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Como reconhecer a síndrome compartimental abdominal pós-traumática?

À beira do leito

Medicina Baseada em Evidências

COMO RECONHECER A SÍNDROME COMPARTIMENTAL ABDOMINAL PÓS-TRAUMÁTICA?

A cavidade abdominal é um compartimento com complacência limitada. Vítimas de trauma abdominal grave, principalmente os submetidos a laparotomia abreviada, com hipotermia, acidose e coagulopatia, freqüentemente apresentam aumento continuado da pressão intra-abdominal. A síndrome compartimental abdominal (SCA) pode ser facilmente reconhecida pela presença de um abdomen tenso, picos elevados das pressões de vias aéreas, ventilação inadequada, hipoxemia e oligúria.

Como esta apresentação é relativamente inespecífica, o diagnóstico pode ser prontamente confirmado pela medida da pressão intra-abdominal. Devem ser injetados, através da sonda de Foley, 100 ml de soro fisiológico na bexiga. O tubo conectado à bolsa coletora de urina é pinçado. Uma agulha de 16F é introduzida na luz do coletor de amostras e conectada a um transdutor de pressão que permite estimar a pressão na cavidade abdominal. A pressão intra-abdominal é normalmente inferior a 10 mmHg. Com níveis de pressão entre 10 e 15 mmHg, discretas alterações já podem ser detectadas, incluindo aumentos da pré-carga e do débito cardíaco.

Entretanto, o débito urinário e a perfusão esplâncnica já podem estar discretamente reduzidos. Entre 16 e 30 mmHg ocorre redução do retorno venoso e queda do débito cardíaco, oligúria, isquemia intestinal e hepática, aumento progressivo da pressão nas vias aéreas, hipoxemia e hipercarbia. Níveis acima de 30 mmHg exigem intervenção imediata, pois promovem reduções acentuadas do retorno venoso, da contratilidade miocárdica e débito cardíaco, comprometendo ainda mais a perfusão renal, intestinal e hepática

Outras conseqüências da hipertensão intra-abdominal incluem atelectasia pulmonar, retenção de sódio, aumento da pressão intra-craniana e diminuição da perfusão da parede abdominal predispondo à complicações locais. A perfusão intestinal e hepática também comprometidas pela instabilidade hemodinâmica e ventilatória, desencadeiam a resposta inflamatória sistêmica, intimamente associada a disfunção de múltiplos órgãos. Este ciclo vicioso deve ser rapidamente interrompido pela exploração e abertura da cavidade abdominal. A maioria destas alterações é prontamente revertida a não ser nos casos em que o tratamento foi tardio. A restauração da volemia, a prevenção da hipotermia, a correção da coagulopatia e dos distúrbios metabólicos devem ser simultâneos. O abdomen não deve ser fechado sob tensão. Os bordos da incisão são temporariamente suturados com telas ou bolsas que cobrem as vísceras e impedem a hipertensão intra-abdominal. O fechamento definitivo da laparotomia é possível quando o paciente está adequadamente ressuscitado, o edema visceral marcadamente reduzido e as funções dos diversos órgãos e tecidos restabelecidas. A sobrevida nestas circunstâncias ideais pode chegar a 60%. O prognóstico é sombrio nos casos de diagnóstico e tratamento tardios.

LUIZ FRANCISCO POLI DE FIGUEIREDO

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jul 2001
  • Data do Fascículo
    Jun 2001
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