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Um Plano Marshall para combater a epidemia de AIDS?

Diretrizes em foco

Economia da Saúde

UM PLANO MARSHALL PARA COMBATER A EPIDEMIA DE AIDS?

Todos os dias morrem mais de 8 mil pessoas vitimas da Aids. A cada hora, quase 600 pessoas tornam-se infectadas. A cada minuto, uma criança morre como vítima da Aids. 40 milhões de pessoas estão vivendo contaminadas pelo vírus.

Diante desta epidemia que causa um desastre de proporções globais, o Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan está pedindo ao mundo rico US$ 7 bilhões para um fundo global de saúde para combater a Aids, a tuberculose e a malária. O objetivo do fundo é mobilizar recursos adicionais, através de uma parceria público-privada, para financiar ações e programas destinados a reduzir a carga dessas doenças nos países mais afetados. O fundo financiará ações de tipo preventivo, curativo e de apoio, de maneira a complementar e fortalecer a ação dos sistemas de saúde na luta contra essas doenças.

Comentário

A questão dentro de uma ótica de econômica é: o que isto representa? Entre abril de 1948 e dezembro de 1951, os Estados Unidos gastaram cerca de US$ 13 bilhões para promover a reconstrução de mais de 16 países europeus devastados pela 2a Guerra Mundial. Este Programa de Recuperação Européia, que ficou conhecido como Plano Marshall, mudou o destino do mundo. Países até então em guerra, passaram a colaborar e buscar soluções para as reconstruções econômicas, sociais e políticas da Europa. Isto levou a criação da Comunidade Européia, cujo fruto mais recente foi a introdução de uma moeda única, o euro. O Plano Marshall custou aos Estados Unidos menos de 3% do PIB de então a cada ano de sua vigência. Um custo relativamente pequeno para o sucesso conseguido.

Assim, a idéia de um fundo mundial para combater o HIV/AIDS é importante porque potencialmente pode ter um caráter transformador para a epidemia, e minorando de maneira significativa as dívidas sociais com milhões de pessoas carentes de atendimento especialmente na África. A questão é saber se o valor estimado para este fundo é suficiente diante das necessidades e do potencial que existe para criá-lo. Em estudo recente, o economista Jeffrey Sachs, da Universidade de Harvard, considera que se os Estados Unidos elevassem o valor de seu orçamento de ajuda de 0,1% para 0,2% do PIB, haveria mais US$ 10 bilhões disponíveis para serem alocados aos recursos de desenvolvimento, o que representaria US$3,70 por americano/ano. Se somarmos o potencial dos países membros do G-7, isto agregaria outros US$ 10 bilhões a cada ano.

É evidente que um fundo de saúde tomado de maneira isolada não tem sentido, como não têm sentido políticas de saúde desvinculadas de políticas sociais e econômicas. Assim, este fundo poderia ter cláusulas de contrapartida por parte das nações interessadas, como existe em inúmeros instrumentos de recursos para o desenvolvimento, multiplicando os valores disponíveis. Neste sentido, o simples fato da ONU levantar essa bandeira, embora de valor tímido, certamente traz um momento auspicioso para se iniciar esta discussão.

MARCOS KISIL

Referências

1. WHO,Deptarment of HIV/AIDS. New Epidemiological Fact Sheets; 2002.

2. Annan Kofi A. No letting up on AIDS. Washington Post, Thursday 29 November 2001.

3. The Marshall Plan and the Future of US-European Relations. German Information Center. Available on: http://www.usaid.gov/multimedia/video/marshall.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Mar 2006
  • Data do Fascículo
    Set 2002
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