Acessibilidade / Reportar erro

Valor adicional do estudo dinâmico pós-contraste para detecção de pequeno tumor neuroendócrino do reto na ressonância magnética

Sr. Editor,

Homem de 70 anos, assintomático, submetido a colonoscopia de rastreio, na qual foi identificada lesão retal, subepitelial, confirmada pela ecoendoscopia (Figura 1A). Foi realizada ressonância magnética (RM), que não detectou a lesão com o protocolo habitual. O exame de RM foi complementado com estudo dinâmico, que permitiu a identificação de uma lesão medindo 5 mm, com realce precoce pelo meio de contraste, não identificada em fases mais tardias do estudo dinâmico (Figuras 1B e 1C). Posteriormente, foi realizada ressecção endoscópica diagnóstica e terapêutica (Figura 1D), com diagnóstico histopatológico de neoplasia neuroendócrina bem diferenciada.

Figura 1
A: Ecoendoscopia mostrando lesão localizada e restrita à submucosa (setas). RM 3,0 tesla pós-contraste com estudo dinâmico (B) mostrando pequena lesão parietal hipervascular em fase precoce (seta) e em fase mais tardia (C) mostrando que a lesão não é mais individualizada (seta). D: Escara resultante da ressecção.

Tumores neuroendócrinos podem ocorrer em diferentes órgãos e correspondem a 1,5% de todas as neoplasias gastrintestinais e pancreáticas(11 Chang S, Choi D, Lee SJ, et al. Neuroendocrine neoplasms of the gastrointestinal tract: classification, pathologic basis, and imaging features. Radiographics. 2007;27:1667-79.). No trato gastrintestinal, o reto é a segunda porção mais acometida, correspondendo a 21-27% dos casos(22 Sahani DV, Bonaffini PA, Fernández-Del Castillo C, et al. Gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors: role of imaging in diagnosis and management. Radiology. 2013;266:38-61.). A maioria é esporádico, mas até 25% pode vir associado a síndromes genéticas, como a neoplasia endócrina múltipla tipo 1, a neurofibromatose tipo 1, a doença de Von Hippel-Lindau e a esclerose tuberosa(33 Lawrence B, Gustafsson BI, Chan A, et al. The epidemiology of gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors. Endocrinol Metab Clin North Am. 2011;40:1-18.

4 Yao JC, Hassan M, Phan A, et al. One hundred years after "carcinoid": epidemiology of and prognostic factors for neuroendocrine tumors in 35,825 cases in the United States. J Clin Oncol. 2008;26:3063-72.
-55 Toumpanakis CG, Caplin ME. Molecular genetics of gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors. Am J Gastroenterol. 2008;103:729-32.). Podem produzir hormônios e aminas metabolicamente ativas, causando sintomas(55 Toumpanakis CG, Caplin ME. Molecular genetics of gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors. Am J Gastroenterol. 2008;103:729-32.). Os não funcionantes, que são os mais comuns, frequentemente se manifestam como doença localmente avançada ou como metástase (principalmente para fígado)(55 Toumpanakis CG, Caplin ME. Molecular genetics of gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors. Am J Gastroenterol. 2008;103:729-32.). O sistema de classificação de 2010 da Organização Mundial da Saúde utiliza aspectos histopatológicos para classificar as neoplasias neuroendócrinas em três categorias: neoplasia neuroendócrina, grau 1; neoplasia neuroendócrina, grau 2; e carcinoma neuroendócrino, grau 3. O primeiro demonstra comportamento benigno ou maligno incerto, o segundo mostra baixo grau de malignidade e o terceiro geralmente tem comportamento agressivo(66 Turaga KK, Kvols LK. Recent progress in the understanding, diagnosis, and treatment of gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors. CA Cancer J Clin. 2011;61:113-32.). A malignidade depende não apenas da classificação histológica, mas também do local de origem. A neoplasia localizada no reto possui bom prognóstico, sendo a maioria dos pacientes assintomática, representa lesão descoberta incidentalmente, tipicamente pequena (< 1 cm) e localizada em 82% dos casos no momento do diagnóstico, com metástase em apenas 2% dos menores que 2 cm e taxa de sobrevida em cinco anos de 88%(22 Sahani DV, Bonaffini PA, Fernández-Del Castillo C, et al. Gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors: role of imaging in diagnosis and management. Radiology. 2013;266:38-61.). Ecoendoscopia é o método ideal para avaliar a invasão da parede retal e os linfonodos regionais(77 Fujishima H, Misawa T, Maruoka A, et al. Rectal carcinoid tumor: endoscopic ultrasonographic detection and endoscopic removal. Eur J Radiol. 1993;16:198-200.). A RM vem sendo cada vez mais usada para avaliar a extensão tumoral e nodal(22 Sahani DV, Bonaffini PA, Fernández-Del Castillo C, et al. Gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors: role of imaging in diagnosis and management. Radiology. 2013;266:38-61.). Ressecção local é o tratamento ideal para lesões não invasivas menores que 2 cm, e cirurgia radical com ressecção dos linfonodos de drenagem, para as lesões invasivas ou maiores que 2,5 cm(88 Ruszniewski P, Delle Fave G, Cadiot G, et al. Well-differentiated gastric tumors/carcinomas. Neuroendocrinology. 2006;84:158-64.). Em caso de tumores metastáticos, terapias sistêmicas ou mesmo cirúrgicas são consideradas(22 Sahani DV, Bonaffini PA, Fernández-Del Castillo C, et al. Gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors: role of imaging in diagnosis and management. Radiology. 2013;266:38-61.).

O tumor neuroendócrino bem diferenciado do reto tem origem na muscular da mucosa ou submucosa, portanto, tem localização superficial ou padrão de crescimento intraluminal. Apresenta hipossinal em T1, hipersinal em T2 e realce homogêneo pelo meio de contraste. Por outro lado, o tumor neuroendócrino indiferenciado tem achados similares ao adenocarcinoma retal(99 Kim H, Kim JH, Lim JS, et al. MRI findings of rectal submucosal tumors. Korean J Radiol. 2011;12:487-98.).

Em conclusão, a inclusão do estudo dinâmico aumenta a sensibilidade da RM para detecção de tumores neuroendócrinos pequenos, podendo ser um método adicional para pesquisa de neuroendócrinos ocultos.

REFERENCES

  • 1
    Chang S, Choi D, Lee SJ, et al. Neuroendocrine neoplasms of the gastrointestinal tract: classification, pathologic basis, and imaging features. Radiographics. 2007;27:1667-79.
  • 2
    Sahani DV, Bonaffini PA, Fernández-Del Castillo C, et al. Gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors: role of imaging in diagnosis and management. Radiology. 2013;266:38-61.
  • 3
    Lawrence B, Gustafsson BI, Chan A, et al. The epidemiology of gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors. Endocrinol Metab Clin North Am. 2011;40:1-18.
  • 4
    Yao JC, Hassan M, Phan A, et al. One hundred years after "carcinoid": epidemiology of and prognostic factors for neuroendocrine tumors in 35,825 cases in the United States. J Clin Oncol. 2008;26:3063-72.
  • 5
    Toumpanakis CG, Caplin ME. Molecular genetics of gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors. Am J Gastroenterol. 2008;103:729-32.
  • 6
    Turaga KK, Kvols LK. Recent progress in the understanding, diagnosis, and treatment of gastroenteropancreatic neuroendocrine tumors. CA Cancer J Clin. 2011;61:113-32.
  • 7
    Fujishima H, Misawa T, Maruoka A, et al. Rectal carcinoid tumor: endoscopic ultrasonographic detection and endoscopic removal. Eur J Radiol. 1993;16:198-200.
  • 8
    Ruszniewski P, Delle Fave G, Cadiot G, et al. Well-differentiated gastric tumors/carcinomas. Neuroendocrinology. 2006;84:158-64.
  • 9
    Kim H, Kim JH, Lim JS, et al. MRI findings of rectal submucosal tumors. Korean J Radiol. 2011;12:487-98.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Abr 2019
  • Data do Fascículo
    Mar-Apr 2019

Histórico

  • Recebido
    30 Ago 2017
  • Aceito
    03 Nov 2017
Publicação do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem Av. Paulista, 37 - 7º andar - conjunto 71, 01311-902 - São Paulo - SP, Tel.: +55 11 3372-4541, Fax: 3285-1690, Fax: +55 11 3285-1690 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: radiologiabrasileira@cbr.org.br