Resumos
A disseminação metastática endotraqueal e endobrônquica do câncer de cólon é um evento raro. Os autores relatam o caso de um paciente com manifestação aguda de doença metastática endotraqueal e endobrônquica, 10 anos após o tratamento do tumor primário.
câncer; colorretal; metástase; endotraqueal; tratamento; prognóstico
Endotracheal and endobronchial dissemination from a colon cancer is an excedingly rare event. The authors report a case of an endotracheal and endobronchial metastatic lesion presenting clinically 10 years after treatment of the primary tumor.
colon cancer; endobronchial metastatic; treatment
RELATO DE CASO
Metástase endotraqueal e endobrônquica de adenocarcinoma de cólon
Paulo de Carvalho Contu; Cláudio Tarta; Daniel de Carvalho Damin; Ivanice Freire Duarte; Simone Santana Contu; Luís Fernando Moreira
Serviço de Coloproctologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Endereço para correspondência Endereço para correspondência: PAULO DE CARVALHO CONTU Rua Casemiro de Abreu, 900 apto. 302 Bairro Bela Vista 90420-000 Porto Alegre (RS) E-mail: contu@terra.com.br
RESUMO
A disseminação metastática endotraqueal e endobrônquica do câncer de cólon é um evento raro. Os autores relatam o caso de um paciente com manifestação aguda de doença metastática endotraqueal e endobrônquica, 10 anos após o tratamento do tumor primário.
Descritores: câncer, colorretal, metástase, endotraqueal, tratamento, prognóstico
SUMMARY
Endotracheal and endobronchial dissemination from a colon cancer is an excedingly rare event. The authors report a case of an endotracheal and endobronchial metastatic lesion presenting clinically 10 years after treatment of the primary tumor.
Key words: colon cancer, endobronchial metastatic, treatment
INTRODUÇÃO
O envolvimento do pulmão por neoplasias extratorácicas é observado em 30% dos casos 1. Já o comprometimento pulmonar na forma de metástases endobrônquicas é de 2% 1,4,6. Os tumores sólidos que mais freqüentemente apresentam disseminação endobrônquica são os tumores de cabeça e pescoço, rim, mama e intestino grosso 1, podendo também ocorrer em carcinoma de tireóide, testículo, bexiga, ovário, colo uterino, útero, pâncreas, esôfago, estomago, melanoma e sarcoma 1-7. O intestino grosso é responsável por 11% a 26% dos casos de metástases endobrônquicas 1.
RELATO DO CASO
Paciente masculino, 64 anos, foi admitido com quadro de insuficiência respiratória e estridor laríngeo. História de colectomia esquerda há 10 anos e pneumonectomia direita há 2 anos para tratamento, respectivamente, de um adenocarcinoma de cólon descendente Dukes B e metástase pulmonar. Realizou tomografia computadorizada que evidenciou lesão endotraqueal e endobrônquica à esquerda, nódulo no segmento ápico-posterior do pulmão esquerdo, lesão hepática em segmento seis e derrame pleural à direita. Foi submetido a broncoscopia rígida com ressecção parcial das lesões. O exame anatomopatológico e imunohistoquímico confirmaram adenocarcinoma de origem gastrintestinal. Metástases ósseas e hepáticas foram diagnosticadas por cintilografia e ultrassonografia, respectivamente. Foi indicado tratamento paliativo com radioterapia para traquéia e áreas de dor óssea.
DISCUSSÃO
A primeira descrição de metástase endobrônquica por carcinoma de cólon foi de Raine em 1941. Usualmente é acompanhada de disseminação metastática sincrônica, sendo, portanto, sinal de doença avançada e de mau prognóstico, com sobrevida, usualmente, bastante curta 1,5.
Ao contrário das metástases parenquimatosas de pulmão, as metástases endobrônquicas ocorrem ao acaso na árvore respiratória 5. A apresentação clínica é semelhante ao do carcinoma primário de pulmão, com tosse e hemoptise, ocorrendo na maioria dos casos 1,2, enquanto que dor torácica, dispnéia e sibilância são achados menos freqüentes 2,3,5. A manifestação de estridor é rara, uma vez que o comprometimento da traquéia é incomum.
Os achados radiológicos das metástases traqueais e brônquicas são bastante variáveis 6, podendo também simular um carcinoma brônquico primário 2. A radiografia de tórax pode ser normal ou apresentar múltiplos nódulos, infiltrados e atelectasias subsegmentares ou de todo o pulmão 1,6. Salud e colaboradores 7 demonstraram correlação entre os achados broncoscópicos e da tomografia computadorizada, atribuindo a esta última uma alta sensibilidade na detecção e localização das lesões endobrônquicas, podendo auxiliar na avaliação de pacientes quando a broncoscopia não é factível.
Embora o diagnóstico possa ser suspeitado pelos achados clínicos e radiológicos, a confirmação deve ser feita por broncoscopia com biópsia profunda, uma vez que a lesão é submucosa 1,5, o que explica o baixo índice diagnóstico do exame citopatológico de escarro e do lavado e escovado brônquicos 1,2,5.
Apesar das manifestações clínicas e radiológicas serem similares ao carcinoma brônquico primário, há evidências que ajudam a diferenciar estas condições, como a história prévia de tumor extratorácico primário 2. O intervalo entre o diagnóstico do tumor primário e a recidiva pulmonar endobrônquica varia de 3 meses a 25 anos, segundo as séries retrospectivas 1,4-6.
O tratamento deve ser definido individualmente, conforme o tumor primário, gravidade dos sintomas e extensão sistêmica da doença 6. A radioterapia pode oferecer bons resultados nos pacientes cuja manifestação metastática mais importante é a pulmonar 2. Outros meios terapêuticos paliativos são a fototerapia por laser e colocação de prótese endobrônquica 1. Em casos selecionados, a lobectomia ou pneumonectomia podem ser opções aceitáveis 1. Sheperd 4 descreveu uma série de 25 pacientes com metástase endobrônquica, 12 dos quais tratados cirurgicamente, incluindo três casos com lesão primária de intestino grosso, com sobrevida média de 12 meses. A cirurgia parece ser a opção que permite os maiores intervalos livres de sintomas e sobrevida, quando a lesão endobrônquica for a única manifestação de doença metastática.
O longo intervalo que pode ocorrer entre o tratamento do tumor primário e a manifestação metastática reflete o caráter indolente de tumores sólidos, como o carcinoma colorretal.
Recebido em 03/10/2005
Aceito para publicação em 18/11/2005
Trabalho realizado no Serviço de Coloproctologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
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Endereço para correspondência:
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
05 Set 2006 -
Data do Fascículo
Mar 2006
Histórico
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Aceito
18 Nov 2005 -
Recebido
03 Out 2005