Ensino-aprendizagem da improvisação organizacional: O valor do teatro na educação em administração

Barbosa, Fernanda P. M.; Davel, Eduardo P. B.

doi:10.1590/1678-6971/eRAMG220108.pt

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RAM. Revista de Administração Mackenzie

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Sumário

Gestão Humana e Social • RAM, Rev. Adm. Mackenzie 23 (4) • 2022 • https://doi.org/10.1590/1678-6971/eRAMG220108.pt copiar

Ensino-aprendizagem da improvisação organizacional: O valor do teatro na educação em administração

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Resumo

Objetivo:

O objetivo deste artigo é compreender as implicações da improvisação teatral nos processos de ensino-aprendizagem da improvisação organizacional.

Originalidade/valor:

A gestão lida, constantemente, com mudanças e imprevistos, como as pesquisas sobre improvisação organizacional revelam há mais de duas décadas. Entretanto, os gestores ainda são formados para enfrentar situações de estabilidade, e não as de turbulência organizacional. Carecemos de opções de ensino-aprendizagem voltadas para o desenvolvimento das habilidades de improvisação organizacional.

Design/metodologia/abordagem:

A pesquisa ancora-se em teorias sobre improvisação organizacional, improvisação teatral e ensino-aprendizagem da administração. Investigaram-se empiricamente várias práticas de ensino-aprendizagem da improvisação organizacional a partir da improvisação teatral, realizadas durante seis semestres letivos em um componente curricular de graduação em Administração. A metodologia qualitativa baseou-se em uma abordagem artística e em diversas fontes de informação (contos, teatro, observação direta, entrevistas coletivas e documentos).

Resultados:

Os resultados são categorizados em implicações organizadas em quatro sinergias (lógica da prática, praticar a narrativa, criatividade e corporeidade) e três entropias (vergonha de praticar, medo de errar e hábito de dispersar) do uso da improvisação teatral para o ensino da improvisação organizacional no contexto de formação de gestores contemporâneos. Os resultados da pesquisa representam uma contribuição para o avanço do conhecimento sobre improvisação organizacional, na medida em que inauguram uma proposta de compreensão mais precisa do ensino-aprendizagem da improvisação organizacional. Contribuem também para relacionar dois campos do conhecimento (teatro e administração) em prol de uma construção de conhecimento que colabora para o avanço da pesquisa e da prática do ensino-aprendizagem da improvisação organizacional.

Palavras-chave
improvisação teatral; improvisação organizacional; ensino-aprendizagem; teatro; gestão contemporânea

Trabalho ou atividade	Definição	Descrição
A1	Prática teatral	Exercícios de aquecimento (jogos, relação espacial e dicção) e improvisação teatral (14 aulas).
A2	Prática organizacional	Aulas teóricas sobre produção e planejamento (sete aulas), exercícios práticos de planejamento individual e em grupos (oito aulas), realização do evento (dois dias extras) e avaliações (duas aulas).
A3	Artista para a programação	Composição da programação do FAE com artistas: cada estudante tem a responsabilidade de convidar, no mínimo, dois artistas.
T1	Prática organizacional	Definição de conceitos, criação de projeto de captação de recursos, visita a potenciais patrocinadores, criação de uma carta de apresentação e criação de um plano de ação.
T2	Conto de improvisação organizacional	Narrar uma história na forma de conto que registre e comunique a essência do aprendizado realizado no componente curricular. O estudante tem como fonte da ficção: ele mesmo, como um personagem, e a vivência da organização e da gestão do FAE como ambiente da história. Envolvente, o conto deve descrever como o personagem integra e relaciona a habilidade de improvisar no teatro e nas organizações.
T3	Diário de bordo de aprendizagem	Descrição regular e detalhada de como cada estudante vivencia e aprende com as atividades, enfocando desafios, planejamentos, criatividades, improvisações, inovações, comportamentos, transformações pessoais e trabalho coletivo.
T4	Avaliação colaborativa	Realização de críticas colaborativas com o trabalho dos colegas, escolhendo as 10 críticas mais significativas e refletindo sobre seu valor no processo de aprendizagem pessoal.
A4	Entrevista semiestruturada coletiva	Avaliação coletiva durante a última aula sobre todo o processo de vivência e aprendizagem de cada estudante no componente curricular.

Técnica	Trabalho ou atividade	Definição	Tipo de narrativa
Observação direta	A1	Prática teatral	Artística
	A2	Prática organizacional	Expositiva, reflexiva, descritiva
	A3	Artista para a programação	Descritiva, reflexiva
Documentos	T1	Prática organizacional (sala de aula e ambiente virtual)	Descritiva, reflexiva, artística, expositiva
	T2	Conto de improvisação organizacional	Artística, reflexiva, descritiva, expositiva
	T3	Diário de bordo de aprendizagem	Reflexiva, descritiva
	T4	Avaliação colaborativa	Reflexiva
Entrevista	A4	Semiestruturada e coletiva	Reflexiva

Nome	Descrição	Objetivos
Respondendo no escuro	O estudante fica vendado no centro do círculo. Todos podem fazer perguntas a ele, uma pessoa de cada vez. O estudante deve responder na direção da voz que perguntou, fazendo um esforço para olhar nos olhos da pessoa, mesmo estando vendados.	Ativação do reflexo, confiança e escuta
Andando no escuro	A turma é dividida em duplas. Todos fazem a atividade ao mesmo tempo, mas cada um deve estar atento somente à sua dupla. Um dos dois fica do lado de fora e deve entrar vendado. O estudante que está na sala deve modificar o espaço e definir objetivos: fazer o colega sentar-se em uma cadeira, pegar uma caneta na mesa etc. O estudante vendado só pode ouvir os comandos verbais.	Ativação do reflexo, confiança e escuta
Cantando e emocionando	Em círculo, todos se olham, mas ninguém pode falar. Quem quiser começar, canta uma música olhando para todos no círculo. Quando a pessoa termina de cantar, todos devem dizer uma única palavra que expresse o sentimento ou a emoção que a pessoa transmitiu ao cantar. Quando se estabelece o silêncio novamente, outra pessoa começa a cantar.	Desinibição, atitude, confiança e escuta
Acordando a voz	Em círculo, fazem movimentos de mastigação. Os estudantes devem se imaginar comendo coisas muito gostosas e também coisas muito ruins, podendo se expressar somente com o som da letra “m” por três minutos. Depois há uma sequência de vibração, com a língua ou os lábios, fazendo uma pesquisa nas caixas de ressonância.	Articulação, emissão vocal e desinibição
Continuando a história	Com a turma reunida em círculo, uma pessoa começa a contar uma história, e, quando o instrutor bate uma palma, a pessoa ao lado deve continuá-la. Todos que estão no círculo contribuem para a história. Até a metade da roda, as pessoas trazem conflitos e personagens diversos. Da metade em diante, devem trazer as resoluções e consequências. A última pessoa deve finalizar a história.	Memória, criatividade e ludicidade

Nome	Descrição	Objetivos
Tragédias e comédias	A sala é dividida em grupos de três pessoas. Cada grupo deve imaginar uma situação trágica e outra cômica que podem acontecer durante o evento. As situações devem ser contadas em forma de cena, e cada participante pode assumir quantos personagens quiser.	Desinibição, criatividade e memória
ABC	São escolhidos dois voluntários. A turma define em que ambiente eles vão se encontrar: mercado, parque de diversões, farmácia, sala de casa etc. Após a definição do local, os voluntários têm cinco segundos para determinar que personagens serão e iniciar um diálogo. Suas falas devem seguir a ordem do alfabeto. O primeiro personagem que falar deve iniciar com uma palavra que comece com a letra A. Quando o outro personagem responder, a primeira palavra da frase deve começar com a letra B, e assim por diante, até a última letra do alfabeto.	Desinibição, criatividade, memória e prontidão
Atores, narradores e público	A sala é dividida em três grupos: atores, narradores e público. Os atores interpretarão a história criada pelos narradores, e o público assistirá à representação. Esse exercício pode ser usado na pré-produção, para imaginar situações que podem ocorrer, e também na pós-produção, como avaliação, quando vivenciam situações que aconteceram e expõem seus pontos de vista. Os narradores definem a história e dizem aos atores quais personagens eles serão, mas não lhes dizem o que vai acontecer. A história é contada na hora da encenação, e os atores devem executar tudo o que for narrado. É preciso repetir o exercício três vezes para que todos passem pelos três grupos.	Desinibição, criatividade e memória

Name	Description	Goals
Answering in the dark	The student stands in the center of the blindfolded circle. Everyone can ask him a question, one person at a time. The student should respond in the direction of the voice that asked, making an effort to look into the person’s eyes, even while blindfolded.	Reflex activation, trust, and listening.
Walking in the dark	The class is divided into pairs. Everyone does the activity at the same time, but each one must pay attention only to their partner. One of the two is outside and must enter blindfolded. The student in the room must modify the space and define goals: make the classmate sit in a chair, get a pen from the table etc. The blindfolded student can only listen to verbal commands.	Reflex activation, trust, and listening.
Singing and moving	In a circle, everyone looks at each other, but no one can speak. Anyone who wants to start sings a song looking at everyone in the circle. When the person has finished singing, they should say a single word that expresses the feeling or emotion that the person experienced when singing. When silence sets in again, someone else starts to sing.	Disinhibition, attitude, trust, and listening.
Waking up the voice	In a circle, we make chewing movements. Students should imagine eating very tasty things and also very bad things, being able to express themselves only with the sound of the letter m for three minutes. Then, we follow a vibration sequence, with the tongue or lips, doing a search in the resonance boxes.	Articulation, vocal emission, and disinhibition.
Continuing the story	With the class in a circle, one person begins to tell a story and, when the instructor claps the hands, the person next to them should continue the story. Everyone in the circle contributes to the story. Up to the middle of the circle, people bring up conflicts and different characters. Halfway through people should bring up resolutions and consequences. The last person must finish the story.	Memory, creativity, and playfulness.

Name	Description	Goals
Tragedies and comedies	Divide the room into groups of three. Each group must imagine a tragic and a comical situation that could happen during the event. The situations must be told in the form of a scene and each participant can assume as many characters as they want.	Disinhibition, creativity, and memory.
ABC	Two students are chosen. The group defines which environment they will meet: a market, an amusement park, the pharmacy, the living room etc. When setting the location, they have five seconds to define what character they are and start a dialogue. The lines spoken by them must follow the alphabet sequence. The first character to speak must begin its sentence with a word starting with the letter A. When the other character responds, the first word in the sentence must be the letter B, and so on, until the last letter of the alphabet.	Disinhibition, creativity, memory, and readiness.
Actors, narrators, and audience	The students are divided into three groups: actors, narrators and audience. The actors will interpret the story created by the narrators and will be watched by the audience. This exercise can be used in preproduction to imagine situations that may occur in the event and also in postproduction as a situation in which they expose their points of view. The narrators define the story and tell the actors which characters they will be, but they do not say what will happen. The story is told at the time of the performance and the actors must execute everything that is narrated. The exercise must be repeated three times, so that everyone goes through the three groups.	Disinhibition, creativity, and memory.

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[1] Fernanda P. M. Barbosa é agora pesquisadora no Núcleo de Pós-Graduação em Administração (NPGA) da Universidade Federal da Bahia (UFBA); Eduardo P. B. Davel é agora professor da Escola de Administração da UFBA.