RESUMO
Introdução: O câncer configura-se como uma doença crônica não transmissível. Entre as mulheres, o câncer de mama é o mais incidente, gerando um grande impacto econômico aos serviços de saúde. Com a crescente incorporação de novas tecnologias, como os inibidores de quinases dependentes de ciclinas 4/6 (CDK4/6) indicados como terapia oral do câncer de mama localmente avançado, o trabalho do profissional farmacêutico ganhou ainda mais relevância. A baixa adesão ao esquema terapêutico proposto em razão, principalmente, da ocorrência de reações adversas pode acabar aumentando o risco de progressão da doença. Dessa forma, o cuidado farmacêutico, durante o tratamento oncológico, tornou-se uma importante estratégia para a promoção de uma farmacoterapia segura e efetiva.
Objetivo: Desenvolver e validar material educativo destinado à orientação do uso do succinato de ribociclibe no tratamento do câncer de mama.
Método: Inicialmente, o material educativo foi construído considerando aspectos de conteúdo, linguagem e aparência. Em seguida, foi avaliado por um grupo de juízes especialistas no assunto, por meio do método Delphi. Para a mensuração do nível de concordância foi calculado o Índice de Validação do Conteúdo (IVC), por meio do emprego de escala de Likert.
Resultados: Dessa forma, a cartilha elaborada foi considerada validada, apresentando um valor de IVC igual a 1.
Conclusão: Espera-se que este instrumento educativo seja uma ferramenta útil para o uso correto e seguro dos inibidores de CDK4/6, atuando na promoção do conhecimento e na adesão das pacientes ao tratamento.
Palavras-chave:
Neoplasias da Mama/tratamento farmacológico; Inibidores Enzimáticos/uso terapêutico; Quinase 4 Dependente de Ciclina/uso terapêutico; Quinase 6 Dependente de Ciclina/uso terapêutico; Prospecto para Educação de Pacientes
ABSTRACT
Introduction: Cancer is considered a non-communicable chronic disease. Among women, breast cancer is the most common type, generating a significant economic impact on healthcare services. With the increasing incorporation of new technologies, such as cyclin-dependent kinase 4/6 (CDK4/6) inhibitors indicated for the oral treatment of locally advanced breast cancer, the role of the pharmacist has become even more relevant. Low adherence to the proposed therapeutic regimen, mainly due to adverse reactions, can increase the risk of disease progression. Therefore, pharmaceutical care during oncology treatment has become an important strategy to promote safe and effective pharmacotherapy.
Objective: Develop and validate educational material to guide the use of ribociclib succinate in the treatment of breast cancer.
Method: Initially, the educational material was developed considering content, language, and visual aspects. It was then evaluated by a panel of expert judges using the Delphi method. To measure the level of agreement, the Content Validity Index (CVI) was calculated using a Likert scale.
Results: As a result, the booklet was considered validated, with a CVI score of 1.
Conclusion: It is expected that this educational tool will support the correct and safe use of CDK4/6 inhibitors, promoting knowledge and improving patient adherence to treatment.
Key words:
Breast Neoplasms/drug therapy; Enzyme Inhibitors/therapeutic use; Cyclin-Dependent Kinase 4/therapeutic use; Cyclin-Dependent Kinase 6/therapeutic use; Patient Education Handout
RESUMEN
Introducción: El cáncer se considera una enfermedad crónica no transmisible. Entre las mujeres, el cáncer de mama es el tipo más frecuente, lo que genera un gran impacto económico en los servicios de salud. Con la creciente incorporación de nuevas tecnologías, como los inhibidores de las quinasas dependientes de ciclinas 4/6 (CDK4/6), indicados para el tratamiento oral del cáncer de mama localmente avanzado, el rol del farmacéutico ha cobrado aún más relevancia. La baja adherencia al esquema terapéutico propuesto, debido principalmente a la aparición de reacciones adversas, puede aumentar el riesgo de progresión de la enfermedad. De este modo, el cuidado farmacéutico durante el tratamiento oncológico se ha convertido en una estrategia importante para promover una farmacoterapia segura y efectiva.
Objetivo: Desarrollar y validar material educativo destinado a la orientación sobre el uso del succinato de ribociclib en el tratamiento del cáncer de mama.
Método: Inicialmente, el material educativo fue elaborado considerando aspectos de contenido, lenguaje y apariencia. Posteriormente, fue evaluado por un grupo de jueces expertos en el tema, mediante el método Delphi. Para medir el nivel de concordancia, se calculó el Índice de Validez de Contenido (IVC) utilizando una escala de Likert.
Resultados: Como resultado, el folleto elaborado fue considerado validado, presentando un valor de IVC igual a 1. Conclusión: Se espera que esta herramienta educativa sea útil para el uso correcto y seguro de los inhibidores de CDK4/6, promoviendo el conocimiento y la adherencia de las pacientes al tratamiento.
Palabras clave:
Neoplasias de la Mama/tratamiento farmacológico; Inhibidores Enzimáticos/uso terapéutico; Quinasa 4 Dependiente de la Ciclina/uso terapéutico; Quinasa 6 Dependiente de la Ciclina/uso terapéutico; Folleto Informativo para Pacientes
INTRODUÇÃO
O câncer de mama é ocasionado pela multiplicação desordenada das células que compõem o tecido mamário1. As neoplasias mamárias mais comumente relatadas são as que acometem as células que revestem os ductos mamários (carcinoma ductal in situ ou invasivo) ou as células que se encontram nos lóbulos das glândulas mamárias (carcinoma lobular in situ ou invasivo)2.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)3, o câncer de mama é o tipo de neoplasia mais incidente em mulheres no mundo, sendo também a causa mais frequente de óbitos por câncer nessa população. No Brasil, excetuando-se os casos de câncer de pele não-melanoma, o câncer de mama é também o tipo de neoplasia mais incidente e a principal causa de morte por câncer no sexo feminino, com uma estimativa de 73.610 novos casos para cada ano do triênio 2023-2025, gerando um grande impacto econômico aos serviços de saúde públicos e privados do país, sendo considerado um grave problema de saúde pública4,5.
A escolha da proposta terapêutica leva em consideração alguns fatores, como o estadiamento clínico anatômico, conforme a classificação de tumores malignos (TNM)6, o padrão molecular tumoral, por meio da quantificação do receptor tipo 2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER-2) e dos receptores de estrogênio e progesterona, e o status da paciente. Dessa forma, as modalidades de tratamento para o câncer de mama podem ser divididas em terapias locais (cirurgia e radioterapia) e em terapias sistêmicas (quimioterapia, hormonioterapia e terapia-alvo)7.
Nos últimos anos, com o surgimento da terapia-alvo, tem-se observado um novo cenário para o tratamento do câncer de mama, com ênfase em terapias personalizadas que visam atuar sobre características moleculares específicas de cada tumor. Nesse cenário, os inibidores de quinases dependentes de ciclinas 4/6 (iCDK4/6), em especial o succinato de ribociclibe, compõem então uma nova alternativa terapêutica para o tratamento do câncer de mama (receptor hormonal positivo/HER-2 negativo) localmente avançado ou metastático, em associação com um inibidor de aromatase em primeira linha ou com o fulvestranto em segunda linha8,9. As ciclinas controlam uma família de 21 quinases, as quais desempenham um papel importante na manutenção do ciclo celular. O succinato de ribociclibe é um inibidor seletivo das quinases dependentes de ciclina 4 e 6, as quais atuam nas vias de sinalização responsáveis pela progressão do ciclo celular, promovendo então uma redução da proliferação de células cancerígenas10. No Brasil, seu uso foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária11, além de ter sido incorporado pela Portaria n.º 73/2021 da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS)12.
Em geral, o succinato de ribociclibe é bem tolerado e os eventos adversos são manejáveis com suporte clínico medicamentoso e ajuste de dose. A recomendação diária é de 600 mg por via oral, baseada em um esquema de três semanas de uso (21 dias), seguido de uma semana (7 dias) de pausa para permitir que as pacientes se recuperem de possíveis toxicidades. A toxicidade hematológica é o evento mais comum, sendo a neutropenia o principal fator limitante de dose. Outras reações adversas também podem ser relatadas, como cefaleia, fadiga, rash cutâneo, alopecia, alteração das enzimas hepáticas, prolongamento do intervalo da quimioterapia, náuseas e/ou vômitos, constipação e/ou diarreia13.
O surgimento da terapia antineoplásica oral permitiu um significativo avanço no tratamento oncológico, trazendo uma maior comodidade às pacientes. No entanto, a possibilidade de não adesão, ou até mesmo a interrupção do tratamento, é uma preocupação constante entre os profissionais de saúde14. Evidências apontam que 10% a 50% das pacientes diagnosticadas com câncer de mama, em uso de quimioterapia oral, falharam em tomar seus medicamentos na dosagem correta e pelo tempo recomendado15.
Uma das causas que pode estar relacionada com a baixa adesão ou suspensão do tratamento é a presença dos efeitos adversos, os quais comprometem a efetividade da terapia antineoplásica, aumentam o risco de progressão da doença, bem como os custos aos serviços de saúde16. Nesse contexto, o profissional farmacêutico torna-se um instrumento essencial para a qualidade da farmacoterapia individualizada17.
Pelo cuidado farmacêutico, é possível orientar o uso adequado dos medicamentos prescritos, rastrear e manejar efeitos adversos, influenciar positivamente na adesão à terapia e contribuir para o autocuidado e melhoria da qualidade de vida das pacientes18. Para isso, uma das estratégias que podem ser utilizadas é a adoção de tecnologias educacionais19. Iniciativas ganharam notoriedade no sistema único de saúde nos últimos anos, um trabalho desenvolvido por Gonçalves et al. resultou em cartilhas para o tratamento de crianças com leucemia linfoide aguda (LLA)20, além de outros trabalhos que evidenciaram papel educacional para pacientes com metástases ósseas e com câncer de cabeça e pescoço21,22. No entanto, promover educação em saúde, no âmbito da oncologia, demanda dos pacientes um conjunto de habilidades para interpretar e utilizar as informações que são disponibilizadas de forma correta, o chamado letramento em saúde23. Tais habilidades, por sua vez, possuem um grande impacto no entendimento da terapia proposta e na sua consequente adesão ou não.
Diante desse contexto, o desenvolvimento e a validação de um material educativo voltado à orientação do uso do succinato de ribociclibe no tratamento do câncer de mama avançado são uma estratégia importante para a promoção da educação em saúde, uma vez que visa melhorar a qualidade da assistência prestada, por meio do uso de informações de fácil entendimento e da construção de uma relação de proximidade e confiança, garantindo assim uma terapia bem-sucedida.
MÉTODO
Estudo metodológico realizado no período de abril de 2024 a fevereiro de 2025, no Hospital Haroldo Juaçaba, referência em oncologia, sendo uma instituição privada conveniada ao SUS, localizada em Fortaleza, CE, Brasil. O estudo foi voltado para o desenvolvimento e validação de material educativo destinado à orientação do uso do succinato de ribociclibe no tratamento do câncer de mama avançado.
Inicialmente, foi realizado o desenvolvimento de uma cartilha contendo informações destinadas à orientação do uso do succinato de ribociclibe e posteriormente a sua validação por juízes especialistas na área.
A cartilha foi elaborada considerando aspectos de conteúdo, linguagem, design e layout. Para a definição do conteúdo, foram consultadas bases de dados (PubMed/LILACS/Scopus/SciELO), protocolos clínicos e diretrizes terapêuticas da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), bem como a bula do medicamento. A linguagem utilizada foi adaptada para a fácil compreensão, e a construção da cartilha foi realizada em plataforma de design gráfico (Canva), utilizando layout que permita o entendimento das informações disponibilizadas.
Uma vez desenvolvida, a cartilha foi validada por um comitê de juízes pelo método Delphi24. Tal metodologia permite reunir as opiniões de um grupo de especialistas com o objetivo de encontrar um consenso fundamentado acerca de um determinado assunto25.
O comitê de juízes foi formado por farmacêuticos especialistas na área de oncologia. Dessa forma, foram incluídos os farmacêuticos do serviço de referência em oncologia devidamente habilitados na área, bem como os farmacêuticos residentes do primeiro e do segundo ano, sendo excluídos os farmacêuticos residentes externos e os farmacêuticos de outras instituições, compondo então uma amostra por conveniência de 15 juízes.
O contato com os juízes foi feito mediante aplicativo de mensagens (WhatsApp), pelo qual cada um foi convidado a participar do estudo. Dessa forma, cada juiz recebeu a cartilha desenvolvida (Material Suplementar) e o link para o formulário eletrônico, criado na plataforma Google Forms, que contém o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Apêndice A) e o questionário de validação (Apêndice B) presentes no Material Suplementar.
Os juízes que aceitaram participar do estudo, após assinatura do TCLE e preenchimento dos dados pessoais, avaliaram a cartilha desenvolvida pelo questionário de validação, o qual possui 12 perguntas divididas em três grupos: objetivo e relevância, conteúdo e linguagem, e aparência.
Para a mensuração da concordância entre os juízes, foi calculado o Índice de Validade de Conteúdo (IVC), uma ferramenta capaz de medir a proporção ou a porcentagem de juízes que estão em concordância sobre determinados aspectos da cartilha desenvolvida26. Tal método emprega uma escala de Likert27, contendo pontuação de 1 a 4 (1: discordo totalmente; 2: discordo; 3: concordo; 4: concordo totalmente). Dessa forma, o IVC foi calculado pela razão entre o número de respostas "3" ou "4" marcados pelos juízes e o número total de respostas. Para cada grupo de perguntas avaliado, foi calculado um valor de IVC, sendo posteriormente calculada uma média geral, cuja taxa de concordância aceitável deve ser igual ou superior a 0,8.
O presente estudo seguiu os preceitos éticos de acordo com as Diretrizes e Normas para a Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (Resolução 466/201228 e 510/201629), estabelecidas pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), sendo submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Instituto do Câncer do Ceará (ICC) e devidamente aprovado sob o número de parecer 7.106.994 (CAAE: 83285624.0.0000.5528).
RESULTADOS
O conteúdo escolhido procurou abordar os seguintes assuntos: apresentação do medicamento e orientações gerais de uso, efeitos adversos mais comuns, interações medicamentosas mais relevantes, cuidados de armazenamento e principais condutas em caso de perda ou esquecimento de dose. Dessa forma, conforme o roteiro proposto, foi construída uma cartilha, utilizando linguagem clara e objetiva, em uma plataforma de design gráfico que permitisse o uso de um layout atrativo para facilitar ainda mais a compreensão das informações dispostas.
Como parte do processo de validação, a cartilha desenvolvida foi submetida à avaliação de um grupo de juízes especialistas. Tal grupo foi composto por 15 farmacêuticos, dos quais dez aceitaram participar da validação. Desses profissionais, seis são do sexo feminino e quatro são do sexo masculino, a faixa etária variou de 23 a 35 anos. Além disso, 90% dos participantes possuíam menos de dez anos de formação, sendo o grupo composto por três farmacêuticos especialistas e sete residentes, dos quais três são do segundo ano e quatro são do primeiro ano.
Após análise da cartilha desenvolvida, os juízes responderam à 12 perguntas, as quais foram divididas em três blocos (objetivo e relevância – 3 perguntas; conteúdo e linguagem – 4 perguntas; e aparência – 5 perguntas), expressando seu grau de concordância por uma escala de Likert, composta por uma pontuação que varia de 1 a 4 (1: discordo totalmente; 2: discordo; 3: concordo; 4: concordo totalmente).
O primeiro bloco de perguntas buscava avaliar aspectos relacionados ao objetivo e à relevância. Dessa forma, pretendia verificar se a cartilha desenvolvida cumpria o objetivo para o qual foi criada, sendo relevante às pacientes em uso do succinato de ribociclibe.
De acordo com as respostas obtidas, conforme mostra a Tabela 1, 90% dos juízes atribuíram valoração 4 (concordo totalmente), enquanto 10% dos juízes atribuíram valoração 3 (concordo) para as perguntas que compreendem o primeiro bloco, o qual obteve um valor de IVC igual a 1.
O segundo bloco de perguntas buscava avaliar aspectos relacionados ao conteúdo e à linguagem. Dessa forma, pretendia verificar se as informações dispostas na cartilha desenvolvida estavam de acordo com a literatura científica e se eram capazes de auxiliar as pacientes durante o tratamento, incentivando a adesão à terapia e o autocuidado, por meio de uma linguagem clara e objetiva.
De acordo com as respostas obtidas, conforme mostra a Tabela 2, 87,5% dos juízes atribuíram valoração 4 (concordo totalmente), enquanto 12,5% dos juízes atribuíram valoração 3 (concordo) para as perguntas que compreendem o segundo bloco, o qual obteve um valor de IVC igual a 1.
O terceiro bloco de perguntas buscava avaliar aspectos relacionados à aparência. Dessa forma, pretendia verificar se as informações estavam dispostas em uma sequência lógica e se o formato escolhido (cartilha) era o mais adequado, se o tamanho e a fonte da letra, bem com as cores utilizadas estavam apropriadas, e se as ilustrações escolhidas se relacionavam adequadamente com o texto.
De acordo com as respostas obtidas, conforme mostra a Tabela 3, 84% dos juízes atribuíram valoração 4 (concordo totalmente), enquanto 16% dos juízes atribuíram valoração 3 (concordo) para as perguntas que compreendem o terceiro bloco, o qual obteve um valor de IVC igual a 1.
Assim, o nível de concordância desejado entre os juízes especialistas foi alcançado, uma vez que a média dos valores de IVC dos três blocos de perguntas foi igual a 1. Logo, foi considerada como validada a cartilha desenvolvida para a orientação do uso do succinato de ribociclibe no tratamento do câncer de mama avançado.
Por fim, ao concluir o questionário de validação, os juízes foram convidados a registrar elogios, críticas e sugestões que julgassem necessários para o aperfeiçoamento da cartilha desenvolvida, conforme mostra o Quadro 1.
A Figura 1 ilustra a capa da versão final da cartilha. No entanto, o resultado da construção do material educativo pode ser visualizado no Material Suplementar.
DISCUSSÃO
O câncer de mama configura-se como uma doença crônica não transmissível (DCNT), sendo considerado um grave problema de saúde pública. No Brasil, é o tipo de neoplasia que mais atinge o sexo feminino, gerando sequelas físicas e psicossociais às mulheres que se submetem ao tratamento30,31.
Nas últimas décadas, tem-se observado um aumento no uso de antineoplásicos orais para o tratamento do câncer de mama, trazendo uma maior comodidade às pacientes. Os iCDK4/6, como o succinato de ribociclibe, pertencem a uma nova classe de medicamentos que desempenham papel significativo no tratamento do câncer de mama avançado (receptor hormonal positivo/HER-2 negativo), porém sua utilização requer recomendações específicas para estabelecer bons resultados clínicos32.
De acordo com a American Society of Clinical Oncology, quanto maior o acesso a terapias antineoplásicas orais, maior a necessidade de estratégias que visem à orientação do uso correto e seguro desses medicamentos, uma vez que a adesão ao tratamento está diretamente relacionada ao entendimento que o paciente tem sobre o seu regime terapêutico33.
Estudos mostram que o emprego de ferramentas educativas contribui de forma positiva para o processo de ensino-aprendizagem e para o empoderamento dos pacientes e também de seus cuidadores, pois constituem uma forma de reforçar as orientações verbais fornecidas durante as consultas com profissionais de saúde34-36.
Dessa forma, a elaboração de materiais educativos exige a definição adequada do seu processo de criação37. De acordo com Aragão et al.38, tais materiais precisam ser de fácil manejo e compreensão, atrativos – despertando o interesse e a curiosidade do leitor – e de baixo custo para a sua replicação.
Sugisaka et al.39, ao elaborarem e validarem cartilhas destinadas à orientação do uso dos antineoplásicos orais frequentemente prescritos para o tratamento do câncer de mama (anastrozol, tamoxifeno e capecitabina), reforçam o potencial de tais instrumentos para a promoção do conhecimento, contribuindo assim para uma maior compreensão da terapia proposta e o consequente aumento da adesão das pacientes.
Um estudo europeu sobre a influência de um programa de informação na adesão ao tratamento, envolvendo mulheres com câncer de mama em uso de inibidor de aromatase, mostrou que as pacientes que receberam informações adicionais, entre elas o uso de folhetos educativos, apresentaram uma maior taxa de adesão à terapia, reforçando a compreensão do público-alvo sobre a doença e seu tratamento40. Numa perspectiva nacional, Gonçalves et al.21 já haviam produzido material educativo objetivando uma comunicação efetiva ao público pediátrico e seus familiares acerca do tratamento proposto. Outros trabalhos além do campo da oncologia também destacam o cuidado farmacêutico potencializado pela produção de cartilhas educacionais41,42.
Embora esta cartilha tenha sido validada apenas entre os profissionais farmacêuticos responsáveis pela dispensação do succinato de ribociclibe, a cartilha também deveria ser validada entre as pacientes que estão em tratamento como o inibidor de CDK4/6, a fim de verificar sua aceitação, e, posteriormente, sua contribuição na adesão dessas mulheres a essa nova classe de antineoplásicos orais usados no tratamento do câncer de mama avançado. Tal limitação será retificada em um estudo futuro.
Assim, este trabalho ao propor o desenvolvimento e a validação de uma cartilha educativa voltada para a orientação do uso do succinato de ribociclibe inova contribuindo para a disseminação de informações corretas e seguras acerca das novas terapias direcionadas ao câncer de mama, auxiliando na compreensão da forma de uso e no manejo das reações adversas de tais medicamentos e promovendo o aumento da adesão à terapia e a construção de uma relação de confiança entre farmacêutico e paciente. Essas são estratégias que podem ser amplamente inseridas nos sistemas de saúde.
CONCLUSÃO
Em virtude do que foi exposto no presente trabalho, verifica-se que os objetivos traçados foram atingidos. Dessa forma, foi construída uma cartilha voltada para a orientação do uso do succinato de ribociclibe no tratamento do câncer de mama avançado, considerando aspectos de conteúdo, linguagem e aparência, sendo ela avaliada por um grupo de juízes especialistas, os quais apresentaram um nível de concordância considerado aceitável para a validação.
Espera-se, portanto, que este instrumento educativo seja uma ferramenta útil para o uso correto e seguro dos inibidores de CDK4/6, atuando na promoção do conhecimento e na adesão das pacientes à terapia.
DECLARAÇÃO DISPONIBILIDADE DE DADOS
Todos os conteúdos subjacentes ao texto do artigo estão contidos no manuscrito.
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Editado por
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Editora-científica:
Anke Bergmann. Orcid iD: https://orcid.org/0000-0002-1972-8777
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
01 Dez 2025 -
Data do Fascículo
2026
Histórico
-
Recebido
17 Jul 2025 -
Aceito
05 Set 2025


