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Pielite enfisematosa unilateral: relato de caso

Resumos

Relata-se um caso de paciente de 22 anos de idade, gênero feminino, que foi admitida no pronto-socorro com lombalgia aguda, disúria, vômitos e febre (38,5ºC). Os achados de exames de urina e tomografia computadorizada demonstraram infecção no trato urinário associada a gás no sistema coletor, configurando pielite enfisematosa unilateral por Gram-negativo. O presente relato enfatiza a ocorrência deste agravo como complicação de infecção no trato urinário.

Pielite enfisematosa; Infecção urinária complicada; Tomografia computadorizada


The present report describes the case of a 22-year-old female patient admitted to the emergency room with acute low back pain, dysuria, vomiting and fever (38.5ºC). Urinalysis and computed tomography findings revealed urinary tract infection associated with presence of gas in the collecting system, characterizing unilateral emphysematous pyelitis caused by Gram-negative bacteria. The present case report emphasizes the occurrence of this disease as a urinary tract infection complication.

Emphysematous pyelitis; Complicated urinary tract infection; Computed tomography


RELATO DE CASO CASE REPORT

Pielite enfisematosa unilateral: relato de caso* * Trabalho realizado nas Faculdades Integradas Pitágoras (FIPMoc), Montes Claros, MG, Brasil.

Eduardo GonçalvesI; Bruna Tupinambá MaiaII; Camila Matos VersianiII; Cristiane Turano MotaIII; Augusto Gonçalves Santos FilhoIII

IMestre, Professor Assistente do Departamento da Saúde da Mulher e da Criança/CCBS/Unimontes e da Graduação em Medicina das Faculdades Integradas Pitágoras (FIPMoc), Montes Claros, MG, Brasil

IIGraduação em Medicina pelas Faculdades Integradas Pitágoras (FIPMoc), Montes Claros, MG, Brasil

IIIMembros Titulares do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), Radiologistas do Grupo Ressonar, Montes Claros, MG, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Bruna Tupinambá Maia Rua Doutor Veloso, 1018, ap. 502, Centro Montes Claros, MG, Brasil, 39400-074 E-mail: bruna.btm@hotmail.com

RESUMO

Relata-se um caso de paciente de 22 anos de idade, gênero feminino, que foi admitida no pronto-socorro com lombalgia aguda, disúria, vômitos e febre (38,5ºC). Os achados de exames de urina e tomografia computadorizada demonstraram infecção no trato urinário associada a gás no sistema coletor, configurando pielite enfisematosa unilateral por Gram-negativo. O presente relato enfatiza a ocorrência deste agravo como complicação de infecção no trato urinário.

Unitermos: Pielite enfisematosa; Infecção urinária complicada; Tomografia computadorizada.

INTRODUÇÃO

As infecções renais formadoras de gás são classificadas em dois grupos principais. No primeiro encontram-se as que envolvem apenas o sistema pielocalicinal - pielite enfisematosa -, enquanto o outro abrange injúrias do parênquima renal, poupando ou não o sistema coletor(1,2).

A pielite enfisematosa é uma condição benigna, possuindo menor taxa de mortalidade quando comparada à pielonefrite enfisematosa. Assim, a distinção entre elas é de grande importância, já que são relevantes as diferenças relacionadas ao prognóstico e ao manejo clínico de cada uma(3).

Segue-se a apresentação de um caso de pielite enfisematosa unilateral, documentado por tomografia computadorizada (TC) abdominal total e exames laboratoriais.

RELATO DO CASO

Paciente de 22 anos de idade, gênero feminino, foi admitida no pronto-atendimento hospitalar com dor lombar aguda à direita, disúria, calafrios, vômitos recorrentes, sem relação com alimentação, temperatura de 38,5ºC e plenitude vesical superior a três horas, seguida por micção de transbordamento de pequeno volume. Informava uso de norfloxacina (400 mg), ciprofloxacina (500 mg) e levofloxacina (500 mg) de 12 em 12 horas, como tratamento empírico para cistite.

Ao exame físico encontrava-se inquieta, orientada e afebril. Os dados vitais mostraram: frequência cardíaca de 78 bpm, frequência ventilatória de 17 irpm e pressão arterial de 100 × 70 mmHg. Os aparelhos cardiovascular, respiratório e digestório mostraram-se inalterados. Manobra de Giordano positiva.

Urocultura com antibiograma e urina rotina foram solicitados, evidenciando infecção do trato urinário pela bactéria Gram-negativa Escherichia coli (> 1.000.000 UFC). Foi demonstrada resistência a ácido nalidíxico, ampicilina, norfloxacina e ofloxacina.

A checagem laboratorial revelou ureia de 39 mg/dl, creatinina de 0,9 mg/dl e glicemia de 80 mg/dl. O global de leucócitos foi de 8.400 mm3, com 62% de neutrófilos, 29% de linfócitos e 6% de monócitos.

Foi realizada ainda TC de abdome total, na qual foi observado leve aumento das dimensões renais à direita, associado a dilatação pielocalicinal, inúmeros cálculos e focos aéreos nos cálices da pelve renal (Figura 1). Verificou-se também atraso da concentração e eliminação do produto de contraste, configurando aspecto de nefrograma estriado (Figura 2), bem como anomalia de rotação de ambos os rins (Figura 3). O rim esquerdo e os demais órgãos mostraram-se inalterados, porém a presença dos focos gasosos no sistema coletor direito configura pielite enfisematosa por germe Gram-negativo.




O tratamento instituído, via intravenosa, foi a antibioticoterapia com levofloxacina (500 mg) por cinco dias e, para alívio dos sintomas, N-butilescopolamina (20 mg). Ao quinto dia de internação, estando a paciente clinicamente estável e assintomática, recebeu alta hospitalar. Foi prescrita manutenção do tratamento antimicrobiano pelos sete dias subsequentes, por via oral. Para confirmação diagnóstica, após o 15º dia do início do tratamento foi realizada TC de prova. Esta evidenciou resolução significativa do processo enfisematoso (Figura 4).


DISCUSSÃO

A pielite enfisematosa é uma infecção rara do trato urinário por bactérias produtoras de gás. O quadro geralmente é benigno, podendo agravar-se em diagnósticos tardios, que favorecem o acometimento do parênquima renal(4). Costuma cursar com os mesmos sinais e sintomas das infecções do trato urinário, podendo ou não associar-se aos fenômenos obstrutivos. Destes, a principal causa é a litíase(2,5), presente na paciente em questão.

O diagnóstico de infecção do trato urinário baseia-se nos exames de urina rotina e urocultura, associados aos sintomas(4,6). Já para a identificação da sua variante enfisematosa, são necessários os métodos de imagem, principalmente a ultrassonografia (US) e a TC. A US pode ser enganosa e fornecer às coleções aéreas aparência de cálculos. No entanto, à análise cuidadosa verifica-se que a sombra acústica posterior produzida pelo gás é "suja", comparada à produzida pelas formações calculosas. Estas costumam produzir sombreamento forte e limpo(1,2,7).

A TC é o método de imagem de escolha para a detecção de focos aéreos nas vias urinárias, permitindo, ainda, melhor visualização de cálculos, obstruções e deformidades anatômicas. Ademais, é útil na diferenciação entre a pielite enfisematosa e a pielonefrite enfisematosa, já que o seguimento clínico e o prognóstico destas condições são diferentes(1,2,8).

Em conclusão, o presente relato destaca a ocorrência de pielite enfisematosa como possível evolução de uma infecção do trato urinário. Destaca-se ainda que, em conformidade com a literatura, a TC provou ser um bom método de imagem para investigar este agravo. Sendo assim, graças ao diagnóstico precoce é possível estabelecer uma conduta adequada, variando segundo a gravidade clínica do paciente, reduzindo a taxa de complicações e os óbitos decorrentes desta enfermidade.

Recebido para publicação em 13/9/2012.

Aceito, após revisão, em 5/11/2012.

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  • Endereço para correspondência:
    Bruna Tupinambá Maia
    Rua Doutor Veloso, 1018, ap. 502, Centro
    Montes Claros, MG, Brasil, 39400-074
    E-mail:
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    Trabalho realizado nas Faculdades Integradas Pitágoras (FIPMoc), Montes Claros, MG, Brasil.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Fev 2013
    • Data do Fascículo
      Fev 2013

    Histórico

    • Recebido
      13 Set 2012
    • Aceito
      05 Nov 2012
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