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Corticoterapia no choque séptico

Panorama Internacional

Emergência e Medicina Intensiva

CORTICOTERAPIA NO CHOQUE SÉPTICO

O debate à respeito da utilização do corticóide em pacientes com sepse tem sido contínuo durante os últimos 30 anos. Recentemente, um estudo prospectivo randomizado, duplo cego, placebo controlado1, utilizando 50mg de hidrocortisona por via intravenosa a cada cinco horas mais 50mcg de fludrocortisona por via oral uma vez por dia durante sete dias demonstrou na evolução uma sobrevida maior no grupo tratado (n=150) comparativamente ao grupo placebo (n=149). Risco relativo, 0.712;95% de intervalo de confiança, 0.525-0.965. Portanto, houve uma redução do risco relativo de quase 30% nos pacientes com choque séptico.

Comentário

Durante os último cinco anos, algumas pesquisas placebo controladas com reposição de corticóide foram realizadas em pacientes dependentes de vasopressores com choque séptico2,3. Estas pesquisas demonstraram de modo consistente os efeitos benéficos do corticóide em relação à duração do choque, quantidade de vasopressores, na duração e intensidade da disfunção orgânica e na intensidade da resposta inflamatória sistêmica. Uma revisão em relação ao estado atual de conhecimento à respeito do eixo hipotalamo-hipófise-adrenal em pacientes criticamente enfermos demonstra uma variabilidade enorme em relação à função deste eixo. A presença de insuficiência adrenal clássica é rara (> do que 3%), sendo que 50% dos pacientes em choque poderão ter os níveis de cortisol menores do que 20mcg/dl com uma variação de 7 a 400mcg/dl4.

Entretanto, para uma afirmação mais definitiva, devido aos riscos potenciais desta terapêutica, devemos aguardar os resultados de novos estudos, particularmente do estudo Corticus (pesquisa européia placebo controlada, multinacional), cujos resultados deverão estar disponíveis em aproximadamente três anos. Em relação à utilização de corticóide no paciente pediátrico, não temos até o momento dados de evidência para a sua utilização.

WERTHER BRUNOW DE CARVALHO

AUGUSTO SCALABRINI

Referências

1. Annane D. Effects of the combination of hydrocortisone (HC)-fludro-cortisone (FC) on mortality in septic shock [abstract]. Crit Care 2000; 28:A63.

2. Bollaert PE, Charpentier C, Levy B, Debouverie M, Audibertl G, Larcan A. Reversal of late septic shock with supraphysiologic doses of hydrocortisone. Crit Care Med 1998; 26:645-50.

3. Briegel J, Forst H, Haller M, Schelling G, Kilger E, Kuprat G, et al. Stress doses of hydrocortisone reverse hyperdynamic septic shock: a prospective, randomized, double-blind, single-center study. Crit Care Med 1999; 27:723-32.

4. Schein RM, Sprung CL, Marcial E, Napolitano L, Chernow B. Plasma cortisol levels in patients with septic shock. Crit Care Med. 1990; 18:259-63.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Mar 2006
  • Data do Fascículo
    Set 2002
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