membros do P.C." Granick, David. El hombre de emprêsa soviético. Madrid, Ed. Revista do Ocidente, 1966. p. 40. onde a ascenção na escala partidária assegura igual subida na burocracia do Estado.32 32 "Assim em 1958 a delegação norteamericana mencionava que o Diretor da maior usina siderúrgica de Chelyabinsk fora antes Secretário do Partido naquela zona," Granick, D. op. cit. p. 44. Esta burocracia possui o Estado como propriedade privada, dirigindo coletivamente os meios de produção,33 33 "Caracteriza-se essencialmente pela apropriação dos instrumentos de produção pelo Estado." Portal, R., Os eslavos. Lisboa, 1968. p. 408. é a tecnoburocracia dirigente, que persiste de Lênin até hoje,34 34 "A tecnoburocracia industrial, administrativa militar e planejadora, embora muito poderosa sob a ditadura de Stalin, manteve-se após sua morte e liquidação de seu mito, obediente ao Estado e ao seu órgão supremo: o P.C." Gurvitch, G. Les cadres sociaux de la connaissance. Paris, Éd. PUF, 1966. p. 222. mas, vigiada pelo partido, não possui nem os meios de produção como apropriação privada, nem a hereditariedade de fortuna.

Nêsse contexto, o administrador de emprêsa cumpre a função de realizar no nivel de microemprêsa os objetivos do plano. Se êle atinge as cifras do plano recebe bonificação,35 35 "Essa proporção pode atingir a 30% ou 40% do salário pròpriamente dito. É necessário esclarecer que essa estrutura observa-se na indústria na URSS." Lewit. Rev. Sociologie du Travail, (2): 127, 1970. Onde o exemplo por excelência de remuneração é o salário por tarefa (p. 158) que corre o risco de ser dividido por atraso ou falta ao trabalho; neste caso "recomenda-se destinar aos bons trabalhadores a parte devida aos maus como recompensa por sua fidelidade". Lewit. cit. p. 167. isso implica uma correlação entre o lucro planejado e o efetivamente conseguido.

Se o lucro planejado é conseguido, urna parte déle fica retida no fundo da emprêsa, as bonificações constituem parte importante na remuneração dos dirigentes;36 36 "A luta pela tabela diferencial de remuneração leva implícita a noção de que o igualitarismo é estranho à sociedade socialista. Os organismos sindicais devem lutar sem cessar contra as tendências igualitárias (Hungria)." Lewit. op. cit. 175; daí na Tcheco-Eslováquia - segundo o diário Obdoran, n. 21, 1968 - os salários dos manobristas representam 10% dos do diretor adjunto (Lewit. op. cit. p. 154). no entanto, o método no pagamento das bonificações é o maior responsável pela malversação dos recursos.

A irracionalidade do sistema de bonificações leva os diretores de emprêsas a dissimular sua capacidade produtiva, a acumular inùtilmente equipamentos, matérias-primas, evitar inovações e produzir bens sem utilização. Um dos vícios do sistema é encorajar a direção da emprêsa a dissimular sua capacidade produtiva, na medida em que a superação dos objetivos quantitativos é a condição básica para atribuição de bonificação.37 37 Tal forma de remuneração arcaica fôra definida por Taylor no início do século onde "a tarefa e a gratificação constituem um dos mais importantes elementos do funcionamento da administração científica". Taylor. Administração científica do trabalho, p. 110. No século passado por ocasião da Revolução Industrial, analisando as condições inglêsas, K. Marx acentuava: "o trabalho por tarefa é um sistema arcaico que tem na Inglaterra um nome muito eloqüente, sweating-system (sistema-suador)". Marx, K. El capital, v. único, p. 410.

Isso leva a competição entre os diretores no sentido de estocarem matérias-primas, e os que têm mais prestígio têm maior sucesso. A bonificação constitui-se em freio à inovação na medida em que essa provoca uma perturbação na produção, significando menor bonificação para ò gerente e o operário. Se houver maior produção devido à inovação, os planejadores retificam as metas, tornando-as mais difíceis de atingir. A emprêsa é sempre incitada nêsse sistema a produzir bens inúteis ou com pouca demanda, conduzindo a mal-versação no âmbito dos bens de consumo, pois a direção limitará a variedade dos artigos para atingir maior produção quantitativa.38 38 "Há necessidade de elaborar em caráter experimental para futuro próximo formas de salário que correspondam às condições de trabalho modernas, da mesma forma que o salário por unidade correspondeu a uma realidade da geração anterior." Christian, Dejean, La salaire au rendemene, un exemple belge. Rev. Soc. du Travail, (2), 1961.

A emprêsa trabalha sob contrôle hipercentralizado,39 39 Especialmente por ocasião da II Grande Guerra "o traço característico da organização é a centralização feroz de tôda direção econômica". Dudorine. Planification et programation lineaire de l'aprovisionnement matériel et téchnique. Ekonomizdat. Moscou, 1961. p. 19. com planos confirmados trimestralmente pelo Estado russo. A grande maioria das emprêsas dependia de comissários e ministérios setoriais.

Em 1957, a indústria é dirigida centralizadamente e setorialmente, gerando a proliferação de órgãos administrativos e os males da departamentalização, estudados por Selznick, onde se dá a bifurcação de interêsses entre as subunidades com objetivos próprios. A especificação de zonas geoeconômicas levava ao encarecimento do transporte e à falta de coordenação entre as emprêsas da indústria local. Na medida em que os setores industriais dependiam de um ministério específico, cada um procurava assegurar seu aprovisionamento, enquanto cada ministério ficava preocupado com seu setor, mais do que com os outros; isso coexistia com uma centralização direcional rígida no âmbito da emprêsa.40 40 40 "No ápice de tôda emprêsa, oficina e seção, acha-se um chefe investido de todo poder para direção, impondo uma disciplina de ferro durante o trabalho sujeito a vontade de um só: do dirigente soviético." Meyer, M. op. cit. p. 90. "O diretor de emprêsa é o fundamento do Poder Socialista". Kaminster. Manual de l'entreprise industrielle. Moscou, 1961, sendo "nomeado e liberado de suas funções pelos órgãos superiores, cf. parágrafo 89 do Regulamento sôbre a Emprêsa Produtiva Socialista do Estado." Meyer, M. op. cit. p. 900. O § 94 da Lei investe o contramestre de plenos pôderes e organização direta da produção e do trabalho, responsável pela execução do plano. Sua transferência, nomeação ou licenciamento são efetuados pelo diretor da emprêsa; essa "burocratização" da direção, fruto do centralismo, engendra a burocracia. Dudorine. Planification et programation linéaire de l'aprovisionnement matériel et technique. Ekonomizdat. Moscou, 1961. p. 18. Nessa estrutura, os comitês de emprêsa limitam-se a reforçar a decisão que lhes foi transmitida pelos órgãos centrais.41 41 "A participação é formalmente assegurada mas os trabalhos não têm nenhum poder efetivo. Houve centralismo exacerbado e participação simbólica." Meyer, M. op. cit. p. 22; idêntico fenômeno Lewit constatou estudando uma emprêsa metalúrgica no Oeste da Hungria, e mais do que isso, que os assalariados rejeitam os fins propostos pela direção. Lewit. Revue Sociologie du Travail, p. 27.

O fenômeno da centralização burocrática da direção da emprêsa, gerida no nível mais alto pelo partido que detém o monopólio do poder, não se dá sòmente na URSS, Hungria ou Tcheco-Eslováquia, é persistente na Iugoslávia também.

É o ressurgimento do modo asiático de produção, aliado ao alto nível de tecnificação com o monopólio do poder pelo partido único.

Assim, a nova classe emerge como elite industrializante, como uma conseqüência do desenvolvimento gradual da elite clandestina que constituía a estrutura do partido nos anos de luta pelo poder. "Troque por nova classe o têrmo aparelho e tudo ficará mais nítido."42 42 Djilas, Milovan. La nouvelle classe dirigéante. p. 48-48; ponto de vista confirmado por pesquisas na Iugoslávia por Albert Meister, que constata o pais dirigido por quadros com formação tecnocrática (cf. Meister, A. op. cit. p. 261). A análise a respeito da concentração das responsabilidades confirmam a tese de Djilas - de que o poder é monopolizado pelos apparatchks (os profissionais da cúpula do partido), ativistas e gestionários da propriedade coletiva. Meister, A. Socialisme et autogestion. Paris, Presses Universitaires de France, 1953. p. 274-75.

A concentração do poder na figura carismática de Tito leva-o ao papel de "Grande Animador" do sistema, único possuidor de crítica; êle abre a campanha de crítica com observações e recomendações que caracterizam periòdicamente a vida da Iugoslávia. Aí também os órgãos de autogestão representam a burocracia dominante.43 43 "Os órgãos de autogestaçâo não conquistam nada, êles recebem, são beneficiários, são-lhes atribuídas competências, liberdades e feudos. Sua criação não é o produto de reivindicação popular, mas foi doada ao povo pelos seus dirigentes." Meister, A. op. cit. p. 316.

Isso nos permite definir as formações econômicas e de emprêsa na URSS e no âmbito da Europa Oriental, como formas de modo de produção asiático recorrentes ao capitalismo do Estado, onde a burocracia, não só é o elemento oriundo das necessidades funcionais da técnica, mas é acima de tudo poder político total.

Isso tem implicação no plano das idéias: êsse sistema cria automàticamente a valorização no primeiro plano do conhecimento político doutrinário e o conhecimento filosófico restrito ao marxismo interpretado pelos detentores do poder; sua dogmatização é acompanhada do monopólio do poder pelo partido único do qual emerge o líder carismático. Em segundo plano aparece o conhecimento científico e, em último, o conhecimento técnico, como elementos de refôrço do sistema.

Vimos que a emergência da burocracia patrimonial como poder político nas sociedades orientais e pré-colombiana antecede de muito o aparecimento da burocracia funcional da indústria moderna, confirmando o aforismo hegeliano que a substância do Estado é a realização do interêsse universal enquanto tal (da burocracia). Isso se dá na URSS, Europa Oriental e nos países de autocracia modemizante. O Estado aparece como um triunfo da "razão" hegeliana, onde a maturidade política é conquistada por mediação da burocracia, que introduz a unidade, na diversidade da sociedade civil. O Estado como "burocracia acabada" gera a sociedade civil, o regresso de Marx a Hegel.

2. A EVOLUÇÃO DA EMPRÊSA INDUSTRIAL SOB O CAPITALISMO E A TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO COMO IDEOLOGIA

A análise da teoria geral da administração como ideologia implica o estudo do "fenômeno do pensamento coletivo que se desenvolve conforme interêsses e as situações sociais existentes".44 44 Manheim, Karl. Ideologia e utopia. Ed. Globo, 1950. p. 115.

As premissas gerais para a emergência do capitalismo fundamentam-se na contabilidade racional como norma para emprêsas que satisfazem as necessidades diárias. Elas se estruturam na propriedade privada dos meios de produção, técnica racional, direito racional, estrutura administrativa da burocracia e um ethos do trabalho e esfôrço contínuo. Em suma, o capitalismo foi o produto "da emprêsa, contabilidade e direito racional unidos à ideologia racional e ética racional na economia".45 45 Weber, Max. Historia económica general, p. 298.

A primeira Revolução Industrial encontra respostas ideológicas sob a forma de teorias sociais globais: Saint-Simon, Fourier e Marx. Êles elaboraram modelos macrossociais, tendo em vista as condições institucionais da sociedade industrial global; a segunda Revolução Industrial, que se inicia com a introdução da eletricidade, a formação dos grandes holdings industriais, encontra como resposta intelectual a teoria clássica da administração, nos estudos de Taylor e Fayol. Fundamentada sistemàticamente num período de acumulação de capitais, isso conseguido, surge à tona o problema humano na emprêsa industrial, e a elaboração da Teoria das Relações Humanas com Élton Mayo.46 46 "É de lembrar-se que nas sociedades onde há escassez, ou seja, em que a maioria dos cidadãos está de braços com os problemas do subconsumo, os fatos materiais tendem a assumir excessiva relevância na conduta. Resolvido porém, socialmente, o problema do consumo, graças a alta produtividade do sistema tecnicoeconômico, os motivos fundamentais da conduta humana estilizam-se, perdendo relevância o fator econômico, ao mesmo tempo em que outros motivos, antes subsidiários, aumentam sua influência. O atraso moral é, em certo sentido, uma seqüela crônica do complexo de escassez. Inversamente, o elemento ético é inseparável da síndrome de abundância. Tais correlações são tanto mais pertinentes, quando nos cingimos à esfera da organização." Ramos, G., Administração e estratégia do desenvolvimento. Rio, Fundação Getúlio Vargas, 1960. p. 115. Os dilemas da sociedade industrial, bem como as inconsistências dos postulados da Escola das Relações Humanas são retratados crìticamente pela Escola Estruturalista que aparece na Alemanha, baseando-se em algumas indicações de Marx, sistematizadas por Max Weber.47 47 Foi na Alemanha que se deu a reação à Escola das Relações Humanas, vista como desenvolvendo uma atitude manipulativa para com o operário em função dos interêsses da Administração. Neste aspecto, Elton Mayo continua Taylor e Fayol; a crítica alemã mostrara que a Escola de Relações Humanas subestimava o conflito, negara o pêso dos fatôres econômicos determinantes da paz industrial; tinha a tendência a encarar as relações industriais como relações interindividuais. A Alemanha foi o berço da reação intelectual à Escola das Relações Humanas, pelo fato de que, industrializando-se tardiamente em relação à Inglaterra e França, a ela restará pensar no plano crítico o que a primeira realizou na Economia (Rev. Industrial) e a segunda no político (Rev. Francesa). Nos EUA, apesar do desenvolvimento econômico, não se tomara tal postura crítica, porque "onde as classes já constituídas mas não fixas, ainda se modificam e substituem freqüentemente, ao contrário dos seus elementos constitutivos, onde os métodos de produção moderna, em lugar de corresponder a uma superpopulação constante, compensam muitas vêzes a falta relativa de braços e cabeças, e onde por fim, o nôvo e febril movimento de produção material que tem um mundo nôvo a conquistar, não possui nem tempo nem ocasião para destruir o velho mundo espiritual". Marx, Karl. Le 18 brumaire de Louis Napoleón. Éditions Sociales, 1928. p. 33.

2.1. A primeira Revolução Industrial

A emergência da revolução industrial implica uma alteração das condições de produção, substituição da manufatura pela fábrica, absorção do êxodo rural na nova mão-de-obra industrial, transferência de capitais do campo à cidade e aproveitamento dos resultados das ciências naturais no universo industrial.

O desenvolvimento da máquina a vapor dependia bàsicamente dos estudos dos gases de Boyle, das investigações sôbre a física do calor de Blach e Carnet e dos trabalhos sôbre a conservação da energia de Helmholtz. Sem as experiências de Faraday, a respeito das bases físicas da eletricidade e do magnetismo, não teríamos o dínamo ou o motor elétrico; as pesquisas sôbre os gases e a eletricidade permitiram o surgimento do motor de combustão interna. A química é a precursora dos progressos da indústria do ferro, aço e petróleo. As investigações de Ampère permitiram o surgimento do telégrafo e o trabalho de Hertz deu a possibilidade a Marconi de inventar o telégrafo sem fio. A máquina a vapor e o motor de combustão interna superaram o boi e o cavalo, como fôrça motriz.

A Revolução Industrial iniciou-se na Inglaterra porque fôra o país mais afetado pela Revolução Comercial;48 48 Num sentido contrário, defendendo a tese do incremento da Revolução Industrial por transferência de renda do setor agrário ao industrial. Bairoch, Paulo. La revolution industrial y el subdesarrollo. México, Ed. Siglo XXI, cap. 5, p. 79. eis que o sistema industrial medieval fundado nas guildas desapareceu em primeiro lugar na Inglaterra, no século XI, no ramo têxtil, já fôra suplantada pelo trabalho doméstico, permitindo o incremento do processo de industrialização.

No século XVIII, a classe comercial inglêsa suplantara a holandesa, e com a acumulação de capital inglês possibilitou a criação de uma marinha mercante, que por sua vez reforçou a acumulação.

O incremento da demanda de artigos têxteis, em 1700, demonstrara a escassez de artesãos; daí a necessidade dos meios mecânicos.

O "cercamento" das terras para criação de pastagens destinadas a manter o rebanho fornecedor de lã à manufatura têxtil urbana liberou mão-de-obra para a indústria.

No plano continental, a França foi o primeiro país que sofreu as conseqüências das transformações na ordem industrial. A Revolução Industrial na França iniciou-se em 1825 com a derrota napoleônica, que fêz com que desaparecessem da França as máquinas têxteis de algodão e metalúrgicas modernas, tornando a agricultura predominante, ligada à escassez de alguns produtos in natura, à falta de mão-de-obra especializada e escassez de capital.

Sob influência de Turgot (1774 - 1776) tendem-se a destruir os privilégios das guildas para liberalizar a indústria. Com a lei Chapelier, de 14 de junho de 1791, declarando ilegais as reuniões dos operários, "pois pretendiam restabelecer os privilégios das antigas corporações eliminadas pela Revolução Francesa", criam-se as condições ao desenvolvimento do capitalismo liberal.

A Revolução Industrial na Alemanha deu-se de forma incompleta e gradualmente devido à predominância do trabalho manual e a persistência das pequenas oficinas. Até a segunda metade do século XIX, a Alemanha estava industrialmente retardatária, a agricultura constituía a principal ocupação da população. Até 1850, as máquinas eram escassas, pois predominava o sistema de trabalho domiciliar; o país era pobre devido à persistência de um sistema de guildas e à falta de um Estado centralizado. A Alemanha estava dividida em 39 estados diferentes, o que impedia seu desenvolvimento industrial.

Ela carecia de mercado interno e não possuía colônias. A invasão francesa ofereceu à Alemanha a possibilidade de passar do estágio do monopólio das guildas ao sistema industrial liberal; entre 1868 e 1869, surge uma legislação que legaliza a liberdade industrial; os trabalhadores tiveram então liberdade para oferecer sua mão-de-obra no mercado, sendo removidos todos os obstáculos ao desenvolvimento industrial.

A União Aduaneira Alemã permitiu a ampliação do mercado. Com o surgimento do sistema ferroviário estendiam-se mais os limites do mercado alemão. A Alemanha, além de importar máquinas da Inglaterra, importara mão-de-obra com a emigração de trabalhadores especializados ingleses integrados nas áreas industriais da Alemanha.

Na Inglaterra, a primeira indústria totalmente mecanizada foi a têxtil, no seu ramo algodoeiro com a introdução da máquina de fiar automática de Hargreaves, a máquina hidráulica de Arkright, a mule de Samuel Coompton, que permitia a produção de um fio duro e fino e Cartwright inventara o tear mecânico; isso levou ao declínio do artesanato e ao aumento do contingente operário. Acresce o invento de Whitney que, em 1794, conseguiu por meios mecânicos a separação da semente de algodão da fibra que, por via manual, era lenta e complicada. Whitney obteve por meios mecânicos essa separação, determinando uma revolução na indústria algodoeira e do setor agrícola, conduzindo a especialização do Sul dos EUA nesse ramo, estimulando assim a expansão da escravidão.

A máquina têxtil e a máquina a vapor produziam a fôrça motriz. Tôda essa maquinaria necessitava de grande quantidade de ferro a preço baixo, fato que levou a substituição do carvão de madeira que desflorestava grandes áreas, pelo carvão coque aliado ao alto forno de Smeaton com o método Bessemer. Paralelamente, a extração de carvão tornou-se mais segura quando Davy inventa a lâmpada de segurança nas minas, diminuindo a freqüência das mortíferas explosões de gás no interior das minas, tendo o método Siemens-Martin superado o método Bessemer no fabrico de aços finos.

Essa infra-estrutura tecnológica acompanha a emergência do sistema fabril, que consiste na reunião de um grande número de trabalhadores numa só fábrica, disciplinando o operário. A inspeção realizada pelo capitalista atua na fábrica, disciplinando o operário. De início temporária e esporádica, por ocasião da distribuição de matéria-prima e recolhimento do produto acabado, transforma-se na presença constante no processo fabril. Assim, o tecelão que chegasse cinco minutos após o último sinal ou que deixasse algum resíduo nos fusos, assobiasse ou deixasse aberta a janela era multado em 1 xelim por cada contravenção.49 49 Hamon, J. L. B.; & Barbara. The town labourer. Longmans, 1925. p. 19-20.

As condições de habitação igualavam nos seus aspectos negativos às condições de trabalho, onde o parcelamento das operações produzia a fadiga, tédio e surmenage. Os novos centros industriais abrigavam trabalhadores em choças preparadas precipitadamente.50 50 Hammond, B. The rise of modern industry. Harcourt Brace, 1926, cap. 3. The age of the Chartists. Três quartas partes dos trabalhadores de fábrica de algodão eram mulheres e crianças que trabalhavam nas máquinas, os aprendizes mendigos que abundavam na Inglaterra eram empregados como arrendados pelas autoridades às manufaturas, com jornadas de trabalho de 14 a 16 horas diárias.

Os fiadores de algodão de Manchester, em 1806, ganhavam por semana em média 24 xelim; só em 1897, alcançaram 37 xelim. Isso representa um desnível em relação ao incremento da renda da emprêsa capitalista inglêsa. No século XIX, "embora subissem ligeiramente os salários, os trabalhadores não especializados na Inglaterra mantinham-se na base do salário mínimo vital, e, às vêzes, abaixo do mesmo, abrangendo 31% da população londrina, vivendo abaixo da linha da pobreza".51 51 Booth, Charles. Life and labor of the people of London. MacMillan, 1891/1903.

A situação nas minas não era melhor; mulheres e crianças eram empregadas, de 12 a 16 horas por dia, em poços subterrâneos. Isso obrigou o Estado a intervir nas relações industriais, regulamentando as horas de trabalho: no ano de 1874, a idade mínima de trabalho era de 10 anos e a jornada máxima de 10 horas. Na Alemanha, a partir de 1891, tornou-se ilegal a contratação de uma criança que não tinha terminado sua escolaridade mínima aos 13 anos. A partir de 1901, a idade mínima de uma criança apta ao trabalho era de 14 anos e a jornada máxima, de meia jornada de trabalho de um total de 12 horas.52 52 Hegel notara os aspectos negativos introduzidos pela divisão do trabalho na indústria moderna: "Pela universalização da solidariedade entre os homens, por suas necessidades e técnicas que permitem satisfazê-las, a acumulação de riquezas aumenta de um lado, pois essa dupla universalidade produz os maiores lucros; mas de outro lado, a divisão e limitação restrita do trabalho e por conseguinte a dependência e angústia da classe dependente dêsse trabalho aumenta por sua vez, e ao mesmo tempo, a incapacidade de sentir e desenvolver certas aptidões e faculdades, particularmente as vantagens espirituais da sociedade civil". Hegel. Principes de philosophie du droit. Gallimard, p. 183.

A resposta à Revolução Industrial na Inglaterra, França e Alemanha será fornecida pelos teóricos, Saint-Simon, Proudhon, Fourier e Marx que contestarão a nova ordem de coisas num nível global, ou seja, na procura de um modêlo de sociedade global que seja a negação daquela que emergiu com a Revolução Industrial. Saint-Simon, na sua obra L'organizateur (1819-20) prenuncia a noção de uma direção científica confiada a um govêrno constituído de três câmaras: Invenção, Exame e Executiva, constituída de líderes industriais, capitalistas e banqueiros. "A inoculação política de vasta maioria da sociedade existe para ser governada da maneira mais barata possível, quando possível; governada pelos homens mais capazes e de maneira que se assegure a mais completa tranqüilidade pública. Ora, os mesmos meios de satisfazer nestes vários aspectos, ao desejo da maioria, consistem em conferir poder aos mais importantes industriais, que são os mais interessados na economia das despesas públicas, os que são os maiores interessados em restringir o poder arbitrário; finalmente, de todos os membros da sociedade são os que mais têm dado prova de capacidade na administração positiva, tendo sido evidenciado o sucesso que obtiveram em seus vários empreendimentos".53 53 Gray, Alexander. The socialist tradition. London, Longmans, Greed and Co., 1947.

Saint-Simon elabora a primeira crítica de conteúdo a respeito da emergência do modêlo liberal, ao enunciar que a "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, vista como a solução do problema social, na realidade era o seu primeiro enunciado".54 54 Simon, S. Oeuvres, v. 19, p. 84. Êle não perde de vista que o desenvolvimento industrial leva a superar um tipo de saber jurídico - formal, que desconhece o econômico, "a inferioridade dos legistas é sua ignorância do econômico, isto é, da produção, partindo dos interêsses que são os da maioria de um regime moderno que é industrial".55 55 Simon, S. op. cit. p. 124.

Após definir que os produtores constituem a sociedade legítima, postula a afinidade dos interêsses da indústria com a sociedade, na medida em que a sociedade global tem por base a indústria. A indústria é uma garantia de sua existência. O contexto mais favorável à indústria será o mais favorável à sociedade.56 56 Simon, S. op. cit. v. 18, nota X-A. A sociedade moderna "só dá direito de pertencer a ela, os trabalhadores";57 57 Simon, S. op. cit. p. 128. eis que a classe trabalhadora "deve ser a única".58 58 Simon, S. op. cit. v. 20, p. 74. Saint-Simon, "o cérebro mais universal de seu tempo, com Hegel",59 59 Engels, F. Anti Dhuring. Paris, 1931. cap. 1, p. 13. enunciava que é "pelo estudo direto e positivo da sociedade que se descobrirão essas regras (da vida social); nelas é que é necessário descobrir as bases da política".60 60 Simon, S. Producteur. v. 2, p. 59.

Saint-Simon ocupa uma posição-chave entre os teóricos das ideologias totais na época imediatamente posterior à Revolução Industrial, pois êle "ajudou a transformação da sociedade nessa arte que se chamará o socialismo, nessa ciência popular em que Adam Smith e David Ricardo definiram sua fórmula básica: o valor tem por medida o trabalho".61 61 Leroy, M. Histoire des idées sociales en France. Paris, 1962. V. 1, p. 238.

Fourier, teórico socialista, é considerado atualmente um predecessor das técnicas de dinâmica de grupo, considerando a emprêsa como "grupo". Tendia Fourier a ver, na marcha da sociedade, o caminho para o estabelecimento de uma harmonia universal, a partir do contrôle das paixões humanas. Estabelece Fourier uma solidariedade básica entre a sociedade global e os padrões educacionais, ao admitir que um coletivismo social leva a uma pedagogia não individualista. Inicialmente, Fourier ataca a declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, oriunda da Revolução Francesa, ao denunciá-la como "uma Carta incompleta e desprezível, porque omitiu o Direito ao Trabalho, sem o qual todos os outros são inúteis".62 62 Fourier. Oeuvres complètes, v. 6, p. 193. Teve ela o condão de "produzir um tal caos político que é de se admirar se o gênero humano pôde regredir muitos milhares de anos na sua evolução social".63 63 Fourier. op. cit. p. 37. concluindo Fourier que "não há nada a esperar de todas as luzes adquiridas; é necessário procurar o bem social em alguma nova ciência".64 64 Fourier. op. cit. v. 1, p. 39. Só ela trará a felicidade à humanidade, pois é evidente que "nem os filósofos, nem seus rivais sabem remediar as misérias sociais e, sob os dogmas de uns e outros, vê-se a perpetuação das chagas mais tristes, entre outras, a indigência".65 65 Fourier. op. cit. p. 38. Combatendo a pobreza como "a mais escandalosa desordem social",66 66 Fourier. op. cit. p. 185. visualizando a Civilização como "a guerra do rico contra o pobre"67 67 Fourier. op. cit. p. 199. e para sair dêsse estado de coisas, Fourier apresenta uma fórmula e antecipa o fato de que "é a mim sòmente que as gerações presentes e futuras deverão a iniciativa de sua imensa felicidade; venho dissipar as nuvens políticas e morais e sôbre os dogmas das ciências naturais, eu fundamento a teoria da harmonia universal".68 68 Fourier. op. cit. p. 13.

A sociedade futura, que irá suceder à "incoerência" civilizada, não admite "moderação, igualdades, nem pontos de vista filosóficos. Ela quer as paixões ardentes e fecundas; desde que a associação está formada, elas se articulam mais fàcilmente, quanto mais vivas forem, mais numerosas".69 69 Fourier. op. cit. p. 9. Fourier antevê uma sociedade onde "as jornadas de trabalho serão curtas, o trabalho será variado, parcelado".70 70 Fourier. Noveaux monde industrial. p. 54. Surgirá uma sociedade natural onde "os Falanstérios (comunidades) se agruparão por influência de suas paixões, gostos e caracteres. A ordem nascerá naturalmente, espontaneamente do jôgo das atrações".71 71 Fourier. Traité de l'association. 1922. t. 5, p. 249.

Na sua teoria social total, Fourier vê o elemento afetivo como fator de solidariedade social, estruturando "a concepção social das paixões humanas".72 72 Fourier. op. cit. p. 135. Elas desenvolverão o espírito dos agrupamentos sociais, levando "a economia de tempo, matérias-primas, maior rendimento, menor fadiga, desaparecimento do desprêzo do rico pelo pobre. Não haverá vagabundos, nem pobres, as antipatias sociais desaparecerão com as causas que as engendram".73 73 Fourier. Traité de l'association, t. 1. p. 135. O estabelecimento de tal sociedade perfeita demanda, para Fourier, um prazo curto, "dois anos para sua organização como cantão societário - sua expansão pelo mundo levará mais tempo - seis anos para organizá-lo pelo globo".74 74 Fourier. Oeuvres complètes, v. 1, p. 17.

Fourier com Saint-Simon é um dos últimos representantes dos propugnadores por soluções sociais globais a curto prazo. Sua descrição paradisíaca do futuro liga-se à crítica acre da sociedade de sua época, levando-o à concepção de que "uma sociedade só pode decair em função do progresso social".75 75 Fourier. op. cit. p. 91.

2.2 A teoria de Karl Marx

O marxismo aparece como filosofia da ação,76 76 "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo, de diversas maneiras; o que interessa é mudar o mundo." Engels, F. Teses sôbre Feuerbach. Ludwig Feuerbach et la philosophie classique allemande. Éd. Sociales. onde a vontade humana tem um papel criativo, superando as determinações ambientais,77 77 "A história não faz nada, não possui imensas riquezas, não trava batalhas. São homens vivos, reais que fazem tudo isso, possuem coisas e armam combates. Não é a história que utiliza os homens, como meio de alcançar, como se fôsse também uma pessoa - seus próprios fins. A história não é nada senão a atividade, homens perseguindo seus objetivos." MEGA. v. 1, cap. 3, p. 265. para conseguir a constituição do proletário como classe, derrubada da supremacia da burguesia e conquista do Poder.78 78 Marx. Karl. Manifesto do Partido Comunista. Ed. Vitória, p. 327.

Eis que, para Karl Marx, a condição êssencial de existência da burguesia é a formação e crescimento do capital, condição básica para a luta de classes, que caracteriza o processo da história,79 79 Marx, K. op. cit., Ed. Vitória, p. 22. no qual a burguesia desempenhou um papel revolucionário. Ela liquidou as relações feudais e patriarcais, definiu, pela exploração do mercado mundial, um caráter universal às relações de produção e troca, submeteu a área rural à urbana e efetuou a centralização política.80 80 Marx, K. op. cit., p. 27. "Constituindo em uma só nação, com uma só lei, um só interêsse nacional de classe, uma só barreira alfandegária".

Denunciando porém, Karl Marx, a estreiteza das estruturas criadas pela burguesia para conter a riqueza em seu seio,81 81 Marx, K. op. cit. p. 29. a própria burguesia criou seus opositores: os operários, concluindo que a queda e a vitória dêstes são igualmente inevi táveis.82 82 Marx, K. op. cit. p. 37.

Karl Marx elaborou, em suas grandes linhas, uma filosofia de conflito social, estruturando uma visão da sociedade global cujas premissas são os homens, no seu processo de vida em sociedade.83 83 "A consciência jamais poderá ser alguma coisa além da existência consciente e a existência dos homens é o seu processo de vida atuante." MEGA. v. 1. cap. 5, p. 15-17. Nela, o trabalho aparece como grande fator de mediação que enriquece o mundo de objetos tornado poderoso, ao lado do empobrecimento "em sua vida interior" de trabalhador, onde êste não é dono "de si próprio".84 84 MEGA. v. 1, cap. 3, p. 83-84. O fruto do trabalho aparece como um "ser estranho com um poder independente do produtor",85 85 MEGA. v. 1, cap. 3, p. 83. onde as relações mútuas dos produtores tomam a forma de uma "relação social entre coisas".86 86 Marx, K. El capital. v. 1, p. 7778.

A industrialização promove nova estratificação social: as classes médias aparecem como elemento conservador do sistema.87 87 Marx, K. Manifesto... p. 34. O lúmpen proletariado, embora sujeito a acompanhar o proletariado, por suas condições de vida "predispõe-se mais a vender-se à reação",88 88 Marx, K. Manifesto... p. 34. "cristalizam uma formação social onde a emancipação do operário como classe, implica a libertação da sociedade global".89 89 "... Pois ela é uma perda total da humanidade; em suma, ela, a classe operária só pode redimir-se por uma redenção total da humanidade." MEGA. v. 1, cap. 1, p. 617-21.

Karl Marx fornece uma visão sociológica finalista, que perpassa seu pensamento no nível de modelos macrossociais, surgindo como reação ao desafio da Revolução Industrial inglêsa, onde a divisão manufatureira do trabalho como combinação de ofícios independentes, implica a concentração do processo produtivo, criando estruturas "reificadoras" do homem. Ao lado da importância atribuída à fábrica como instituição decisiva da sociedade industrial, Marx incidentalmente aborda o processo de burocratização da emprêsa,90 90 Marx, K. El capital. v. único, cap. 12. p. 244 e 261. a patologia industrial,91 91 Marx, K. op. cit. cap. 12, p. 266-67. sem porém, desenvolver sistemàticamente uma teoria da organização.

3. TERCEIRA FASE DA INDUSTRIALIZAÇÃO

Ela se inicia com a decadência dos ofícios tradicionais. Os ofícios qualificados subdividem-se, especializam-se, embora outros ofícios, que continuam qualificados, percam parte de seus valôres. Os novos ofícios estão na dependência de uma máquina que sofre aperfeiçoamento contínuo.92 92 "A manufatura desenvolve a produção em série, cada trabalhador tem uma função parcial, ela se decompõe em inúmeros antigos oficios." Marx, K. El capital. cap. 12, p. 255. A maquinaria específica dessa nova divisão de trabalho é o trabalho coletivo, como continuidade dos trabalhos parciais.

A especialização impede que o aprendiz passe a ajudante e êste a companheiro; o trabalho como elemento de ascensão social implicará a "educação permanente".

A equipe de trabalhadores em tôrno de uma pessoa, um oficial com experiência, desaparece, na medida em que o cálculo substitui a experiência, mediante análise no Departamento de Métodos; efetua-se assim a separação entre concepção e execução do trabalho na emprêsa. A indústria têxtil adota inicialmente êsses métodos; paralelamente, a indústria de construção naval conserva o sistema profissional de trabalho.

O aumento da dimensão da emprêsa no período da segunda Revolução Industrial, além de ocasionar uma mutação, onde as teorias sociais de caráter totalizador e global (Saint-Simon, Fourier e Marx) cedem lugar às teorias microindustriais de alcance médio (Taylor, Fayol), implica, no plano da estrutura da emprêsa, a criação "em grau maior ou menor de uma direção determinada, que harmonize as atividades individuais e que realize as funções gerais que derivam da atividade do corpo produtivo no seu conjunto".93 93 "Um violinista não precisa diretor, precisa-o o conjunto." Marx K. El capital, p. 242. O crescimento da dimensão da emprêsa irá separar funções de direção, de funções de execução.94 94 A função inspetora direta e contínua do trabalhador ou grupos de trabalhadores passa a ser agora a função de uma classe especial de assalariados. O trabalho de vigilância transforma-se em função executiva dessas pessoas." Marx, Karl. op. cit. cap. 11, p. 243. Dá-se assim, a substituição do capitalismo liberal pelos monopólios. Entre 1880/90, nos Estados Unidos, instala-se a produção em massa, o número de assalariados aumenta em 1.500 mil, é necessário evitar-se o desperdício e economizar mão-de-obra.

3.1 Os fundamentos quaker do sistema Taylor

Taylor, oriundo de uma família de quakers,95 95 "Ainda mais notável, pois apenas deve ser lembrada a relação entre uma filosofia religiosa de vida com o mais intenso desenvolvimento da mentalidade comercial, justamente no rol daquelas seitas cujo alheamento da vida se tornou tão proverbial quanto sua riqueza, principalmente entre os quakers e menonitas. O papel que os primeiros tiveram na Inglaterra e América do Norte, coube aos segundos, nos Pafses Baixos e Alemanha." Weber, Max. A ética protestante e o espirito capitalista. Ed. Pioneira, 1967, p. 26. Max Weber constata que a tendência das minorias religiosas, privadas de poder politico, é "envolverem-se em atividades econômicas". Isto se deu "com os não-conformistas e quakers na Inglaterra". (Weber, M. op. cit. p. 22) No fundamento do ascetismo protestante, parte importante ao lado de outras seitas como "os batistas, menonitas, coube principalmente aos quakers". Weber, Max., op. cit. p. 102. A idéia de que Deus fala sòmente quando as criaturas silenciam significou uma formação tendendo "para a tranqüila ponderação dos negócios, para orientação destes em têrmos de cuidados e justificação da consciência individual." Weber, Max. op. cit. p. 106. foi educado na observação estrita do trabalho, disciplina e poupança. Educado para evitar a frivolidade mundana,96 96 Evitar a "vaidade mundana, seja tôda ostentação, frivolidade, e uso das coisas sem propósitos práticos, ou que forem valiosas apenas por sua raridade, qualquer uso não consciencioso da riqueza, tal como gastos excessivos para necessidades não muito urgentes, e acima da provisão necessária das reais necessidades da vida e do futuro". Weber, Max. op. cit p. 218-19. converteu o trabalho numa autêntica vocação.97 97 A gravidade de sua vida, seu entusiasmo reformista pela substituição do empirismo pela ciência (Taylor, op. cit. p. 94) têm profundas raízes na sua formação familiar, onde encontrou "ambiente de pureza de vida sã de ideal de emancipação humana não só no aspecto moral, como também no intelectual, politico e social". Mallat y Cutó, José. Organización científica del trabajo. Espanha, Ed. Labor, 1942, p. 11-12.

Iniciou sua vida profissional como operário da Midval Steel Co., passando a capataz, contra-mestre e chefe de oficina, daí a engenheiro.

O estudo do tempo, a cronometragem definem-se como pedra angular de seu sistema de "racionalização" do trabalho.

Cada operação é decomposta em "tempos elementares"; auxiliado pelo cronômetro, Taylor determina o tempo médio para cada elemento de base do trabalho, agregando os tempos elementares e mortos, para conseguir o tempo total do trabalho, com a finalidade messiânica98 98 "Indicar por meio de uma série de exemplos a enorme perda que o pais vem sofrendo com a ineficiência de quase todos os nossos atos diários". Taylor, op. cit. p. 11. de evitar o maior dos pecados - a perda de tempo. A finalidade maior do sistema é educativa e manifesta-se pela intensificação do ritmo de trabalho.99 99 "Aperfeiçoar o pessoal da emprêsa para que possam executar em ritmo mais rápido e mais eficiente, os tipos mais elevados de trabalho, conforme suas aptidões naturais." Taylor, op. cit. p. 15. Para introduzir seu sistema, Taylor promove uma cruzada contra as "idéias falsas",o empirismo,100 100 "Os conhecimentos e métodos científicos a serviço da administração, substituirão em tôda parte mais cedo ou mais tarde, as regras empíricas, porquanto é impossível o trabalho científico com os antigos sistemas de administração." Taylor, op. cit. p. 94. preconizando a prioridade do sistema sôbre o indivíduo, criticando, em nível quaker, o pecado da idolatria do "grande iluminado".101 101 "O remédio para essa ineficiência está antes na administração que na procura do homem excepcional ou extraordinário." Taylor, op. cit. p. 11. Essa atitude antiidolátrica transportada para o sistema político é que explica como o protestantismo na medida em que condena a idolatria das pessoas, constitui-se em antídoto à obediência passiva a líderes carismáticos totalitários, cria um ethos democrático com base nessa desconfiança do grande líder. A prioridade do seu método abrirá um ciclo de prosperidade.102 102 Sob "a administração científica, as fases intermediárias serão mais prósperas e mais felizes, livres de discórdia e dissensões. Também os períodos de infortúnio serão em menor número, mais curtos e menos atrozes". Taylor, op. cit. p. 29.

O messianismo administrativo de Taylor parte da função providencial do empresário,103 103 Em Taylor dá-se a valorização positiva da indústria, da função do trabalho e do empresário no sistema social global. Isso se deve à sua formação quaker. Pertencendo a uma das inúmeras seitas da Igreja Reformada que auto-excluiu-se da cidadania política ao "recusar-se a prestar serviço militar, lnabilitando-se, portanto, à nomeação para os cargos públicos" (Weber, Max. op. cit. p. 107), ela acompanha assim "o destino das seitas marginalizadas, ao fortalecer a tendência a envolver-se com particular empenho nas atividades econômicas". Weber, M. op. cit., p. 22. Daí a emergência de um quaker preocupado com a administração científica da emprêsa, onde o empresário tem uma função providencial: "sua prosperidade é conseqüência de uma vida santa" (Weber, M. op. cit. cap. 5, p. 21), onde se concilia "auferir lucros e conservar-se piedoso" (Weber, M. op. cit. cap. 5, p. 209, nota 39); como se dá a conciliação da administração científica com o misticismo "a administração científica não pode existir se não existe ao mesmo tempo um certo estado de espírito, o qual o engenheiro (Taylor) define em têrmos quase místicos", Taylor. L'organization scientifique dans l'industrie americaine. Societé Taylor, Paris, Éd. Dunod, 1932, Taylor, p. 11. que existe para satisfazer os interêsses gerais da sociedade e o particular do consumidor. Isso motiva a coletividade ao aproveitamento intensivo de suas riquezas, que a Providência colocou sob seu poder, racionalizando sua conduta, sua vida diária.104 104 O escrúpulo de sua conduta é para o batista função da "maior glória de Deus" (Weber, M. op. cit. p. 79-80), "pertence especialmente ao quaker a conduta do homem tranqüilo, moderado e eminentemente consciencioso" (p. 106).

Há em Taylor, uma paideia, um ideal de formação humana de um tipo de personalidade, conseqüência lógica da aplicação e vivência do sistema da Administração Científica do Trabalho. Tem seu sistema o mérito de acentuar a virtude do ascetismo,105 105 "O ascetismo quaker desenvolverá o sentimento religioso da vida com o mais intenso desenvolvimento da mentalidade comercial" (Weber, M. op. cit. p. 26); isso levou-o a dar um "significado religioso ao trabalho cotidiano secular" (p. 53) onde êle aparece como a mais alta expressão de "amor ao próximo" (p. 54). a mentalidade entesouradora no que se refere a dinheiro,106 106 "O carregador de lingotes de ferro tinha fama de ser seguro" (Taylor, op. cit. p. 66), isto é, "dá muito valor ao dinheiro, um centavo parece-lhe tão grande como uma roda de uma carroça". (Taylor, op. cit. p. 42). Os operários que foram aumentados "começaram a economizar dinheiro" (p. 66), cumprindo os preceitos puritanos de Benjamin Franklin que enunciara: "Lembra-te que o dinheiro é por natureza prolífica, procriativa. O dinheiro pode gerar dinheiro e seu produto pode gerar mais e assim por diante". Weber, Max. op. cit. p. 30. a abstinência de álcool,107 107 A condenação do álcool é um dos elementos do puritanismo; por essa razão, "os escoceses estritamente puritanos e os independentes inglêses foram capazes de manter o princípio de que o filho de réprobo (de bêbado) não devia ser batizado". Weber, Max. op. cit. p. 167. nota 21. trabalho constante108 108 "De acôrdo com a ética quaker a vida profissional é uma prova de seu estado de graça que se expressa no zêlo e método, fazendo com que cumpra sua vocação. Não é um trabalho em si, mas é um trabalho racional, uma vocação que é pedida por Deus". Weber, M. op. cit. p. 115. com "a figura do chefe enérgico, paciente e trabalhador" (Taylor) que incita a ambição do subordinado, condena a negligência e dissipação.109 109 Para o quaker a vida profissional do homem define seu estado de graça, para sua consciência que se expressa no zêlo". Weber. op. cit. p. 115. Nesse contexto, "a vadiação é o maior mal". Taylor, p. 74. No plano salarial, mercê de sua atitude pessimista ante a natureza humana,110 110 "Quando recebiam mais de 60% do seu salário muitos dêles trabalhavam irregularmente e tendiam a ficar negligentes, extravagantes e dissipadores. Em outras palavras, nossas experiências demonstraram que para a maioria dos homens não convém enriquecer depressa" (Taylor, op. cit. p. 68), confirmando as afirmações contidas no calvinismo secularizado pelo protestantismo holandês "ao afirmar que as massas só trabalham quando alguma necessidade a isso as force" (Weber. op. cit. p. 128). Taylor manifesta-se favorável a baixos salários, ou, melhor, seu aumento deve ser dosado gradativamente.

No plano de sua Teoria da Administração, Taylor define a burocracia como emergente das condições técnicas de trabalho, pela separação entre as funções de execução e planejamento, predominando a organização sôbre o homem, acentuando como fator motivacional único, o monetário.111 111 "É preciso dar ao trabalhador o que êle mais deseja: altos salários" (Taylor, op. cit. p. 14).

Taylor parte de um ponto de vista segundo o qual o interêsse dos trabalhadores é o da administração, desconhecendo as tensões entre a personalidade e a estrutura da organização formal.

A análise de tempos e movimentos, base do taylorismo, se por um lado foi recebida com agressividade pelos operários da indústria em geral e pelos da American Federation of Labor, por outro foi entusiàsticamente defendida por Le Chateller que compara Taylor a "Descartes, Bacon, Newton e Claude Bernard".112 112 Ramos, G. Sociologia Industrial. p. 127.

Taylor procura fazer com que os operários possam executar em "ritmo mais rápido, os mais pesados tipos de trabalho".113 113 Taylor, op. cit. p. 15. Para isto seleciona para seus testes, dois dos melhores trabalhadores, isto é, atípicos que "por sua robustez física tinham-se revelado dedicados e eficientes",114 114 Taylor, op. cit. p. 51. sendo, porém, os de menor "nível mental".115 115 "Um dos requisitos para que o individuo possa carregar lingotes como ocupação regular é ser tão estúpido e fleumático" (Taylor, p. 58). Há precedente histórico a respeito da utilização na indústria de pessoas de baixo nível mental: "nos meados do século XVIII, algumas manufaturas empregavam para certas operações simples, que constituíam segredos de produção, de preferência pessoas semi-idiotas". Tucker, J. D. A history of the past and present state of the labouring population. London, 1846. v. 1, p. 149. Êsse período oferece material para elaboração de uma patologia industrial que será desenvolvida sistemàticamente por Meignez. La patologie sociale de l'entreprise. Paris, Éd. G. Villars. Está claro que Taylor não toma como base o operário médio, valorizando um tipo de fadiga, a muscular, desconhecendo a fadiga mais sutil, a nervosa.

Quanto aos tempos, verificou-se posteriormente ser impossível decompor minuciosamente uma operação em seus elementos, de forma que os tempos correspondentes sejam sempre úteis. O chamado tempo "morto" tem um papel positivo, qual seja, de restabelecer a energia perdida para a continuidade do processo produtivo. Por outro lado, o aumento de produtividade, apresentado por Taylor como um dos resultados do sistema nôvo, na medida em que êle tem como elemento motivador o aumento salarial, é difícil saber se êste se deve à nova técnica de trabalho ou ao prêmio.

O estudo dos movimentos depende das dificuldades individuais e a velocidade não é o melhor critério para medir a facilidade com que o operário realiza a operação. Seu método representa uma intensificação e não racionalização do processo de trabalho.116 116 Taylor, op. clt. p. 106 Hoje, solicitamse rendimentos ótimos, não máximos.

Taylor estudou o trabalho pesado, não qualificado, com a pá,117 117 Taylor, op. cit. p. 61. trabalho de fundição118 118 Taylor, op. cit. p. 44. e de pedreiro,119 119 Taylor, op. cit. p. 77. daí sua preocupação com a fadiga muscular e seu desconhecimento da fadiga nervosa. Alie-se a uma visão negativa do homem, onde os indivíduos nascem preguiçosos e ineficientes,120 120 Taylor, op. cit. p. 29. infantilizados121 121 Taylor, op. cit. p. 89. e com baixo nível de compreensão.122 122 Taylor, op. cit. p. 89. Com essa visão do homem, êle define o papel monocrático do administrador.123 123 Taylor, op. cit. p. 75. "A atribuição de impor padrões e forçar a cooperação compete exclusivamente à direção".

A separação entre direção e execução, autoridade monocrática, acentuação do formalismo na organização, a visão da administração, como possuidora de idênticos interêsses ao operário, definem o ethos burocrático taylorista, complementado por Fayol.

Fayol, seguindo a linha de Taylor, defende a tese segundo a qual o homem deve ficar restrito a seu papel, na estrutura ocupacional parcelada.124 124 Fayol, H. Administração industrial geral. São Paulo, Editôra Atlas, 1960. p. 31. "Cada mudança de ocupação, de tarefas implica num esforço de adaptação que diminui a produção."

No plano da remuneração, manifesta-se contra a ultrapassagem de certos limites,125 125 Deve-se "evitar o excesso de remuneração, ultrapassando o limite razoável". Fayol. op. cit. p. 39. comparando a disposição estática das ferramentas na fábrica com os papéis das pessoas na organização social,126 126 "Um lugar para cada coisa, cada coisa e cada pessoa no seu lugar". Fayol. op. cit. p. 51. reafirmando a monocracia diretiva,127 127 Fayol. op. cit. p. 51. combinada com um tratamento paternalista do operário,128 128 Fayol. op. cit. p. 54. concluindo que administrar é prever, organizar, comandar e controlar.

Elemento básico na teoria clássica da administração, em Taylor e Fayol, é o papel conferido à disciplina copiada dos modelos das estruturas militares.129 129 "Não necessita de demonstração especial o fato de que a disciplina militar" foi o padrão ideal das antigas implantações, como das emprêsas industriais capitalistas "modernas". Weber. Economía y sociedad. vol. 4, cap. 5, p. 80. Essa visão é integrada no corpo da Teoria Clássica da Administração quando Fayol define que "isso tem sido expresso com grande vigor" na área da emprêsa. Fayol. op. cit. p. 51.

Os modelos administrativos Taylor-Fayol correspondem à divisão mecânica do trabalho (Durkhein), onde o parcelamento de tarefas é a mola do sistema. Daí ser importante nêsse sistema que o operário saiba muito a respeito de pouca coisa. No referente à remuneração, Fayol continua a tradição quaker de Taylor - não pecar por excesso.

Ao enfatizar a função exemplar do administrador êle define as linhas êssenciais do burocratismo de organização formal.

No fortalecimento dos chefes de oficina e contramestre por um Estado Maior,130 130 Fayol. op. cit. p. 134. enfatiza êle o papel da disciplina estrita na organização fabril. Define êle a linha de pensamento que o Coronel Urwick irá acentuar no paralelismo entre a organização militar e a industrial.

Êsse paralelismo já fôra objetivo de estudo de Max Weber.131 131 Weber, Max. Economía y sociedad. México, Ed. FEC, v. 4, cap. 5, p. 80. "Não obstante, a disciplina do exército é o fundamento da disciplina em geral, o segundo grande instrumento disciplinador é a grande emprêsa econômica". Weber, M. Economía y sociedad. v. 4, cap. 5, p. 80. Com efeito, a guerra criou, à sua maneira, um tipo de diretor industrial, integrando o engenheiro civil, mecânico e marítimo. Por outro lado, o exame topográfico, o uso dos mapas, planos de campanhas, prefigura o conceito atual de "campanha" publicitária. As condições de transporte, intendência, divisão de trabalho entre cavalaria, infantaria e artilharia, a divisão dos processos produtivos entre essas três armas, define que a mecanização se dera antes na área militar e posteriormente na manufatura industrial. A mecanização industrial como sistema permanente, sempre tendeu a copiar os modelos militares. Por influxo de um militar, Napoleão III, foi oferecida uma recompensa a quem inventasse um processo barato para o aço, capaz de suportar a fôrça explosiva de novas bombas. Daí surgiu o processo Bessemer.

Não é necessário acentuar que a demanda de uniformes para o exército - realçada por Sombart - foi a primeira em grande escala de mercadorias padronizadas.

Porém, isso implica um alto nível de burocratização e formalismo organizacional.

O esquema Taylor-Fayol aparece como um processo de impessoalização, definida esta pelo enunciado de tarefas132 132 Taylor, op. cit. p. 75. e especialização das mesmas; as pessoas se alienam nos papéis, êstes no sistema burocrático.

A decisão burocrática é absolutamente monocrática, só há um fluxo de comunicação. O empregado adota os mitos da corporação, que constitui uma atribuição de status e ao mesmo tempo cria-se um jargão administrativo esotérico.133 133 Fayol. op. cit. p. 39.

Conclusivamente os esquemas Taylor-Fayol fundam-se na justa-posição e articulação de determinismos lineares, fundados numa lógica axiomática que cria um sistema de obrigação devido à lógica interna.

Daí operar uma racionalidade em nível de môdelo, onde as operações de decomposição e análise, fundadas em aspectos microeconômicos, criam um sistema de coordenação de funções, donde emerge uma estrutura altamente formal. Seu comando é centralizado, fundado numa racionalidade burocrática, baseada na racionalização das tarefas, sua simplificação e intensificação do trabalho.

A mudança das condições de trabalho leva à mudança dos modelos administrativos.

A evolução do trabalho especializado, como situação transitória entre o sistema profissional e o sistema técnico de trabalho, a desvalorização progressiva do trabalho qualificado e a valorização da percepção, atenção, mais do que da habilidade profissional, inauguram a atual era pos-industrial.

O conjunto volta, na emprêsa, a ter prioridade sôbre as partes quando ela alcança alto nível de automação. Efetua-se a mudança do operário "produtivo" para o de "contrôle". A nova classe operária vai caracterizarse pelo predomínio de funções de comunicação,134 134 Já E. Mayo acentua a importância da comunicação na administração, mas coube a Chester Barnard elevar a categoría a uma noção de sistema. Na indústria cibernetizada constitui a realidade acabada do modelo "sistêmico". sôbre as de execução.

Numa fábrica automatizada torna-se impossível manter a ficção de uma hierarquia linear simples (modelos Taylor, Fayol); são necessários especialistas funcionais que devem comunicar-se entre si. O princípio organizacional não se estrutura na hierarquia de comando; êle se define na tecnologia que requer a cooperação de homens de vários níveis hierárquicos e qualificações técnicas.

O operário de contrôle, nesse sistema, só poderá ser considerado um elemento qualificado, na medida em que lograr descodificar os sinais observados. O sistema técnico de trabalho liga-se às formas de organização. Daí a possibilidade de uma divisão de funções mais dinâmica.

A elevação do nível de cultura e o abandono do nível taylorista que separa radicalmente no trabalho, concepção de execução, são os fatôres que permitirão maior utilização da mão-de-obra.

No plano da dimensão da emprêsa desenvolvem-se as grandes corporations como na Grã-Bretanha e EUA, após a I Guerra Mundial; ampliam-se as sociedades por ações que produzem a quase totalidade dos bens públicos, como eletricidade, água e gás.

Passando a sociedade norte-americana da fase inicial de subconsumo e acumulação para a fase da abundância e alta produtividade, resolvidos os problemas econômicos mais imediatos, têm lugar, na emprêsa, os problemas humanos que começam a ser atendidos. É quando se dá o surgimento da Escola das Relações Humanas com Élton Mayo; é quando no quadro da microemprêsa, a direção não é função unificada de organição e coordenação, mas sim, ponto de união em que se combinam as exigências políticas e funcionais da emprêsa.

O esquema de Mayo deveu-se a fatôres empíricos. Convidado a estudar agudo turnover, no departamento de fiação de um fábrica de tecidos em Filadélfia, calculado em 250%, solucionou Mayo os problemas, criando um sistema alternativo de descanso a cada grupo, determinando o método e alternativa dos períodos, de modo que cada um deles tivêsse quatro períodos de repouso por dia. O sucesso deveu-se ao fato de as pausas terem permitido transformar, num grupo social um grupo solitário de trabalho.

A atitude do empregado, em face de seu trabalho, e a natureza do grupo do qual êle participa são fatores decisivos da produtividade para Mayo.135 135 Mayo, E. In: Sociología de la industria y de la empresa. México, Ed. Uthea, 1965. "Sem dúvida muitos dos resultados não eram 'novos'. Ch. Cooley nos EUA e W. Hellpech na Alemanha assinalaram com muita antecedência a importância da formação de grupos". Dahrendorf. Sociología de la industria y de la empresa. p. 50.

Élton Mayo aparece como um profeta secular, que critica a validade dos métodos democráticos para solucionarem os problemas da sociedade industrial,136 136 "Os métodos da democracia, longe de proporcionarem os meios de solução do problema da sociedade industrial, provaram ser inteiramente inadequados para a tarefa." Mayo, E. Democracy and freedom, an essay in social logic. Austrália, 1919. na medida em que a sociedade industrial burocratizada procura criar a cooperação forçada pela intervenção estatal.137 137 Mayo, E. op. cit. p. 48. "O Estado não pode produzir a cooperação por meio da regulamentação; a cooperação apenas pode ser o resultado do crescimento espontâneo."

Na linha da Escola Clássica da Administração (Taylor, Fayol), Mayo não vê possibilidades de utilização construtiva do conflito social, que aparece para êle como a destruição da própria sociedade.138 138 "O conflito é uma chaga social, a cooperação é o bem-estar social." Mayo, E. op. cit. p. 48.

Mayo vê na competição um sistema de desintegração social, na medida em que não leva à cooperação, acentuando êsse processo pelo conflito dos partidos políticos.139 139 "Em tôda a literatura dos séculos XIX e XX, apenas os defensores do Estado Corporativo sugeriram que a satisfação no trabalho pode ser reconquistada apenas pela integração do operariado, na comunidade da fábrica, sob a liderança da Administração." Bendix, R. & Fisher, L. As perspectivas de Élton Mayo. In: Etzioni, A. Organizações complexas. p. 126. Êle nos coloca diante de um ideal medieval de corporativismo: o cumprimento dêsse ideário corporativo cabe à elite dos administradores da indústria.140 140 "Se tivéssemos uma elite capaz de realizar tal análise dos elementos lógicos e irracionais na sociedade, muitas das nossas dificuldades seriam pràticamente reduzidas a nada." Mayo, E. op. cit. p. 18.

Mayo partiu da análise de pequenos grupos segmentados do conjunto fabril, êste isolado da sociedade industrial, valorizando o papel do consenso do pequeno grupo para produzir mais, minimizando o papel da autoridade na indústria, o que leva o administrador da Escola de Relações Humanas a um "humanismo verbal" e à necessidade, às vêzes, de recorrer à autoridade formal para satisfazer as quotas de produção exigidas.

Para Elton Mayo a cooperação dos operários reside na aceitação das diretrizes da administração, representando um escamoteamento das situações de conflito industrial. Nesse sentido, êle continua a linha clássica taylorista,141 141 "Ela (a abordagem das relações humanas) representa um adôrno da cooperação antagônica entre operários e administradores". Bendix, R. In: Etzioni, A. Organizações complexas. Ed. Atlas, 1962. p. 129. êste acentuava o papel da contenção direta, aquêle a substitui pela manipulação.

Há uma incompatibilidade lógica no esquema de Mayo, qual seja, a luta pela cooperação espontânea e a luta por sua organização, incompatível com a existência de associações voluntárias.

Na sua crítica à Escola de Relações Humanas, a Escola Estruturalista já mostrara que o conflito industrial não é um mal em si, cabe manejá-lo construtivamente.

No plano institucional, Mayo atribui ao administrador um papel que êle difìcilmente poderá cumprir, pois confunde conhecimento especializado (administrativo) com poder; daí propor a noção de uma elite administradora dominante.142 142 A idéia de que a revolução do século XX será "não dos operários, mas sim dos funcionários" explicitada por Weber, Max. In: Ensaios de sociologia. Ed. Zahar, 1946. p. 67, enunciada por Elton Mayo neste contexto, foi explorada sistemàticamente por James Burnham em sua obra clássica The managerial revolution. New York, John Day Company, 1941.

Apesar dos esforços de Mayo para tornar agradável o trabalho, as máquinas não evitam que o mesmo se torne satisfatório em nível absoluto. Embora Mayo veja o conflito como algo indesejável, o mesmo tem função, às vêzes, de conduzir a uma verificação de poder e do ajustamento da organização à situação real e, portanto, à paz. Acentuando o pêso do informal no trabalho, desmentido pelo fato de a maioria de operários não pertencer a grupos informais, Mayo cria condições para o aparecimento de uma crítica ao seu sistema: a abordagem estruturalista das organizações inicia-se assistemàticamente com algumas perspectivas lançadas por Marx, analisando a emprêsa oriunda da primeira revolução industrial e continuadas sistematicamente por Max Weber na análise da emprêsa, produto da segunda Revolução Industrial.

A crítica estruturalista emergiu na Alemanha, embora não fôsse o país-modêlo da emprêsa burocrática, sob pressão do alto nível político em que os assuntos sociais eram definidos, permitindo tornar a sociologia alemã uma resposta intelectual à Revolução Industrial, ao nível do Ocidente.

O esquema global de Elton Mayo fundamenta-se numa aproximação existencial (Hawthorne), a procura de uma compreensão dinâmica e global, valorização do informal, portanto da comunicação afetiva e simbólica levando a noção das dinâmicas de grupos, acentuando o papel da negociação e do compromisso, elaborando uma visão otimista do homem, uma pedagogia em nível grupal e uma ação que visa mais à "formação" do que à "seleção". Negativamente, a Escola das Relações Humanas aparece como uma ideologia manipulatória que acentua a preferência do operário pelos grupos informais fora do trabalho, quando na realidade, o operário sonha com a maior satisfação: largar o trabalho e ir para casa.143 143 Chinoy, E. Automobile workers and the American dreams. New York, Ed. Dubleday, 1955. Valoriza êste sistema símbolos baratos de prestígio, quando o trabalhador prefere a êstes, melhor salário. Essa escola procura acentuar a participação do operário no processo decisório, quando a decisão já é tomada de cima, a qual êle apenas reforça.

4. CONCLUSÃO

No presente artigo abordamos o conceito de burocracia, desenvolvimento no plano lógico por Hegel,144 144 "A filosofia do direito, a peça mais grandiosa do pensamento hegeliano, contém um sabor tão profundo das realidades do mundo social e moral que nela reside uma sociologia concreta. A reflexão sôbre o sistema da sociologia é reconduzida a sua fonte, quando se liga à filosofia do direito de Hegel." Freyer, Hans. La sociología, ciencia de la realidad. Buenos Aires, Ed. Losada, 1944. p. 244. no histórico, pelas formações estatais definidas como o "modo asiático de produção". Nessas formações a burocracia detém o poder do Estado e constitui a própria classe dominante, cuja recorrência histórica situa-se nas formações dos Estados: chinês, russo, egípcio, babilónico, e na forma atual, a URSS e os países que constituem o Bloco Oriental, China atual e Cuba.145 145 "A burocracia estatal reinaria absoluta se o capitalismo privado fôsse eliminado. As burocracias, pública e privada, que agora funciona lado a lado, e potencialmente uma contra outra, restringindo-se assim mùtuamente até certo ponto, fundir-se-iam numa única hierarquia. Êste Estado seria então semelhante à situação no Antigo Egito, mas ocorreria de uma forma muito mais racional e por Isso indestrutível." Weber, Max. Parliament and government in Germany. Economy and society. New York, Ed. Bedminster Press, 1968. v. 3, p. 1402.

O artigo enunciou as determinações histórico-sociais que presidiam a Revolução Industrial na França, Inglaterra e Alemanha fonte geradora das teorias explicativas de caráter "total" e global: Saint-Simon, Fourier e Marx.

A passagem da máquina a vapor à eletricidade, ocasiona a segunda Revolução Industrial e o surgimento das teorias de Taylor e Fayol. Enquanto as teorias sociais totais abordavam os processos macroindustriais, Taylor e Fayol têm, como ponto de partida, os aspectos microindustriais, um método de trabalho adequado a uma civilização em fase acumulativa de escassez e procura de rendimento máximo.

O taylorismo não se constitui somente num estudo técnico de tempos e movimentos, mas é influenciado pelo ethos puritano de origem quaker. Taylor desenvolve tôda uma paideia, ou seja, um ideal formativo de personalidade humana, em suma, uma visão do mundo.

Abordamos também a transposição das formas de disciplinas surgidas inicialmente na área militar para a área fabril, integradas na Escola Clássica da Administração.146 146 Tal transposição já fôra notada no século passado por K. Marx quando enunciava que "a guerra se desenvolve antes que a paz: é necessário demonstrar como, pela guerra e nos exércitos, certas relações econômicas como o trabalho assalariado e o maquinismo surgiram nessa área, disseminando-se posteriormente pelo interior da sociedade burguesa." Marx, K. Contribution à la critique de l'economie politique. Paris, Éditions Sociales, 1957. p. 172-73.

Por outro lado, a formação de holdings, a passagem da escassez à abundância, levará à enfatização do "fator humano" no trabalho com os estudos de Élton Mayo e a Escola das Relações Humanas.

A partir dos enunciados assistemáticos de Marx no século passado, posteriormente à sistematização de Max Weber, aparece uma atitude crítica ante a Escola das Relações Humanas, vista como ideologia de manipulação da administração.

A ênfase de Elton Mayo na espontaneidade, no grupaiismo, levarão posteriormente à formação das teorias administrativas fundadas nas técnicas de dinâmica de grupo. Essas técnicas acentuando a importância da comunicação na emprêsa, onde ela aparece como um "sistema" interligado e o operário um descodificador de sinais, cria as condições para a atual "teoria dos sistemas". Ela apresenta um máximo de formalização, em detrimento dos elementos históricos contingentes do processo industrial.

Em suma, as categorias básicas da teoria geral da administração são históricas, isto é, respondem a necessidades específicas do sistema social.

A teoria geral da administração é ideológica, na medida em que traz em si a ambigüidade básica do processo ideológico, que consiste no seguinte: vincula-se ela às determinações sociais reais, enquanto técnica (de trabalho industrial, administrativo, comercial) por mediação do trabalho; e afasta-se dessas determinações sociais reais, compondo-se num universo sistemático, organizado, refletindo deformadamente o real, enquanto ideologia.

Assim como as teorias macroindustriais do século passado de Saint-Simon, Fourier e Marx representaram a resposta intelectual ante os problemas oriundos da revolução industrial, as teorias microindustriais de Taylor-Fayol responderão aos problemas da era da eletricidade e a Escola das Relações Humanas, Estruturalista e Sistêmica refletirão os dilemas atuais.

As teorias administrativas são dinâmicas, elas mudam com a transição das formações socio-econômicas, representando os interêsses de determinados setores da sociedade que possuem o poder económico-político, sob o capitalismo ocidental e o poder político-econômico nas sociedades que descrevemos, como formas recorrentes do modo asiático de produção.

No sentido operativo, elas cumprem a função de elemento mediador entre a macrossociedade e a microorganização pelo agente, o administrador. No sentido genético, constituem-se em repositório organizado de experiências, cuja herança cumulativa é uma condicionante das novas teorias, por exemplo, a persistência de aspecto tayloristas em Elton Mayo e na Escola Estruturalista.

Pode acontecer uma "reinterpretação cultural" - área de estudo da antropologia aplicada à administração - de modelos administrativos. Assim a assimilação que a URSS efetuou do taylorismo de 1918 até hoje, definindo-o com uma função diversa da que possui na sociedade norte-americana originária, atuando na URSS como uma técnica stakhanovista de intensificação do trabalho, num "sistema asiático de produção", que existe recorrentemente.

No próximo artigo concluiremos o tema, com a abordagem crítica dos modelos de Drucker, Katz & Kahn, Max Weber e James Burnham, ainda no âmbito da teoria geral da administração como ideologia.

  • 1 Touraine, Alain. Historia general dei trabajo. México, Ed. Grijalbo, 1965. vol. 4.
  • 2 Marx, Karl. El capital. Madrid, Ed. Aguilar, 1930. v. único e Weber,
  • Max. Economia y sociedad. México, Ed. Fondo de Cultura Económica, 1944. v. 4, cap. 7, p. 176-78.
  • O "modo asiático de produção" fôra enunciado inicialmente por John Stuart Mill em 1848 e Montesquieu no seu L'esprit des lois, posteriormente desenvolvido sistemàticamente por Marx, Karl. In: El capital. v. único, cap. 11, p. 244; Weber, Max, Economia y sociedad. v. 4, cap. 7, p. 176-78;
  • Godelier. El modo de producclón asiático. Argentina, Ed. Universitaria de Córdoba: Witfogel,
  • Karl. Wirtschaft un Gesselchaft China's. v. 1,
  • desenvolvendo sistemàticamente o tema em Oriental despotism, a comparative study of total power. Yale, 1951.
  • 3 "Êsse modo de produção aplica-se em geral a países com grandes extensões desérticas, onde as condições climáticas obrigavam, a um atendimento particular, à organização da irrigação artificial pelos canais; essa área estende-se pelo Saara aos plateaux mais elevados: o Egito Antigo, Mesopotâmia, Arábia, Pérsia, Índia e Tartária".
  • Baizacou, Hélène Antoniadis. Byzance et le mode de production asiatique. La pensée. p. 49.
  • 4 Hegel. Principes de la philosophie du droit. Paris, Ed. Galimard, 1940.
  • 15 "Os efeitos da cooperação simples no modo asiático de produção, aparecem em seu aspecto colossal nas gigantescas obras dos antigos asiáticos, egipcios e etruscos. Na antiguidade, tais estados asiáticos, depois de empregarem a maioria de seus recursos na área civil e militar, possuíam um excedente de produtos para converter em obra de ornamento e utilidade. O dominio que, sôbre mão-de-obra de tal população não ocupada na agricultura e o poder exclusivo para dispor de tal excedente, possuíam o rei e os sacerdotes, oferecia-lhes os meios para levantar aquêles ingentes monumentos que cobria o país. Utilizou-se quase exclusivamente a fôrça humana para construção e transporte daquelas estátuas colossais e daquelas enormes massas cuja possibilidade de terem sido transportadas ainda hoje nos assombra. Para tanto, bastou concentrar uma multidão de trabalhadores e unificar seu esfôrço." Marx, Karl. El capital. Madrid, Ed. Aguillar, 1931. v. único, cap. 1, p. 244.
  • 16 Para Max Weber, economia consuntiva é sinônimo de economia natural; no entanto "não se conhece ainda nos séculos XIV e XV, por exemplo, entre os Médici, a separação sistemática do regime de economía consuntiva (natural e economía lucrativa)." Weber, Marx. Historia económica general. México. Ed. Fondo de Cultura Económica, 1956. p. 8.
  • 17 Conforme pesquisa do jurista-historiador Maitland, F. W. The survival of archaic comuníties, In: Collected papers. Cambridge, 1911. 2 v.
  • , e ainda Weber, Marx. Der Srat un den Charakter der altgermanischen Sozial-verfassung. Im Jahrbf. Nationalökonomie un Statistik, v. 83, 1904. idêntico processo, acentua Max Weber, deu-se na formação da Iugoslávia e Croácia contrariando a tese de Pelsker J., Die serbische Zadruga. Zeistschrf, Sozial un Wirtschafteeschichte, v. 7, 1900.
  • 18 "Sem ela (a via fluvial do Nilo) não teria a centralização burocrática alcançado, no Egito, o grau que efetivamente alcançou". Weber, Marx, Economía y sociedad. v. 4, cap. 6, p. 602.
  • 20 A respeito, o magistral estudo de Rustow, Alexander. Ortsbestimmuung der Gegenwart. Zurich, Erlenbach, 1950-52. 2 v.
  • 22 Maspero, H. & Balazs, E. Histoire et institutions de la Chinne ancienne. France, Éd. PUF, 1967, cap. 1, 4.Ş parte, p. 169-70,
  • retomando uma tese idêntica desenvolvida por Witfogel, Karl, Oriental despotism, Yale, 1951.
  • 23 Conforme Maspero, H. & Baiazs, E. op. cit. p. 170, idêntico processo dera-se na América com os incas, onde, num nível de tecnologia neolítica, a burocracia "governava teocràticamente sôbre uma sociedade hidráulica simples". Witfogel, K. op. cit. p. 117. Tal ponto de vista é reforçado por um cronista incaico da época, Vega, Garcilaso de la. Comentarios reaies de los Incas. 1945, v. 1, cap. 1, p. 282 observara "a falta de retribuiç
  • 24 Meyer, Monique. L'entreprise industrielle d'état en Union Sovietique. Paris, Ed. Cujas, 1964. p. 11.
  • 25 "A influência mongólica na transmissão à Rússia dos métodos despóticos do estatismo da China, aparece com clareza na Rússia de Moscou, eis que os mongóis conheciam êsses métodos quando submeteram a Rússia (1273-40), pois anteriormente haviam conquistado a China (1211-22) e o Turquestão em 1219-20. Desde 1215, Geneis Khan tinha um conselheiro chinês de alto nível, Yeh-lú-Ch'u-Ts'ai. Em 1253, o Grande Khan Mongke, no intuito de um contrôle racional da área sob seu domínio, ordenou a Pieh-erh-ke que fizesse um censo na Rússia". American Philosophical Society. History of Chinesa society. Philadelphia, 1949. V. 36.
  • 26 Não há nenhum livro que fale do Capitalismo do Estado na época do comunismo. Marx mesmo não escreveu nada a respeito, morreu sem deixar nenhuma citação exata, nenhum argumento irrefutável." Lênin. La révolution bolcheviste. Paris, Ed. Payot, p. 279.
  • 29 "Falamos do renascimento parcial da burocracia no interior do regime soviético." Lênin. O capitalismo de estado e o impôsto em espécie. Curitiba, Guaíra, s/d. p. 46.
  • 31 "Pois ainda que haja poucas exceções, os quadros de direção não podem chegar geralmente ao nível de diretor de fábrica sem a condição prévia de serem membros do P.C." Granick, David. El hombre de emprêsa soviético. Madrid, Ed. Revista do Ocidente, 1966. p. 40.
  • 33 "Caracteriza-se essencialmente pela apropriação dos instrumentos de produção pelo Estado." Portal, R., Os eslavos. Lisboa, 1968. p. 408.
  • 34 "A tecnoburocracia industrial, administrativa militar e planejadora, embora muito poderosa sob a ditadura de Stalin, manteve-se após sua morte e liquidação de seu mito, obediente ao Estado e ao seu órgão supremo: o P.C." Gurvitch, G. Les cadres sociaux de la connaissance. Paris, Éd. PUF, 1966. p. 222.
  • 35 "Essa proporção pode atingir a 30% ou 40% do salário pròpriamente dito. É necessário esclarecer que essa estrutura observa-se na indústria na URSS." Lewit. Rev. Sociologie du Travail, (2): 127, 1970.
  • 37 Tal forma de remuneração arcaica fôra definida por Taylor no início do século onde "a tarefa e a gratificação constituem um dos mais importantes elementos do funcionamento da administração científica". Taylor. Administração científica do trabalho, p. 110. No século passado por ocasião da Revolução Industrial, analisando as condições inglêsas, K. Marx acentuava: "o trabalho por tarefa é um sistema arcaico que tem na Inglaterra um nome muito eloqüente, sweating-system (sistema-suador)". Marx, K. El capital, v. único, p. 410.
  • 38 "Há necessidade de elaborar em caráter experimental para futuro próximo formas de salário que correspondam às condições de trabalho modernas, da mesma forma que o salário por unidade correspondeu a uma realidade da geração anterior." Christian, Dejean, La salaire au rendemene, un exemple belge. Rev. Soc. du Travail, (2), 1961.
  • 39 Especialmente por ocasião da II Grande Guerra "o traço característico da organização é a centralização feroz de tôda direção econômica". Dudorine. Planification et programation lineaire de l'aprovisionnement matériel et téchnique. Ekonomizdat. Moscou, 1961. p. 19.
  • 4040 "No ápice de tôda emprêsa, oficina e seção, acha-se um chefe investido de todo poder para direção, impondo uma disciplina de ferro durante o trabalho sujeito a vontade de um só: do dirigente soviético." Meyer, M. op. cit. p. 90. "O diretor de emprêsa é o fundamento do Poder Socialista". Kaminster. Manual de l'entreprise industrielle. Moscou, 1961,
  • sendo "nomeado e liberado de suas funções pelos órgãos superiores, cf. parágrafo 89 do Regulamento sôbre a Emprêsa Produtiva Socialista do Estado." Meyer, M. op. cit. p. 900. O § 94 da Lei investe o contramestre de plenos pôderes e organização direta da produção e do trabalho, responsável pela execução do plano. Sua transferência, nomeação ou licenciamento são efetuados pelo diretor da emprêsa; essa "burocratização" da direção, fruto do centralismo, engendra a burocracia. Dudorine. Planification et programation linéaire de l'aprovisionnement matériel et technique. Ekonomizdat. Moscou, 1961. p. 18.
  • 41 "A participação é formalmente assegurada mas os trabalhos não têm nenhum poder efetivo. Houve centralismo exacerbado e participação simbólica." Meyer, M. op. cit. p. 22; idêntico fenômeno Lewit constatou estudando uma emprêsa metalúrgica no Oeste da Hungria, e mais do que isso, que os assalariados rejeitam os fins propostos pela direção. Lewit. Revue Sociologie du Travail, p. 27.
  • 42 Djilas, Milovan. La nouvelle classe dirigéante. p. 48-48;
  • ponto de vista confirmado por pesquisas na Iugoslávia por Albert Meister, que constata o pais dirigido por quadros com formação tecnocrática (cf. Meister, A. op. cit. p. 261). A análise a respeito da concentração das responsabilidades confirmam a tese de Djilas - de que o poder é monopolizado pelos apparatchks (os profissionais da cúpula do partido), ativistas e gestionários da propriedade coletiva. Meister, A. Socialisme et autogestion. Paris, Presses Universitaires de France, 1953. p. 274-75.
  • 44 Manheim, Karl. Ideologia e utopia. Ed. Globo, 1950. p. 115.
  • 45 Weber, Max. Historia económica general, p. 298.
  • 46 "É de lembrar-se que nas sociedades onde há escassez, ou seja, em que a maioria dos cidadãos está de braços com os problemas do subconsumo, os fatos materiais tendem a assumir excessiva relevância na conduta. Resolvido porém, socialmente, o problema do consumo, graças a alta produtividade do sistema tecnicoeconômico, os motivos fundamentais da conduta humana estilizam-se, perdendo relevância o fator econômico, ao mesmo tempo em que outros motivos, antes subsidiários, aumentam sua influência. O atraso moral é, em certo sentido, uma seqüela crônica do complexo de escassez. Inversamente, o elemento ético é inseparável da síndrome de abundância. Tais correlações são tanto mais pertinentes, quando nos cingimos à esfera da organização." Ramos, G., Administração e estratégia do desenvolvimento. Rio, Fundação Getúlio Vargas, 1960. p. 115.
  • 47 Foi na Alemanha que se deu a reação à Escola das Relações Humanas, vista como desenvolvendo uma atitude manipulativa para com o operário em função dos interêsses da Administração. Neste aspecto, Elton Mayo continua Taylor e Fayol; a crítica alemã mostrara que a Escola de Relações Humanas subestimava o conflito, negara o pêso dos fatôres econômicos determinantes da paz industrial; tinha a tendência a encarar as relações industriais como relações interindividuais. A Alemanha foi o berço da reação intelectual à Escola das Relações Humanas, pelo fato de que, industrializando-se tardiamente em relação à Inglaterra e França, a ela restará pensar no plano crítico o que a primeira realizou na Economia (Rev. Industrial) e a segunda no político (Rev. Francesa). Nos EUA, apesar do desenvolvimento econômico, não se tomara tal postura crítica, porque "onde as classes já constituídas mas não fixas, ainda se modificam e substituem freqüentemente, ao contrário dos seus elementos constitutivos, onde os métodos de produção moderna, em lugar de corresponder a uma superpopulação constante, compensam muitas vêzes a falta relativa de braços e cabeças, e onde por fim, o nôvo e febril movimento de produção material que tem um mundo nôvo a conquistar, não possui nem tempo nem ocasião para destruir o velho mundo espiritual". Marx, Karl. Le 18 brumaire de Louis Napoleón. Éditions Sociales, 1928. p. 33.
  • 48 Num sentido contrário, defendendo a tese do incremento da Revolução Industrial por transferência de renda do setor agrário ao industrial. Bairoch, Paulo. La revolution industrial y el subdesarrollo. México, Ed. Siglo XXI, cap. 5, p. 79.
  • 49 Hamon, J. L. B.; & Barbara. The town labourer. Longmans, 1925. p. 19-20.
  • 50 Hammond, B. The rise of modern industry. Harcourt Brace, 1926, cap. 3.
  • 51 Booth, Charles. Life and labor of the people of London. MacMillan, 1891/1903.
  • 52 Hegel notara os aspectos negativos introduzidos pela divisão do trabalho na indústria moderna: "Pela universalização da solidariedade entre os homens, por suas necessidades e técnicas que permitem satisfazê-las, a acumulação de riquezas aumenta de um lado, pois essa dupla universalidade produz os maiores lucros; mas de outro lado, a divisão e limitação restrita do trabalho e por conseguinte a dependência e angústia da classe dependente dêsse trabalho aumenta por sua vez, e ao mesmo tempo, a incapacidade de sentir e desenvolver certas aptidões e faculdades, particularmente as vantagens espirituais da sociedade civil". Hegel. Principes de philosophie du droit. Gallimard, p. 183.
  • 53 Gray, Alexander. The socialist tradition. London, Longmans, Greed and Co., 1947.
  • 54 Simon, S. Oeuvres, v. 19, p. 84.
  • 59 Engels, F. Anti Dhuring. Paris, 1931. cap. 1, p. 13.
  • 60 Simon, S. Producteur. v. 2, p. 59.
  • 61 Leroy, M. Histoire des idées sociales en France. Paris, 1962. V. 1, p. 238.
  • 62 Fourier. Oeuvres complètes, v. 6, p. 193.
  • 70 Fourier. Noveaux monde industrial. p. 54.
  • 71 Fourier. Traité de l'association. 1922. t. 5, p. 249.
  • 73 Fourier. Traité de l'association, t. 1. p. 135.
  • 74 Fourier. Oeuvres complètes, v. 1, p. 17.
  • 76 "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo, de diversas maneiras; o que interessa é mudar o mundo." Engels, F. Teses sôbre Feuerbach. Ludwig Feuerbach et la philosophie classique allemande. Éd. Sociales.
  • 77 "A história não faz nada, não possui imensas riquezas, não trava batalhas. São homens vivos, reais que fazem tudo isso, possuem coisas e armam combates. Não é a história que utiliza os homens, como meio de alcançar, como se fôsse também uma pessoa - seus próprios fins. A história não é nada senão a atividade, homens perseguindo seus objetivos." MEGA. v. 1, cap. 3, p. 265.
  • 78 Marx. Karl. Manifesto do Partido Comunista. Ed. Vitória, p. 327.
  • 83 "A consciência jamais poderá ser alguma coisa além da existência consciente e a existência dos homens é o seu processo de vida atuante." MEGA. v. 1. cap. 5, p. 15-17.
  • 84MEGA. v. 1, cap. 3, p. 83-84.
  • 85MEGA. v. 1, cap. 3, p. 83.
  • 86 Marx, K. El capital. v. 1, p. 7778.
  • 87 Marx, K. Manifesto... p. 34.
  • 88 Marx, K. Manifesto... p. 34.
  • 89 "... Pois ela é uma perda total da humanidade; em suma, ela, a classe operária só pode redimir-se por uma redenção total da humanidade." MEGA. v. 1, cap. 1, p. 617-21.
  • 90 Marx, K. El capital. v. único, cap. 12. p. 244 e 261.
  • 92 "A manufatura desenvolve a produção em série, cada trabalhador tem uma função parcial, ela se decompõe em inúmeros antigos oficios." Marx, K. El capital. cap. 12, p. 255.
  • 93 "Um violinista não precisa diretor, precisa-o o conjunto." Marx K. El capital, p. 242.
  • 95 "Ainda mais notável, pois apenas deve ser lembrada a relação entre uma filosofia religiosa de vida com o mais intenso desenvolvimento da mentalidade comercial, justamente no rol daquelas seitas cujo alheamento da vida se tornou tão proverbial quanto sua riqueza, principalmente entre os quakers e menonitas. O papel que os primeiros tiveram na Inglaterra e América do Norte, coube aos segundos, nos Pafses Baixos e Alemanha." Weber, Max. A ética protestante e o espirito capitalista. Ed. Pioneira, 1967, p. 26.
  • 97 A gravidade de sua vida, seu entusiasmo reformista pela substituição do empirismo pela ciência (Taylor, op. cit. p. 94) têm profundas raízes na sua formação familiar, onde encontrou "ambiente de pureza de vida sã de ideal de emancipação humana não só no aspecto moral, como também no intelectual, politico e social". Mallat y Cutó, José. Organización científica del trabajo. Espanha, Ed. Labor, 1942, p. 11-12.
  • 103 Em Taylor dá-se a valorização positiva da indústria, da função do trabalho e do empresário no sistema social global. Isso se deve à sua formação quaker. Pertencendo a uma das inúmeras seitas da Igreja Reformada que auto-excluiu-se da cidadania política ao "recusar-se a prestar serviço militar, lnabilitando-se, portanto, à nomeação para os cargos públicos" (Weber, Max. op. cit. p. 107), ela acompanha assim "o destino das seitas marginalizadas, ao fortalecer a tendência a envolver-se com particular empenho nas atividades econômicas". Weber, M. op. cit., p. 22. Daí a emergência de um quaker preocupado com a administração científica da emprêsa, onde o empresário tem uma função providencial: "sua prosperidade é conseqüência de uma vida santa" (Weber, M. op. cit. cap. 5, p. 21), onde se concilia "auferir lucros e conservar-se piedoso" (Weber, M. op. cit. cap. 5, p. 209, nota 39); como se dá a conciliação da administração científica com o misticismo "a administração científica não pode existir se não existe ao mesmo tempo um certo estado de espírito, o qual o engenheiro (Taylor) define em têrmos quase místicos", Taylor. L'organization scientifique dans l'industrie americaine. Societé Taylor, Paris, Éd. Dunod, 1932, Taylor, p. 11.
  • 112 Ramos, G. Sociologia Industrial. p. 127.
  • 115 "Um dos requisitos para que o individuo possa carregar lingotes como ocupação regular é ser tão estúpido e fleumático" (Taylor, p. 58). Há precedente histórico a respeito da utilização na indústria de pessoas de baixo nível mental: "nos meados do século XVIII, algumas manufaturas empregavam para certas operações simples, que constituíam segredos de produção, de preferência pessoas semi-idiotas". Tucker, J. D. A history of the past and present state of the labouring population. London, 1846. v. 1, p. 149.
  • Êsse período oferece material para elaboração de uma patologia industrial que será desenvolvida sistemàticamente por Meignez. La patologie sociale de l'entreprise. Paris, Éd. G. Villars.
  • 124 Fayol, H. Administração industrial geral. São Paulo, Editôra Atlas, 1960. p. 31.
  • 129 "Não necessita de demonstração especial o fato de que a disciplina militar" foi o padrão ideal das antigas implantações, como das emprêsas industriais capitalistas "modernas". Weber. Economía y sociedad. vol. 4, cap. 5, p. 80.
  • 131 Weber, Max. Economía y sociedad. México, Ed. FEC, v. 4, cap. 5, p. 80.
  • Não obstante, a disciplina do exército é o fundamento da disciplina em geral, o segundo grande instrumento disciplinador é a grande emprêsa econômica. Weber, M. Economía y sociedad. v. 4, cap. 5, p. 80.
  • 135 Mayo, E. In: Sociología de la industria y de la empresa. México, Ed. Uthea, 1965.
  • Sem dúvida muitos dos resultados não eram 'novos'. Ch. Cooley nos EUA e W. Hellpech na Alemanha assinalaram com muita antecedência a importância da formação de grupos. Dahrendorf. Sociología de la industria y de la empresa. p. 50.
  • 136 "Os métodos da democracia, longe de proporcionarem os meios de solução do problema da sociedade industrial, provaram ser inteiramente inadequados para a tarefa." Mayo, E. Democracy and freedom, an essay in social logic. Austrália, 1919.
  • 142 A idéia de que a revolução do século XX será "não dos operários, mas sim dos funcionários" explicitada por Weber, Max. In: Ensaios de sociologia. Ed. Zahar, 1946. p. 67,
  • enunciada por Elton Mayo neste contexto, foi explorada sistemàticamente por James Burnham em sua obra clássica The managerial revolution. New York, John Day Company, 1941.
  • 143 Chinoy, E. Automobile workers and the American dreams. New York, Ed. Dubleday, 1955.
  • 144 "A filosofia do direito, a peça mais grandiosa do pensamento hegeliano, contém um sabor tão profundo das realidades do mundo social e moral que nela reside uma sociologia concreta. A reflexão sôbre o sistema da sociologia é reconduzida a sua fonte, quando se liga à filosofia do direito de Hegel." Freyer, Hans. La sociología, ciencia de la realidad. Buenos Aires, Ed. Losada, 1944. p. 244.
  • 145 "A burocracia estatal reinaria absoluta se o capitalismo privado fôsse eliminado. As burocracias, pública e privada, que agora funciona lado a lado, e potencialmente uma contra outra, restringindo-se assim mùtuamente até certo ponto, fundir-se-iam numa única hierarquia. Êste Estado seria então semelhante à situação no Antigo Egito, mas ocorreria de uma forma muito mais racional e por Isso indestrutível." Weber, Max. Parliament and government in Germany. Economy and society. New York, Ed. Bedminster Press, 1968. v. 3, p. 1402.
  • 146 Tal transposição já fôra notada no século passado por K. Marx quando enunciava que "a guerra se desenvolve antes que a paz: é necessário demonstrar como, pela guerra e nos exércitos, certas relações econômicas como o trabalho assalariado e o maquinismo surgiram nessa área, disseminando-se posteriormente pelo interior da sociedade burguesa." Marx, K. Contribution à la critique de l'economie politique. Paris, Éditions Sociales, 1957. p. 172-73.
  • 1
    Touraine, Alain.
    Historia general dei trabajo. México, Ed. Grijalbo, 1965. vol. 4.
  • 2
    Marx, Karl.
    El capital. Madrid, Ed. Aguilar, 1930. v. único e Weber, Max.
    Economia y sociedad. México, Ed. Fondo de Cultura Económica, 1944. v. 4, cap. 7, p. 176-78. O "modo asiático de produção" fôra enunciado inicialmente por John Stuart Mill em 1848 e Montesquieu no seu
    L'esprit des lois, posteriormente desenvolvido sistemàticamente por Marx, Karl. In:
    El capital. v. único, cap. 11, p. 244; Weber, Max,
    Economia y sociedad. v. 4, cap. 7, p. 176-78; Godelier.
    El modo de producclón asiático. Argentina, Ed. Universitaria de Córdoba: Witfogel, Karl.
    Wirtschaft un Gesselchaft China's. v. 1, desenvolvendo sistemàticamente o tema em
    Oriental despotism, a comparative study of total power. Yale, 1951.
  • 3
    "Êsse modo de produção aplica-se em geral a países com grandes extensões desérticas, onde as condições climáticas obrigavam, a um atendimento particular, à organização da irrigação artificial pelos canais; essa área estende-se pelo Saara aos
    plateaux mais elevados: o Egito Antigo, Mesopotâmia, Arábia, Pérsia, Índia e Tartária". Baizacou, Hélène Antoniadis. Byzance et le mode de production asiatique.
    La pensée. p. 49.
  • 4
    Hegel.
    Principes de la philosophie du droit. Paris, Ed. Galimard, 1940.
  • 5
    Hegel, op. cit. p. 190.
  • 6
    Hegel, op. cit. p. 191.
  • 7
    Hegel. op. cit. p. 196.
  • 8
    Hegel. op. cit. p. 200.
  • 9
    Hegel. op. cit. p. 218.
  • 10
    Hegel. op. Cit. p. 195.
  • 11
    Hegel. op. cit. p. 190.
  • 12
    Hegel. op. cit. p. 220.
  • 13
    Hegel. op. cit. p. 226.
  • 14
    Para Hegel, na medida em que se estrutura a carreira burocrática no Estado, êste passa a constituir finalidade
    privada do funcionário; para prevenir essa
    disfunção, Hegel apela à "formação moral dos funcionários públicos".
  • 15
    "Os efeitos da cooperação simples no modo asiático de produção, aparecem em seu aspecto colossal nas gigantescas obras dos antigos asiáticos, egipcios e etruscos. Na antiguidade, tais estados asiáticos, depois de empregarem a maioria de seus recursos na área civil e militar, possuíam um
    excedente de produtos para converter em obra de ornamento e utilidade. O dominio que, sôbre mão-de-obra de tal população
    não ocupada na agricultura e o
    poder exclusivo para dispor de tal excedente, possuíam o rei e os sacerdotes, oferecia-lhes os meios para levantar aquêles ingentes monumentos que cobria o país. Utilizou-se quase exclusivamente a fôrça humana para construção e transporte daquelas estátuas colossais e daquelas enormes massas cuja possibilidade de terem sido transportadas ainda hoje nos assombra. Para tanto, bastou concentrar uma multidão de trabalhadores e unificar seu esfôrço." Marx, Karl. El capital. Madrid, Ed. Aguillar, 1931. v. único, cap. 1, p. 244.
  • 16
    Para Max Weber, economia consuntiva é sinônimo de economia natural; no entanto "não se conhece ainda nos séculos XIV e XV, por exemplo, entre os Médici, a
    separação sistemática do regime de economía consuntiva (natural e economía lucrativa)." Weber, Marx.
    Historia económica general. México. Ed. Fondo de Cultura Económica, 1956. p. 8.
  • 17
    Conforme pesquisa do jurista-historiador Maitland, F. W. The survival of archaic comuníties, In:
    Collected papers. Cambridge, 1911. 2 v. , e ainda Weber, Marx. Der Srat un den Charakter der altgermanischen Sozial-verfassung. Im
    Jahrbf. Nationalökonomie un Statistik, v. 83, 1904. idêntico processo, acentua Max Weber, deu-se na formação da Iugoslávia e Croácia contrariando a tese de Pelsker J., Die serbische Zadruga.
    Zeistschrf, Sozial un Wirtschafteeschichte, v. 7, 1900. que vê nessa estrutura o resultado da organização tributária de Bizâncio.
  • 18
    "Sem ela (a via fluvial do Nilo) não teria a centralização burocrática alcançado, no Egito, o grau que efetivamente alcançou". Weber, Marx,
    Economía y sociedad. v. 4, cap. 6, p. 602.
  • 19
    No Egito antigo deu-se "a submissão da povoação a prestações pessoais numa proporção que antes não fôra possível e conduziram o Antigo Império a uma situação em que
    tôda povoação estava organizada numa hierarquia de clientes (dependentes), na qual o homem sempre foi considerado boa prêsa; em alguns casos foi incorporado as quadrilhas de escravos de Faraó". Weber, Marx, op. cit. v. 4, cap. 7, p. 128.
  • 20
    A respeito, o magistral estudo de Rustow, Alexander.
    Ortsbestimmuung der Gegenwart. Zurich, Erlenbach, 1950-52. 2 v.
  • 21
    Weber, Max. op. cit. vol. 4, cap. 7, p. 178.
  • 22
    Maspero, H. & Balazs, E.
    Histoire et institutions de la Chinne ancienne. France, Éd. PUF, 1967, cap. 1, 4.ª parte, p. 169-70, retomando uma tese idêntica desenvolvida por Witfogel, Karl,
    Oriental despotism, Yale, 1951.
  • 23
    Conforme Maspero, H. & Baiazs, E. op. cit. p. 170, idêntico processo dera-se na América com os incas, onde, num nível de tecnologia neolítica, a burocracia "governava teocràticamente sôbre uma sociedade hidráulica simples". Witfogel, K. op. cit. p. 117. Tal ponto de vista é reforçado por um cronista incaico da época, Vega, Garcilaso de la.
    Comentarios reaies de los Incas. 1945, v. 1, cap. 1, p. 282 observara "a falta de retribuiç ão pelos serviços prestados no
    trabalho obrigatório das estradas, construção de pontes, canais de irrigação e nas
    terras do Estado".
  • 24
    Meyer, Monique.
    L'entreprise industrielle d'état en Union Sovietique. Paris, Ed. Cujas, 1964. p. 11.
  • 25
    "A influência mongólica na transmissão à Rússia dos métodos despóticos do estatismo da China, aparece com clareza na Rússia de Moscou, eis que os mongóis conheciam êsses métodos quando submeteram a Rússia (1273-40), pois anteriormente haviam conquistado a China (1211-22) e o Turquestão em 1219-20. Desde 1215, Geneis Khan tinha um conselheiro chinês de alto nível, Yeh-lú-Ch'u-Ts'ai. Em 1253, o Grande Khan Mongke, no intuito de um contrôle racional da área sob seu domínio, ordenou a Pieh-erh-ke que fizesse um censo na Rússia". American Philosophical Society.
    History of Chinesa society. Philadelphia, 1949. V. 36.
  • 26
    Não há nenhum livro que fale do Capitalismo do Estado na época do comunismo. Marx mesmo não escreveu nada a respeito, morreu sem deixar nenhuma citação exata, nenhum argumento irrefutável." Lênin.
    La révolution bolcheviste. Paris, Ed. Payot, p. 279. "
  • 27
    "O Capitalismo de Estado, tal como é visto por nós, não é analisado em nenhuma teoria ou literatura." Lênin. op. cit. p. 279.
  • 28
    "Um tipo misto, em que a iniciativa privada limitada pela estatização - o Estado somos
    nós". Lênin. op. cit., p. 279.
  • 29
    "Falamos do renascimento parcial da burocracia no interior do regime soviético." Lênin.
    O capitalismo de estado e o impôsto em espécie. Curitiba, Guaíra, s/d. p. 46.
  • 30
    "Vemos apresentar-se êsse mal diante de nós, ainda mais claramente, mais ameaçador e mais nítido", (Lênin. op. cit p. 47) concluindo que na Rússia "a burocracia não está no Exército, mas nos serviços". Lênin. op. cit. p. 47.
  • 31
    "Pois ainda que haja poucas exceções, os quadros de direção não podem chegar geralmente ao nível de diretor de fábrica
    sem a condição prévia de serem membros do P.C." Granick, David.
    El hombre de emprêsa soviético. Madrid, Ed. Revista do Ocidente, 1966. p. 40.
  • 32
    "Assim em 1958 a delegação norteamericana mencionava que o Diretor da maior usina siderúrgica de Chelyabinsk fora antes Secretário do Partido naquela zona," Granick, D. op. cit. p. 44.
  • 33
    "Caracteriza-se essencialmente pela apropriação dos
    instrumentos de produção pelo Estado." Portal, R.,
    Os eslavos. Lisboa, 1968. p. 408.
  • 34
    "A tecnoburocracia industrial, administrativa militar e planejadora, embora muito poderosa sob a ditadura de Stalin, manteve-se após sua morte e liquidação de seu mito, obediente ao Estado e ao seu órgão supremo: o P.C." Gurvitch, G.
    Les cadres sociaux de la connaissance. Paris, Éd. PUF, 1966. p. 222.
  • 35
    "Essa proporção pode atingir a 30% ou 40% do salário pròpriamente dito. É necessário esclarecer que essa estrutura observa-se na indústria na URSS." Lewit.
    Rev. Sociologie du Travail, (2): 127, 1970. Onde o exemplo por excelência de remuneração é o salário por tarefa (p. 158) que corre o risco de ser dividido por atraso ou falta ao trabalho; neste caso "recomenda-se destinar aos bons trabalhadores a parte devida aos maus como recompensa por sua fidelidade". Lewit. cit. p. 167.
  • 36
    "A luta pela tabela diferencial de remuneração leva implícita a noção de que o igualitarismo é estranho à sociedade socialista. Os organismos sindicais devem lutar sem cessar contra as tendências igualitárias (Hungria)." Lewit. op. cit. 175; daí na Tcheco-Eslováquia - segundo o diário
    Obdoran, n. 21, 1968 - os salários dos manobristas representam 10% dos do diretor adjunto (Lewit. op. cit. p. 154).
  • 37
    Tal forma de remuneração arcaica fôra definida por Taylor no início do século onde "a tarefa e a gratificação constituem um dos mais importantes elementos do funcionamento da administração científica". Taylor.
    Administração científica do trabalho, p. 110. No século passado por ocasião da Revolução Industrial, analisando as condições inglêsas, K. Marx acentuava: "o trabalho por tarefa é um sistema arcaico que tem na Inglaterra um nome muito eloqüente, sweating-system (sistema-suador)". Marx, K.
    El capital, v. único, p. 410.
  • 38
    "Há necessidade de elaborar em caráter experimental para futuro próximo formas de salário que correspondam às condições de trabalho modernas, da mesma forma que o
    salário por unidade correspondeu a uma realidade da geração anterior." Christian, Dejean, La salaire au rendemene, un exemple belge.
    Rev. Soc. du Travail, (2), 1961.
  • 39
    Especialmente por ocasião da II Grande Guerra "o traço característico da organização é a centralização feroz de tôda direção econômica". Dudorine. Planification et programation lineaire de l'aprovisionnement matériel et téchnique.
    Ekonomizdat. Moscou, 1961. p. 19.
  • 40
    40 "No ápice de tôda emprêsa, oficina e seção, acha-se um chefe investido de todo poder para direção, impondo uma disciplina de ferro durante o trabalho sujeito a vontade de um só: do dirigente soviético." Meyer, M. op. cit. p. 90. "O diretor de emprêsa é o fundamento do Poder Socialista". Kaminster.
    Manual de l'entreprise industrielle. Moscou, 1961, sendo "nomeado e liberado de suas funções pelos órgãos superiores, cf. parágrafo 89 do Regulamento sôbre a Emprêsa Produtiva Socialista do Estado." Meyer, M. op. cit. p. 900. O § 94 da Lei investe o contramestre de plenos pôderes e organização direta da produção e do trabalho, responsável pela execução do plano. Sua transferência, nomeação ou licenciamento são efetuados pelo diretor da emprêsa; essa "burocratização" da direção, fruto do centralismo, engendra a burocracia. Dudorine. Planification et programation linéaire de l'aprovisionnement matériel et technique.
    Ekonomizdat. Moscou, 1961. p. 18.
  • 41
    "A participação é formalmente assegurada mas os trabalhos não têm nenhum poder efetivo. Houve centralismo exacerbado e participação simbólica." Meyer, M. op. cit. p. 22; idêntico fenômeno Lewit constatou estudando uma emprêsa metalúrgica no Oeste da Hungria, e mais do que isso, que os assalariados rejeitam os fins propostos pela direção. Lewit.
    Revue Sociologie du Travail, p. 27.
  • 42
    Djilas, Milovan.
    La nouvelle classe dirigéante. p. 48-48; ponto de vista confirmado por pesquisas na Iugoslávia por Albert Meister, que constata o pais dirigido por quadros com formação tecnocrática (cf. Meister, A. op. cit. p. 261). A análise a respeito da concentração das responsabilidades confirmam a tese de Djilas - de que o poder é monopolizado pelos
    apparatchks (os profissionais da cúpula do partido), ativistas e gestionários da propriedade coletiva. Meister, A.
    Socialisme et autogestion. Paris, Presses Universitaires de France, 1953. p. 274-75.
  • 43
    "Os órgãos de autogestaçâo não conquistam nada, êles recebem, são beneficiários, são-lhes atribuídas competências, liberdades e feudos. Sua criação não é o produto de reivindicação popular,
    mas foi doada ao povo pelos seus dirigentes." Meister, A. op. cit. p. 316.
  • 44
    Manheim, Karl.
    Ideologia e utopia. Ed. Globo, 1950. p. 115.
  • 45
    Weber, Max.
    Historia económica general, p. 298.
  • 46
    "É de lembrar-se que nas sociedades onde há escassez, ou seja, em que a maioria dos cidadãos está de braços com os problemas do subconsumo, os fatos materiais tendem a assumir
    excessiva relevância na conduta. Resolvido porém, socialmente, o problema do consumo, graças a alta produtividade do sistema tecnicoeconômico, os motivos fundamentais da conduta humana estilizam-se, perdendo relevância o fator econômico, ao mesmo tempo em que outros motivos, antes
    subsidiários, aumentam sua influência. O atraso moral é, em certo sentido, uma seqüela crônica do complexo de escassez. Inversamente, o elemento ético é inseparável da síndrome de abundância.
    Tais correlações são tanto mais pertinentes, quando nos cingimos à esfera da organização." Ramos, G.,
    Administração e estratégia do desenvolvimento. Rio, Fundação Getúlio Vargas, 1960. p. 115.
  • 47
    Foi na Alemanha que se deu a reação à Escola das Relações Humanas, vista como desenvolvendo uma atitude manipulativa para com o operário em função dos interêsses da Administração. Neste aspecto, Elton Mayo continua Taylor e Fayol; a crítica alemã mostrara que a Escola de Relações Humanas subestimava o conflito, negara o pêso dos fatôres econômicos determinantes da paz industrial; tinha a tendência a encarar as relações industriais como relações interindividuais. A Alemanha foi o berço da
    reação intelectual à Escola das Relações Humanas, pelo fato de que, industrializando-se tardiamente em relação à Inglaterra e França, a ela restará
    pensar no plano crítico o que a primeira realizou na Economia (Rev. Industrial) e a segunda no político (Rev. Francesa). Nos EUA, apesar do desenvolvimento econômico, não se tomara tal postura crítica, porque "onde as classes já constituídas mas não fixas, ainda se modificam e substituem freqüentemente, ao contrário dos seus elementos constitutivos, onde os métodos de produção moderna, em lugar de corresponder a uma superpopulação constante, compensam muitas vêzes a falta relativa de braços e cabeças, e onde por fim,
    o nôvo e febril movimento de produção material que tem um mundo nôvo a conquistar, não possui nem tempo nem ocasião para destruir o velho mundo espiritual". Marx, Karl.
    Le 18 brumaire de Louis Napoleón. Éditions Sociales, 1928. p. 33.
  • 48
    Num sentido contrário, defendendo a tese do incremento da Revolução Industrial por transferência de renda do setor agrário ao industrial. Bairoch, Paulo.
    La revolution industrial y el subdesarrollo. México, Ed. Siglo XXI, cap. 5, p. 79.
  • 49
    Hamon, J. L. B.; & Barbara.
    The town labourer. Longmans, 1925. p. 19-20.
  • 50
    Hammond, B.
    The rise of modern industry. Harcourt Brace, 1926, cap. 3. The age of the Chartists.
  • 51
    Booth, Charles.
    Life and labor of the people of London. MacMillan, 1891/1903.
  • 52
    Hegel notara os aspectos negativos introduzidos pela divisão do trabalho na indústria moderna: "Pela universalização da solidariedade entre os homens, por suas necessidades e técnicas que permitem satisfazê-las, a acumulação de riquezas aumenta de um lado, pois essa dupla universalidade produz os maiores lucros; mas de outro lado, a divisão e limitação restrita do trabalho e por conseguinte a dependência e angústia da classe dependente dêsse trabalho aumenta por sua vez, e ao mesmo tempo, a incapacidade de sentir e desenvolver certas aptidões e faculdades, particularmente as vantagens espirituais da sociedade civil". Hegel.
    Principes de philosophie du droit. Gallimard, p. 183.
  • 53
    Gray, Alexander.
    The socialist tradition. London, Longmans, Greed and Co., 1947.
  • 54
    Simon, S.
    Oeuvres, v. 19, p. 84.
  • 55
    Simon, S. op. cit. p. 124.
  • 56
    Simon, S. op. cit. v. 18, nota X-A.
  • 57
    Simon, S. op. cit. p. 128.
  • 58
    Simon, S. op. cit. v. 20, p. 74.
  • 59
    Engels, F.
    Anti Dhuring. Paris, 1931. cap. 1, p. 13.
  • 60
    Simon, S.
    Producteur. v. 2, p. 59.
  • 61
    Leroy, M.
    Histoire des idées sociales en France. Paris, 1962. V. 1, p. 238.
  • 62
    Fourier.
    Oeuvres complètes, v. 6, p. 193.
  • 63
    Fourier. op. cit. p. 37.
  • 64
    Fourier. op. cit. v. 1, p. 39.
  • 65
    Fourier. op. cit. p. 38.
  • 66
    Fourier. op. cit. p. 185.
  • 67
    Fourier. op. cit. p. 199.
  • 68
    Fourier. op. cit. p. 13.
  • 69
    Fourier. op. cit. p. 9.
  • 70
    Fourier.
    Noveaux monde industrial. p. 54.
  • 71
    Fourier.
    Traité de l'association. 1922. t. 5, p. 249.
  • 72
    Fourier. op. cit. p. 135.
  • 73
    Fourier.
    Traité de l'association, t. 1. p. 135.
  • 74
    Fourier.
    Oeuvres complètes, v. 1, p. 17.
  • 75
    Fourier. op. cit. p. 91.
  • 76
    "Os filósofos têm apenas interpretado o mundo, de diversas maneiras; o que interessa é mudar o mundo." Engels, F. Teses sôbre Feuerbach.
    Ludwig Feuerbach et la philosophie classique allemande. Éd. Sociales.
  • 77
    "A história não faz
    nada, não possui imensas riquezas,
    não trava batalhas. São
    homens vivos, reais que fazem tudo isso, possuem coisas e armam combates. Não é a história que utiliza os homens, como meio de alcançar, como se fôsse também uma pessoa -
    seus próprios fins. A história não é nada senão a atividade, homens perseguindo seus objetivos."
    MEGA. v. 1, cap. 3, p. 265.
  • 78
    Marx. Karl.
    Manifesto do Partido Comunista. Ed. Vitória, p. 327.
  • 79
    Marx, K. op. cit., Ed. Vitória, p. 22.
  • 80
    Marx, K. op. cit., p. 27. "Constituindo em uma só nação, com uma só lei, um só interêsse nacional de classe, uma só barreira alfandegária".
  • 81
    Marx, K. op. cit. p. 29.
  • 82
    Marx, K. op. cit. p. 37.
  • 83
    "A consciência jamais poderá ser alguma coisa além da existência consciente e a existência dos homens é o seu processo de vida atuante."
    MEGA. v. 1. cap. 5, p. 15-17.
  • 84
    MEGA. v. 1, cap. 3, p. 83-84.
  • 85
    MEGA. v. 1, cap. 3, p. 83.
  • 86
    Marx, K.
    El capital. v. 1, p. 7778.
  • 87
    Marx, K.
    Manifesto... p. 34.
  • 88
    Marx, K.
    Manifesto... p. 34.
  • 89
    "... Pois ela é uma perda total da humanidade; em suma, ela, a classe operária só pode redimir-se por uma
    redenção total da humanidade." MEGA. v. 1, cap. 1, p. 617-21.
  • 90
    Marx, K.
    El capital. v. único, cap. 12. p. 244 e 261.
  • 91
    Marx, K. op. cit. cap. 12, p. 266-67.
  • 92
    "A manufatura desenvolve a produção em série, cada trabalhador tem uma função parcial, ela se decompõe em inúmeros antigos oficios." Marx, K.
    El capital. cap. 12, p. 255.
  • 93
    "Um violinista não precisa diretor, precisa-o o conjunto." Marx K.
    El capital, p. 242.
  • 94
    A função inspetora direta e contínua do trabalhador ou grupos de trabalhadores passa a ser agora a função de uma classe especial de assalariados. O trabalho de vigilância transforma-se em função executiva dessas pessoas." Marx, Karl. op. cit. cap. 11, p. 243.
  • 95
    "Ainda mais notável, pois apenas deve ser lembrada a relação entre uma
    filosofia religiosa de vida com o mais intenso desenvolvimento da mentalidade comercial, justamente no rol daquelas seitas cujo alheamento da vida se tornou tão proverbial quanto sua riqueza, principalmente entre os
    quakers e menonitas.
    O papel que os primeiros tiveram na Inglaterra e América do Norte, coube aos segundos, nos Pafses Baixos e Alemanha." Weber, Max.
    A ética protestante e o espirito capitalista. Ed. Pioneira, 1967, p. 26. Max Weber constata que a tendência das minorias religiosas, privadas de poder politico, é "envolverem-se em atividades econômicas". Isto se deu "com os não-conformistas e
    quakers na Inglaterra". (Weber, M. op. cit. p. 22) No fundamento do ascetismo protestante, parte importante ao lado de outras seitas como "os batistas, menonitas, coube principalmente aos
    quakers". Weber, Max., op. cit. p. 102. A idéia de que Deus fala sòmente quando as criaturas silenciam significou uma formação tendendo "para a tranqüila ponderação dos negócios, para orientação destes em têrmos de cuidados e justificação da consciência individual." Weber, Max. op. cit. p. 106.
  • 96
    Evitar a "vaidade mundana, seja tôda ostentação, frivolidade, e uso das coisas sem propósitos práticos, ou que forem valiosas apenas por sua raridade, qualquer uso não consciencioso da riqueza, tal como gastos excessivos para necessidades não muito urgentes, e acima da provisão necessária das reais necessidades da vida e do futuro". Weber, Max. op. cit p. 218-19.
  • 97
    A gravidade de sua vida, seu entusiasmo reformista pela substituição do empirismo pela ciência (Taylor, op. cit. p. 94) têm profundas raízes na sua formação familiar, onde encontrou "ambiente de pureza de vida sã de ideal de emancipação humana não só no aspecto moral, como também no intelectual, politico e social". Mallat y Cutó, José.
    Organización científica del trabajo. Espanha, Ed. Labor, 1942, p. 11-12.
  • 98
    "Indicar por meio de uma série de exemplos a enorme perda que o pais vem sofrendo com a ineficiência de quase todos os nossos atos diários". Taylor, op. cit. p. 11.
  • 99
    "Aperfeiçoar o pessoal da emprêsa para que possam executar em ritmo mais rápido e mais eficiente, os tipos mais elevados de trabalho, conforme suas aptidões naturais." Taylor, op. cit. p. 15.
  • 100
    "Os conhecimentos e métodos científicos a serviço da administração, substituirão em tôda parte mais cedo ou mais tarde, as regras empíricas, porquanto é impossível o trabalho científico com os antigos sistemas de administração." Taylor, op. cit. p. 94.
  • 101
    "O remédio para essa ineficiência está antes na administração que na procura do homem excepcional ou extraordinário." Taylor, op. cit. p. 11. Essa atitude antiidolátrica transportada para o sistema político é que explica como o protestantismo na medida em que condena a idolatria das pessoas, constitui-se em antídoto à obediência passiva a líderes carismáticos totalitários, cria um ethos democrático com base nessa desconfiança do grande líder.
  • 102
    Sob "a administração científica, as fases intermediárias serão mais prósperas e mais felizes, livres de discórdia e dissensões. Também os períodos de infortúnio serão em menor número, mais curtos e menos atrozes". Taylor, op. cit. p. 29.
  • 103
    Em Taylor dá-se a valorização positiva da indústria, da função do trabalho e do empresário no sistema social global. Isso se deve à sua formação
    quaker. Pertencendo a uma das inúmeras seitas da Igreja Reformada que auto-excluiu-se da cidadania política ao "recusar-se a prestar serviço militar, lnabilitando-se, portanto, à nomeação para os cargos públicos" (Weber, Max. op. cit. p. 107), ela acompanha assim "o destino das seitas marginalizadas, ao fortalecer a tendência a envolver-se com particular empenho nas atividades econômicas". Weber, M. op. cit., p. 22. Daí a emergência de um quaker preocupado com a administração científica da emprêsa, onde o empresário tem uma função providencial:
    "sua prosperidade é conseqüência de uma vida santa" (Weber, M. op. cit. cap. 5, p. 21), onde se concilia "auferir lucros e conservar-se piedoso" (Weber, M. op. cit. cap. 5, p. 209, nota 39); como se dá a conciliação da administração científica com o misticismo "a administração científica não pode existir se não existe ao mesmo tempo um certo estado de espírito, o qual o engenheiro (Taylor) define em têrmos quase místicos", Taylor.
    L'organization scientifique dans l'industrie americaine. Societé Taylor, Paris, Éd. Dunod, 1932, Taylor, p. 11.
  • 104
    O escrúpulo de sua conduta é para o batista função da "maior glória de Deus" (Weber, M. op. cit. p. 79-80),
    "pertence especialmente ao quaker a conduta do homem tranqüilo, moderado e eminentemente consciencioso" (p. 106).
  • 105
    "O ascetismo
    quaker desenvolverá o sentimento religioso da vida com o mais intenso desenvolvimento da mentalidade comercial" (Weber, M. op. cit. p. 26); isso levou-o a dar um "significado religioso ao trabalho cotidiano secular" (p. 53) onde êle aparece como a mais alta expressão de
    "amor ao próximo" (p. 54).
  • 106
    "O carregador de lingotes de
    ferro tinha fama de ser seguro" (Taylor, op. cit. p. 66), isto é, "dá muito valor ao dinheiro, um centavo parece-lhe tão grande como uma roda de uma carroça". (Taylor, op. cit. p. 42). Os operários que foram aumentados "começaram a economizar dinheiro" (p. 66), cumprindo os preceitos puritanos de Benjamin Franklin que enunciara: "Lembra-te que o dinheiro é por natureza prolífica, procriativa. O dinheiro pode gerar dinheiro e seu produto pode gerar mais e assim por diante". Weber, Max. op. cit. p. 30.
  • 107
    A condenação do álcool é um dos elementos do puritanismo; por essa razão, "os escoceses estritamente puritanos e os independentes inglêses foram capazes de manter o princípio de que o filho de réprobo (de bêbado) não devia ser batizado". Weber, Max. op. cit. p. 167. nota 21.
  • 108
    "De acôrdo com a ética quaker a vida profissional é uma prova de seu estado de graça que se expressa no zêlo e método, fazendo com que cumpra sua vocação. Não é um trabalho em si, mas é um trabalho racional, uma vocação que é pedida por Deus". Weber, M. op. cit. p. 115.
  • 109
    Para o
    quaker a vida profissional do homem define seu estado de graça, para sua consciência que se expressa no zêlo". Weber. op. cit. p. 115. Nesse contexto, "a vadiação é o maior mal". Taylor, p. 74.
  • 110
    "Quando recebiam mais de 60% do seu salário muitos dêles trabalhavam irregularmente e tendiam a ficar negligentes, extravagantes e dissipadores. Em outras palavras, nossas experiências demonstraram que
    para a maioria dos homens não convém enriquecer depressa" (Taylor, op. cit. p. 68), confirmando as afirmações contidas no calvinismo secularizado pelo protestantismo holandês "ao afirmar que as massas só trabalham quando alguma necessidade a isso as force" (Weber. op. cit. p. 128).
  • 111
    "É preciso dar ao trabalhador o que êle mais deseja: altos salários" (Taylor, op. cit. p. 14).
  • 112
    Ramos, G.
    Sociologia Industrial. p. 127.
  • 113
    Taylor, op. cit. p. 15.
  • 114
    Taylor, op. cit. p. 51.
  • 115
    "Um dos requisitos para que o individuo possa carregar lingotes como ocupação regular é ser tão estúpido e fleumático" (Taylor, p. 58). Há precedente histórico a respeito da utilização na indústria de pessoas de baixo nível mental: "nos meados do século XVIII, algumas manufaturas empregavam para certas operações simples, que constituíam segredos de produção, de preferência pessoas semi-idiotas". Tucker, J. D.
    A history of the past and present state of the labouring population. London, 1846. v. 1, p. 149. Êsse período oferece material para elaboração de uma patologia industrial que será desenvolvida sistemàticamente por Meignez.
    La patologie sociale de l'entreprise. Paris, Éd. G. Villars.
  • 116
    Taylor, op. clt. p. 106
  • 117
    Taylor, op. cit. p. 61.
  • 118
    Taylor, op. cit. p. 44.
  • 119
    Taylor, op. cit. p. 77.
  • 120
    Taylor, op. cit. p. 29.
  • 121
    Taylor, op. cit. p. 89.
  • 122
    Taylor, op. cit. p. 89.
  • 123
    Taylor, op. cit. p. 75. "A atribuição de impor padrões e forçar a cooperação compete exclusivamente à direção".
  • 124
    Fayol, H. Administração industrial geral. São Paulo, Editôra Atlas, 1960. p. 31. "Cada mudança de ocupação, de tarefas implica num esforço de adaptação que diminui a produção."
  • 125
    Deve-se "evitar o excesso de remuneração, ultrapassando o limite razoável". Fayol. op. cit. p. 39.
  • 126
    "Um lugar para cada coisa, cada coisa e cada pessoa no seu lugar". Fayol. op. cit. p. 51.
  • 127
    Fayol. op. cit. p. 51.
  • 128
    Fayol. op. cit. p. 54.
  • 129
    "Não necessita de demonstração especial o fato de que a disciplina militar" foi o padrão ideal das antigas implantações, como das emprêsas industriais capitalistas "modernas". Weber.
    Economía y sociedad. vol. 4, cap. 5, p. 80. Essa visão é integrada no corpo da Teoria Clássica da Administração quando Fayol define que "isso tem sido expresso com grande vigor" na área da emprêsa. Fayol. op. cit. p. 51.
  • 130
    Fayol. op. cit. p. 134.
  • 131
    Weber, Max.
    Economía y sociedad. México, Ed. FEC, v. 4, cap. 5, p. 80. "Não obstante, a disciplina do exército é o fundamento da disciplina em geral, o segundo grande instrumento disciplinador é a grande emprêsa econômica". Weber, M.
    Economía y sociedad. v. 4, cap. 5, p. 80.
  • 132
    Taylor, op. cit. p. 75.
  • 133
    Fayol. op. cit. p. 39.
  • 134
    Já E. Mayo acentua a importância da comunicação na administração, mas coube a Chester Barnard elevar a categoría a uma noção de sistema. Na indústria cibernetizada constitui a realidade acabada do modelo "sistêmico".
  • 135
    Mayo, E. In:
    Sociología de la industria y de la empresa. México, Ed. Uthea, 1965. "Sem dúvida muitos dos resultados não eram 'novos'. Ch. Cooley nos EUA e W. Hellpech na Alemanha assinalaram com muita antecedência a importância da formação de grupos". Dahrendorf.
    Sociología de la industria y de la empresa. p. 50.
  • 136
    "Os métodos da democracia, longe de proporcionarem os meios de solução do problema da sociedade industrial, provaram ser inteiramente inadequados para a tarefa." Mayo, E.
    Democracy and freedom, an essay in social logic. Austrália, 1919.
  • 137
    Mayo, E. op. cit. p. 48. "O Estado não pode produzir a cooperação por meio da regulamentação; a cooperação apenas pode ser o resultado do crescimento espontâneo."
  • 138
    "O conflito é uma chaga social, a cooperação é o bem-estar social." Mayo, E. op. cit. p. 48.
  • 139
    "Em tôda a literatura dos séculos XIX e XX, apenas os defensores do Estado Corporativo sugeriram que a satisfação no trabalho pode ser reconquistada apenas pela integração do operariado, na comunidade da fábrica, sob a liderança da Administração." Bendix, R. & Fisher, L. As perspectivas de Élton Mayo. In: Etzioni, A.
    Organizações complexas. p. 126.
  • 140
    "Se tivéssemos uma elite capaz de realizar tal análise dos elementos lógicos e irracionais na sociedade, muitas das nossas dificuldades seriam pràticamente reduzidas a nada." Mayo, E. op. cit. p. 18.
  • 141
    "Ela (a abordagem das relações humanas) representa um adôrno da cooperação antagônica entre operários e administradores". Bendix, R. In: Etzioni, A.
    Organizações complexas. Ed. Atlas, 1962. p. 129.
  • 142
    A idéia de que a revolução do século XX será "não dos operários, mas sim dos
    funcionários" explicitada por Weber, Max. In:
    Ensaios de sociologia. Ed. Zahar, 1946. p. 67, enunciada por Elton Mayo neste contexto, foi explorada sistemàticamente por James Burnham em sua obra clássica
    The managerial revolution. New York, John Day Company, 1941.
  • 143
    Chinoy, E.
    Automobile workers and the American dreams. New York, Ed. Dubleday, 1955.
  • 144
    "A filosofia do direito, a peça mais grandiosa do pensamento hegeliano, contém um sabor tão profundo das realidades do mundo social e moral que nela reside uma sociologia concreta. A reflexão sôbre o sistema da sociologia é reconduzida a sua fonte, quando se liga à filosofia do direito de Hegel." Freyer, Hans.
    La sociología, ciencia de la realidad. Buenos Aires, Ed. Losada, 1944. p. 244.
  • 145
    "A burocracia estatal reinaria absoluta se o capitalismo privado fôsse eliminado. As burocracias, pública e privada, que agora funciona lado a lado, e potencialmente uma contra outra, restringindo-se assim mùtuamente até certo ponto, fundir-se-iam numa única hierarquia. Êste Estado seria então semelhante à situação no Antigo Egito, mas ocorreria de uma forma muito mais racional e por Isso indestrutível." Weber, Max. Parliament and government in Germany.
    Economy and society. New York, Ed. Bedminster Press, 1968. v. 3, p. 1402.
  • 146
    Tal transposição já fôra notada no século passado por K. Marx quando enunciava que "a guerra se desenvolve
    antes que a paz: é necessário demonstrar como, pela guerra e nos exércitos, certas relações econômicas como o
    trabalho assalariado e o maquinismo surgiram nessa área, disseminando-se posteriormente pelo interior da sociedade burguesa." Marx, K.
    Contribution à la critique de l'economie politique. Paris, Éditions Sociales, 1957. p. 172-73.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      28 Maio 2015
    • Data do Fascículo
      Dez 1971
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