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Infusão de proteína C ativada recombinante humana diminui mortalidade em pacientes com sepse grave

Panorama Internacional

Medicina Baseada em Evidência

INFUSÃO DE PROTEÍNA C ATIVADA RECOMBINANTE HUMANA DIMINUI MORTALIDADE EM PACIENTES COM SEPSE GRAVE

A taxa de mortalidade associada à sepse grave varia entre 30 e 50% e o principal evento clínico responsável por esta evolução desfavorável é a síndrome da disfunção de múltiplos órgãos. Do ponto de vista fisiopatológico, resposta inflamatória generalizada e trombose na microcirculação estão intimamente relacionadas entre si e levam à disfunção orgânica. Proteína C ativada é um importante modulador da coagulação e da inflamação por se tratar de um agente anticoagulante, pró-fibrinolítico e antiinflamatório. Além disso, níveis séricos reduzidos de proteína C em pacientes sépticos estão associados a mau prognóstico.

O presente estudo (fase III) avaliou a eficácia da infusão de proteína C ativada recombinante humana (rhAPC) em pacientes com sepse grave e choque séptico. Foram estudados prospectivamente 1690 pacientes (840 no grupo placebo e 850 no grupo tratamento). Características demográficas e de gravidade foram similares entre os grupos. O estudo foi interrompido uma que vez que houve uma redução significativa da taxa de mortalidade no 28o dia (259/840 mortes no grupo placebo contra 210/850 no grupo rhAPC, p = 0,005). Estes dados conferem uma redução no risco relativo de morte de 19,4% (IC 95%, 6,6 a 30,5) ou uma vida seria salva a cada 16 pacientes tratados. Do ponto de vista de complicações associadas ao tratamento, houve um aumento da incidência de sangramentos no grupo rhAPC (3,5% vs 2,0%).

Comentário

Nenhum estudo clínico prévio a este, envolvendo modulação da resposta inflamatória, foi capaz de demonstrar redução significativa das taxas de mortalidade de pacientes com sepse grave ou choque séptico. Este estudo demonstrou que infusão de rhAPC diminuiu os níveis séricos de IL-6 e dímero-D, comprovando suas atividades antiinflamatória e anticoagulante. Além disso, apresentou um perfil aceitável de uso clínico, uma vez que os efeitos colaterais não foram graves o suficiente para diminuir a eficácia da droga. Chama a atenção ainda uma queda expressiva do risco relativo de morte (19,6%) e, comparativamente a outros estudos, o número necessário para tratar (NNT) é bastante baixo. Nos próximos meses iniciará no Brasil o estudo aberto fase IIIb, com objetivo de ampliar a experiência clínica com o uso da droga e avaliar melhor seus efeitos colaterais. Sem dúvida, estamos diante de um marco histórico da terapia anti-sepse.

ELIÉZER SILVA

Referência

Gordon R. Bernard, Jean-Louis Vincent, Pierre-Francois Laterre et al. Efficacy and Safety of Recombinant Human Activated Protein C for Severe Sepsis. N Engl J Med 2001;344:699-709.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jul 2001
  • Data do Fascículo
    Jun 2001
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