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Estudo Comparativo de Sistemas de Bebedouros na Qualidade Microbiológica da Água Consumida por Frangos de Corte

Comparative Study of Systems of Drinkers in the Microbiological Quality of the Water Consumed by Broiler Chickens

Resumos

Dois sistemas de bebedouros utilizados na criação avícola, pendular e chupeta (nipple), foram estudados objetivando avaliar a qualidade microbiológica da água fornecida às aves, em relação à presença de coliformes totais e fecais, aeróbios mesófilos, bolores e leveduras. Realizaram-se coletas de água no primeiro, 14, 28 e 42 dias de idade, sendo os dias de amostragem divididos em três períodos, de acordo com o horário de limpeza dos bebedouros pendulares: primeira, antes da limpeza; segunda, logo após a limpeza e terceira, ao meio dia. Os bebedouros avaliados apresentaram índices de contaminação em relação ao NMP de coliformes fecais acima dos limites estabelecidos pela Portaria do MS-Brasil. As contagens para UFC de bolores e leveduras obtidas para bebedouros pendulares apresentaram índices de contaminação maiores do que os chupeta. Em uma segunda etapa do estudo, foi avaliado o efeito da cloração constante sobre a qualidade microbiológica da água, usando os mesmos parâmetros anteriores. Foram instaladas bombas dosadoras de cloro em cada galpão reguladas para manter concentração de 2mg/L de cloro residual livre. A cloração contínua da água melhorou a qualidade microbiológica em relação ao NMP de coliformes totais e fecais nos bebedouros avaliados. Quanto aos aeróbios mesófilos, os bebedouros apresentaram-se fora dos padrões estabelecidos pela Portaria MS-Brasil, sendo o chupeta o que apresentou melhor desempenho. O bebedouro chupeta apresentou índices de contaminação da água inferiores aos apresentados pelos pendulares. Mesmo assim, foram considerados fora dos padrões para água potável.

água; frango de corte; bebedouro pendular; nipple; bebedouro chupeta; qualidade microbiológica


Two drinker systems used by commercial broiler growers, the bell drinker type and the nipple drinker, were studied aiming to evaluate the microbiological quality of the water supplied to the birds in relation to occurrence of total and fecal coliforms, mesophilic aerobic, moulds and yeast. The water samplings were taken on the 1st, 14th, 28th and 42th days of age. The days of sampling, in accordance with the cleaning schedule for the bell type drinkers, were divided into three periods: before the cleaning, right after cleaning and at noon. The evaluated drinkers presented patterns of contamination in relation to the most probable number (mpn/100ml) of fecal coliforms above that of the limit number established by the Ministry of Health, Brazil. The counts for mould and yeast (cfu/mL) obtained from bell type drinkers showed a higher pattern of contamination when compared to the nipple drinker. In a second stage of the study, the effect of constant flow chlorination was evaluated on the microbiological quality of the water, using the same standard parameters as previous described. Dosage measurement pumps of chlorine were installed in each poultry house and managed to keep a concentration of 2mg/l of free residual chlorine. Continuous flow water chlorination improved the microbiological quality in relation to the MPN of total and faecal coliforms in the evaluated drinkers. In relation to the mesophilic aerobic, the evaluated drinkers showed to be out of the standards established by the MH-Bresil, while the nipple type was the drinker that presented the best performance. The nipple drinker showed lower patterns of water contamination in relation to that presented in the bell type drinkers. Even thought, the water contamination were out of the established standard for drinking water.

water; broiler chickens; bell drinker; nipple drinker; microbiological quality


Estudo Comparativo de Sistemas de Bebedouros na Qualidade Microbiológica da Água Consumida por Frangos de Corte

Comparative Study of Systems of Drinkers in the Microbiological Quality of the Water Consumed by Broiler Chickens

Autor(es) / Authors (s)

Valias APGS1

Silva EN2

1- Aluna do Curso de Pós-Graduação em Tecnologia de Alimentos / UNICAMP, Campinas. Docente da Faculdade de Medicina Veterinária "Octávio Bastos", São João da Boa Vista.

2–Docente do Depto. de Tecnologia de Alimentos / UNICAMP, Campinas

Correspondência / Mail Address

Ana Paula Gonçalves dos Santos Valias

R. Ademir Felisberto dos Reis, 236

13870-000 - São João da Boa Vista - SP - Brasil

E-mail: vetlab01@feob.br

Unitermos / Keywords

água, frango de corte, bebedouro pendular, nipple, bebedouro chupeta, qualidade microbiológica

water, broiler chickens, bell drinker, nipple drinker, microbiological quality

Observações / Notes

Projeto financiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo/FAPESP, nº 97/00285-0.

RESUMO

Dois sistemas de bebedouros utilizados na criação avícola, pendular e chupeta (nipple), foram estudados objetivando avaliar a qualidade microbiológica da água fornecida às aves, em relação à presença de coliformes totais e fecais, aeróbios mesófilos, bolores e leveduras. Realizaram-se coletas de água no primeiro, 14, 28 e 42 dias de idade, sendo os dias de amostragem divididos em três períodos, de acordo com o horário de limpeza dos bebedouros pendulares: primeira, antes da limpeza; segunda, logo após a limpeza e terceira, ao meio dia. Os bebedouros avaliados apresentaram índices de contaminação em relação ao NMP de coliformes fecais acima dos limites estabelecidos pela Portaria do MS-Brasil. As contagens para UFC de bolores e leveduras obtidas para bebedouros pendulares apresentaram índices de contaminação maiores do que os chupeta. Em uma segunda etapa do estudo, foi avaliado o efeito da cloração constante sobre a qualidade microbiológica da água, usando os mesmos parâmetros anteriores. Foram instaladas bombas dosadoras de cloro em cada galpão reguladas para manter concentração de 2mg/L de cloro residual livre. A cloração contínua da água melhorou a qualidade microbiológica em relação ao NMP de coliformes totais e fecais nos bebedouros avaliados. Quanto aos aeróbios mesófilos, os bebedouros apresentaram-se fora dos padrões estabelecidos pela Portaria MS-Brasil, sendo o chupeta o que apresentou melhor desempenho. O bebedouro chupeta apresentou índices de contaminação da água inferiores aos apresentados pelos pendulares. Mesmo assim, foram considerados fora dos padrões para água potável.

ABSTRACT

Two drinker systems used by commercial broiler growers, the bell drinker type and the nipple drinker, were studied aiming to evaluate the microbiological quality of the water supplied to the birds in relation to occurrence of total and fecal coliforms, mesophilic aerobic, moulds and yeast. The water samplings were taken on the 1st, 14th, 28th and 42th days of age. The days of sampling, in accordance with the cleaning schedule for the bell type drinkers, were divided into three periods: before the cleaning, right after cleaning and at noon. The evaluated drinkers presented patterns of contamination in relation to the most probable number (mpn/100ml) of fecal coliforms above that of the limit number established by the Ministry of Health, Brazil. The counts for mould and yeast (cfu/mL) obtained from bell type drinkers showed a higher pattern of contamination when compared to the nipple drinker. In a second stage of the study, the effect of constant flow chlorination was evaluated on the microbiological quality of the water, using the same standard parameters as previous described. Dosage measurement pumps of chlorine were installed in each poultry house and managed to keep a concentration of 2mg/l of free residual chlorine. Continuous flow water chlorination improved the microbiological quality in relation to the MPN of total and faecal coliforms in the evaluated drinkers. In relation to the mesophilic aerobic, the evaluated drinkers showed to be out of the standards established by the MH-Bresil, while the nipple type was the drinker that presented the best performance. The nipple drinker showed lower patterns of water contamination in relation to that presented in the bell type drinkers. Even thought, the water contamination were out of the established standard for drinking water.

INTRODUÇÃO

A qualidade físico-química e microbiológica da água é de grande importância na saúde avícola. Ela deve ser mantida desde da captação à distribuição, assegurando qualidade até o consumo (Macari & Amaral, 1997). O fornecimento de água contaminada pode propagar doenças, especialmente, em aves jovens (Nilipour et al, 1996).

Os coliformes totais e fecais são os indicadores de contaminação mais usados para monitorar a qualidade sanitária da água (Lee & Cole, 1993). O decréscimo de coliformes na água é praticamente igual ao das bactérias patogênicas intestinais (Macari, 1997).

Compostos à base de cloro são os mais usados no tratamento da água usada nas granjas avícolas. Eles podem ser usados como pastilhas contendo hipoclorito de cálcio com 70% de cloro disponível, até bombas dosadoras instaladas na caixa d'água dos galpões que liberam o cloro de acordo com a vazão de água.

Hipoclorito de sódio, na concentração de cloro residual livre de 1mg/L, é o composto e dose mais usados. Nas condições de criação avícola, o hipoclorito adicionado à água perde gradativamente grande parte de sua ação germicida até o ponto de consumo.

Entre os sistemas tradicionais de bebedouros para aves incluem o sistema pendular. Nestes, a água desce pela base, cai direto na bacia, ficando armazenada e à disposição das aves com volume constante, sendo liberada à medida do seu consumo e exposta às condições ambientais em contato com poeira, restos de ração e elevadas temperaturas. Esse conjunto constitui um caldo de cultivo para bactérias, leveduras e bolores locais, de tal maneira que, mesmo se garantindo a boa qualidade microbiológica da água na origem, ela é consumida contaminada por microrganismos presentes nos galpões. A presença de matéria orgânica interfere na desinfecção reduzindo ou inativando as propriedades antibacterianas de certos compostos químicos (Martinez et al.,1999). Esses bebedouros são lavados, de uma maneira empírica, com determinada freqüência, com auxílio de um pano e balde com água. A eficiência dessa "higienização" ainda não foi investigada.

Mais recentemente, foram introduzidos bebedouros tipo "chupeta" (do inglês nipple). São bebedouros pequenos que utilizam água encanada liberada com o toque do bico das aves. Apresentam vantagens sobre os bebedouros pendulares, melhorando a qualidade da cama, reduzindo mão-de-obra, além de ser um sistema fechado capaz de assegurar a boa qualidade da água e reduzir os riscos de contaminação (Alfonso, 1997; Brown et al., 1995). O aparecimento desse tipo de bebedouro representou um grande avanço no manejo da água (Macari, 1996b, 1997).

Morgan-Jones (1980) isolou mais salmonelas da água do que da cama, em ambiente de criação de frangos que usava bebedouro tipo calha, alertando que a água pode ser a maior fonte de reinfecção das aves.

Ainda não se têm informações científicas sobre importância da contaminação local da água na saúde e desempenho produtivo dessas aves. Sabe-se que a inoculação oral de Escherichia coli em aves jovens determina o aparecimento de bacteremia e prejudica o seu desenvolvimento (Andreatti Filho,1989). Avaliação realizada em grande escala em integrações de frangos de corte demonstrou que o uso de bebedouros chupeta melhorou o rendimento das aves e reduziu os índices de condenação por colibacilose (aerosaculite) no abatedouro (Silva, 1998).

Neste trabalho, procurou-se avaliar a qualidade microbiológica da água consumida por frangos de corte mantidos nos sistemas de bebedouros pendular e chupeta; a eficiência da "higienização" comumente praticada no sistema de bebedouro pendular e, o efeito da dose de cloração da água.

MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos foram realizados de agosto de 1996 a março de 1997, utilizando dois galpões de criação comercial de frangos de corte de uma integração na região de Campinas, SP, com capacidade individual de 25.000 frangos a 12 aves/m2.

Um era equipado com bebedouros pendulares (um para cada 97 aves) e, outro, com bebedouros chupeta (um para 13 aves no inverno e 10-12 aves no verão).

Os bebedouros pendulares eram limpos uma vez ao dia, no início da manhã, com o auxílio de uma esponja e balde com água, sendo que a água suja presente na bacia dos bebedouros era recolhida nos baldes e servia para umedecer a esponja que era passada nos bebedouros seguintes.

Alguns bebedouros pendulares foram modificados no seu sistema de chegada da água até a bacia, para se avaliar a influência da poeira acumulada na base do bebedouro nos índices de contaminação da água fornecida às aves. A água captada das caixas d'água através das tubulações corria por uma mangueira adaptada dentro da haste do bebedouro que tinha sua saída diretamente na bacia, sem que a água entrasse em contato com a parte externa do bebedouro. A água usada na granja era de poço artesiano.

Experimento I – Qualidade microbiológica da água

A água das caixas d'água dos galpões era tratada, a partir de 10 dias de idade das aves, adicionando-se tabletes com 90% de cloro ativo, na quantidade necessária para se obter a concentração de cloro residual livre de 1mg/L.

Os pintos do galpão com bebedouros pendulares recebiam água, sem tratamento, colocada manualmente até, aproximadamente, 10 dias de idade e, a partir dessa idade, os bebedouros eram ligados diretamente às tubulações das caixas d'água.

Experimento II – Efeito da cloração sobre a qualidade da água

Foi utilizada uma bomba dosadora, acoplada diretamente à bóia da caixa d'água, para manter níveis efetivos e constantes de cloro residual livre (usando hipoclorito de sódio) na água de 2 mg/L na saída da caixa para os bebedouros.

Amostragem

As condições microbiológicas da água consumida pelas aves foram avaliadas do primeiro dia de vida das aves até a saída do lote para abate, com coletas realizadas em intervalos de 14 dias, para ambos os experimentos. As amostras de, aproximadamente, 200mL foram coletadas em frascos estéreis de 500mL, contendo tiossulfato de sódio na concentração de 0,1 mg/mL de amostra como substância neutralizante do cloro residual.

Nos pendulares foram realizadas coletas antes e após limpeza e, no período mais quente do dia, por volta do meio dia.

Foram coletadas amostras de água na origem (poço artesiano) e na saída das tubulações para abastecimento dos dois tipos de bebedouros.

As amostras foram acondicionadas em caixa isotérmica contendo gelo picado e conduzidas ao laboratório de Higiene e Legislação do Departamento de Tecnologia de Alimentos da Faculdade de Engenharia de Alimentos, Unicamp, para análise no mesmo dia.

Análises

As análises microbiológicas da água foram realizadas segundo as técnicas recomendadas pela American Public Health Association (1995b) e (Silva et al., 1997a, b). Foram feitas as determinações do número mais provável (NMP) de coliformes totais e fecais (Fermentação dos Tubos Múltiplos, Teste Presuntivo e Teste Confirmativo), contagem total em unidades formadoras de colônias (UFC) de microrganismos aeróbios mesófilos, bolores e leveduras (utilizando o ágar padrão -PCA, e ágar batata dextrose acidificado - PDA acidificado).

O cloro residual livre foi avaliado segundo o método DPD ferroso titulométrico. A quantidade de cloro livre presente na amostra em mg/L foi determinada segundo American Public Health Association (1995a).

Método estatístico para amostragem e análise estatística

Utilizou-se o método estatístico de amostragem aleatória sistemática (Puri, 1989), representativa para a qualidade da água.

Os resultados foram submetidos à análise estatística pelo método Student-Newman-Keuls para comparação das médias ajustadas pelo método dos quadrados mínimos SAS (1995). As interações duplas entre os efeitos principais que não foram significativas (p > 0,10) foram excluídas dos modelos de análise.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Experimento I

A Portaria GM/0013, de 15 de janeiro de 1976 do Ministério da Saúde (MS) do Brasil, quanto aos mananciais utilizados na dessendentação animal, determina uma tolerância máxima de 20.000 coliformes totais (NMP/100 mL) e de até 4.000 coliformes fecais, não apresentando limites microbiológicos para a água de consumo animal (Souza et al., 1983).

Entretanto, recomenda-se que se utilize água potável, de pureza compatível com as necessidades fisiológicas e sanitárias das aves (Macari, 1997; Englert, 1998); as mesmas para consumo humano. Neste estudo, utilizou-se como padrão para análise dos resultados, os parâmetros microbiológicos estabelecidos pela Portaria 36/GM de 19 de janeiro de 1990, do MS (Brasil, 1990). Nesta Portaria, pode ser usada água não canalizada usada comunitariamente e sem tratamento (poços, fontes, nascentes etc), desde que não haja disponibilidade de água de melhor qualidade. Coliformes totais devem estar ausentes em 95% das amostras em (100mL). Nos 5% das amostras restantes, serão tolerados até 10 coliformes totais, desde que não ocorra em duas amostragens consecutivas coletadas sucessivamente no mesmo ponto. Prevê, ainda, ausência de coliformes fecais em 100mL de amostra de água e recomenda que, para avaliar as condições sanitárias do sistema de abastecimento de água, seja efetuada a contagem de bactérias heterotróficas, que não poderá exceder a 500UFC/mL (Brasil, 1990). O número total de bactérias enumeradas em meio padrão (PCA) não deve ser superior a 500 UFC/ml de água, embora esse limite não seja definido na lei.

A Tabela 1 apresenta os resultados das análises microbiológicas da água utilizada na dessendentação de frangos de corte, com nível de cloração de 1mg/L de cloro residual livre nas caixas d'água dos galpões a partir de 10 dias de idade das aves, em relação aos tipos de bebedouros e idade das aves na época de avaliação, para NMP/100mL de coliformes totais e fecais, UFC/mL de aeróbios mesófilos, bolores e leveduras.

Observa-se que os bebedouros avaliados apresentaram índices de contaminação por coliformes totais e fecais acima dos estabelecidos pela Portaria do MS-Brasil em todos os períodos analisados.

O bebedouro chupeta apresentou menor índice de contaminação por coliformes totais e fecais (42 dias e, 28 e 42 dias, respectivamente). Talvez, porque a E. coli está presente em menor quantidade na cama no final de vida do lote que no início, como já demonstrado por Jorge (1997).

Nos nossos estudos, a água já se apresentava contaminada na saída das caixas d'água. A presença de resíduos alimentares e aumento de temperatura nos bebedouros facilita a multiplicação microbiana. Como já observado por outros autores (Adrian & Hilliger, 1992), é impossível conservar a água dos bebedouros inteiramente livre de coliformes, devido à presença dessas bactérias no interior dos galpões.

A modificação no bebedouro pendular, evitando o contato da água com o corpo do mesmo, não interferiu com a contaminação por coliformes totais e fecais.

Também, considerando a contagem total de microrganismos aeróbios mesófilos em relação aos bebedouros, comprovou-se que os três tipos de bebedouros, em todas as idades avaliadas, apresentam água imprópria ao consumo das aves.

A alta contagem de microrganismos aeróbios mesófilos nos bebedouros chupeta pode estar relacionada à presença de saprófitas colonizando a área da válvula do bebedouro, elevando assim, seu número. Macari & Amaral (1997), cita que ocorre uma drástica redução das UFC/mL em bebedouros chupeta mas não ocorre a eliminação total da transmissão horizontal. E. coli presente na água de bebedouros chupeta tende a se estabelecer no fundo do encanamento que supre os bicos dos bebedouros (Grizzle et al., 1997).

Em relação aos bolores e leveduras, os bebedouros pendulares apresentaram índices de contaminação significativamente maiores (p<0,05) quando comparados aos bebedouros chupeta, no 1º e 14º dias. Isso se deve ao fato deste último tipo ser um sistema de tubulações fechado, o que dificulta ou, até mesmo, impede a deposição de ração e o desenvolvimento desses microrganismos. Os índices de contaminação por estes microrganismos na água dos bebedouros pendulares diminuíram significativamente entre o 28º e 42º dias. Esta diminuição, com o aumento da idade, pode ser explicada por uma temperatura ambiente menor nessa fase e, consequentemente, da água, em relação à temperatura dos primeiros dias de vida.

Na análise estatística, a interação dupla entre tipos de bebedouros x idade das aves para aeróbios mesófilos não apresentou efeito significativo (p > 0,10), sendo excluída do modelo de análise, por isso foram apresentadas na Tabela 1 as médias simples encontradas sem aplicação do teste de Student-Newman-Keuls.

A limpeza realizada nos bebedouros pendular e pendular modificado utilizando esponja e balde com água não apresentou interação significativa (p > 0,10), por isso foram excluídas dos modelos de análise, concordando com os resultados obtidos por Andrews et al. (1993), os quais compararam três níveis diferentes de lavagem do bebedouro pendular e verificaram que ela não foi benéfica para reduzir a contagem bacteriana na água.

Experimento II

Neste experimento, trabalhou-se com os mesmos parâmetros anteriores, usando uma cloração contínua com 2mg/L de cloro residual. Houve melhora da qualidade microbiológica da água, com redução nos índices de contaminação por coliformes totais e fecais nos bebedouros pendulares nas idades de 14 e 28 dias mas, não a eliminação total dos microrganismos contaminantes. Após os 10 dias de idade das aves, quando se inicia a cloração contínua da água, os índices de contaminação por coliformes totais reduziram, significantemente, nos bebedouros chupeta em relação à contaminação dos pendulares (Tabela 2). A maior contaminação por coliformes totais, aos 42 dias de idade nos bebedouros pendulares, em relação aos índices encontrados aos 14 e 28 dias, pode ser explicada pelo aumento do depósito de resíduos alimentares dentro da bacia dos bebedouros nesta fase.

A água, dos três tipos de bebedouros, apresentou os mesmos índices de contaminação por coliformes fecais na análise do primeiro dia de vida.

O uso de 2mg/L na cloração contínua foi melhor que 1mg/L, nos bebedouros pendulares modificados, em relação aos índices de contaminação por coliformes fecais e aeróbios mesófilos. Entretanto, a maior cloração não melhorou a qualidade microbiológica da água no bebedouro pendular modificado em comparação aos índices de contaminação do bebedouro chupeta. Nestas condições, o bebedouro chupeta apresentou menor contaminação por aeróbios mesófilos aos 14, 28 e 42 dias de idade. E, a qualidade microbiológica da água, medida pelos índices de contaminação por coliformes totais e fecais na água dos bebedouros avaliados, foi insatisfatória de acordo com os parâmetros estabelecidos pela Portaria do MS (Brasil, 1990).

Os resultados encontrados para bebedouros pendulares discordam dos relatos de Macari (1996a) e Murphy & Wabeck (1987), que concluíram que o uso de cloro nas concentrações de 2 a 3mg/l reduziu drasticamente a contaminação da água.

Macari (1996c) comparou lotes de frangos de corte criados em condições de verão e mantidos em bebedouros chupeta e pendular na região sudeste do Brasil, encontrando uma porcentagem de mortalidade maior nas granjas equipadas com bebedouros pendulares (3,17 e 5,40%) do que nas equipadas com bebedouro chupeta (2,75 e 3,70%).

Os índices de contaminação da água por bolores e leveduras são, estatisticamente, os mesmos para os bebedouros chupeta, em todas as idades avaliadas; bebedouros pendular, aos 14, 28 e 42 dias; e, nos pendulares modificados, aos 28 e 42 dias de idade. Esses resultados demonstram que a adição contínua de cloro (2mg/L) à água, diminui os índices de contaminação por bolores e leveduras, melhorando as características microbiológicas da água.

Inúmeros fatores contribuem para a persistência de uma contaminação microbiológica da água de consumo das aves em um galpão, como a manutenção incorreta das linhas de abastecimento, deficiência de limpeza e higienização periódica das tubulações, formação de biofilmes (Macari, 1997). A adição de medicamentos, vacinas, vitaminas, à água dos bebedouros chupeta pode levar à formação de uma capa de polissacarídeos conhecida como biofilme ao redor da chupeta, na qual os microrganismos se desenvolvem (Ledoux, 2000).

CONCLUSÕES

Água fornecida a frangos de corte usando o sistema de bebedouro pendular apresentou altos índices de contaminação microbiológica em todas as idades avaliadas (01, 14, 28 e 42 dias), mesmo usando cloração contínua com 1 e 2mg/L de cloro residual livre. No sistema de bebedouro chupeta, os índices de contaminação da água foram inferiores aos apresentados pelo bebedouro pendular. Mesmo assim, foram enquadrados fora dos padrões para água potável.

A água fornecida às aves através do sistema de bebedouro chupeta apresentou índices de contaminação acima do esperado. É provável que essa contaminação ocorra localmente na caixa d'água com possibilidade de multiplicação no bebedouro, aumento de temperatura e ausência de manutenção preventiva.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    30 Out 2002
  • Data do Fascículo
    Jan 2001
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