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A pré-medicação com midazolam antes de secção cesariana não tem efeitos adversos no neonato* * Trabalho realizado na Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brasil.

Resumos

Como todos os pacientes cirúrgicos, pacientes obstétricas também sentem estresse e ansieda de operatórios. Isso pode ser prevenido se forem passadas à paciente informações detalhadas sobre sua operação e se forem administrados medicamentos farmacológicos pré-operatórios. Devido aos efeitos depressivos dos sedativos nos neonatos, os medicamentos farmacológicos são omitidos, especialmente em pacientes obstétricas. A literatura contém poucos estudos concernentes ao uso de midazolam no pré-operatório em pacientes de secção cesariana (C/S). Nosso objetivo nesse estudo foi ajudar nossas pacientes passando por cirurgia C/S. Um grupo agendado para C/S eletiva recebeu midazolam 0,025 mg kg−1 por via intraveno sa; o outro grupo recebeu salina. A ansiedade materna foi avaliada com o uso dos escores da Amsterdam Preoperative Anxiety and Information Scale (APAIS) (Escala de Ansiedade e Informação Pré-operatória de Amsterdam), e os neonatos foram avaliados por Apgar e pelo instrumento Neonatal Neurologic and Adaptive Capacity Score (NACS) (Escore Neurológico e de Capacidade Adaptativa do Neonato). Em conclusão, os pacientes pré-medicados com midazolam 0,025 mg kg−1 medicação tiveram escores de ansiedade significativamente baixos, sem qualquer efeito adverso nos neonatos. Portanto, midazolam pode, com segurança, ser utilizado como agente de pré-medicação na cirurgia C/S.

Secção cesariana; Neonato; Pré-medicação; Midazolam


Like all surgical patients, obstetric patients also feel operative stress and anxiety. This can be prevented by giving patients detailed information about their operation and with preoperative pharmacological medications. Because of depressive effects of sedatives on newborns, pharmacological medications are omitted, especially in obstetric patients. The literature contains few studies concerning preoperative midazolam use in Caesarian section (C/S) patients. Our aim in this study was to help patients undergoing C/S surgery. One group scheduled for elective C/S received midazolam 0.025 mg kg-1 intravenously, the other received saline. Maternal anxiety was evaluated using Amsterdam Preoperative Anxiety and Information Scale (APAIS) scores, and newborns were evaluated using Apgar and the Neonatal Neurologic and Adaptive Capacity Score (NACS). In conclusion, patients receiving midazolam 0.025 mg kg-1 as premedication had significantly low anxiety scores, without any adverse effects on the newborns. Midazolam can therefore safely be used as a premedicative agent in C/S surgery.

Cesarean section; Newborn; Premedication; Midazolam


Como todos los pacientes quirúrgicos, las pacientes obstétricas también sienten estrés y ansiedad operatorios. Eso puede prevenirse si se le transmiten a la paciente informaciones detalladas sobre su operación y si se administran medicamentos farmacológicos preoperatorios. Debido a los efectos depresivos de los sedativos de los neonatos, los medicamentos farmacológicos se omiten, especialmente en pacientes obstétricas. La literatura contiene pocos estudios concernientes al uso de midazolam en el preoperatorio en pacientes de sección de cesárea (C/S). Nuestro objetivo en ese estudio, fue ayudar a nuestras pacientes pasando por una cirugía C/S. Un grupo con cita para C/S electiva recibió midazolam 0,025 mg.kg-1 por vía intravenosa; el otro grupo recibió salina. La ansiedad materna se evaluó con el uso de las puntuaciones de la Amsterdam Preoperative Anxiety and Information Scale (APAIS) (Escala de Ansiedad e Información Preoperatoria de Ámsterdam), y los neonatos se evaluaron por APGAR y porel instrumento Neonatal Neurologic and Adaptive Capacity Score (NACS) (Puntuación Neurológica y de Capacidad Adaptativa del Neonato). Como colofón, podemos decir que los pacientes premedicados con midazolam con 0,025 mg.kg-1 de medicación, alcanzaron puntuaciones de ansiedad significativamente bajas, sin ningún efecto adverso en los neonatos. Por tanto, el midazolam puede ser utilizado con seguridad como un agente de premedicación en la cirugía C/S.

Sección cesárea; Neonato; Premedicación; Midazolam


Introdução

Ansiedade é uma reação natural, que tem origem como resposta à entrada em um ambiente diferente, por exemplo, uma sala de operação. Como todos os demais pacientes agendados para cirurgia, as pacientes obstétricas também podem sentir estresse e ansiedade operatórios, podendo evoluir para uma resposta de estresse autonômico em associação com essa eventualidade. Essa resposta de estresse leva à vasoconstrição nas artérias uterinas e pode causar angústia fetal.11. Erdem MK, Özgen S, Coşkun F, Obstetrik Anestezi ve, Analjezi, Kişnişçi H, Gökşin E, editors. Temel Kadin Hastaliklari ve Doğum Bilgisi. Ankara: Melisa Matbaacilik; 1996. p. 173-86.,22. Ralston DH, Shnider SM, deLorimier AA. Effects of equipotent ephedrine, metaraminol, mephentermin and methoxamine on uterine blood flow in the pregnant ewe. Anesthesiology. 1974;40:354. Essa situação pode ser prevenida; para tanto, devem ser fornecidas informações detalhadas à paciente sobre sua operação e devem ser administrados medicamentos farmacológicos pré-operatórios, por exemplo, benzodiazepínicos ou narcóticos. Devido aos efeitos depressivos dos sedativos nos neonatos, medicamentos farmacológicos são omitidos, especialmente em pacientes obstétricas. Já foram publicados muitos relatos de casos concernentes ao baixo tono muscular por ocasião do nascimento entre neonatos e mulheres grávidas medicadas com diazepam, especialmente nos anos de 1960.33. Atabey B. Cerrahi Hastanin Premedikasyonu. Morgan GE, Mikhail SM. Klinik Anesteziyoloji. Lange, 3rd edition. Güneş Kitabevi; 2004. 175-6.,44. Morgan GE, Mikhail SM. Maternal ve Fötal Fizyoloji ve Anestezi. Klinik Anesteziyoloji. Lange. 3rd edition Güneş Kitabevi; 2004. p. 804-16. Esses eventos resultaram em uma antipatia disseminada com relação aos benzodiazepínicos e, como resultado, a literatura sobre esse tópico é insuficiente. A literatura contém poucos estudos que tenham se debruçado sobre o uso de midazolam, um agente de ação rápida e curta, em pacientes de secção cesariana (C/S).

O objetivo desse estudo é determinar a capacidade da pré-medicação com midazolam em reduzir o estresse em pacientes obstétricas. Comparamos escores de ansiedade em pacientes obstétricas agendadas para cirurgia cesariana eletiva e que estavam sob anestesia regional.

Com esse estudo, pretendemos comparar escores de ansiedade em pacientes obstétricas agendadas para cirurgia cesariana eletiva com a técnica de anestesia regional em grupos sob sedação usando midazolam, ou sem sedação; também comparamos escores de Apgar e Neurologic and Adaptive Capacity Score (NACS) entre neonatos nesses grupos.55. Amiel-Tison C, Barrier G, Shnider SM, et al. A new neurologic and adaptive capacity scoring system for evaluating obstetric medications in full-term newborns. Anesthesiology. 1982;56:340-50.

Materiais e métodos

Realizamos esse estudo com 50 casos com idades entre 18 e 40 anos, indicados para cirurgia cesariana eletiva para seu primeiro bebê. As participantes foram antecipadamente informadas sobre o estudo e forneceram consentimento por escrito, tendo sido formados grupos American Society of Anesthesiologists (ASA) 1 e 2 depois da obtenção da aprovação pela Comissão Ética.

Os critérios de exclusão foram: casos não eletivos, gestações múltiplas, gestações prematuras, casos com anomalia fetal e atraso no desenvolvimento fetal, patologias que poderiam afetar o equilíbrio ácido-básico, pacientes com diabete melito, pacientes hipertensas, casos com complicações obstétricas (p.ex., hemorragia anteparto e malformações congênitas), bebês com peso ao nascer abaixo de 2.500 g ou em risco de aspiração de mecônio/líquido amniótico, e casos contraindicados para anestesia regional ou que recusaram essa técnica. Durante o estudo, excluímos quatro mulheres grávidas nas quais não foi possível fazer a anestesia espinhal, e um bebê com mecônio.

Alocamos randomicamente as pacientes em dois grupos de 25 membros cada. O primeiro grupo foi pré-medicado com midazolam 0,025 mg kg−1 iv (Grupo I), enquanto que o grupo de controle recebeu igual quantidade de salina (Grupo II) na enfermaria de espera 30 minutos antes da cirurgia.

Avaliamos a ansiedade das pacientes com a Escala de Ansiedade e Informação Pré-operatória de Amsterdam (APAIS, Amsterdam Preoperative Anxiety and Information Scale) e medimos o bem-estar dos neonatos utilizando as escalas Apgar e Escore Neurológico e de Capacidade Adaptativa do Neonato (NACS, Neonatal Neurologic and Adaptive Capacity Score). Visitamos as pacientes agendadas para cirurgia em seus quartos para avaliação com APAIS. Trata-se da Amsterdam Preoperative Anxiety Information Scale66. Moerman N, van Dam FS, Muller MJ, et al. The Amsterdam Preoperative Anxiety and Information Scale (APAIS). Anesth Analg. 1996;82:445-51. (fig. 1). Desenvolvida por um grupo holandês em 1996, APAIS contém seis perguntas relacionadas às preocupações e ansiedades das pacientes. Optamos pelo uso de APAIS para a análise objetiva da ansiedade em pacientes agendadas para cirurgia cesariana, visto ser instrumento de administração rápida e fácil.

Figura 1
Escala de Ansiedade e Informação Pré-operatória de Amsterdam.

No dia da cirurgia, administramos midazolam 0,025 mg kg−1 iv às pacientes do Grupo I na enfermaria de espera pré-operatória, por ocasião de sua chegada à suíte operatória para a cirurgia eletiva. As pacientes do Grupo II receberam igual volume de salina. Tanto midazolam como salina foram administrados pelo mesmo assistente de anestesia, que não faz parte do grupo de autores desse artigo. Cinco minutos depois, um pesquisador repetiu APAIS. Em seguida, as pacientes foram conduzidas à suíte operatória.

Trinta minutos antes da cirurgia, todas as pacientes receberam reposição com cristaloide 15 mL kg−1 por hora através de duas cânulas intravenosas #20 no dorso da mão ou na região antecubital. Aplicamos monitoração de rotina para pacientes conduzidas para cirurgia. Fizemos procedimentos não invasivos (tensão arterial, monitoração por ECG e oximetria de pulso) ao longo de toda a operação. Criamos condições para que todas as pacientes recebessem 2 L min−1 de oxigênio por máscara durante toda a cirurgia.

Para a anestesia espinhal, administramos 12,5 mg de levobupivacaína intratecal utilizando agulha espinhal 25-G com as pacientes em decúbito. Determinamos o nível de bloqueio sensitivo com os testes de quente-frio e da alfinetada. Depois de assegurado um nível suficiente de bloqueio sensitivo, iniciava-se a cirurgia. Em seguida à anestesia espinhal, mantivemos a pressão arterial sistólica acima de 90 mmHg. Administramos um bolo de 10 mg iv de efedrina para os casos que descessem abaixo desse nível.

Depois da remoção do bebê, fizemos um exame básico do neonato, registrando os escores Apgar nos minutos 1 e 5 (fig. 2). Em seguida aos cuidados básicos do neonato e à secção do cordão umbilical por clampeamento, medimos e registramos NACS no minuto 15 (fig. 3).

Figura 2
Escore de Apgar.
Figura 3
Escore Neurológico e de Capacidade Adaptativa do Neonato.

No pós-operatório, avaliamos as pacientes em termos de complicações: convulsões, náusea, vômito, vertigem, cefaleia, tremores, tinido nos ouvidos, confusão, gosto metálico na boca, prurido, alucinações ou depressão respiratória (frequência respiratória inferior a 10/min e SpO2 abaixo de 91%). As pacientes foram mantidas na sala de recuperação durante 30 min; em seguida, foram encaminhadas à enfermaria.

Analisamos a média e o desvião padrão dos dados demográficos pela aplicação do teste t. Analisamos a correlação entre os escores Apgar, APAIS e NACS aplicando o teste do qui-quadrado. Em seguida à análise, consideramos p < 0,05 como significativo; p > 0,05 foi considerado não significativo.

Resultados

A tabela 1 exibe os valores para peso, idade média e ASA das pacientes obstétricas. Determinamos que não há diferença significativa entre os grupos de pacientes em termos de idade (p = 0,93), peso (p = 0,54) ou ASA (p = 0,63). Os resultados de APAIS diferiram significativamente entre os dois grupos, mas não houve diferença entre os grupos para valores de Apgar ou NACS para neonatos (tabela 2).

Tabela 1
Valores de idade, peso e American Society of Anesthesiologists para os grupos
Tabela 2
Análises dos grupos pelos instrumentos Amsterdam Preoperative Anxiety and Information Scale, Apgar e Neonatal Neurologic and Adaptive Capacity Score

Discussão

Ansiedade é uma reação particularmente natural para indivíduos prestes a serem operados pela primeira vez. Contudo, a ansiedade pré-operatória leva a respostas fisiopatológicas no corpo. O sucesso de um procedimento cirúrgico depende de muitas variáveis somáticas e clínicas, entre as quais ocupa posição saliente o estado psicológico do paciente. Portanto, a ansiedade pré-operatória tem sido objeto de numerosas pesquisas.77. Janis IL. Psychological stress. Psychoanalytic and behavioral studies of surgical patients. New York: Academic Press; 1958.

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Os objetivos mais importantes na administração de pré-medicação pelo anestesiologista são a supressão dos sentimentos de medo e de ansiedade e o estabelecimento de um leve estado de sono e amnésia.1919. Ahmed A, Khan FA, Hussain A. Comparison of two sedation techniques in patients undergoing surgical procedures under regional anaesthesia. J Pak Med Assoc. 2007;57:548-52.

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-2222. Ibrahim AE, Taraday JK, Kharasch ED. Bispectral index monitoring during sedation with sevoflurane, midazolam, and propofol. Anesthesiology. 2001;95:1151-9. É provável que ocorram estados de ansiedade, por exemplo, preocupação com relação à anestesia e com o risco de morte, medo de que o bebê tenha algum defeito, medo da dor e preocupações com relação à perda do controle corporal em pacientes agendados para algum procedimento cirúrgico. Estudos informaram que 60%-80% dos pacientes ficam ansiosos no período pré-operatório.2323. Frolich MA, Burchfield DJ, Euliano TY, etal. Asingle dose of fentanyl and midazolam prior to Caesarean section have no adverse neonatal effects. Can J Anaesth. 2006;53:79-85.,2424. Badner NH, Nielson WR, Munk S, et al. Preoperative anxiety detection and contributing factors. Can Anaesth. 1990;37:444-7. O componente psicológico da pré-medicação está representado pela conversa do paciente com parentes antes da cirurgia e por sua preparação psicológica para a operação, ao receber informações sobre o procedimento. O componente farmacológico na pré-medicação envolve a superação da ansiedade com agentes farmacológicos e o estabelecimento da amnésia e da analgesia.2525. Lichtor LJ, Johanson CE, Mhoon D, et al. Preoperative anxiety, does anxiety level the afternoon before surgery predict anxiety level just before surgery? Anesthesiology. 1987;67:595-9.

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Embora a sedação tenha ampla gama de usos nos modernos procedimentos da anestesia regional, seu provável efeito depressivo no neonato em operações cesarianas explica seu uso raro ou inexistente. O papel da sedação é ainda mais importante em uma operação como a C/S, em que a ansiedade e o estresse pré-operatório da futura mamãe são consideráveis. A vasoconstrição se instala nas artérias uterinas como resultado do estresse que acomete a gestante e de sua resposta autônoma - podendo acarretar angústia fetal.

Midazolam is é um fármaco lipofílico, capaz de atravessar a placenta por difusão passiva. Em um estudo experimental com animais sobre o uso de midazolam na gestação, esse agente e seu metabólico 1-hidroximetil midazolam atravessaram a placenta, tendo sido medida a concentração plasmática. Estudos demonstraram a distribuição na circulação e a meia-vida de midazolam e de seus metabólitos, tanto na circulação materna como na circulação fetal.2828. Weis OF, Sriwatanakul K, Weintraub M, et al. Reduction of anxiety and postoperative analgesic requirements by audiovisual instruction. Lancet. 1983;1:43.

Kanto et al. administraram midazolam 0,075 mg/kg iv às mães em seguida à remoção do bebê por C/S realizada sob anestesia epidural; as pacientes foram excepcionalmente cooperativas, ao serem conduzidas à sala de recuperação.3131. Heyman HJ, Salem MR. Midazolam in obstetric anesthesia. Anesthesiology. 1987;67:443-4. Isso mostra a superioridade de midazolam como agente de ação rápida e de curta duração, em comparação com outros benzodiazepínicos.

Em um estudo sobre esse tópico, Frölich et al. administraram uma dose única de midazolam 0,02 mg/kg e fentanil 1 mcg/kg iv a pacientes em C/S. A medicação foi administrada antes da anestesia espinhal, durante a etapa de limpeza da pele. Esses autores informaram não ter havido diferença nos escores Apgar entre o grupo de controle e o grupo medicado com a combinação de midazolam e fentanil.1818. Rama-Maceiras P, Gomar C, Criado A, et al. [Sedation in surgical procedures using regional anesthesia in adult patients: results of a survey of Spanish anesthesiologists]. Rev Esp Anestesiol Reanim. 2008;55:217-26. Nesse estudo, a dose selecionada foi determinada como aquela que não acarretaria depressão materna e nem comprometeria a respiração, mas que teria efeito clínico na ansiedade.

A dose dos agentes farmacológicos utilizados e o momento de sua aplicação na pré-medicação são aspectos muito importantes. Por essa razão, administramos midazolam 0,025 mg kg−1 iv enquanto as pacientes estavam ainda na sala de espera da suíte operatória. Optamos por esse momento para que fosse suprimida a crescente ansiedade em mulheres grávidas - um grupo de pacientes com características especiais - antes de seu ingresso na suíte operatória. Acreditamos que o ponto fraco do estudo de 2006 de Frölich et al. foi que esses autores administraram fentanil e midazolam imediatamente antes do procedimento da anestesia espinhal. Planejamos nosso estudo com a intenção ter a possibilidade de administrar a pré-medicação de rotina em nossa clínica a esse grupo especial de pacientes, em que é muito intensa a emoção pré-cesariana. Além disso, determinamos que a dose selecionada no estudo de Frölich et al. (midazolam 0,02 mg kg−1 e fentanil 1 mcg kg−1) seria de tal ordem a não causar depressão materna ou comprometer a respiração, mas que ainda exerceria efeito clínico. Assim, selecionamos a dose de 0,025 mg kg−1, próxima à dose de Frölich et al. e que consideramos como efetiva em nossa própria prática clínica.

Em um estudo publicado por Fung et al. in 1992, os autores informaram que 90% das mães adormeceram antes da cirurgia com a administração de midazolam iv. com a finalidade de sedação em C/S realizadas sob anestesia espinhal. Os autores informaram ainda não terem observado diferença nessas operações entre escores Apgar dos neonatos e valores do pH da veia umbilical, em comparação com os valores do grupo de controle.2929. Fung BK, Gislefoss AJ, Ho ES. The sedative effect of intravenous injection of low dose midazolam during spinal anesthesia in cesarean section. Ma Zui Xue Za Zhi. 1992;30:159-62.

Foi informado que uma das principais razões para que a paciente decline a sedação antes da cirurgia cesariana sob anestesia regional é o desejo da mãe em ver seu bebê nascer, e lembrar desse momento.3030. Miller RD. Anesthesia: psychological preparation and preoperative medication. New York: Churchill-Livingstone; 1990. p. 895-928. A dose utilizada em nosso estudo foi considerada como capaz de atender a nossos critérios: não causar amnésia na mãe ou impedi-la de ver seu bebê nascer e de lembrar “esse momento”. Em 1987, Heyman e Salem recomendaram que a ansiedade nesse período poderia ser contornada conversando com a paciente e tocando música depois da extração do bebê, em vez de recorrer à administração de midazolam - com isso, poderiam ser evitadas as características amnésicas desse agente.3131. Heyman HJ, Salem MR. Midazolam in obstetric anesthesia. Anesthesiology. 1987;67:443-4. No entanto, essa estratégia não pretende reduzir a ansiedade pré-operatória da paciente. Em nossa opinião, consideramos mais válido que a ansiedade seja eliminada - ou pelo menos minimizada - durante o período em que a ansiedade está mais exacerbada (por ocasião da entrada na suíte operatória e antes do surgimento do bebê) e não durante o período subsequente ao surgimento do bebê, quando a mãe já estará emocionalmente relaxada.

Também lançamos mão do sistema Apgar de pontuação, outra área de avaliação frequentemente utilizada para determinar o bem-estar do neonato. Esse sistema de pontuação desenvolvido pela Dra. Virginia Apgar é método de fácil aplicação; Apgar sugere se o bebê precisa de ressuscitação ao nascer e como responderá aos esforços de ressuscitação; além disso, permite uma rápida avaliação do estado clínico do neonato.

Selecionamos o sistema de pontuação NACS para permitir a avaliação dos efeitos potenciais que podem surgir em um neonato exposto a qualquer agente farmacológico. Consideramos como apropriado para nosso estudo o escore NACS, um sistema de pontuação estabelecido com a finalidade de diferenciar a depressão do neonato dependente de opiato versus estados depressivos secundários como a asfixia. Contrariamente a estudos já publicados, essas avaliações demonstraram que a pré-medicação com midazolam não causa efeitos adversos nos neonatos.

A limitação de nosso estudo é o tamanho da amostra. Há necessidade de novos estudos com maior número de participantes; eles possibilitarão conclusões mais abalizadas com efeitos colaterais mínimos, mas com uma dose maior de midazolam.

Em conclusão, nossa opção pela dose de 0,025 mg kg−1 e o momento escolhido para administração de midazolam levaram à redução da ansiedade nas mães e não provocaram efeitos negativos observados nos neonatos.

Referências

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Feb 2014

Histórico

  • Recebido
    03 Ago 2012
  • Aceito
    27 Ago 2012
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