RESUMO
O trabalho estuda o papel do esporte na política externa da República Popular da China nos 50 anos desde a retomada das relações com o Ocidente, na “Diplomacia do ping-pong”, em 1972, até o anúncio da parceria estratégica com a Rússia, durante a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022. Mais do que mostras da reorientação geopolítica do país, tais eventos integram uma política constante no período, incluindo as candidaturas chinesas para sediar os Jogos Olímpicos de Verão em 2000 e 2008 e a atuação junto ao COI com o objetivo de deslegitimar as aspirações de Taiwan por reconhecimento e autonomia no sistema internacional. Os valores relacionados ao esporte também sustentaram o discurso do Partido Comunista Chinês associado às reformas econômicas pós-revolução Cultural.
Palavras-chave:
Esporte e política; China; Jogos Olímpicos; Diplomacia esportiva
ABSTRACT
The work studies the role of sport in the foreign policy of the People’s Republic of China in the 50 years since the resumption of relations with the West, in “ping-pong diplomacy”, in 1972, until the announcement of the strategic partnership with Russia, during opening of the 2022 Winter Olympic Games. More than just showing the country’s geopolitical reorientation, such events are part of a constant policy during the period, including Chinese bids to host the Summer Olympic Games in 2000 and 2008 and the work with the IOC with the aim of delegitimizing Taiwan’s aspirations for recognition and autonomy in the international system. Values related to sport also supported the Chinese Communist Party’s discourse associated with post-Cultural Revolution economic reforms.
Keywords:
Sport and politics; China; Olympic Games; Sports diplomacy
RESUMEN
Se estudia el papel del deporte en la política exterior de la República Popular China en los 50 años desde la reanudación de las relaciones con Occidente, en la “diplomacia del ping-pong”, en 1972, hasta el anuncio de la asociación estratégica con Rusia, durante los Juegos Olímpicos de Invierno de 2022. Más que mostrar la reorientación geopolítica, tales eventos son parte de una política durante el período, incluidas las candidaturas para los Juegos Olímpicos de 2000 y 2008 y el trabajo con el COI con el objetivo de deslegitimar las aspiraciones de Taiwán de reconocimiento y autonomía en el sistema internacional. Los valores relacionados con el deporte también respaldaron el discurso del Partido Comunista Chino tras las reformas posteriores a la Revolución Cultural.
Palabras clave:
Deporte y política; China; Juegos Olímpicos; Diplomacia deportiva
INTRODUÇÃO
“Diplomacia do ping-pong” é como ficou conhecida a negociação secreta que possibilitou a aproximação dos líderes dos EUA, Richard Nixon, e da China, Mao Tsé-Tung em 1972, marcando a retomada das relações diplomáticas entre as duas nações, interrompidas duas décadas antes, por conta da Guerra da Coreia. O encontro, em Beijing, tinha como pano de fundo um torneio amistoso daquela modalidade esportiva. O evento foi significativo sob o ponto de vista das relações internacionais por dois motivos: por um lado, marcou a reaproximação entre EUA e China, e consolidou a deterioração das relações desta com a União Soviética, que já vinha se aprofundando nos anos anteriores. Por outro, é um exemplo paradigmático do emprego do esporte como instrumento de diplomacia, fenômeno que permeia cada vez mais o campo das relações internacionais, desde o século XX até hoje.
Meio século depois, naquela mesma cidade, o presidente chinês Xi Jinping recebeu o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ocasião em que ambos divulgaram uma declaração conjunta anunciando o aprofundamento de suas relações bilaterais e a parceria política e estratégica em níveis inéditos e que a amizade a partir dali “não teria limites”. A declaração marca uma reconfiguração do jogo de poder entre as três potências militares (China, EUA e Rússia), num contexto de contestação da ordem hegemônica norte-americana e da Guerra da Ucrânia. O anúncio ocorreu horas antes da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Beijing, em fevereiro de 2022. Concebido como uma plataforma para aprimorar a reputação internacional de ator poderoso no sistema internacional (Lee, 2021), o megaevento também foi utilizado pelo governo chinês como instrumento de amplificação da mensagem transmitida com a divulgação da declaração.
Os dois fatos denotam a estratégia chinesa de acoplar o uso político do esporte com a diplomacia estatal. Mais do que uma coincidência, para além do fato das exatas cinco décadas que os separam, os eventos emolduram um fenômeno que tem sido constante ao longo desse período. Assim, o presente artigo tem o objetivo de examinar o uso do esporte como ferramenta de política internacional, usando como caso de estudo a experiência da China no período entre 1972 e 2022. Para isso, analisaremos eventos históricos no campo do esporte da China e os respectivos condicionantes e motivações internas e externas.
Iniciamos com o estudo da Diplomacia do ping-pong e a reaproximação da China com os EUA. Após, trataremos da atuação junto ao Comitê Olímpico Internacional (COI), ao longo dos anos 1970, pelo reconhecimento do país como representante junto à entidade, em paralelo à busca por deslegitimar Taiwan como país-membro. A seguir, trataremos da participação do país nos Jogos Olímpicos pela primeira vez, em 1984, as candidaturas para sediar os Jogos de 2000 e de 2008, quando o país se consolida como potência econômica, justamente num momento de crise do modelo capitalista ocidental. Encerramos com os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, que sinalizam a reaproximação do país com a Rússia e a defesa de uma nova configuração do sistema internacional.
REVISÃO DE LITERATURA
O estudo das inter-relações entre o esporte e a política internacional tem sido objeto de atenção crescente ao longo das últimas décadas pelos estudiosos das relações internacionais. Em 1986, Trevor Taylor chamou a atenção para o fato de que essa então incipiente relação era “um caso de negligência mútua”. Apesar da grande presença do esporte na sociedade e do próprio uso do esporte como ferramenta de política externa, como demonstração de poder ou de mediação de relações interestatais, o interesse acadêmico no tema era limitado. Anos mais tarde, Levermore e Budd (2004), sustentaram que “Do ponto de vista das relações internacionais, o interesse pelo esporte vinha muito atrás do tema principal da disciplina: a luta interestatal por segurança e poder” (Levermore e Budd, 2004, p. 18). Foi só a partir do final do século XX que temas que transcendessem aqueles considerados como da “alta política” internacional estadocêntrica (como os militares, de segurança e diplomacia tradicional) passaram a ganhar espaço, segundo os autores. Com a emergência de novos atores, como empresas e entidades transnacionais, e novos temas, como questões de gênero, abriu-se espaço para abordagens acadêmicas mais próximas das teorias crítica e pós-estruturalista. Ainda que se possa argumentar que o esporte não ocupe papel tão central no funcionamento e na dinâmica interestatal, na mesma medida dos processos econômicos ou políticos, os autores sustentam que “o esporte é um ponto de acesso, já que é parte importante do sistema internacional, e é moldado por ele, ao mesmo tempo em que o influencia” (Levermore e Budd, 2004, p. 9).
Nos anos 1970, percebendo a crescente politização dos temas da economia internacional e constatando a incapacidade de se explicar as dinâmicas do poder internacional apenas levando em consideração a dimensão militar, Joseph Nye e Robert Keohane apresentaram a teoria da interdependência complexa, segundo a qual as relações internacionais seriam determinadas cada vez mais pela inter-relação de complexas e diversas redes que operam de forma simultânea e complexa. Segundo essa teoria, o poder militar estatal passa a dar lugar cada vez mais relevante a redes que extrapolam as relações intergovernamentais, incluindo empresas transnacionais organizações não-governamentais e questões culturais, por exemplo.
“Essas mudanças na importância relativa do poder militar e econômico são acompanhadas por uma complexidade crescente de atores e questões na política mundial (...) destacam-se quatro elementos: a crescente diversidade de tipos de atores, particularmente atores não estatais, na política mundial; a agenda ampliada da política externa como resultado da maior sensibilidade das sociedades umas às outras em áreas anteriormente consideradas puramente domésticas; as crescentes dificuldades enfrentadas pelos Estados em manter a coerência política; e as crescentes possibilidades de vínculos entre vários tipos de questões.” (Keohane e Nye, 1973, p. 162).
Nos anos 1990, impregnado pelo clima de otimismo que marcava a era da globalização pós-Guerra Fria, Nye apresentou o conceito de soft power, ou “poder brando” ou “poder suave”, definido como “a capacidade de conseguir o que você quer através da atração ao invés de coerção ou pagamentos. Ela surge da atratividade da cultura, dos ideais políticos e das políticas de um país” (Nye, 2004, p. x). Com efeito, o próprio autor menciona, em livro publicado em 2004, que a China pretendia usar os Jogos de Beijing em 2008 como recurso de soft power (p.88). O conceito passou, desde então, a ser usado com frequência como lente teórica para estudar as inter-relações entre esporte e política internacional: Grix e Lee (2013) se debruçaram sobre o fenômeno de os países do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), bloco econômico de potências emergentes, terem apresentado candidaturas para sediar Jogos Olímpicos e Copas do Mundo da FIFA no início do século XXI (China (Beijing) em 2008, África do Sul em 2010, Brasil em 2014 e 2016, Rússia (Sochi) em 2014), baseando-se na ideia da realização de megaeventos esportivos como ferramentas de diplomacia pública, entendida como estratégia estatal de interlocução não com os governos de outros países (caso da diplomacia tradicional), mas sim com suas sociedades diretamente – daí a proximidade do conceito com a teoria do soft power.
No mesmo sentido, Dubinsky (2019) propôs uma discussão teórica e conceitual sobre os conceitos de soft power e diplomacia pública, sustentando que as categorias podem ser aplicadas ao uso de esporte como política externa pelas unidades estatais pelo menos desde a Grécia Antiga, dois milênios e meio atrás, ainda que com consequências percebidas como negativas aos princípios morais do esporte como idealizados por parte da sociedade. Já Brannagan e Giulianotti (2018) questionam a efetividade da exposição midiática aumentada decorrente da realização de megaeventos esportivos por parte de países emergentes, chamando a atenção para o fato de que aspectos negativos dos países acabam tendo maior visibilidade também, como no caso da morte de muitos trabalhadores da construção civil na construção dos estádios da Copa do Mundo FIFA de 2022, no Catar – fenômeno que chamam de soft disempowerment (“desempoderamento brando”).
Já Manzenreiter (2010) estuda o fenômeno de que a percepção a respeito do soft power almejado pelos organizadores de megaeventos esportivos varia conforme o público destinatário das mensagens enviadas, bem como os canais através dos quais elas atingem tais grupos, usando como caso de estudo os Jogos Olímpicos de Beijing em 2008 para demonstrar que nas sociedades ocidentais as mensagens de “jogos verdes” e “tecnológicos” foram suplantadas pelas que mostravam o tratamento do governo de Beijing em relação ao Tibete e minorias étnicas.
METODOLOGIA
O presente trabalho adotou a metodologia de pesquisa qualitativa bibliográfica, tendo como parâmetros de busca nas bases de dados Google Scholar, SCOPUS e JSTOR os termos “China”, “política internacional”, “diplomacia pública”, “esportes”, “jogos olímpicos” e suas traduções em inglês, bem como o termo “soft power”. Foram selecionados artigos, livros e capítulos de livros que tratassem do tema central da pesquisa, bem como literatura de suporte, quando necessária para a contextualização dos fenômenos e momentos históricos tratados.
A pesquisa se limitou ao período estudado (1972 a 2022). Não foram incluídos documentos de fontes primárias, por conta da limitação linguística, nem aqueles com reduzido número de citações. Não foram incluídos todos os documentos identificados, em razão do escopo do estudo e da limitação do tamanho do presente artigo. O trabalho se propõe a ser um estudo longitudinal do período abordado, e não a análise aprofundada de um momento histórico específico, razão pela qual se optou por priorizar trabalhos que trouxessem o estudo do uso do esporte como ferramenta de política externa ao longo das décadas como fenômeno subjacente aos fatos estudados.
DO PING-PONG À ABERTURA PARA O OCIDENTE
Após a Guerra Civil chinesa, em 1949, que resultou na separação entre a República Popular da China (RPC) e Taiwan, a Guerra da Coreia, no início dos anos 1950, marcou o aprofundamento do afastamento da China em relação ao mundo ocidental. Sob Mao, a China apoiou a Coreia do Norte, com quem mantinha relações comerciais e alinhamento ideológico, que lutava contra a Coreia do Sul, apoiadas pelos EUA e outros países ocidentais. A intervenção motivou a imposição de um embargo comercial por parte dos EUA em 1950, seguido por vários países ocidentais (Chen, 2006). Com efeito, o governo chinês cuja legitimidade era reconhecida por aqueles países não era o de Beijing, comunista, e sim o de Taipé/Taiwan, para onde as forças derrotadas, nacionalistas, haviam fugido ao final da Guerra Civil.
Mesmo compartilhando a mesma ideologia, a China e a URSS se afastaram a partir do início da década de 1960, na chamada “ruptura sino-soviética”. A cisão revelou “conflitos profundos que aconteciam por debaixo da fachada de solidariedade comunista” (Radchenko, 2010, p. 349) e foi um fenômeno importante da Guerra Fria. Mais do que representar interpretações divergentes do marxismo, como sustentavam os discursos oficiais à época, o afastamento, sob uma perspectiva realista, conforme sustenta Radchenko (2010), era explicado pela ascensão de duas potências com interesses geopolíticos divergentes. Nesse cenário, Henry Kissinger, então conselheiro de segurança nacional de Nixon, se valeu da concepção de “diplomacia triangular”:
A diplomacia triangular fornecia modelos táticos para alcançar os interesses identificados pela análise realista. Com base na teoria do equilíbrio de poder, a diplomacia triangular envolvia usar as relações com um país como alavanca para extrair concessões de outro. O aprofundamento da divisão sino-soviética e a emergência da China como uma potência global deram ao governo Nixon uma oportunidade de estabelecer relações com a RPC que, ao servir como contrapeso para a União Soviética, forneceria alavancagem adicional para extrair concessões de Moscou. (Smith e Herschler, 2003)
A aproximação efetiva entre os EUA e a China iniciou em Nagoya, no Japão, em 1971, durante a realização do Campeonato Mundial de Tênis de Mesa. Na ocasião, um atleta norte-americano, Glenn Cowan, entrou acidentalmente em um ônibus da delegação chinesa, onde conversou com seu colega chinês Zhuang Zedong. O caráter amistoso da conversa contrastava com as relações entre os dois países, e abriu o caminho para a realização de um torneio amistoso entre os dois países em fevereiro de 1972, em Beijing. O evento serviu de pretexto para o encontro – preparado de forma sigilosa pela diplomacia dos dois países – entre Mao e Nixon, em que consolidaram o caminho para o restabelecimento das relações entre os dois países.
O norte-americano de cabelos desgrenhados foi inicialmente recebido com silêncio, mas Zhuang, o maior jogador do time, deu um passo à frente para apertar a mão de Cowan e falou com ele por meio de um intérprete. Ele presenteou o adolescente com um presente: uma foto serigrafada das montanhas chinesas de Huangshan. Cowan, que se autodenomina hippie, retribuiu o gesto no dia seguinte, dando a Zhuang uma camiseta com o símbolo da paz e a letra dos Beatles ‘Let It Be’. Os fotógrafos registraram o incidente em filme, e a inesperada boa vontade entre as equipes americana e chinesa logo se tornou o assunto do torneio. (ETTU, 2021)
No livro World Order, publicado em 2015, Kissinger reflete sobre a natureza de mistério que envolvia, para os norte-americanos, a reaproximação com um país com o qual as relações enfrentavam hostilidades havia duas décadas. Ao mencionar essa inquietação ao líder Zhou Enlai, Kissinger ouviu: “Você vai achar que não é misterioso. Quando você se familiarizar com ele, não parecerá tão misterioso quanto antes” (Kissinger, 2015, p. 14).
Se para os EUA a aproximação com a China colocava a URSS em situação de desvantagem diplomática, para Beijing a abertura ao ocidente pavimentava o caminho para o reconhecimento como legítima representante daquele país no sistema internacional, em detrimento de Taiwan. Desde 1949, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconhecia a ilha como representante do governo chinês, o que foi alterado em outubro de 1971 com a aprovação da Resolução 2758, que “reconheceu a RPC como única representante legítima da China nas Nações Unidas” e removeu Taiwan (ONU, 1971).
A pressão de Beijing sobre organismos multilaterais foi além: em 1975, Beijing formalizou o pedido de reingresso como membro do COI. Conforme Chan (1985), desde Helsinque, em 1952, a RPC tentava participar dos Jogos Olímpicos, mas enfrentava resistências do COI, cujos regulamentos permitiam apenas a participação de um Comitê Olímpico Nacional por evento, e nem Taipei nem Beijing estavam dispostos a abrir mão da participação. Na ocasião, porém, o COI abriu uma exceção, de modo a permitir a participação de ambos, sob a nomenclatura de “Comitê Olímpico Chinês”, representado por Taipei, e “Comitê Olímpico da República Popular da China”, no caso de Beijing. A solução de “duas Chinas” ia ao encontro do princípio de “uma só China”, defendido por ambos os lados, e cuja reivindicação da legitimidade mantinha a disputa acesa.
Os primeiros Jogos Olímpicos após a visita de Nixon ocorreram em Munique, em 1972. A Alemanha Ocidental ainda tinha as relações com a China congeladas, sob influência dos EUA. No entanto, o convite para que a delegação do país participasse, como observadora, facilitou a abertura do diálogo, resultando no restabelecimento oficial das relações entre os dois países em outubro daquele ano (Chan, 1985). Beijing atuou junto à Federação dos Jogos Asiáticos em 1973, obtendo sua filiação como comitê nacional e a expulsão de Taiwan, bem como a participação nos Jogos Asiáticos de Teerã, em 1974 (Hao, 2019).
No pedido de reingresso no COI, Beijing ainda pedia a expulsão de Taiwan, sustentando que o país já era membro da ONU, e Taipé não mantinha mais esse status. Com a aproximação dos Jogos Olímpicos de 1976, em Montreal, e com a hesitação do COI em adotar um posicionamento oficial, a China pressionou o Canadá, país-sede, a bloquear a entrada de atletas de Taiwan. Recusando-se a ir tão longe, já que havia assumido o compromisso junto ao COI de receber atletas de todos os países-membros, o Canadá demandou que os atletas de Taiwan se abstivessem de competir usando referências à China. A solução foi determinar que os atletas de Taiwan usassem o nome “Taiwan-R.O.C.” (“Republic of China”) e a bandeira dos anéis olímpicos, o que desagradou a delegação, que se via privada de usar sua própria bandeira e nome do país e acabou deixando o evento poucos dias antes da abertura (Chan, 1985).
A situação das “duas Chinas” foi debatida na 81ª Assembleia do COI, em Nagoya, em abril de 1979. A Resolução de Nagoya definiu o Comitê Olímpico da China como oficial representante do país, com direito ao uso do hino e da bandeira. Já Taiwan passaria a ter sua filiação como “Comitê Olímpico do Taipé Chinês”, e usaria uma bandeira distinta da nacional, com os anéis olímpicos e uma referência gráfica ao sol branco no céu azul. As modificações, aprovadas em 1981, incluíam a alteração do hino, que não é o hino nacional, mas o da bandeira, com versos modificados (Chiu et al., 2021). A aceitação do acordo por parte de Taiwan representaria um recuo para evitar perdas ainda maiores. O retorno do país às competições internacionais representava uma face mais visível do final do isolamento do país após o final da Revolução Cultural, em 1976 (Ritchie, 1981).
O ano de 1980 teve a primeira participação efetiva da China como membro do COI, em fevereiro, os Jogos de Inverno de Lake Placid (EUA), enquanto Taiwan, mesmo após ter chegado à vila olímpica, decidiu retornar sem participar do evento. O comitê do país havia ingressado na justiça de Lausanne, na Suíça (sede do COI), questionando as pressões do COI e de Beijing. Em julho, os Jogos Olímpicos de Verão, em Moscou, foram marcados pelo boicote liderado pelos EUA, em retaliação à invasão soviética do Afeganistão, ocorrida meses antes. Embora o alinhamento com o ocidente por si só não chegasse ao ponto de levar a China a aderir ao boicote, a ruptura sino-soviética seguia gerando efeitos, e Beijing via na ação de Moscou uma ameaça às boas relações com os vizinhos Paquistão e Irã (Halliday, 1978). Com isso, o boicote chinês foi muito mais como uma decisão autônoma de Beijing do que efetivamente um apoio aos EUA.
O PÓS-GUERRA FRIA E OS PROJETOS OLÍMPICOS
Ao longo dos anos 1980, a China intensificou as relações com o COI, incluindo diversas visitas do seu presidente, o espanhol Juan Antonio Samaranch, ao país, onde foi recebido por Deng Xiaoping, em 1983. Em 1984, em Los Angeles (EUA) a China participou da primeira edição dos Jogos de verão de sua história (à exceção da participação simbólica em 1952), obtendo uma surpreendente quarta colocação no quadro de medalhas, atrás dos EUA, Romênia e Alemanha Oriental. Ainda que o boicote da URSS na competição tenha aberto espaço para a performance destacada de outros países, mesmo assim o desempenho chinês foi considerado notável.
Hong (1998) ressalta que o movimento olímpico é um fenômeno predominantemente ocidental, tanto em suas origens clássicas na Grécia Antiga quanto no seu relançamento no contexto pós-revolução industrial da Europa ocidental, como Jogos Olímpicos da Era Moderna. Mesmo assim, o ideal universalista tende a admitir e contemplar diferentes vertentes culturais e a participação de sociedades antes alheias ao fenômeno. As reformas econômicas liberalizantes de Deng Xiaoping, ao tempo em que o país se abria para o mundo, estavam em linha com esse ideal: trocava-se o lema de “amizade primeiro, competição depois” da Revolução Cultural por “o importante é competir”, do Barão Pierre de Coubertin. Ao final dos Jogos de 1984, o ministro da Cultura chinês, Wang Meng, declarou que:
Nos últimos anos tem havido muita discussão na sociedade sobre a razão do desenvolvimento bem-sucedido do esporte... Muitos camaradas sentiram que o mecanismo da competição no esporte é comparativamente bem desenvolvido, que a competição é acirrada, além disso, que os resultados não podem ser contestados. A competição é o espírito do nosso movimento de reforma. O sucesso da China nas Olimpíadas é um modelo de reforma nas áreas culturais. (MENG, apud Hong, 1998, p. 156)
A competição, sustenta Hong, simbolizava a transformação cultural subjacente que era levada a efeito com a emergência de uma economia de mercado. Os sucessos esportivos serviam como modelo das reformas econômicas que buscavam competitividade, com os atletas se transformando em ícones de modernização e fontes de inspiração. “Os Jogos de Los Angeles foram a primeira transmissão televisionada da cultura popular do Ocidente para um amplo público chinês. A profunda impressão que deixaram nos telespectadores ajudou a China a se tornar a potência econômica que se tornou um quarto de século depois” (Brownell, 2015, p. 128).
O apoio governamental ao esporte de elite no âmbito internacional e o sucesso dos atletas chineses, conforme Shen (2020), foram instrumentos de busca pela legitimidade do governo/estado, na figura do Partido Comunista Chinês, junto à população no período das reformas. A excelência dos atletas esteve ligada ao senso de nacionalismo, bem como à transição do pensamento preponderante na sociedade em direção a uma visão mais pragmática, necessária para a aceitação das reformas:
Antes das políticas de reforma e abertura, a legitimidade dos partidos políticos chineses dependia em grande parte da ideologia. Após a reforma, o desempenho tornou-se gradualmente a base da legitimidade real, devido à abordagem pragmatista adotada por Deng e pelos reformistas (...) permitindo que a China avançasse rapidamente em direção à reforma após a Revolução Cultural. (Shen, 2020, p. 10)
O sucesso em Los Angeles, bem como a crescente abertura do país ao sistema internacional1, deram tração à ideia de apresentar a candidatura para os Jogos Olímpicos. Em 1985, foi concebida a “estratégia olímpica”, como “uma parte importante da estratégia de tornar a China uma superpotência esportiva, bem como uma potência política e econômica, que poderia competir em igualdade de condições com os Estados Unidos no Ocidente e o Japão e a Coreia do Sul no Oriente” (Wei et al., 2012, p. 31). O objetivo seria realizar os jogos do ano 2000, simbolizando a ascensão do país ao cenário internacional no contexto de virada do milênio.
A candidatura sofreu um revés no final da década de 1980: enquanto a Europa via a queda do Muro de Berlim e o colapso da URSS, a China reprimia com violência os protestos de estudantes na Praça da Paz Celestial (Tiananmen), evento transmitido nas televisões ocidentais. As cenas contradiziam o discurso de abertura e modernização econômica, e traziam à tona o debate sobre os direitos humanos e a real extensão das reformas. A já lançada pré-candidatura de Beijing passou a incorporar o argumento de que os Jogos do ano 2000 acentuariam a abertura, o que atesta o dossiê de candidatura apresentado ao COI em 1992:
As reformas e a abertura política têm sido realizadas de forma estável e em um ambiente pacífico, possibilitando ao povo chinês se beneficiar muito nos últimos 10 anos e mais. O desejo do povo por estabilidade é a mais poderosa e confiável garantia de um ambiente estável na China. Até o ano 2000, a China desfrutará de um grau ainda maior de abertura e estabilidade (Beijing, 1992).
O COI se colocava em um dilema: conferir os Jogos a Beijing seria uma forma de pressionar a China a aprofundar as reformas liberalizantes, ainda mais em um contexto de otimismo em relação ao neoliberalismo e à globalização. Por outro lado, havia pressões contrárias à candidatura, com a alegação de que se estaria premiando um regime que não havia avançado o suficiente em direção às reformas. Conforme matérias jornalísticas da época, o esforço de Beijing pela aprovação da candidatura contou inclusive com a libertação de ativistas políticos que haviam sido presos no escopo dos protestos da praça Tiananmen (Sun, 1993). O resultado, em 1993, foi pela escolha de Sydney, na Austrália, e Beijing ficou em segundo lugar.
Após perder a disputa, o país poderia ter se candidatado para a edição seguinte, de 2004. No entanto, em uma negociação prévia com países da África, chancelada por Samaranch, Beijing havia sinalizado apoiar a qualquer país daquele continente que se candidatasse, o que foi o caso da Cidade do Cabo, na África do Sul (Hong e Zhouxiang, 2012). Embora tenha ficado em terceiro lugar na disputa (vencida por Atenas), a candidatura ajudou a consolidar as relações comerciais e diplomáticas que a China vinha construindo com o continente, num cenário de busca por novos mercados e oportunidades de investimentos. Exemplo dessas novas parcerias é a “diplomacia dos estádios”, estratégia usada pela China para se aproximar daqueles países através da construção de arenas esportivas (Dubinsky, 2021).
No ano 2000, a delegação chinesa atingiu o terceiro lugar no quadro de medalhas dos Jogos de Sydney, feito considerado importante. Na ocasião, o Secretário Geral do Partido Comunista, Jiang Zemin, declarou: “o sucesso dos EUA se deve ao poder econômico, o da Rússia, à experiência no treinamento de atletas de elite, já o da China, ao ‘Juguo tizhi’”, expressão que definia a política estatal de estimular no país inteiro o esporte de alto rendimento (Wei et al., 2010). A declaração projetava para o nível de estratégia de estado o desempenho esportivo em competições internacionais. No ano seguinte, foi lançada mais uma vez a candidatura para os Jogos Olímpicos, para o ano de 2008, novamente com os conceitos de promoção da unidade nacional e abertura econômica. Conforme o prefeito de Beijing, Liu Qi:
Sediar as Olimpíadas inspirará o espírito da nação, consolidará a unidade nacional e mostrará ao mundo as conquistas da campanha de modernização da China. Isso fortalecerá a influência internacional da China, aumentará a compreensão mútua e a amizade entre os chineses e os povos do mundo, facilitará a ‘abertura’ e alcançará um ambiente internacional pacífico para a modernização socialista (QI, apud, Hong & Zhouxiang, 2012, p. 150).
A candidatura contou com especialistas contratados em países ocidentais, bem como estrelas do entretenimento, como o ator Jackie Chan e os Três Tenores. Naquele ano, ainda havia grande receptividade ocidental em relação à ascensão chinesa, embora temas como o respeito aos direitos humanos e os impactos ambientais do desenvolvimento industrial do país já passassem a gerar críticas. O comitê de candidatura havia preparado uma estratégia de respostas a essas críticas, e em abril de 2001, Beijing foi escolhida como sede dos Jogos de 2008, com mais do dobro de votos do que a segunda colocada, Toronto (Hong & Zhouxiang, 2012).
Os Jogos de 2008 foram marcados por uma organização superlativa: em termos de tecnologia, com modernas técnicas e equipamentos de geração e transmissão de imagens, com a inauguração de um moderno sistema de trens de alta velocidade que reduziu o tempo de viagem entre Beijing e Tinjian em dois terços. Também chamaram a atenção a construção de impressionantes arenas esportivas, como o Estádio Nacional “Ninho do Pássaro” e o Centro de Esportes Aquáticos “Cubo d’Água” (Blanchard, 2008; Giulianotti, 2015). As exibições de modernidade e dinamismo remetiam ao modelo de desenvolvimento econômico chinês, o que ocorria exatamente no mesmo momento em que a economia capitalista global enfrentava a maior crise das últimas décadas, com o estouro da bolha do subprime, em 2008. Para Tomlinson (2010), o direito de sediar os Jogos Olímpicos representa o maior reconhecimento que uma cidade pode receber no cenário mundial.
Alcançar o direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2008 trouxe reconhecimento internacional à China como uma grande civilização antiga e uma sociedade em rápido desenvolvimento. Isso marca um divisor de águas no aprofundamento da integração da China na comunidade internacional. A China, como uma nação em modernização que anseia pelo status de grande potência, atribui grande importância política às Olimpíadas de Pequim em termos de construção da identidade nacional e busca da primazia internacional (Xu, 2006, p. 104).
O tema “Olimpíadas verdes, Olimpíadas de alta tecnologia e Olímpiadas do povo” mostrava como o país pretendia projetar sua imagem naquele momento, e coincidia “com sua grande estratégia nacional definida com base na noção de desenvolvimento científico, sustentável e pró-povo, e com o objetivo de construir uma sociedade socialista harmoniosa” (Xu, 2006, p. 104). Além da organização do evento propriamente dito, o país também obteve sucesso no quadro de medalhas, ficando em primeiro lugar, com 51 ouros contra 36 dos EUA. O resultado representou o ápice da evolução do desempenho esportivo: em Barcelona-1992 e em Atlanta-1996, o país ficou em quarto lugar, subindo para terceiro em Sydney-2000 e para segundo em Atenas-2004.
Logo após o encerramento, o país iniciou a preparação para a candidatura para os Jogos de Inverno de 2022. Beijing seria a primeira cidade da história a sediar tanto a edição de verão quanto a de inverno do megaevento. Conforme Chu, esse fato denota que “os triunfos de Beijing estavam intimamente relacionados não apenas aos laços harmoniosos da China com o resto do mundo, à maturidade em lidar com assuntos internacionais [...] mas também ao seu poderio econômico e político sem precedentes no planeta” (Chu, 2018, p. 1317).
A realização dos Jogos de Inverno, além de reforçar as mensagens de que o país está comprometido com o desenvolvimento econômico sustentável, em um período de mudanças climáticas, também representa o ingresso da China em um grupo ainda mais seleto de países. Lee (2021) sustenta que, embora compartilhem de diversas características em comum, os Jogos de inverno e de verão têm conotações sociais e culturais diversas. “Os Jogos de Inverno exibem a aura de luxo e exclusividade, um jogo para os ricos e poderosos. Algumas nações aspirantes buscam sediar este luxuoso festival esportivo para polir suas reputações internacionais como atores poderosos na ordem capitalista global” (Lee, 2021, p. 1494).
O evento, no entanto, foi marcado por um “boicote diplomático” liderado pelos EUA. Meses antes do seu início, sob a alegação de que a China promovia o genocídio do povo Uighur e outras minorias étnicas muçulmanas na região do Xinjiang, no oeste do país, Washington anunciou que seus representantes não participariam do evento. O governo de Xi Jinping alegou que os diplomatas sequer haviam sido convidados, e que o evento era destinado a atletas, mas o mal-estar estava evidente (The Guardian, 2021).
Além do boicote, que foi seguido por alguns países ocidentais, a cerimônia de abertura, realizada em 4 de fevereiro de 2022, também deixou de receber alguns chefes de estado em função da pandemia de Covid-19. Mesmo assim, o momento teve significado geopolítico importante, já que Xi Jinping recebia o presidente russo Vladimir Putin, que estava em Beijing sob o pretexto de acompanhar a cerimônia. Horas antes da cerimônia, ambos aproveitaram as atenções mundiais e divulgaram uma declaração conjunta em que demonstraram alinhamento inédito desde o momento da ruptura sino-soviética:
[Os dois países] reafirmam que as novas relações interestatais entre a Rússia e a China são superiores às alianças políticas e militares da era da Guerra Fria. A amizade entre os dois Estados não tem limites, não há áreas ‘proibidas’ de cooperação, o fortalecimento da cooperação estratégica bilateral não é direcionado a terceiros países nem afetado pelo ambiente internacional em mudança e mudanças circunstanciais em países terceiros (Rússia, 2022).
O documento registra ainda o apoio da Rússia à ideia de que Taiwan é parte inalienável da China, e também a oposição de ambos à expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em direção ao leste europeu. Naquele momento, a Rússia já concentrava tropas próximas à fronteira com a Ucrânia, e a invasão ocorreria menos de três semanas depois.
CONCLUSÃO
Exatamente meio século depois de a China ter usado um torneio de ping-pong para se reapresentar ao mundo, se afastando da URSS e se aproximando dos EUA e do Ocidente, foi também em um evento esportivo, nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, que o país apresentou ao mundo seu redirecionamento geopolítico. Se em 1972 a China de Mao buscou se apresentar como uma nação disposta a promover reformas econômicas e aceitar a aproximação com o bloco capitalista, que viria a consolidar anos depois a preponderância sobre o modelo comunista soviético de desenvolvimento econômico, em 2022, o país se reaproximou justamente da Rússia, cuja invasão da Ucrânia representa a face mais violenta da reacomodação de forças de uma possível transição hegemônica que o mundo vivencia.
Para além das diferenças nos movimentos geopolíticos, ambos os fatos, analisados em conjunto, evidenciam que o esporte tem sido usado no âmbito da política externa chinesa nesse meio século. Por um lado, esses dois fatos ilustram a estratégia de usar eventos esportivos como pretexto para a aproximação de líderes e para a amplificação de mensagens, ao aproveitar o elevado grau de atenção que eventos dessa natureza têm junto às populações de diferentes sociedades. Por outro, toda a sequência de eventos e fenômenos relacionados ao campo do esporte tratados neste artigo mostra que o esporte tem sido usado continuadamente pela China como instrumento de política externa, notadamente nas funções de exercer pressão e neutralizar as pretensões de autonomia de Taiwan e de projetar imagem de dinamismo social, econômico e tecnológico e de desenvolvimento sustentável junto ao sistema internacional.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
10 Fev 2025 -
Data do Fascículo
2025
Histórico
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Recebido
18 Fev 2024 -
Aceito
11 Out 2024