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Ácidos graxos poliinsaturados em pacientes com insuficiência cardíaca crônica

PANORAMA INTERNACIONAL

CARDIOLOGIA

Ácidos graxos poliinsaturados em pacientes com insuficiência cardíaca crônica

Silvia Moreira Ayoub FerreiraI; Victor Sarli IssaII; Edimar Alcides BocchiIII

IMédica da Unidade de Insuficiência Cardíaca e Transplante Cardíaco do Instituto do Coração (InCor) HC FMUSP, São Paulo,SP

IIMédico da Unidade de Insuficiência Cardíaca e Transplante Cardíaco do Instituto do Coração (InCor) HC FMUSP, São Paulo,SP

IIIProfessor Doutor - Diretor da Unidade de Insuficiência Cardíaca e Transplante Cardíaco do Instituto do Coração (InCor) HC FMUSP, São Paulo,SP

Correspondência Correspondência: Rua Dr. Eneas de Carvalho Aguiar, 44 CEP 043700-000 São Paulo, SP

O grupo de estudos italiano GISSI (Gruppo Italiano per lo Studio della Sopravvivenza nell´Infarto miocárdico) publicou estudo1 a respeito dos efeitos da administração de ácidos graxos poliinsaturados em pacientes com insuficiência cardíaca crônica. Tratou-se de estudo randomisado, duplo-cego e controlado por placebo realizado em 357 centros da Itália. Foram selecionados aleatoriamente pacientes com insuficiência cardíaca crônica (classe funcional NYHA II-IV) para receber 1g/ dia de ácidos graxos poliinsaturados (3.494 pacientes) ou placebo (3.481 pacientes). Os pacientes foram seguidos em média por 3,9 anos e os desfechos estudados foram o intervalo de tempo até o óbito e ou internação. A análise foi feita levando-se em conta a intenção de tratamento.

No grupo de pacientes que recebeu ácidos graxos poliinsaturados houve 955 (27%) de óbitos em comparação a 1014 (29%) no grupo placebo - p 0,041; 1981 (57%) pacientes que receberam ácidos graxos poliinsaturados e 2053 (59%) que receberam placebo morreram ou foram internados - p 0,009. No total, 56 pacientes tiveram que ser tratados por 3,9 anos para que uma morte fosse evitada. A ocorrência de efeitos colaterais foi similar nos grupos.

Os autores concluem que o tratamento com ácidos graxos poliinsaturados pode adicionar um discreto benefício em termos de prevenção de morte e de reinternações em pacientes com insuficiência cardíaca crônica.

Comentário

O uso terapêutico de ácidos graxos poliinsaturados tem despertado interesse da comunidade médica. No caso da doença arterial coronariana, o GISSI-Prevenzione trial mostrou que a administração de ácidos graxos poliinsaturados em sobreviventes de um infarto agudo do miocárdio reduziu em 21% a mortalidade total2.

A proposição do uso de ácidos graxos poliinsaturados em portadores de insuficiência cardíaca se baseia em evidências de efeitos antiarrítmicos e pleiotrópicos deste fármaco3,4.

Neste estudo, o benefício do uso de ácidos graxos poliinsaturados em pacientes com insuficiência cardíaca crônica foi modesto (redução de 9% no risco de morte por qualquer causa), porém aditivo ao tratamento padrão da insuficiência cardíaca. Além disso, a terapia foi segura e bem tolerada. Algumas questões quanto à melhor dose e formulação dos ácidos graxos poliinsaturados ainda carecem de resposta.

  • 1. GISSI-HF Investigators. Effect of n-3 polyunsaturated fatty acids in patients with chronic heart failure (the GSSI-HF Trial): a randomized, double-blind, placebo-controlled trial. Lancet. 2008; 372:1223-30.
  • 2. Gruppo Italiano per lo Studio della Sopravvivenza nell'Infarto miocardico. Dietary supplementation with n-3 polyunsaturated fatty acids and vitamin E after myocardial infarction: results of the GISSI-Prevenzione trial. Lancet. 1999;354:447-55.
  • 3. Marchioli R, Barzi F, Bomba E, Chieffo C, Di Gregorio D, Di Mascio R, et al. Early protection against sudden death by n-3 polyunsaturated fatty acids after myocardial infarction: time-course analysis of the results of the Gruppo Italiano per lo Studio della Sopravvivenza nell'Infarto Miocardico (GISSI)-Prevenzione. Circulation. 2002;105:1897-903.
  • 4. Demaison L, Moreau D. Dietary n-3 polyunsaturated fatty acids and coronary heart disease-related mortality: a possible mechanism of action. Cell Mol Life Sci. 2002;59:463-77.
  • Correspondência:
    Rua Dr. Eneas de Carvalho Aguiar, 44
    CEP 043700-000
    São Paulo, SP
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      29 Maio 2009
    • Data do Fascículo
      2009
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