Resumo
Justificativa:
A cirurgia cardíaca pode produzir déficit persistente na razão entre oferta de oxigênio (DO2) e consumo de oxigênio (VO2). A Saturação venosa central de Oxigênio (SvcO2) é uma medida acessível e indireta da razão DO2/VO2.
Objetivo:
Monitorar a SvcO2 perioperatória e avaliar sua correlação com a mortalidade em cirurgia cardíaca.
Método:
Este estudo observacional prospectivo avaliou 273 pacientes submetidos a cirurgia cardíaca. Coletamos amostras de sangue para medir a SvcO2 em três momentos: T0 (após indução anestésica), T1 (final da cirurgia) e T2 (24 horas após a cirurgia). Os pacientes foram divididos em dois grupos (sobreviventes e não sobreviventes). Os seguintes desfechos foram analisados: mortalidade intra-hospitalar, tempo de permanência na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e de internação hospitalar, e variação na SvcO2.
Resultados:
Dos 273 pacientes, 251 (92%) sobreviveram e 22 (8%) não. Houve queda significante da SvcO2 perioperatória nos sobreviventes (T0 = 78% ± 8,1%, T1 = 75,4% ± 7,5% e T2 = 68,5% ± 9%; p < 0,001) e nos não sobreviventes (T0 = 74,4% ± 8,7%, T1 = 75,4% ± 7,7% e T2 = 66,7% ± 13,1%; p < 0,001). No T0, a porcentagem de pacientes com SvcO2 < 70% foi maior no grupo não sobrevivente (31,8% vs. 13,1%; p = 0,046) e a regressão logística múltipla mostrou que a SvcO2 é um fator de risco independente associado ao óbito, OR = 2,94 (95% IC 1,10 − 7,89) (p = 0,032). O tempo de permanência na UTI e de hospitalização foi de 3,6 ± 3,1 e 7,4 ± 6,0 dias, respectivamente, e não foi significantemente associado à SvcO2.
Conclusões:
Valores precoces de SvcO2 intraoperatória < 70% indicaram maior risco de óbito em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca. Observamos redução perioperatória da SvcO2, com altos níveis no intraoperatório e mais baixos no pós-operatório.
PALAVRAS-CHAVE
Procedimentos de cirurgia cardíaca; Mortalidade; Cuidado perioperatório; Análise de gases no sangue; Cateterismo venoso