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Erradicação do Helicobacter pylori não traz benefício para pacientes com dispepsia não-ulcerosa

Panorama Internacional

Clínica Médica

ERRADICAÇÃO DO HELICOBACTER PYLORI NÃO TRAZ BENEFÍCIO PARA PACIENTES COM DISPEPSIA NÃO-ULCEROSA

Talley et al. relatam que a cura da infecção pelo H. pylori não aliviou sintomas em pacientes com dispepsia não-ulcerosa. Foram abalisados pacientes norte-americanos portadores do H. pylori e com dispesia não-ulcerosa, em estudo randomizado, duplo-cego e placebo-controlado. Os critérios de inclusão foram queixa principal de dor e/ou desconforto no abdomem superior, com duração mínima de três dias na semana anterior à randomização e endoscopia digestiva alta normal. Os critérios de exclusão foram: sintomas predominantemente de pirose ou da síndrome do intestino irritável; história de úlcera péptica ou de refluxo gastro-esofágico (endoscopia ou pHmetria de 24 horas); medicação anti-H2, pró-cinética ou prostaglandina nos sete dias anteriores à inclusão; medicação com inibidor de bomba protônica, antibiótico, bismuto nos 30 dias anteriores à inclusão.

O diagnóstico de infecção pelo H. pylori foi realizado com o teste da C-uréia13; fragmentos de biópsia obtidos durante endoscopia foram examinados para diagnóstico histológico de gastrite ativa ou crônica. Os pacientes foram randomizados para receberem duas vezes ao dia, durante 14 dias: omeprazol 20 mg, 1000 mg de amoxicilina e 500 mg de claritromicina (170 pacientes) ou placebos de mesma aparência que os medicamentos (167 pacientes).

Os pacientes retornaram 4 e 6 semanas e 3, 6, 9 e 12 meses após o final da medicação. Se após 12 meses o teste respiratório e/ou a análise histológica fossem positivos, o paciente foi considerado H. pylori positivo; com ambos negativos, o paciente foi considerado livre da bactéria. Os sintomas de dispepsia e a qualidade de vida foram avaliados durante o período do estudo.

A erradicação do H. pylori foi de 90% no grupo tratado e de 2% no grupo placebo, após 4 a 6 semanas. Aos 12 meses o tratamento foi considerado bem sucedido em relação à sintomatologia em 46% dos pacientes do grupo tratado e em 50% dos pacientes do grupo placebo, isto é, não houve diferença entre os dois grupos. Não houve também diferença em relação à sintomatologia entre os pacientes H. pylori positivos (49% com alívio dos sintomas) e negativos (48% com alívio dos sintomas). O sucesso no tratamento dos sintomas também não foi diferente quando os pacientes foram estratificados de acordo com o tipo de dispepsia (úlcera-símile, refluxo-símile ou dismotilidade-símile). Não houve ainda correlação entre sucesso no tratamento dos sintomas e melhora histológica da gastrite crônica.

Comentário

É consensual a importância do H. pylori na gênese da gastrite e da úlcera péptica, assim como a necessidade de erradicar a bactéria nos portadores destas duas doenças. A dispepsia dita funcional pode ser classificada, dependendo da sintomatologia predominente nos tipos: refluxo gastroesofágico, úlcera péptica, dismotilidade ou "essencial". O trabalho agora resumido reforça consenso de 1994, realizado no National Institute Health (USA), que não recomendou o tratamento do H. pylori em pacientes com dispepsia não-ulcerosa.

DURVAL ROSA BORGES

Referência

Talley NJ, Vakil N, Ballard ED, Fennerty MB. Absence of benefit of erradicating Helicobacter pylori in patients with nonulcer dyspepsia. N Engl J Med 1999; 341:1106-11.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Nov 2001
  • Data do Fascículo
    Set 2001
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