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Imunonutrição em unidade de cuidados intensivos

EMERGÊNCIA E MEDICINA INTENSIVA

Imunonutrição em unidade de cuidados intensivos

Werther Brunow de Carvalho; Simone Brasil Iglesias

A nutrição enteral é o método de escolha para alimentar os pacientes criticamente enfermos com o sistema gastrintestinal funcionalmente adequado. Entretanto, ainda permanece a seguinte questão: comparando a nutrição enteral com dietas padrões, as dietas enriquecidas com farmaconutrientes têm um efeito significante na evolução dos pacientes criticamente enfermos? Recentemente, Montejo JC et al, 2003¹, realizaram uma revisão sistemática e uma demonstração de consenso a respeito da utilização de farmaconutrição em pacientes criticamente enfermos. Os resultados globais indicaram haver uma redução na taxa de infecção no grupo com farmaconutrientes, quando se considerou a incidência de abcesso abdominal (OR:0.26, IC:0.12-0.55) (P=0.005), pneumonia intra-hospitalar (OR:0.54, IC: 0.35-0.84) (P=0.007) e bacteremia (OR:0.45, IC:0.35-0.84) (P=0.0002). Todos os pacientes que receberam nutrientes específicos tiveram uma redução no tempo de utilização da ventilação pulmonar mecânica (média:2.25 dias, IC:0.5-3.9) (P=0.009), tempo de internação na unidade de cuidados intensivos (UCI) (redução média de 1.6 dias, IC:1.9-1.2) (P<0.0001) e tempo de internação hospitalar (redução média de 3.4 dias, IC: 4.0-2.7) (P<0.0001). Entretanto, a análise separada de cada subgrupo demonstrou que os efeitos benéficos não eram os mesmos para as diferentes populações de pacientes. O grupo de médicos clínicos deste estudo, considerando as evidências em termos de quantidade, qualidade, consistência, aplicabilidade e impacto clínico, indica a utilização de nutrição enteral com dieta modificada com um grau B de recomendação (evidência satisfatória para suportar a recomendação).

Comentário

Todas as três metaanálises2,3,4 realizadas até o momento demonstraram que a imunonutrição resulta em uma redução importante na taxa de infecção e no tempo de internação hospitalar, sendo estes dados mais evidentes no paciente cirúrgico do que no paciente criticamente enfermo. Entretanto, algumas dúvidas permanecem a respeito da eficácia desta terapêutica no paciente criticamente enfermo com diferenças metodológicas entre as pesquisas clínicas, dificultando a possibilidade de comparações, além do fato de que não existem dados que avaliem a relação custo-benefício destas dietas. A utilização de imunonutrição no paciente criticamente enfermo deve ser realizada com muita cautela na maioria dos pacientes em UCI, devendo-se, no futuro, definir os nutrientes mais efetivos e otimizar as misturas de nutrientes para a utilização em diferentes grupos de pacientes.

Referências

1. Montejo JC, Zaragaza A, Lopez-Martinez J, et al. Immunonutrition in the intensive care unit. A systematic review and consensus statement. Clin Nutr 2003; 22:221-33.

2. Beale RJ, Bryg DJ, Bihari DJ. Immunonutrition in the critically ill: a systematic review of clinical outcome. Crit Care Med 1999; 27:2799-805.

3. Heys Sd, Walker LG, Smith I, et al. Enteral nutritional supplementation with key nutrients in patients with critical illness and cancer: a meta-analysis of randomized controlled clinical trials. Ann Surg 1999;229:467-77.

4. Heyland DK, Novak F, Drover JW, et al. Should immunonutrition become routine in critically ill patients? A systemati review of the evidence. JAMA 2001;286:944-53.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Nov 2003
  • Data do Fascículo
    Set 2003
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