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Ocorrências novas de briófitas para o Brasil

Resumos

Os inventários florísticos de dois municípios no estado do Rio de Janeiro evidenciaram a presença de sete novas espécies de briófitas para o Brasil: Bryum renauldii Ren. & Card., Harpalejeunea uncinata Steph., Kymatocalyx dominicensis (Spruce) Váña, Lejeunea minutiloba Evans, Macrocoma frigidum (C. Müll.) Vitt, Pireella cymbifolia (Sull.) Card. e Tortula rhizophylla (Sak.) Iwats. & Saito e uma nova espécie para o estado do Rio de Janeiro, Lejeunea caespitosa Lindenb. ex G. L. & Nees, modificando mais uma vez os padrões de distribuição geográfica mundial das espécies de briófitas.

bryophytes


The floristic inventory of two municipalities located in the state of Rio de Janeiro has revealed seven new species of bryophytes for Brazil: Bryum renauldii Ren. & Card., Harpalejeunea uncinata Steph., Kymatocalyx dominicensis (Spruce) Váña, Lejeunea minutiloba Evans, Macrocoma frigidum (C. Müll.) Vitt, Pireella cymbifolia (Sull.) Card. and Tortula rhizophylla (Sak.) Iwats. & Saito and a new species from the state of Rio de Janeiro, Lejeunea caespitosa Lindenb. ex G. L. & Nees, thus once more modifying the worldwide range of species of bryophytes.

liverworts; mosses; geographical distribution


Ocorrências novas de briófitas para o Brasil

MARIA ISABEL M. N. DE OLIVEIRA E SILVA1 1 . Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rua São Francisco Xavier 524, Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha, 20550-013 Rio de Janeiro, RJ, Brasil. e OLGA YANO2 1 . Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rua São Francisco Xavier 524, Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha, 20550-013 Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

(recebido em 22/04/97; aceito em 20/01/98)

ABSTRACT - (New occurrences of bryophytes from Brazil). The floristic inventory of two municipalities located in the state of Rio de Janeiro has revealed seven new species of bryophytes for Brazil: Bryum renauldii Ren. & Card., Harpalejeunea uncinata Steph., Kymatocalyx dominicensis (Spruce) Váña, Lejeunea minutiloba Evans, Macrocoma frigidum (C. Müll.) Vitt, Pireella cymbifolia (Sull.) Card. and Tortula rhizophylla (Sak.) Iwats. & Saito and a new species from the state of Rio de Janeiro, Lejeunea caespitosa Lindenb. ex G. L. & Nees, thus once more modifying the worldwide range of species of bryophytes.

RESUMO - (Ocorrências novas de briófitas para o Brasil). Os inventários florísticos de dois municípios no estado do Rio de Janeiro evidenciaram a presença de sete novas espécies de briófitas para o Brasil: Bryum renauldii Ren. & Card., Harpalejeunea uncinata Steph., Kymatocalyx dominicensis (Spruce) Váña, Lejeunea minutiloba Evans, Macrocoma frigidum (C. Müll.) Vitt, Pireella cymbifolia (Sull.) Card. e Tortula rhizophylla (Sak.) Iwats. & Saito e uma nova espécie para o estado do Rio de Janeiro, Lejeunea caespitosa Lindenb. ex G. L. & Nees, modificando mais uma vez os padrões de distribuição geográfica mundial das espécies de briófitas.

Key words - bryophytes, liverworts, mosses, geographical distribution

Introdução

Neste trabalho são apresentados os primeiros resultados do levantamento da flora briofítica de duas áreas representativas de Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro.

A intensificação dos estudos de florística em briófitas tem demonstrado que muitos casos de disjunções existentes no momento (Pôrto & Yano 1985, Lisboa & Yano 1987, Yano et al. 1987, Gradstein et al. 1993, Lisboa 1993, 1994, Schäfer-Verwimp & Giancotti 1993, Costa & Yano 1996) e a ocorrência de espécies muitas vezes consideradas endêmicas (Oliveira e Silva & Feitosa 1997) correspondem, na verdade, à falta de coletas em diferentes ecossistemas.

Objetivando contribuir com a ampliação da distribuição geográfica mundial das briófitas, são apresentadas sete novas referências para o Brasil e uma para o estado do Rio de Janeiro, com base nos trabalhos de Yano (1981, 1984a, 1989, 1995, 1996).

Material e métodos

As briófitas foram coletadas no período de outubro de 1992 a maio de 1995, nas seguintes áreas de Mata Atlântica do estado do Rio de Janeiro: Reserva Ecológica de Rio das Pedras (RERP), município de Mangaratiba e Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG), município de Angra dos Reis, num total de 45 viagens. Os exemplares foram coletados aleatoriamente e preservados, seguindo-se a metodologia de Yano (1984b).

As lâminas utilizadas para a caracterização taxonômica foram montadas em solução de Hoyer (Schofield 1985), que permite a confecção de material semi-permanente, objetivando a formação de um laminário de referência.

A identificação foi feita com auxílio de chaves e bibliografia especializada (Evans 1903, Bartram 1949, Crum & Steere 1957, Florschütz 1964, Fulford 1976, Schuster 1980, Sharp et al. 1994). Exemplares de difícil delimitação específica foram enviados para especialistas a fim de terem confirmadas suas identificações. Os sistemas de classificação adotados basearam-se em Schuster (1984) para Hepaticopsida e Vitt (1984) para Bryopsida.

O material estudado está depositado nas coleções científicas do Departamento de Biologia Animal e Vegetal do Instituto de Biologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e no Herbário do Estado "Maria Eneyda P. Kaufmann Fidalgo", do Instituto de Botânica (SP).

Resultados e Discussão

Foram encontradas sete novas referências para o Brasil e uma nova para o estado do Rio de Janeiro, sendo quatro de Hepatophyta e quatro de Bryophyta, a maioria com distribuição neotropical e paleotropical.

As espécies com maior número de amostras coletadas são Lejeunea minutiloba Evans e Kymatocalyx dominicensis (Spruce) Váña, com 26 e 11 exemplares, respectivamente.

Kymatocalyx dominicensis (Spruce) Váña, Österr. Bot. Zeitschr. 118: 572. f. 15.1970.

Figuras 1-5.

Basiônimo: Jungermannia dominicensis Spruce, J. Linn. Soc. Bot. 30: 363. pl. 29, f. 1-3. 1895.

Tipo: República Dominicana, col. Elliott.

Gametófitos pequenos, verde-claros, prostrados, formando tapetes densos ou misturados entre outras briófitas. Caulídio prostrado aderido ao substrato por numerosos rizóides incolores. Filídios súcubos, inseridos obliquamente ou sub-transversalmente, distantes a sub-imbricados, ovais a elípticos, margem inteira emarginada. Células apicais 13 x 16 mm, sem trigônios. Anfigastros ausentes. Inflorescência feminina terminal, brácteas e bractéolas em três séries, sendo maiores que os filídios. Perianto longo, cilíndrico, plicado, abertura com margem crenulada.

Distribuição geográfica: Caribe (Fulford 1976).

Material estudado: Rio de Janeiro, município de Angra dos Reis, Ilha Grande, PEIG, trilha para Vila Dois Rios, sobre barranco e sobre pedra, úmido, M.I.M.N. Oliveira e Silva 1603 e 1610, 14-VI-1994 (UERJ 6029 e 4843); idem, M.I.M.N. Oliveira e Silva 2008, 16-VIII-1994 (UERJ 4844); idem, caminho para Palmas, sobre pedra, úmido, M.I.M.N. Oliveira e Silva 2054, 23-VIII-1994 (UERJ 4848); idem, caminho para Vila Dois Rios, sobre barranco, úmido, na sombra, 300 m alt., fértil, M.I.M.N. Oliveira e Silva 2369 e 2378, 23-X-1994 (UERJ 4847 e 4849); idem, sobre barranco, úmido, na sombra, 320 m alt., associada à Philonotis uncinata, M.I.M.N. Oliveira e Silva 2379 e 2380, 23-X-1994 (UERJ 4850 e 4850-A); idem, sobre barranco, na sombra, 160 m alt., associada à P. uncinata, col. M.I.M.N. Oliveira e Silva 2430, 23-X-1994 (UERJ 4845); idem, trilha para Vila Dois Rios, sobre barranco, fértil, sob luz, úmido, 210 m alt., M.I.M.N. Oliveira e Silva 3154, 23-X-1994 (UERJ 4846); idem, em barranco úmido na estrada ca. 220 m alt., O. Yano, M.I.M.N. Oliveira e Silva & M.H.P.B. Fonseca 23786, 21-III-1995 (SP 282128).

Os exemplares coletados demonstraram preferência por ambientes úmidos e sombreados, crescendo sobre barrancos, tendo sido encontrado também sobre pedra. Um exemplar com esporófito foi coletado em ambiente iluminado e muitos espécimes encontravam-se associados à Philonotis uncinata (Schwaegr.) Brid. Os exemplares só foram coletados na Ilha Grande, município de Angra dos Reis. Kymatocalyx dominicencis é muito semelhante à K. stoloniferus Herzog que caracteriza-se pela disposição longo-oblíqua dos filídios sub-rotundos e pela fusão das brácteas da inflorescência feminina (Fulford 1976).

Harpalejeunea uncinata Steph., Hedwigia 35: 97. 1896.

Figuras 6-10.


Figuras 1-5. Kymatocalyx dominicensis. 1. Aspecto geral do gametófito; 2. Filídio; 3. Perigônio; 4. Células da região mediana do filídio; 5. Células do bordo do filídio. Figuras 6-10. Harpalejeunea uncinata. 6. Aspecto geral do gametófito; 7. Células da região mediana do filídio; 8. Lóbulo; 9. Anfigastros; 10. Ápice do filídio.

Tipo: Luquilo Montains, col. Heller.

Gametófitos verde-claros a castanhos, formando filamentos prostrados. Caulídios rastejantes, frouxamente aderidos ao substrato, ramificados. Filídios contíguos a ligeiramente imbricados. Lobo falcado-ovalado, 300-360 x 200-250 mm, margem inteira; ápice abruptamente apiculado a cuspidado, terminando por uma fileira de 2-6 células. Lóbulo grande ovóide, inflado, 120-130 x 80-85 mm. Células retangulares a hexagonais, de parede reta, fina, 89 x 6-7 mm as marginais, 13-20 x 10-12 mm as centrais. Anfigastros pequenos, distantes uns dos outros, tão largos quanto o caulídio, 60 x 72 mm; ápice dos lóbulos arredondados e sinus em "V". Esporófito não observado.

Distribuição geográfica: Caribe (Evans 1903).

Material estudado: Rio de Janeiro, município de Mangaratiba, km 54 da rodovia Rio-Santos, RERP, associadas à Drepanolejeunea orthophylla e Aphanolejeunea diaphana, sobre folhas, M.I.M.N. Oliveira e Silva 911, 4-XI-1993 (UERJ 3949); idem, sobre árvore, sob luz, associada à Metzgeria albinea, Lejeunea glaucescens, Neckeropsis undulata e Calymperes afzelli, M.I.M.N. Oliveira e Silva 1359, 9-III-1994 (UERJ 2164); idem, município de Angra dos Reis, PEIG, trilha para Vila Dois Rios, sobre tronco, sob luz, úmido, 150 m alt., associada à Frullania brasiliensis, M.I.M.N. Oliveira e Silva 3139, 22-III-1995 (UERJ 3530).

Segundo Evans (1903), a espécie é corticícola; entretanto, nas áreas estudadas, além de dois exemplares sobre córtex associados à Lejeunea glaucescens Gott., Frullania brasiliensis Raddi, Neckeropsis undulata (Hedw.) Reichardt e Calymperes afzelli Sw., foi coletado um exemplar epífilo associado à Drepanolejeunea orthophylla (Nees & Mont.) Bischler e Aphanolejeunea diaphana (Evans) Schuster .

Lejeunea caespitosa Lindenb. ex G.L. & Nees, in G.L. & Nees, Syn. Hepat., 382. 1845.

Figuras 11-15.

Tipo: África (Promontoria Bonae Spei in South Africa).

Gametófitos pequenos, verde-claros, formando filamentos prostrados. Caulídio ramificado, formado por 7-8 células corticais e 3-4 células medulares de parede espessa em secção transversal. Filídios contíguos a imbricados, complanados, oblíquos a expandidos. Lobo ovalado, 102-123 x 73-94 mm; margem inteira; ápice obtuso. Lóbulos polimórficos, variando de reduzidos a ovalados inflados. Células hexagonais, 10,0-13,7 x 6,8-10,3 mm as marginais, 13,7-12,0 x 6,8-12,0 mm as centrais, sem trigônios, parede espessa. Anfigastros pequenos, distantes, 89 x 77 mm, com um sinus grande em forma de" U", merófito ventral com duas células de largura. Esporófito não observado.

Distribuição geográfica: África, Caribe e Estados Unidos da América - Florida (Schuster 1980); recentemente citada para São Paulo (Schäfer-Verwimp & Giancotti 1993).

Material estudado: Rio de Janeiro, município de Mangaratiba, km 54 da rodovia Rio-Santos, RERP, sobre folha, M.I.M.N. Oliveira e Silva 1295, 1-II-1994 (UERJ 6005-A); idem, município de Angra dos Reis, Ilha Grande, PEIG, trilha para o Pico do Papagaio, sobre árvore, úmido, na sombra, 280 m alt., M.I.M.N. Oliveira e Silva 1846, 12-VII-1994 (UERJ 6005); idem, sobre pedra, sob luz, úmido, 100 m alt., M.I.M.N. Oliveira e Silva 3008, 21-III-1995 (UERJ 6012); idem, sobre tronco de jaqueira, 50 m alt., O. Yano, M.I.M.N. Oliveira e Silva & M.H.P.B. Fonseca 23548, 21-III-1995 (SP 281922); idem, epífila de arbusto, O. Yano, M.I.M.N. Oliveira e Silva & M.H.P.B. Fonseca 23570, 21-III-1995 (SP 281941).

Segundo Schuster (1980), L. caespitosa é uma espécie corticícola e raramente epífila. Nos dois municípios de coleta foi possível constatar o crescimento de exemplares em ambiente úmido, sombrio, entre 50-280 m alt., e nos seguintes substratos: folhas vivas, córtex de árvores e sobre pedra. Schuster (1980) relata que L. caespitosa é uma espécie de morfologia muito variada e de difícil delimitação, sendo seu aspecto mais típico caracterizado por um anfigastro profundamente bífido com sinus largo, lobos estreitos com 2-4 células na base, 2-4 vezes mais longos que largos, um ou ambos os lados com 1 dente obtuso; lóbulos dos filídios polimórficos. Os materiais estudados apresentaram-se dentro desta delimitação.

Lejeunea minutiloba Evans, Bull. Torrey Bot. Club 44: 525. pl. 24. 1917.

Figuras 16-21.


Figuras 11-15. Lejeunea caespitosa. 11. Aspecto geral do gametófito; 12. Lóbulos; 13. Filídio; 14. Secção transversal do caulídio; 15. Anfigastro. Figuras 16-21. Lejeunea minutiloba. 16. Aspecto geral do gametófito; 17. Células da região mediana do filídio; 18. Células do bordo do filídio; 19. Anfigastro; 20. Lóbulo; 21. Secção transversal do caulídio.

Tipo: Crown, St. Thomas, Virgin Is., W.I. col. Britton & Marble 1365 (NY, Y).

Gametófitos pequenos, verde-claros, formando filamentos prostrados. Caulídio ramificado, formado por 7-8 células corticais e muitas células medulares de parede fina em seção transversal. Filídios contíguos a imbricados, complanados, oblíquos a expandidos. Lobo ovalado, 770 x 62 mm; margem inteira; ápice obtuso. Lóbulos muito pequenos em relação ao lobo, 66-67 x 180 mm. Células ovais a hexagonais, 29,0-39,4 x 25,0-36,0 mm as centrais, 13,7-29,0 x 13,7 mm as marginais, sem trigônios e com parede fina. Anfigastros pequenos, distantes, 150 x 171 mm; merófito ventral com duascélulas de largura. Esporófito não observado.

Distribuição geográfica: Caribe e sul dos Estados Unidos da América (Schuster 1980).

Material estudado: Rio de Janeiro, município de Mangaratiba, km 54 da rodovia Rio-Santos, RERP, sobre tronco caído, sombra, M.I.M.N. Oliveira e Silva 198, 25-III-1993 (UERJ 6081); idem, sobre casca de palmeira e caule de bananeira em decomposição, sobre frondes de pteridófitas e folhas de begônias, na sombra, úmido, M.I.M.N. Oliveira e Silva 305, 316 e 350, 15-IV-1993 (UERJ 3857, 3858 e 3824); idem, sobre folha e raiz em riacho, úmido, na sombra, M.I.M.N. Oliveira e Silva 499, 500 e 510, 27-V-1993 (UERJ 3859, 3860 e 3861); idem, sobre madeira de construção em decomposição, na sombra, úmido, M.I.M.N. Oliveira e Silva 557, 22-VII-1993 (UERJ 3862); idem, sobre tronco caído, na sombra, úmido, associada à Sematophyllum caespitosum, M.I.M.N. Oliveira e Silva 569-A, 5-VIII-1993 (UERJ 6084); idem, sobre folhas úmidas, ao sol, associada à Crossomitrium patrisiae, M.I.M.N. Oliveira e Silva 644, 5-VIII-1993 (UERJ 3863); idem, sobre cipó, úmido, na sombra, associada à S. caespitosum, M.I.M.N. Oliveira e Silva 650, 5-VIII-1993 (UERJ 3826); idem, sobre folha, úmido, associada à C. patrisiae e Metzgeria angusta, M.I.M.N. Oliveira e Silva 850, 21-X-1993 (UERJ 6091); idem, sobre árvore, na sombra, associada à S. caespitosum e Helicodontium capillare, M.I.M.N. Oliveira e Silva 1001, 18-XI-1993 (UERJ 6092); idem, sobre folha de Dorstenia sp. e sobre palmeira, M.I.M.N. Oliveira e Silva 1297, 1302, 1303 e 1337, 1-II-1994 (UERJ 6100, 3843, 3844 e 6105); idem, sobre pedra, seco, na sombra, 420 m alt., M.I.M.N. Oliveira e Silva 1512, 28-IV-1994 (UERJ 6004); idem, sobre tronco caído em decomposição, 245 m alt., M.I.M.N. Oliveira e Silva 1803, 23-VIII-1994 (UERJ 6115); município de Angra dos Reis, Ilha Grande, PEIG, caminho da praia das Palmas, sobre pedra, úmido, M.I.M.N. Oliveira e Silva 2057, 23-VIII-1994 (UERJ 6119); idem, sobre pteridófita, sombra, 180 m alt., associada à C. patrisiae, M.I.M.N. Oliveira e Silva 2026, 4-VIII-1994 (UERJ 3866); município de Mangaratiba, km 54 da rodovia Rio-Santos, RERP, sobre tronco em decomposição, úmido, 200 m alt., na sombra, M.I.M.N. Oliveira e Silva 2358, 6-X-1994 (UERJ 6138); município de Angra dos Reis, Ilha Grande, Freguesia de Santana, lado Sul, caminho para lagoa Azul, beira mar, sobre pedra, sob luz, seco, M.I.M.N. Oliveira e Silva 2705, 10-I-1995 (UERJ 6143); idem, lado Leste, sobre pedra, na sombra, 20 m alt., seco, M.I.M.N. Oliveira e Silva 2722, 10-I-1995 (UERJ 6144); idem, sobre tronco, seco, na sombra, 880 m alt., associada à Schlotheimia rugifolia, M.I.M.N. Oliveira e Silva 3120, 21-III-1995 (UERJ 6155); idem, sobre pedra, sob luz, cachoeira, 60 m alt., M.I.M.N. Oliveira e Silva 4152, 16-V-1995 (UERJ 3867).

Segundo Schuster (1980) a espécie ocorre sobre rochas, córtex, folhas e frondes de pteridófitas podendo estar associada, nesses diferentes substratos, a Lejeunea flava (Sw.) Nees, Caudalejeunea lehmanniana (Gott.) Evans, Aphanolejeunea sp., Cololejeunea sp., Rectolejeunea phyllobola (Nees & Mont.) Evans, Lopholejeunea subfusca (Nees) Schiffner e sobre troncos mortos associada à Lejeunea glaucescens Gott. podendo ser caracterizada pelos lóbulos vestigiais e anfigastros pequenos. O material estudado foi encontrado em diversos substratos tais como: troncos em decomposição, sendo esse o substrato de preferência; folhas de begônias e de Dorstenia sp.; fronde de pteridófitas; córtex vivo, estando aí associado à Sematophyllum caespitosum (Hedw.) Mitt. e Helicodontium capillare (Hedw.) Jaeg.; pedras; raízes e cipós. Exemplares coletados sobre folhas foram encontrados associados à Crossomitrium patrisiae (Brid.) C. Müll. e Metzgeria angusta Steph. A espécie cresce preferencialmente em ambientes úmidos e sombrios desde o nível do mar até 880 m alt.

Macrocoma frigidum (C. Müll.) Vitt, Revue Bryol. Lichénol. 39: 209. 1973.

Figuras 22-30.


Figuras 22-30. Macrocoma frigidum. 22. Aspecto geral do gametófito; 23. Ápice de ramo jovem seco; 24. Cápsula seca; 25. Cápsula; 26. Filídio; 27. Secção transversal do filídio; 28. Células da região apical do filídio; 29. Células das regiões mediana e marginal do filídio; 30. Células da região basal do filídio.

Basiônimo: Macromitrium frigidum C. Müll., Bot. Ztg 15: 579. 1859.

Tipo: Nova Granada, Prov. Rio Horcha, Sierra Nevada, col. Schlim (NY, holótipo).

Gametófitos delicados, 20 mm compr., verde-escuros, formando um tapete, as partes mais jovens verde-clara a verde-oliva. Caulídio rastejante, com ramos secundários eretos. Filídios eretos adpressos quando secos, eretos patentes quando úmidos, 1 mm compr., fortemente quilhados, oblongo-lanceolados a estreitamente ovalado-lanceolados; ápice agudo; costa percurrente, terminando logo abaixo do ápice; seção transversal do filídio com células mamilosas, arredondadas, 12,0 x 7,2 mm, tornando-se quadráticas próximo à margem; células da região basal arredondadas na margem e elípticas próximo à costa. Seta 4 mm compr.; cápsula 1,5 mm compr., oblonga a estreitamente ovóide, fortemente estriada.

Distribuição geográfica: Colômbia e México (Sharp et al. 1994).

Material estudado: Rio de Janeiro, município de Angra dos Reis, Ilha Grande, PEIG, trilha para Dois Rios, sobre árvore, seco, sombra, material fértil, M.I.M.N. Oliveira e Silva 1600, 14-VI-1994 (UERJ 1992); idem, PEIG, trilha para o Pico do Papagaio, sobre tronco de árvore, 910 m alt., M.I.M.N. Oliveira e Silva 1945, 12-VII-1994 (UERJ 2005); idem, PEIG, caminho para Lopes Mendes, sobre árvore, sombra, úmido, fértil, ao nível do mar, M.I.M.N. Oliveira e Silva 2954, 21-II-1995 (UERJ 1990).

A espécie foi coletada somente no PEIG, município de Angra dos Reis, crescendo sobre córtex de árvores vivas em ambientes seco ou úmido e sombrio, em altitudes variáveis, do nível do mar até 910 m. Caracteriza-se pelas células superiores mamilosas e cápsula fortemente estriada diferenciando-se de M. brasiliensis (C. Müll.) Vitt, que apresenta cápsula lisa a ligeiramente estriada (Sharp et al. 1994).

Bryum renauldii Ren. & Card., Bull. Soc. Roy. Bot. Belgique 38 (1): 13. 1900.

Figuras 31-36.

Tipo: Costa Rica, Sanchez prope San José (H, isótipo).

Gametófitos pequenos, verde-claros, 10 mm compr., formando tufos. Caulídio simples. Filídios dispostos espiraladamente no caulídio, distantes uns dos outros, dobrados a enrolados quando secos, sub-orbiculares; ápice obtuso a arredondado; base decurrente; margem inteira com células diferenciadas, alongadas, ligeiramente reflexa; costa percurrente; células superiores pequenas, 8,5-30,0 x 5,0-8,5 mm, rombóide-hexagonais a hexagonais de parede delgada; células basais maiores, retangulares, 25,0-54,0 x 8,5-17,0 mm. Esporófito não observado.

Distribuição geográfica: Costa Rica, Equador, Honduras e México (Sharp et al. 1994).

Material estudado: Rio de Janeiro, município de Angra dos Reis, Ilha Grande, PEIG, caminho da Parnaioca, sobre pedra, na margem de rio de água salobra, sob intensa luminosidade e umidade, ao nível do mar, M.I.M.N. Oliveira e Silva 4198, 16-V-1995 (UERJ 2383).

Material coletado sobre pedra, à beira de rio de água salobra, em ambiente ensolarado e úmido, ao nível do mar, recebendo borrifos de água salgada. A espécie apresenta um ápice obtuso muito característico, formado por um arranjo celular típico (figura 36).

Pireella cymbifolia (Sull.) Card., Revue Bryol. 40: 17. 1913.

Figuras 37-42.


Figuras 31-36. Bryum renauldii. 31. Aspecto geral do gametófito; 32-33. Filídios; 34. Células das regiões mediana e marginal do filídio; 35. Células da região basal do filídio; 36. Células da região apical do filídio. Figuras 37- 42. Pireella cymbifolia. 37. Aspecto geral do gametófito; 38-39. Filídios; 40. Células da região apical do filídio; 41. Células da região mediana do filídio; 42. Células da região basal do filídio.

Basiônimo: Pilotrichum cymbifolium Sull. in Gray, Man. Bot.: 681. 1856.

Tipo: Estados Unidos da América (Flórida).

Gametófitos pequenos, verde-claros, formando tufos emaranhados. Caulídios prostrados, ramificados. Filídios ereto-expandidos quando secos, esquarrosos quando úmidos; côncavos, oblongo-lanceolados, 0,8-1,0 x 0,4-0,6 mm; costa espessa excurrente; ápice agudo; margem lisa; células superiores linear-sinuosas, 10,0-24,0 x 2,4-5,1 mm; células basais irregulares, quadráticas a retangulares. Esporófito não observado.

Distribuição geográfica: América do Sul, Caribe, Estados Unidos da América (Geórgia, Flórida e Luisiana) e México (Sharp et al. 1994).

Material estudado: Rio de Janeiro, município de Mangaratiba, RERP, sobre árvore, seco, sombra, M.I.M.N. Oliveira e Silva 1431, 7-IV-1994, det. W.R. Buck (UERJ 3526).

Apenas um exemplar foi coletado no município de Mangaratiba crescendo sobre córtex de árvore viva, em ambiente seco e sombrio. Difere de Pireella pohlii (Schwaegr.) Card., pois esta espécie apresenta ramificação pinado-frondosa e filídios com região alar inconspícua (Sharp et al. 1994).

Tortula rhizophylla (Sak.) Iwats. & Saito, Misc. Bryol. Lichénol. 6: 59. 1972.

Figuras 43-48.


Figuras 43-48. Tortula rhizophylla. 43. Aspecto geral do gametófito; 44. Células da região apical do filídio; 45. Células da região marginal do filídio; 46. Células da região mediana do filídio; 47. Células da região basal do filídio; 48. Secção transversal do filídio.

Basiônimo: Physcomitrium rhizophyllum Sak., Bot. Mag. Tokyo 52: 469. 1938.

Tipo: Japão, Kumamoto Pref., Kuma-gun, Konose-mura, col. H. Takahashi, 5-X-1936 (herb. Takaki, TNS).

Gametófitos pequenos, verde-escuros, 1-4 mm compr., formando tufos frouxos. Rizóides com gemas terminais, irregulares, castanhos. Filídios enrolados quando secos, dispostos no caulídio espira-ladamente e distantes uns dos outros quando úmidos, espatulados, 1,0-2,0 x 0,4 mm; ápice agudo; margem crenulada, plana; costa verde-amarelada delgada, percurrente; células supe-riores lisas, arredondado-hexagonais, com parede pouco espessada nos ângulos, 8-20 x 12-20 mm; as marginais menores, 4-16 x 4-8 mm, em uma só fila; uma célula apical grande, 48 x 12 mm, castanha a hialina; células basais quadráticas. Esporófito não observado.

Distribuição geográfica: Austrália, Bolívia, Estados Unidos da América (Luisiana), Grã-Bretanha, Havaí, Japão e México (Sharp et al. 1994).

Material estudado: Rio de Janeiro, município de Angra dos Reis, Ilha Grande, enseada da Estrela, sobre pedra, na sombra, seco, ao nível do mar, M.I.M.N. Oliveira e Silva 2818, 10-I-1995 (UERJ 1952).

Apenas um exemplar foi coletado na Ilha Grande crescendo sobre pedra, em ambiente seco e sombrio. As caraterísticas que facilmente identificam a espécie são: em seção transversal o arranjo típico das células na região da costa (figura 48) e em vista frontal o formato arredondado das células do filídio e a célula longa e hialina que forma o ápice.

Agradecimentos - As autoras agradecem ao Club Méditerranée e ao Instituto Estadual de Florestas, pela permissão de coleta nas Reservas citadas; ao Dr. W. R. Buck, do New York Botanical Garden, pela identificação de Pireella cymbifolia e à desenhista Dulce Nascimento, pela cobertura a nanquim das ilustrações.

2. Instituto de Botânica, Caixa Postal 4005, 01061-970 São Paulo, SP, Brasil.

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      21 Dez 1998
    • Data do Fascículo
      Ago 1998

    Histórico

    • Aceito
      20 Jan 1998
    • Recebido
      22 Abr 1997
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