RESUMO
Este estudo verifica os níveis de autoeficácia de atletas do sexo feminino de esportes estéticos. Foram aplicados o questionário sociodemográfico e a Escala de Autoeficácia Geral Percebida EAGP. Foram realizadas as análises estatísticas para comparação ANOVA, Kruskal-Wallis e U de Mann-Whitney. A pesquisa incluiu 139 praticantes de natação e ginásticas artística e rítmica do sexo feminino, divididas entre elite e não-elite. As atletas de natação apresentaram maiores níveis de autoeficácia em comparação com as ginastas rítmicas e artísticas. Não foram encontradas diferenças significativas nos níveis de autoeficácia com base no nível competitivo ou tempo de prática. Conclui-se que a autoeficácia varia de acordo com a modalidade.
Palavras-chave:
Esportes; Autoeficácia; Psicologia do esporte; Mulheres
ABSTRACT
This study verify the self-efficacy levels of female athletes in aesthetic sports. The sociodemographic questionnaire and the General Perceived Self-Efficacy Scale were applied were applied. Statistical analyses for comparison included ANOVA, Kruskal-Wallis, and Mann-Whitney U tests. The study included 139 female practitioners of swimming, artistic gymnastics, and rhythmic gymnastics, divided into elite and non-elite groups. Swimmers exhibited higher self-efficacy levels compared to rhythmic and artistic gymnasts. No significant differences were found in self-efficacy levels based on competitive level or practice duration. It is concluded that the self-efficacy varies according to the sport.
Keywords:
Sports; Self efficacy; Sports psychology; Women
RESUMEN
El estudio verifica los niveles de autoeficacia de atletas femeninas en deportes estéticos. Se aplicaron un cuestionario sociodemográfico y la Escala de Percepción de la Autoeficacia General. Se realizaron análisis estadísticos comparativos mediante ANOVA, Kruskal-Wallis y la prueba U de Mann-Whitney. La investigación incluyó a 139 practicantes femeninas de natación, gimnasia artística y gimnasia rítmica, divididas en categorías de élite y no élite. Las nadadoras presentaron mayores niveles de autoeficacia en comparación con las gimnastas rítmicas y artísticas. No se encontraron diferencias significativas en los niveles de autoeficacia según el nivel competitivo o la duración de la práctica. Se concluye que la autoeficacia varía según la modalidad deportiva.
Palabras clave:
Deportes; Autoeficacia; Psicología del deporte; Mujeres
INTRODUÇÃO
A autoeficácia tem sido considerada como um fator chave para um bom desempenho esportivo, devido a sua importância para a motivação, persistência perante às dificuldades e determinação para superar desafios e alcançar metas (Machado et al., 2014; Sivrikaya, 2019). De acordo com Bandura et al. (1977), a autoeficácia se refere à crença que um sujeito tem sobre suas capacidades de realizar tarefas que lhe são exigidas, bem como a crença em suas capacidades de exercer controle sobre situações que afetam sua vida. Assim sendo, não se trata da habilidade que o sujeito possui de realizar uma determinada tarefa com sucesso, mas seu julgamento sobre a capacidade que ele possui (Kodden, 2020).
A teoria da autoeficácia apresenta dois conceitos principais, a expectativa de eficácia pessoal e a expectativa de resultados (Gouvêa, 2009). A expectativa de eficácia pessoal, se refere à crença em seu próprio potencial para executar uma ação, o que influencia as atividades que o indivíduo escolhe fazer, além do esforço e persistência que ele apresenta ao se deparar com desafios e fracassos nessa atividade (Gouvêa, 2009). Em contraponto, a expectativa de resultados diz respeito à crença de que uma ação atingirá um determinado resultado esperado (Gouvêa, 2009).
Nesta perspectiva, a autoeficácia está relacionada à capacidade de um indivíduo se manter praticando uma modalidade esportiva independente dos obstáculos encontrados durante esse processo (Bandura, 2006). Assim sendo, a autoeficácia tem um papel importante na adesão e manutenção das atividades esportivas (Rabelo e Neri, 2005).
Alguns estudos discutem a relação entre autoeficácia e desempenho esportivo em diversas modalidades, como futebol, basquete, tênis, atividade física e exercício físico em geral (Bray et al., 2004; Folkins e Sime, 1981; Hatzigeorgiadis et al., 2008; Marcos et al., 2010). Nesses estudos observa-se uma associação entre níveis de autoeficácia e bom desempenho, onde os atletas e praticantes que exibiram altos níveis de autoeficácia apresentaram melhor desempenho do que aqueles de baixa autoeficácia (Lochbaum et al., 2023; Ortega et al., 2009; Souza et al., 2013).
Intrínseco ao desempenho e para além dele, a autoeficácia tem uma grande influência sobre vários fatores. Atletas com boa percepção de autoeficácia têm uma maior motivação, apresentam maior esforço e persistência na busca por seus objetivos e na superação de obstáculos, exploram mais seu ambiente e tem uma tendência a almejar objetivos mais complexos e desafiadores (Pacico et al., 2014; Sbicigo et al., 2012; Tirmzai e Mughal, 2020; Yang, 2021).
Em contrapartida, uma baixa autoeficácia pode gerar dúvidas, principalmente se crenças positivas ainda não estão estabelecidas (Scholz et al., 2002). Dessa forma, atletas com uma baixa autoeficácia tendem a duvidar das próprias capacidades, acreditando que seus esforços não irão influenciar em seus resultados, se tornando conformados com a conjuntura (Scholz et al., 2002). Além disso, a baixa autoeficácia também está associada a menor motivação, ansiedade, depressão, impotência e baixa autoestima (Scholz et al., 2002). Além disso, o estudo realizado por Horcajo et al. (2022) mostra que a certeza na autoeficácia tem um impacto significativo no desempenho de indivíduos em contextos atléticos e acadêmicos. Indivíduos com maior confiança tendem a se sair melhor (Horcajo et al., 2022).
Conforme Machado et al. (2023), a fonte mais evidente de autoeficácia é quando um atleta ou equipe obtém algum sucesso. Ao mesmo tempo, fracassos sucessivos contribuem para expectativas de eficácia mais baixas (Weinberg e Gould, 2008). Ao mesmo tempo, fracassos sucessivos contribuem para expectativas de eficácia mais baixas (Weinberg e Gould, 2008).
Neste cenário, alguns estudos tratam sobre a relação entre os níveis de autoeficácia e fatores como o tempo de prática, nível competitivo e modalidade praticada (Lavoura e Machado, 2006). Um estudo realizado com atletas de esportes de aventura constatou que atletas mais experientes se julgavam mais capazes de realizar ações específicas do esporte (Lavoura e Machado, 2006). No entanto, uma pesquisa realizada por Kyrillos (2016) com atletas de esportes individuais, apontou que a experiência no esporte não influencia diretamente na autoeficácia. Esse mesmo estudo concluiu que a autoeficácia varia de acordo com a modalidade esportiva praticada.
Em outro estudo realizado com atletas de vôlei, considerando o gênero, idade e tempo de prática dos participantes, foram encontradas evidências de que a idade e o tempo de prática não garantem necessariamente um aumento na autoeficácia dos atletas (Machado et al., 2023). A crença na eficácia pode estar mais relacionada à percepção do contexto, ao oponente e às circunstâncias específicas em que o atleta se encontra, em vez de ser simplesmente uma função do tempo de prática ou da idade (Machado et al., 2023).
Uma pesquisa analisou, ainda, que a autoeficácia pré-evento é um fator chave no desempenho esportivo, com atletas com alta autoeficácia mais propensos a estabelecer metas desafiadoras, persistir diante de contratempos e performar melhor sob pressão (Lochbaum et al., 2023). Contudo, indicaram que existe uma variabilidade significativa nos resultados, indicando que fatores contextuais e individuais podem influenciar essa relação. Além disso, Reigal et al. (2019), apontam que a autoeficácia dos atletas tem um efeito significativo na redução da ansiedade competitiva (Reigal et al., 2019).
Nesta conjuntura, algumas modalidades demandam que o atleta tenha uma preocupação com sua aparência física, visto que essa pode influenciar em sua avaliação em uma competição; é o caso dos esportes de caráter estético (Neves et al., 2016; Petrie e Greenleaf, 2011). As modalidades estéticas são modalidades que prezam pela magreza ou são dependentes do peso, dito isso, as ginásticas, saltos ornamentais, patinação artística, líder de torcida, nado artístico, natação, triatlo, ciclismo e bodybuilding são alguns exemplos dessa classe (Burgon et al., 2023; Chapa et al., 2022; Reardon et al., 2019).
Em uma busca preliminar e não sistematizada em bases de dados científicas, não foram identificados estudos que investigassem especificamente a autoeficácia em esportes estéticos. Deste modo, pensando nas especificidades desses esportes, relacionado a uma avaliação por notas e uma grande cobrança por uma excelência técnica, além da necessidade da exposição corporal, a pressão para ter um corpo dentro dos padrões competitivos, tanto nas ginásticas quanto nos esportes aquáticos supracitados (Bruin et al., 2011; Rezende et al., 2020; Neglia, 2021; Witkoś et al., 2022), o objetivo deste estudo é avaliar os níveis de autoeficácia de atletas do sexo feminino de esportes estéticos, segundo suas diferentes modalidades, tempo de prática e nível competitivo.
MATERIAIS E MÉTODOS
Estudo transversal quantitativo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Humana da Universidade Federal de Juiz de Fora (CAAE: 67377022.1.0000.5147). As participantes foram recrutadas entre agosto e dezembro de 2023 por meio de convites distribuídos online (via e-mail, Instagram, Facebook e WhatsApp). Adicionalmente, foram realizadas abordagens presenciais em centros de treinamento e eventos esportivos nas cidades de Juiz de Fora (MG), Rio de Janeiro (RJ) e Volta Redonda (RJ). Treinadores, gestores e outras figuras influentes nas modalidades investigadas atuaram como informantes-chave (gatekeepers), colaborando com a divulgação do estudo junto às atletas sob sua orientação e por meio de redes sociais.. A inserção no campo de pesquisa ocorreu por meio de contato prévio com treinadores e/ou responsáveis técnicos de equipes e a escolha das cidades e modalidades teve como justificativa a relevância regional das práticas esportivas e a viabilidade de acesso aos locais e participantes, respeitando os limites éticos e logísticos da pesquisa. Participaram praticantes de diversas modalidades estéticas do sexo feminino, com idades entre 12 e 39 anos, abrangendo diferentes níveis de competição e em período de treinamento. Foram excluídas atletas que declararam possuir diagnóstico de transtorno alimentar (TA), estarem grávidas, apresentarem doenças crônicas e/ou utilizarem contraceptivos hormonais, conforme indicado por respostas “sim” ou “não” nos questionários. A coleta de dados ocorreu por meio de questionários eletrônicos disponibilizados na plataforma Qualtrics. Todas as participantes incluídas assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ou o Termo de Assentimento, conforme aplicável.
Instrumentos
Questionário sociodemográfico: criado pelas pesquisadoras, incluiu questões sobre idade, peso, altura, modalidade esportiva, competições, frequência de treinos, premiações e histórico de enfermidades.
Escala de auto-eficácia geral percebida (EAGP): traduzida e validada por Souza e Souza (2004), avalia tomadas de decisão, autoavaliação e comportamento. A escala é autoaplicável, com 10 itens respondidos em formato tipo Likert de 1 (não é verdade a meu respeito) a 4 (é totalmente verdade a meu respeito). A pontuação se dá por meio da soma dos valores dos itens, quanto maior a pontuação maior a percepção de auto-eficácia.
Análise estatística
Foi utilizado o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 29.0 e adotado nível de significância de p-valor<0,05. A variável nível competitivo foi reagrupada em: elite (competições nacionais e internacionais) e não-elite (competições municipais, estaduais e regionais). Para descrever as variáveis categóricas sobre a prática esportiva, utilizou-se frequências relativas e absolutas. O teste Shapiro-Wilk verificou a distribuição dos dados contínuos. As variáveis com distribuição normal foram descritas por média e desvio-padrão, enquanto as com distribuição não-normal foram descritas por mediana e intervalos interquartis. Comparações das variáveis antropométricas, idade e horas de treino por dia entre os esportes, foram feitas com teste ANOVA (paramétricos) e teste Kruskal-Wallis (não-paramétricos). O teste U de Mann-Whitney comparou características da prática esportiva e pontuação do EAGP.
RESULTADOS
Participaram desta pesquisa 139 praticantes, das quais 47,5% são da ginástica artística (n = 66), 25,9% da ginástica rítmica (n = 36) e 26,6% da natação (n = 37).
Quanto ao nível competitivo, na ginástica artística 8 (12,1%) são de elite e 58 (87,9%) são não elite. Na ginástica rítmica 10 (27,8%) são de elite e 26 (72,2%) são não elite. Por fim, na natação 13 (35,1%) são de elite e 24 (64,9%) são não elite (Tabela 1).
Com relação aos anos de prática, na ginástica artística 34 (51,5%) praticam de 0 a 2 anos, 12 (18,2%) entre 2 e 5 anos, e 20 (30,3%) a mais de 5 anos. Na ginástica rítmica 9 (25%) praticam de 0 a 2 anos, 9 (25%) entre 2 e 5 anos, e 18 (50%) a mais de 5 anos. Na natação 4 (10,8%) praticam de 0 a 2 anos, 3 (8,1%) entre 2 e 5 anos, e 30 (81,1%) a mais de 5 anos (Tabela 1).
A Tabela 2 apresenta a descrição das características sociodemográficas das variáveis numéricas analisadas. Além disso, a tabela sinaliza as comparações entre as modalidades esportivas. Ressalta-se que foram adotados testes paramétricos para altura e índice de massa corporal (IMC) e testes não-paramétricos para idade, peso e horas de treino por dia.
Análise descritiva das variáveis sociodemográficas contínuas e suas comparações entre as modalidades esportivas.
A ANOVA mostrou diferenças estatisticamente significativas na altura e IMC e, conforme o post hoc, as praticantes de natação apresentaram medidas maiores (p-valor < 0,001; r = 0,142) e (p-valor < 0,001; r = 0,104), nestas duas variáveis, os tamanhos de efeito foram pequenos. O teste de Kruskal-Wallis mostrou que idade, peso e horas de treino/dia foram diferentes entre as modalidades esportivas, com nadadoras com valores maiores em idade e peso, comparado às outras modalidades (p-valor < 0,001; r = 0,352) e (p-valor < 0,001; r = 0,447), com tamanhos de efeito moderados. As praticantes de ginástica artística tiveram menores valores nas horas de treino/dia em comparação às outras duas modalidades, com tamanho de efeito moderados (p-valor < 0,001; r = 0,456) (Tabela 2).
Sobre os escores do instrumento que avaliou autoeficácia comparados conforme as categorias sociodemográficas relacionadas ao esporte, houve diferença estatisticamente significativa e tamanho de efeito pequeno na pontuação do EAGP dentre as modalidades esportivas (p-valor < 0,035; r = 0,185), porém quando se analisou par a par, não foi encontrada diferença entre as modalidades. Tanto no nível competitivo, como em anos de prática não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas (p-valor = 0,423; r = 0,067) (p-valor = 0,499; r = 0,106) (Tabela 3).
comparação da pontuação do EAGP dentre as categorias sociodemográficas relacionadas ao esporte.
DISCUSSÃO
A partir dos dados antropométricos foi possível observar que as atletas de ginástica rítmica e artística apresentaram menor altura, peso e IMC comparado às atletas de natação. Tal fato pode ser explicado pelas especificidades de cada modalidade, considerando que essas ginásticas exigem um padrão de corpo com baixa massa corporal, apresentando um controle rígido do peso (Santos et al., 2023). Além disso, uma característica das atletas de ginástica artística é a baixa estatura, pois considera-se um aspecto vantajoso para o alto rendimento (Martins et al., 2023).
Outra diferença observada foi quanto a idade das participantes dentre as modalidades, na qual as atletas de natação apresentam idade superior às atletas de ginástica. As modalidades ginásticas são caracterizadas por uma especialização esportiva precoce (Cerqueira et al., 2024). Nessas modalidades as categorias por faixa etária iniciam com idades relativamente baixas, o que favorece essa especialização e gera a crença de que para alcançar excelência técnica a atleta deve iniciar a prática o mais cedo possível (Cerqueira et al., 2024). Uma das consequências dessa especialização é a desmotivação e abandono cedo da prática, o que pode explicar presença de uma menor faixa etária nas atletas de ginástica (Cerqueira et al., 2024).
Foi encontrada uma diferença na pontuação do EAGP, visto que as atletas de natação apresentaram maiores níveis de autoeficácia, seguidos da ginástica rítmica e, por fim, a ginástica artística. Essa variação é consistente com os achados de Kyrillos (2016), que indica que os níveis de autoeficácia variam em função da modalidade e considerando as especificidades de cada modalidade abordada nesta pesquisa.
No caso da natação, apesar de ser um esporte que preza pela magreza, a característica de exigência da performance física é direta e mais mensurável, como o tempo e a velocidade, por isso, a percepção de autoeficácia pode estar mais alinhada com os resultados objetivos da prática, facilitando uma avaliação mais concreta da competência (Price et al., 2024).
Por outro lado, uma das características mais marcantes das ginásticas rítmica e artística é o grande grau de exigência sobre a perfeição técnica, pela qual os árbitros avaliam as atletas conforme a beleza dos movimentos e a dificuldade das acrobacias, o que gera uma grande pressão nas atletas dessas modalidades (Boaventura, 2009; Oliveira et al., 2017). Além disso, a forma física das atletas pode influenciar de forma direta e indireta na avaliação dos árbitros (Penatti, 2014). Dessa forma, pode-se pensar que a exigência técnica juntamente com a pressão estética por um padrão específico de corpo poderia explicar a menor pontuação de autoeficácia nestas modalidades (Penatti, 2014).
Além disso, a relação entre autoeficácia e autoconfiança sugere que pessoas com maior autoeficácia tendem a se sentir mais confiantes, o que facilita o sucesso (Moneva e Tribunalo, 2020; Casiraghi et al., 2020). Ademais, para Fernandes et al. (2021), dentro do contexto esportivo, a autoconfiança deriva-se do conceito de autoeficácia elaborado por Bandura et al. (1977).
Segundo Tertuliano et al. (2019), a experiência competitiva é capaz de contribuir para a interpretação das demandas do ambiente competitivo, o que auxilia no desenvolvimento da autoconfiança. Concomitantemente, um estudo com atletas brasileiros amadores aponta que atletas com alta experiência competitiva apresentam maior autoconfiança quando comparados àqueles com baixa experiência competitiva (Fernandes et al., 2021). Contudo, esse resultado não foi observado neste estudo, ao passo que não houve diferença entre a pontuação de autoeficácia entre atletas de elite e não elite. Isso pode sugerir que, embora a experiência competitiva seja um fator relevante, a forma como as atletas percebem seu próprio desempenho nas modalidades estéticas – incluindo a relação com padrões estéticos e a avaliação externa – pode ter um impacto mais direto na percepção de sua autoeficácia.
Conforme Gouvêa (2009), quanto menor a experiência do atleta em uma modalidade, maior será sua tendência a se comparar com os atletas ao seu redor para julgar suas capacidades, o que pode resultar em uma grande preocupação com o desempenho e consequentemente uma diminuição de sua autoconfiança. Além disso, as experiências de sucesso têm como resultado um aumento da autoeficácia, assim sendo, a maior experiência na modalidade pode propiciar maiores situações de percepção de sucesso (Nazario et al., 2013).
Um estudo com esportes de aventura observou que atletas mais experientes se julgavam mais capazes de realizar as ações específicas da modalidade (Lavoura e Machado, 2006; Nazario et al., 2013). Outro estudo, realizado com atletas de voleibol de alto rendimento, apontou que quanto maior o tempo de prática, maior será a autoeficácia (Machado et al., 2023). Nesse contexto, os dados deste estudo apontam que a experiência nas modalidades não se refletiu diretamente na autoeficácia, sugerindo que a vivência nas práticas estéticas pode ser mais complexa, envolvendo não apenas fatores de habilidade técnica, mas também uma análise crítica das pressões externas, como as expectativas estéticas e sociais associadas a essas modalidades.
CONCLUSÃO
Diante o exposto, considerando que esta pesquisa buscou avaliar os níveis de autoeficácia de atletas do sexo feminino de esportes estéticos, segundo suas diferentes modalidades, tempo de prática e nível competitivo, foi possível identificar uma diferença na pontuação da autoeficácia entre as modalidades. Em contrapartida, não foi observada diferença na pontuação da autoeficácia nas variáveis nível competitivo e tempo de prática.
Deste modo, pode-se considerar que a autoeficácia varia de acordo com a modalidade. Neste caso, os atletas de natação apresentaram maior autoeficácia em relação aos atletas de ginástica rítmica e ginástica artística, o que pode ser explicado pela grande exigência de perfeição técnica e a pressão estética presentes nas modalidades ginásticas.
A autoeficácia exerce um importante papel para que um indivíduo inicie uma prática esportiva e continue a praticá-la, sendo capaz de influenciar em seu desempenho esportivo, autoestima e motivação, bem como auxiliar na prevenção da ansiedade e depressão. Considerando a grande importância da autoeficácia na vida dos praticantes de exercício físico em geral, são necessários mais estudos nesta área, visando um melhor entendimento sobre a autoeficácia, sobre os fatores na qual tem influência e sua variação ou não nas diferentes variáveis dentro do esporte.
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FINANCIAMENTO
O presente trabalho não contou com apoio financeiro de nenhuma natureza para sua realização.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
12 Set 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
-
Recebido
22 Jan 2025 -
Aceito
26 Jun 2025
