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Diretrizes para o trauma geriátrico

DIRETRIZES EM FOCO

MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS

Diretrizes para o trauma geriátrico

Luiz Francisco Poli de Figueiredo

O grupo da Eastern Association for the Surgery of Trauma (EAST) apresenta uma extensa revisão da literatura como base para a formulação de diretrizes para o manejo do idoso traumatizado. A idade avançada é um fator de risco para maior morbidade e mortalidade pós-traumática. Não se sabe, entretanto, se isso ocorre por uma reserva fisiológica mais limitada, melhores condições médicas preexistentes ou outros fatores ainda não determinados.

A EAST desenvolveu estas diretrizes para fornecer algumas recomendações baseadas em evidências que poderiam auxiliar o idoso traumatizado. Sete perguntas foram inicialmente formuladas e extensivamente revisadas na literatura: 1) A idade é um marcador de morbidade/mortalidade aumentada? Se sim, qual idade deveria ser utilizada? 2) A idade é um marcador de doenças preexistetes? Se sim, quais as condições particularmente preditivas de má evolução? 3) Deveria ser a idade um critério para triagem e encaminhamento direto para um centro terciário de trauma independente das diversas escalas de trauma? Se sim, qual a idade a ser usada? 4) Os centros especializados em trauma têm melhores resultados no trauma geriátrico do que hospitais gerais? 5) Há lesões específicas ou escores ou combinações de doenças preexistentes e idades específicas de alta mortalidade que resultariam na conduta conservadora, não agressiva destes pacientes? 6) Quais as metas da resuscitação deveriam ser usadas no trauma geriátrico? 7) Deveriam todos os idosos traumatizados receberem monitorização hemodinâmica invasiva? Se sim, quais os tipos de monitorização? Se não, quais os pacientes que se beneficiariam da monitorização invasiva?

Como quase toda a literatura disponível do trauma, respostas a estas perguntas baseadas em evidências são muito difíceis de obter, com raríssimos estudos prospectivos e controlados. Ainda, a falta de uniformidade, tanto na definição de idoso quanto nos critérios de inclusão, compromete sobremaneira que haja resposta adequada aos questionamentos.

Esta revisão indica que o choque, a insuficiência respiratória, o menor escore de trauma (TS) , o maior escore de gravidade de lesão (ISS), maior déficit de base e complicações infecciosas comprometem sobremaneira o idoso quando comparado aos pacientes mais jovens. O idoso politraumatizado aparentemente estável freqüentemente apresenta déficits de perfusão profundos por baixo débito cardíaco. O uso de monitorização invasiva mais precocemente e o tratamento baseado em dados fisiológicos, incluindo o déficit de base poderia melhorar a sobrevida. Ainda, o tratamento agressivo do idoso, pode muitas vezes resgatar a independência funcional pré-trauma. Os efeitos de drogas como beta-bloqueadores, que melhoram a sobrevida de idosos no pós-operatório de cirurgia geral, são amplamente desconhecidos no trauma.

Comentário

Apesar da falta de estudos prospectivos e das limitações apresentadas nos estudos de idosos traumatizados, esta revisão muito extensa permite ao médico generalista compreender melhor o trauma geriátrico e permite a formulação de diretrizes bastante úteis, principalmente com relação a triagem do idoso traumatizado e diretrizes para a ressuscitação. O trauma continua sendo neglicenciado como uma doença epidêmica, mortal, evitável e que carece de financiamento e pesquisa de qualidade para a prevenção e tratamento.

Referência

Jacobs DG et al. Practice management guidelines for geriatric trauma: the East practice management guidelines work group. J Trauma 2003; 54(2):391-416.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Abr 2003
  • Data do Fascículo
    Jan 2003
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