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Gasto, acesso e condições de saúde: tendências nos países da OCDE

Panorama Internacional

Economia da Saúde

GASTO, ACESSO E CONDIÇÕES DE SAÚDE: TENDÊNCIAS NOS PAÍSES DA OCDE

Em interessante artigo, Anderson & Poullier comparam os níveis de gasto em saúde, de acesso a serviços e as condições de saúde dos países da OCDE. Em 1997 os EUA continuaram sendo o líder de gasto per capita em saúde: nada menos que US$ 3.925 (13,5% do PIB), enquanto a média observada nos países da OCDE foi de US$ 1.728 per capita, o qual representou 7,5% do PIB desses países. De 1990 a 1997 o gasto per capita em saúde norte-americano cresceu a uma taxa de mais de 4% ao ano, bem superior à dos países da OCDE (3,8% anual).

Paralelamente a isso, é nos EUA que se encontram os menores tempos de permanência nas internações hospitalares (hoje fortemente controlados através dos esquemas de managed care), aliados, entretanto, aos maiores custos de internação por dia.

Note-se que, em que pese o nível de gasto exibido pelos EUA, seus indicadores sanitários estão abaixo da média dos países da OCDE: a mortalidade infantil é de 7,8 por mil, contra 5,8 por mil na média desses países; por sua vez, a expectativa de vida ao nascer de homens norte-americanos é de 72,7 anos e a das mulheres é de 79,4, enquanto na OCDE estas se situam, respectivamente, em 74,0 e 80,3 anos de vida. Outra diferença: é nos EUA que se encontra a menor porcentagem de população coberta por algum esquema público de proteção à saúde.

Comentário

O sistema de saúde norte-americano é, sem dúvida, o caso paradigmático do modelo de sistema de saúde baseado no seguro-saúde privado, tão ardorosamente defendido, a partir dos anos oitenta, por importantes atores sociais enquanto a panacéia para a reorganização da atenção da saúde.

Entretanto, como mostram os dados apresentados no artigo resenhado, os argumentos nos quais se sustentam essas propostas perdem força à luz dos problemas hoje enfrentados pelo sistema de saúde daquele país. No mercado da saúde atuam agentes com um poder de estabelecer preços que se afasta em muito do que ensinam os manuais de economia acerca dos mercados concorrenciais. Por outro lado, a liberdade de escolha é regida, fundamentalmente, pelo bolso do consumidor, o que determina profundas diferenças no acesso à atenção à saúde. Dessa forma, trata-se do sistema que exibe um maior gasto per capita dentre os países da OCDE e, ao mesmo tempo, taxas de cobertura e indicadores sanitários fortemente insatisfatórios. Uma vez que o Estado só cuida dos pobres (através do Programa MEDICAID), e dos aposentados (através do MEDICARE), estão fora do sistema de saúde as pessoas não suficientemente pobres para serem beneficiários do MEDICAID mas não suficientemente ricas para poderem adquirir individualmente um seguro privado de saúde e/ou empregadas em firmas de pequeno porte (bares, p.ex.), sem capacidade para oferecer aos seus funcionários planos de saúde abrangentes.

MARIA ALÍCIA DOMINGUEZ UGÁ

Referência

Anderson G, Poullier JP. Health spending, access and outcomes: trends in industrialized countries. Health Aff 1999; 18: 178-92.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Nov 2001
  • Data do Fascículo
    Set 2001
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