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Internação hospitalar, uma necessidade nas síndromes hipertensivas da gestação?

À beira do leito

Obstetrícia

INTERNAÇÃO HOSPITALAR, UMA NECESSIDADE NAS SÍNDROMES HIPERTENSIVAS DA GESTAÇÃO ?

Hospitalização e repouso no leito têm sido condutas adotadas como fundamentais no controle da pressão arterial das gestantes portadoras de síndromes hipertensivas, prevenindo dessa forma o desenvolvimento de complicações graves.

A restrição no leito foi preconizada por Harmen, em 1952, como parte de um esquema terapêutico onde se orientavam dieta hiperproteica, hipossódica e repouso no leito, que favoreceriam a redução na incidência das formas graves da pré-eclampsia bem como da Eclampsia. Há muitos anos, porém, que a importância da hospitalização de mulheres gestantes com sinais de hipertensão gestacional leve ou pré-eclampsia tem se baseado mais em observação empírica do que em resultados de estudos randomizados controlados. Em 1971, Mathews et al. compararam os resultados de casos internados com não-internados de gestantes hipertensas sem proteinúria. Após dois anos de estudo, notaram resultados semelhantes em relação à mortalidade perinatal (4,8% nos casos internados vs 3,1% nos não internados), no desenvolvimento de Eclampsia (2,8% nos internados vs 0% nos não internados) e mortalidade materna (0% vs 0,8%). Em 1989, Crowther et al. revisaram a literatura sobre os efeitos da hospitalização com restrição no leito e concluíram que as mesmas em mulheres gestantes com hipertensão sem proteinúria podem reduzir a incidência de formas graves (PAD > ou = 110 mmHg). Parece haver melhora na diurese e redução de edema, mas o efeito sobre o aparecimento de proteinúria não foi significativo. A principal razão para hospitalização de pacientes portadoras de hipertensão com ou sem proteinúria seria a facilidade de monitorização materna e fetal e a detecção precoce da deterioração do quadro. Propiciaria também a monitorização contínua da PA e a dosagem de proteinúria. Crowther et al. voltaram a falar sobre o assunto em 1992 quando apresentaram os resultados de um estudo que envolveu 218 gestantes hipertensas entre 28 e 38 semanas, novamente analisando a hospitalização versus o seguimento ambulatorial; as internadas eram encorajadas a permanecer no leito, sendo permitida a deambulação caso desejassem e aquelas com tratamento domiciliar a exercerem suas atividades habituais, tendo porém o cuidado de observarem o aparecimento de proteinúria eram visitadas semanalmente e internadas se: PA=160x 110mmHg, proteinúria maior ou igual a + no labstix, diminuição da movimentação fetal ou sintomas sugestivos de pré-eclampsia tais como cefaléia, alterações visuais e dor abdominal. Encontraram menor incidência de pré-eclampsia grave nas gestantes hospitalizadas, por outro lado não houve diferença significativa no seguimento materno e a idade gestacional no parto não diferiu entre os grupos (38,3 semanas nas hospitalizadas e 38,2 semanas nas não-internadas). A incidência de trabalho de parto prematuro foi menor no grupo hospitalizado (11,8% vs 22,2%), não houve porém diferença significativa na morbidade perinatal. Concluíram que o seguimento domiciliar de gestantes hipertensas sem proteinúria é uma alternativa segura. Fato que reforça o temor do seguimento ambulatorial diante das formas leves da pré-eclampsia seria a dificuldade ou o erro no diagnóstico que culminariam na instalação das complicações graves como a Eclampsia. Acreditamos ser possível o seguimento ambulatorial de gestantes hipertensas em suas formas leves, em uso ou não de drogas anti-hipertensivas, desde que acatem a necessidade de repouso e que tenham fácil acesso ao hospital caso surjam os sintomas de gravidade. Por outro lado, em nosso meio, seria pouco prudente não internar os casos graves desta doença, uma vez que a monitoração dos parâmetros maternos e fetais é imperativa.

ELIANE APARECIDA ALVES

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jul 2001
  • Data do Fascículo
    Jun 2001
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