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Ranking de produção científica das universidades brasileiras na área de ciências da saúde - 1996 a 2011

EDITORIAL

Ranking de produção científica das universidades brasileiras na área de ciências da saúde - 1996 a 2011

Marina Jordan Aguiar; Bruno Caramelli* * Autor para correspondência. E-mail: bcaramel@usp.br (B. Caramelli)

Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

A elaboração de rankings ou classificações de faculdades ou universidades é um procedimento comum, em especial nos países de língua inglesa. Tais rankings classificatórios são utilizados objetivamente:

• para análise comparativa inter-e intrainstituições;

• para análise dos resultados de políticas de melhoria ou de investimentos econômicos feitos pela administração;

• para fornecer subsídios para investimento por parte da iniciativas pública ou privada;

• para subsidiar a escolha da universidade por parte do futuro aluno.

Dentro das diversas áreas do conhecimento, as ciências da saúde são aquelas que experimentaram nos últimos anos o maior e mais notável crescimento na produção científica. Apesar de existirem rankings mundiais nos quais algumas instituições brasileiras estão representadas, não existem rankings que sejam específicos para a produção científica na área de ciências da saúde entre as nossas principais instituições. A elaboração deste ranking pode fornecer importante subsídio para o investimento em pesquisa e para orientar o desenvolvimento acadêmico das instituições. A RAMB solicitou ajuda da editora Elsevier para realizar esta pesquisa através da base SCOPUS e encarregou-a a seu editor-chefe e a uma aluna de graduação da faculdade de Medicina da USP. O objetivo da pesquisa foi estabelecer um ranking com a classificação da produção científica das instituições brasileiras na área de ciências da saúde.

A partir da base de dados SCOPUS (Elsevier) foram coletadas as informações relativas ao período entre 1996 e 2011 (inclusive). Para esta pesquisa, neste intervalo de tempo, foram inseridos os termos "Brazil" no campo affiliation e foram coletadas as 200 primeiras instituições brasileiras, classificadas por ordem decrescente do índice-h, na área de Health Sciences (Medicine, Biochemistry, Genetics and Molecular Biology, Immunology and Microbiology, Pharmacology, Toxicology and Pharmaceutics, Neurosicence, Dentistry, Nursing, Psychology and Health profession). As variáveis coletadas e suas respectivas definições foram:

Índice-h - O índice-h foi desenvolvido por J.E. Hirsch para qualificar o impacto e a quantidade da publicação científica individual de cada autor. Um índice-h de um grupo de determinados documentos ou determinados autores com valor de índice-h = 12 significa que, do total de documentos selecionados para produzir o gráfico, 12 deles foram citados ao menos 12 vezes. Documentos publicados com menos citações que h, nesse caso menos que 12, são considerados, porém não contabilizados no índice-h. Apesar de receber algumas críticas, o índice-h tem sido usado para classificar grupos de autores e instituições. Para este estudo calculamos o índice-h da instituição como sendo o conjunto de todas as publicações dos autores a ela afiliados naquele período.

Contagem de autocitações (Self citation count) - Quantas vezes a instituição citou sua própria produção científica em outros artigos publicados pelos seus autores afiliados.

Contagem de colaborações com outras instituições (Institute collaboration count) - número de colaborações com outras instituições nas publicações científicas da instituição.

Impacto relativo ponderado sobre a área (Field weighted relative impact) - Calcula o impacto da produção científica, em citações, da instituição na área de atuação definida, e pode ser calculado pela relação entre o número médio de citações obtidas pelos artigos publicados pela instituição e o de citações obtidas pelos artigos de todas as instituições do mundo. Logo, um impacto relativo inferior a 1 indica um número médio de citações abaixo da média mundial.

O ranking das 200 instituições brasileiras elaborado com as variáveis de interesse anteriormente definidas pode ser visualizado na Tabela 1

A tabela 1 revela as 10 primeiras instituições do ranking classificadas pelo índice-h. Podemos observar um número grande de publicações e taxas razoáveis de autocitação e colaboração com outras instituições no período de 1996 a 2011, sendo a primeira delas a Universidade de São Paulo, que desponta com número de publicações (86.642) e de citações (715.297). Por outro lado, pode ser observado que o impacto relativo ponderado sobre a área é inferior à média mundial, até mesmo para as universidades do topo da lista: Universidade de São Paulo (0,82), Universidade de Campinas (0,82), Universidade Federal do Rio de Janeiro (0,75). Tal constatação poderia ser explicada por pelo menos dois fatores:

• Menor qualidade das publicações: tipicamente, publicações em periódicos com fator de impacto menor estão associadas a menores taxas de citação. Portanto, é plausível supor que uma instituição que tenha grande produção científica mas impacto relativo ponderado menor que a média mundial deve terparte significante de suas publicações realizadaem periódicos com fator de impacto inferior.

• Contagem de colaboração internacional baixa: a colaboração faz parte do processo de inserção internacional. É esta estratégia que fará com que os pesquisadores de uma comunidade científica tenham sua produção reconhecida, garantindo um fluxo de ideias e influenciando a geração de novos conhecimentos. Pela magnitude e tradição a comunidade científica internacional é o ambiente ideal para amplificar muito mais vezes a visibilidade e a influência da produção científica. As instituições brasileiras apresentam contagem de colaboração acima de 60%, maior do que a média mundial (48,7%) e semelhante à média das 20 principais instituições do mundo em números de citações, que é de 67,1%1. Esta constatação, entretanto, analisada juntamente com o dado de impacto relativo ponderado sobre a área menor do que a média mundial, permite supor que estas colaborações são de caráter predominantemente nacional ou regional e, portanto, com menor poder de influência sobre a comunidade internacional1.

Estes dados representam apenas um dos inúmeros aspectos da produção científica na área de ciências da saúde no passado recente do Brasil. As instituições que as geram são complexas e os processos envolvidos, mais ainda. A pesquisa em saúde envolve, muitas vezes, o ser humano como objeto de estudo, o que implica cuidados e características únicas e frequentemente mais dificultosas do que no caso da pesquisa básica. A metodologia utilizada neste estudo, em especial o índice-h para instituições, é passível de críticas e não deve ser entendido como a única forma de avaliar instituições. Por outro lado é uma ferramenta objetiva, que vem sendo utilizada nomundotodo epermite comparaçõesverticais (progressivas ao longo do tempo) e horizontais (entre instituições). Por isto mesmo, a esta altura é muito importante que estes resultados sejam interpretados e utilizados como referência para as próprias instituições como um norte, uma referência temporal para metas no médio e longo prazos. A partir deles podemos concluir que as instituições brasileiras na área de ciências da saúde devem considerar a elaboração de estratégias que tenham por objetivo aumentar a visibilidade internacional através de implementação de estratégias de colaboração com instituições de referência mundial.

Apêndice. Material adicional

Pode consultar o material adicional para este artigo na sua versão eletrônica disponível em doi:10.1016/j.ramb.2013.10.001.

  • 1. Gazni A, Sugimoto CR, Didegah F, Mapping world scientific collaboration. Authors, institutions, and countries. J Am Soc Inf Sci Technol. 2012;63(2):323-35.
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    Autor para correspondência. E-mail:
    bcaramel@usp.br (B. Caramelli)
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Dez 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2013
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