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What the future holds: insights from social science

RESENHAS

What the future holds: insights from social science

Lorena Barberia* * Lorena Barberia is a Program Associate at the David Rockefeller Center for Latin American Studies at Harvard University. Prior to joining the David Rockefeller Center for Latin American Studies, she worked in Ecuador and Panama as a junior economist and on research projects at the Harvard Institute for International Development that focused on developing and transition economies.

E-mail: barberia@fas.harvard.edu

What the Future Holds: Insights from Social Science

Dos editors Richard N. Cooper e Richard Layard.

MIT Press, 2002, 285 p.

What the Future Holds é uma compilação de possíveis cenários futuros escrita por reconhecidos especialistas em suas áreas de estudos. A lista de cientistas sociais que participaram de uma conferência em Oxford em julho de 1999 e que escreveram artigos para este livro é admirável: Joel E. Cohen sobre população, Stephen H Schneider sobre mudanças climáticas, Clark C. Abt sobre energia, Richard B. Friedman sobre trabalho, Timothy Besley sobre governo, Benjamin M. Friedman sobre política monetária e Alexander Schmidt-Gernig sobre tecnologia da informação.

Utilizando diferentes abordagens desenvolvidas na economia, na ciência política, na sociologia e na psicologia social, os autores projetam os desenvolvimentos e tendências da vida humana no médio prazo. As questões que procuram responder incluem: A população mundial continuará a crescer exponencialmente? Existirá energia suficiente? Como a intensa utilização de combustíveis fósseis afetará o clima mundial? Que padrões de trabalho existirão? A crescente interdependência conduzirá à inovações em como os governos se organizam nos níveis local, nacional e global? Os bancos centrais perderão suas habilidades de administrar suas políticas monetárias na medida que os sistemas de pagamentos eletrônicos controlados por instituições comerciais dominarem as alocações de crédito?. Por que as projeções passadas sobre estas importantes questões foram tão imprecisas?

Apesar de não ser um tópico específico do livro, o volume informa muito sobre o futuro das ciências sociais, que na visão dos editores, deve ser definido não pela sua habilidade de "predizer" o passado, mas sim, o futuro. Na introdução do livro, Cooper e Layard lembram os leitores da insistência de Milton Friedman em seu ensaio Essays in Positive Economics (1953) ao afirmar que "o teste chave de uma teoria cientifica é sua habilidade de predizer". Com isso em mente, as evidências apresentadas no livro são motivos de preocupação. Desde a estimativa da demanda por computadores (em 1980, a IBM previu vendas anuais de 280.000, hoje o total de vendas ultrapassa os 30 milhões) até as estimativas da população mundial (a projeção original das Nações Unidas de 1950 foi revisada 17 vezes entre 1951 e 1996, sem considerar que os censos não foram conduzidos em pelo menos 20% da população mundial), pesquisadores têm falhado em prever os grandes movimentos e tendências ao longo das últimas décadas.

Mesmo assim, o livro apresenta um convincente argumento que, embora reconheça a dificuldade de se prever o futuro, faz análises sistemáticas sobre como possíveis cenários podem conduzir a uma maior compreensão e decisões mais sábias. Pensar sobre o futuro também pode melhorar as questões que os cientistas sociais estão escolhendo como foco de suas pesquisas sobre o passado e o presente. Pode colocar mais atenção em variáveis chaves de mudança. Nesse sentido chama a atenção para o fato do mundo se defrontar com urgentes questões que necessitam ser estudadas pela comunidade científica para evitar ou minimizar erros, falhas ou simplesmente péssimas projeções.

Nessa linha, um dos mais elucidativos capítulos do livro é o trabalho de Cohen sobre o crescimento populacional. Além da singularidade do século XX, no qual a população mundial praticamente quadruplicou, nem a velocidade do crescimento populacional desde a Segunda Grande Guerra, nem a dramática queda da fertilidade ou os catastróficos efeitos da AIDS foram previstos pelos pesquisadores. Cohen prevê que o crescimento mundial aumentará de 25% a 100% até o ano 2050. Embora estimativas precisas não existam, Cohen afirma que se pode esperar que a população seja maior do que é no presente, que crescerá mais rapidamente em termos absolutos e relativos que nos últimos anos e que a mesma será mais velha e urbana do que é atualmente.

Levando em conta que o mundo terá cerca de 2 a 6 milhões de seres como nós, é valido perguntar se isto significa que eles viveram melhor. As evidências apresentadas no livro deixam o debate em aberto, mas apontam para o fato de que é mais fácil prever tendências genéricas sociais e tecnológicas que específicos eventos políticos ou progressos técnicos. As economias serão mais urbanizadas e integradas, mas, diferenças históricas continuarão a existir e possivelmente aumentarão. O crescimento econômico durante o século XX mais que quadruplicou - a média de crescimento per capita do produto nacional bruto cresceu de menos de US$ 1.300 para US$ 5.200, mas a desigualdade de renda tem aumentado durante a última metade de século. Cohen chama a atenção para o fato de que outra quadruplicação do produto mundial será necessária para elevar os padrões de vida de 4/5 da população mundial aos níveis do 1/5 que vive com US$ 20.000 por ano.

Outras evidências no livro argumentam que o intervalo na distribuição dos recursos pode diminuir. Abt prevê com respeito o futuro da energia em 2020, onde os países em desenvolvimento não seguirão a mesma trajetória de consumo de combustíveis fósseis dos países industrializados. Depois de criticamente revisar as insuficiências das projeções do Departamento de Energia dos Estados Unidos contidas no International Energy Outlook 1999 realizadas com base no conhecimento existente da geografia, agricultura, tecnologias renováveis e economia atuais, Abt afirma que – boas previsões devem se ater a prever um intervalo de importantes e possíveis desenvolvimentos. Ele prevê com alguma convicção uma crescente demanda por energia, uma diversidade maior na oferta da mesma com a conseqüente redução dos preços, aumento das preocupações sobre o impacto ambiental, distributivo e igualitário da energia.

Previsões como as de Abt ou Cohen são apresentadas nos demais capítulos do livro. Cada artigo reconhece e é cauteloso na previsão do futuro, enfatizando a necessidade de maiores e repetidos esforços entre diferentes disciplinas. O livro efetivamente aponta para como previsões sobre a população, crescimento econômico, consumo de energia e, instituições estão inter-relacionadas e desta maneira complicam a construção de prospectivos cenários. O crescimento populacional necessariamente causará impacto na demanda pela exploração da terra, dos oceanos e da atmosfera. Diferentes culturas irão influenciar de distintas maneiras as decisões familiares sobre fertilidade. Dessa forma, o livro realiza um forte chamamento para estudos e pesquisas interdisciplinares para se discutir o futuro.

Existem duas significantes críticas que podem ser realizadas sobre o conteúdo do livro se a questão é se compreender o futuro. A primeira é a falta de inclusão das experiências dos países em desenvolvimento. América Latina, por exemplo, é somente mencionada 4 vezes no livro. Com a exceção do artigo de Abt, a maioria dos autores negligencia o potencial de grandes nações emergentes como a China, Índia e Brasil. O artigo de Besley sobre gorvernabilidade vê o nacionalismo e a identidade étnica como parte da herança histórica, argumentando que a difusão cultural continuará de forma acelerada. Mas, as evidencias utilizadas para construir seu argumento é largamente baseada e em dados da União Européia. Sem negar os impactos que as novas tecnologias possuem na moldagem do futuro, positivos e negativos. A questão do acesso e das diferenças será critica se, a inclusão dos 4/5 "excluídos" desempenhar papel decisivo na formatação do mundo.

A segunda crítica diz respeito às expectativas criadas pela introdução de Cooper e Layard que promete dar ao leitor insights sobre os métodos que reconhecidos especialistas utilizaram para abordar questões sobre o futuro. É normal crer que pelo fato de ser um volume editado, o leitor termina sua leitura esperando encontrar um resumo dos capítulos sobre os métodos, mas o mesmo não foi disponibilizado pelos editores. Apesar desta ausência, What the Future Holds é uma forte contribuição ao conhecimento uma vez que chama a atenção dos cientistas sociais para trabalharem mais criticamente sobre o futuro e levantar questões sobre as significantes incertezas existentes e que não podem ser ignoradas.

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    Lorena Barberia is a Program Associate at the David Rockefeller Center for Latin American Studies at Harvard University. Prior to joining the David Rockefeller Center for Latin American Studies, she worked in Ecuador and Panama as a junior economist and on research projects at the Harvard Institute for International Development that focused on developing and transition economies.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Dez 2007
    • Data do Fascículo
      Dez 2003
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