Open-access A versão global: um novo pilar na avaliação radiológica do risco de fraturas vertebrais

No dinâmico campo da radiologia médica, nossa missão vai além da mera identificação de achados anormais. Ela reside em fornecer informações diagnósticas que orientem decisões clínicas e, por fim, aprimorem a qualidade de vida de nossos pacientes.

A osteoporose, uma doença insidiosa que afeta milhões – predominantemente mulheres na pós-menopausa –, exemplifica essa responsabilidade. As fraturas vertebrais por fragilidade, sequelas devastadoras da osteoporose, não só provocam dor intensa e deformidades, mas também constituem um preditor robusto de morbidade e mortalidade. Globalmente, uma em cada três mulheres e um em cada cinco homens com mais de 50 anos de idade sofrem fraturas osteoporóticas em suas vidas(1).

A imagem diagnóstica, com sua capacidade singular de visualizar o esqueleto e suas complexas alterações, permanece como a pedra angular na detecção dessas fraturas e na avaliação de seu risco(2,3).

Embora a densitometria óssea (DMO) seja tradicionalmente a ferramenta primária para quantificar a perda óssea, a intrínseca complexidade biomecânica da coluna vertebral e a natureza multifatorial das fraturas por fragilidade clamam por uma abordagem mais holística. É nesse contexto que a análise do alinhamento sagital espinopélvico, acessível por meio de radiografias, emerge como um componente indispensável, enriquecendo a avaliação da DMO com uma perspectiva funcional e estrutural(3,4).

Nesse panorama de contínuo avanço diagnóstico, o artigo “Correlação entre o equilíbrio sagital espinopélvico e a presença de fraturas vertebrais em mulheres na pós-menopausa –, (5), publicado em nossa respeitada Radiologia Brasileira, surge como uma contribuição de valor. O estudo, cuidadosamente conduzido com 93 mulheres na pós-menopausa que apresentavam osteopenia ou osteoporose, detalha a análise de parâmetros espinopélvicos obtidos por radiografias panorâmicas da coluna e pelve. A descoberta central, de relevância, é a correlação estatisticamente significante entre a versão global (VG) e a presença de fraturas vertebrais. O dado de que “cada aumento de 1 grau na VG eleva a prevalência de fratura vertebral em 2,1%” ressalta este parâmetro como um indicador prognóstico independente e de utilidade clínica. A VG, ao integrar a retroversão pélvica e a anteversão do tronco, oferece uma medida robusta e abrangente do alinhamento global. Contudo, é fundamental reconhecer as limitações metodológicas do estudo, como seu delineamento transversal, que impede inferências diretas de causalidade, e o foco restrito a uma população específica (mulheres com osteopenia/osteoporose, sem avaliação da compensação por membros inferiores ou inclusão de indivíduos com DMO normal).

Os resultados apresentados nesse estudo(5) pavimentam o caminho para desdobramentos promissores, tanto na literatura científica quanto na prática radiológica. A identificação da VG como um preditor de fraturas vertebrais sugere que sua mensuração poderia ser rotineiramente incorporada na avaliação de pacientes com osteoporose ou osteopenia, complementando o arsenal diagnóstico que inclui DMO e outros fatores de risco clínicos. É imperativo que os radiologistas se familiarizem com a técnica de mensuração da VG e sua interpretação. Além disso, o estudo destaca a necessidade de pesquisas longitudinais para acompanhar os pacientes ao longo do tempo, estabelecendo, de forma mais definitiva, a relação de causa e efeito entre as alterações da VG e a incidência de novas fraturas. A inclusão de uma coorte de indivíduos com DMO normal em futuros estudos, bem como a investigação da aplicabilidade desses achados a pacientes do sexo masculino e a outras populações, são passos essenciais para ampliar nosso entendimento, considerando o impacto global da osteoporose. Do ponto de vista tecnológico, a contínua evolução de sistemas de imagem, como o EOS – que oferece varreduras de corpo inteiro com baixa dose de radiação e a capacidade de visualizar mecanismos compensatórios –, promete uma era de diagnósticos ainda mais detalhados e personalizados. Ao integrarmos essa nova compreensão do equilíbrio sagital em nossa prática, não apenas elevamos nosso padrão diagnóstico, mas também fortalecemos o papel fundamental da radiologia na prevenção e no manejo eficaz das fraturas por fragilidade, contribuindo para uma medicina verdadeiramente mais preditiva e preventiva.

Referências bibliográficas

  • 1 Morin SN, Leslie WD, Schousboe JT. Osteoporosis: a review. JAMA. 2025;334:894–907.
  • 2 Matsumoto K, Shah A, Kelkar A, et al. Sagittal imbalance may lead to higher risks of vertebral compression fractures and disc degeneration – a finite element analysis. World Neurosurg. 2022;167:e962–e971.
  • 3 Lee JH, Lee H, Gong HS. Spinal sagittal imbalance is associated with vertebral fracture without a definite history of falls: cross-sectional, comparative study of cohort with and without a distal radius fracture. J Bone Metab. 2023;30:339–46.
  • 4 Hu Z, Man GCW, Kwok AKL, et al. Global sagittal alignment in elderly patients with osteoporosis and its relationship with severity of vertebral fracture and quality of life. Arch Osteoporos. 2018;13:95.
  • 5 Savarese LG, Moritsugu OT, Oliveira LMC, et al. Correlação entre o equilíbrio sagital espinopélvico e a presença de fraturas vertebrais em mulheres na pós-menopausa. Radiol Bras. 2025;58:e20250037.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Dez 2025
  • Data do Fascículo
    2025
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