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A economia das trocas simbólicas no campo do Taekwondo

The symbolic trade economy in Taekwondo field

La economía de los intercambios simbólicos en campo del Taekwondo

Resumos

O presente artigo objetivou identificar como se constitui a economia das trocas simbólicas no campo esportivo do Taekwondo. Analisaram-se cinco entrevistas semiestruturadas dos "mestres" dessa arte marcial, agentes atuantes no Estado de São Paulo (2007), para identificar essa economia possivelmente reproduzida nesse campo. Usou-se o referencial teórico de Pierre Bourdieu para análise das entrevistas. Considerou-se que essas imposições simbólicas são reproduzidas e ressignificadas e servem como ferramenta de manutenção de poder e posições no interior do campo esportivo do Taekwondo.

Campo esportivo; Trocas simbólicas; Artes marciais; Taekwondo


The present article aimed to identify how the economy of symbolic exchanges is constituted in the sport field of Taekwondo. We analyzed five semi-structured interviews of the "masters" of this martial art, agents in the State of São Paulo (2007), in order to identify this economy which is possibly reproduced in this field. We used the theoretical framework of Pierre Bourdieu to analyze the interviews. It was considered that these symbolic impositions are reproduced and resignified, and they serve as a tool for maintaining both power and positions within the sports field of Taekwondo.

Sports field; Symbolic exchanges; Martial arts; Taekwondo


Este artículo tiene como objetivo identificar cómo la economía de los intercambios simbólicos se constituye en el campo del deporte de Taekwondo. Se analizaron cinco entrevistas semi-estructuradas de los "maestros" de este arte marcial, agentes en el Estado de São Paulo (2007), con el fin de identificar a esta economía que, posiblemente, se reproduce en este campo. Se utilizó el marco teórico de Pierre Bourdieu para analizar las entrevistas. Se consideró que estas imposiciones simbólicas se reproducen y se resignifican, y sirven como una herramienta para mantener tanto poder como posiciones dentro del campo de deportes de Taekwondo.

Campo de deportes; Intercambios simbólicos; Artes marciales; Taekwondo


Introdução

Descrever a importância de práticas corporais na sociedade moderna e exemplificar fatos que possam comprová-la é perigoso, pois o risco imediato é a explicação por especulações. Isso decorre da constante presença "esportiva" que permeia a fala do ser social acometido pelas diversas formas de transmissões por parte dos meios de comunicação de massa. Portanto, há necessidade de critérios claros para o estudo do ensino do esporte, inclusive no que se refere a seus fenômenos explorados pelas ciências humanas, dado que são fatos sociais, pois não deixam de ser: "[...] toda maneira de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou então, ainda, que é geral na extensão de uma sociedade dada, apresenta uma existência própria, independentemente das manifestações individuais que possa ter" (Durkheim, 1968Durkheim E. As regras do método sociológico. 5ª ed. São Paulo: Nacional; 1968., p. 12).

Para se evitarem tais percalços, torna-se necessário evidenciar que tais práticas podem ser reconhecidas como fenômenos detentores de organizações definidas, tomadas como práticas coletivas repletas de crenças e tendências.

Como eixo central do objeto de estudo, toma-se agora um desses espaços de práticas corporais repletas de crenças e tendências, que, dada sua multiplicidade de definições, expressa sentidos diferentes e repercute no imaginário de praticantes e não praticantes de maneira ímpar: as artes marciais. 1 1 Reconhece-se a pluralidade do termo. Provavelmente "esporte de combate" insere-se mais apropriadamente no Taekwondo, mas o termo arte marcial escolhido aqui revela-se também pertinente mais pelas estratégias usadas pelos agentes para divulgação da modalidade, o que será evidenciado com mais propriedade ao longo do trabalho.

O termo artes marciais engloba um conjunto de modalidades que são reconhecidas popularmente como práticas relacionadas a manifestações corporais e têm suas variações centradas em métodos que exercem influência técnica em defesa pessoal, "bem-estar" e esporte de alto nível.

Por uma análise superficial, há a impressão inicial de que suas variações encontram-se em um quadro bipolarizado: do misticismo religioso oriental (característica principalmente das artes marciais do extremo oriente) de suas criações como forma de ataque e defesa para a guerra e da desmistificação quando associado ao conjunto do esporte formal e define-se como esportes de combate. Mas ao averiguar-se o discurso dos agentes dessas manifestações corporais em trabalhos anteriores (Pimenta e Marchi Jr., 2009Pimenta T, Marchi W Jr. A constituicão de um subcampo do esporte: o caso do Taekwondo. Movimento 2009;15(1):193-215.) é possível evidenciar uma possível relação dialética entre essas aparentemente tão distintas estruturas de pensamento.

Cabe, portanto partir-se de um sentido prévio: de que artes marciais de origem no Extremo Oriente são manifestações corporais de características culturais ímpares – algumas de origem religiosa – criadas pela necessidade bélica de defesa territorial, pela racionalização de movimentos que aprimoram o ato de imobilizar, ferir e/ou matar o oponente e que, hoje, convém-se chamar de práticas que proporcionam condicionamento físico por meio de exercícios corporais específicos e/ou esporte. Nesse sentido, compreende-se que a estrutura esportiva e religiosa – de algumas dessas manifestações – foi constituída muito mais por continuidades do que por rupturas propriamente ditas.

É fato que a disseminação dessas práticas no Brasil, sem intencionalidade ou com intencionalidade e objetivos evidentes de disseminação das práticas, dá início à criação de um locos regido por contradições: esporte profissional versus práticas com fins voltados para a saúde e o bem-estar; prática de exercício físico para embelezamento corporal versus busca de um autoconhecimento pelo estudo de seus possíveis princípios filosóficos; busca de paz interior versus defesa pessoal. Portanto, dando sentido a este trabalho, é necessário explicitar que essas práticas se inserem na cultura corporal possuidora de uma série de sentidos.

Torna-se, portanto, necessária à contribuição para a compreensão da busca e das concepções dos sujeitos modernos por tais práticas, bem como seu processo de ensino e aprendizagem, à medida que determinadas perspectivas religiosas, mágicas e/ou místicas não podem ser vistas, simplesmente, como "coisa em si". Portanto, torna-se indispensável interpretar que o que realmente existe na afinidade entre sujeito e prática são as relações que possibilitam as significações ou ressignificações de seus "princípios filosóficos", que inspiram o encaminhamento de ações que se revelam "normais", pois são obrigatórias, apenas neste espaço específico, como, por exemplo: fazer reverência a uma foto na parede antes e depois de adentrar um local de prática, a uma bandeira de outro país, usar roupas específicas e nada convencionais requeridas pela prática, contar e ser obrigado a decorar a nomenclatura de exercícios corporais em outras línguas, o que só pode ser compreendido pelo recurso teórico de campo, que, para Bourdieu (1983, p. 90)Bourdieu P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero; 1983., significa: "[...] Um estado da relação de força entre os agentes ou as instituições engajadas na luta ou, se preferirmos, da distribuição do capital específico que, acumulado no curso das lutas anteriores, orienta as estratégias ulteriores. Essa estrutura, que está na origem das estratégias destinadas a transformá-la, também está sempre em jogo: as lutas cujo espaço é o campo têm por objetivo o monopólio da violência legítima (autoridade específica) que é característica do campo considerado, isto é, em definitivo, a conservação ou a subversão da estrutura da distribuição do capital específico". "Falar em capital específico é dizer que o capital vale em relação a um certo campo, portanto dentro dos limites desse campo, e que ele só é conversível em outra espécie de capital sob certas condições".

Portanto, como hipótese tem-se que a ideia da constituição do campo das artes marciais não se limita às buscas de poder e espaços, mas complementam-se no capital inicial legitimado dos "mestres", professores que os autorizam a propor interditos e tipos de comportamento que irão, ao longo da prática, formar um ethos específico nos praticantes e nos predispor à obediência – e até mesmo subserviência – dos ditames regidos pelos mesmos seja qual for a modalidade de arte marcial.

Ao adentrar esse espaço, o praticante adota, inconscientemente, uma gama de condutas que devem mantê-lo na sua devida posição no campo. Há, portanto, um investimento inicial por parte do praticante, investimento esse que se objetiva na observância dos ditames determinados pelo campo e para o campo. Tais determinantes são definidos geralmente de forma explícita pelos "princípios filosóficos", como é o caso do Taekwondo – cortesia, perseverança, integridade, domínio sobre si mesmo, espírito indomável – ou mesmo não tão explícito, mas simplesmente aparecem pelas exigências do "mestre" e professor.

O presente estudo procurou elucidar como se processa a conquista e a manutenção de postos no interior do campo da modalidade esportiva Taekwondo e evidenciar o processo de mediação e apropriação de capitais simbólicos por parte de seus agentes.

Portanto, o objetivo do presente trabalho é o de evidenciar como se processa a economia das trocas simbólicas no Taekwondo, modalidade possuidora de agentes específicos que possivelmente esforçam-se por seu pertencimento no campo e lutam por sua legitimidade por meio da observância de possíveis ditames morais exigidos pelo campo e para o campo, como forma de violência simbólica.

Ou seja, neste trabalho ambiciona-se algo próximo do que propôs Sautchuk (2002, p. 180)Sautchuk C. Jogando com símbolos: notas para uma antropologia da regulamentacão da profissão de educacão física. Rev Bras Ciênc Esporte 2002;23(2):179-93.: "Não estou, assim, interessado apenas na dimensão simbólica em si, mas em como, por meio da eficácia simbólica, é possível atuar sobre o real através da representação do real. Em suma, tento apontar o que é arbitrário e se faz passar por natural, pois esta é a essência do poder simbólico".

Material e métodos

A pesquisa visou à não manipulação do ambiente e caracterizar-se como uma pesquisa não experimental. É de natureza qualitativa, a qual objetiva compreender pressupostos de uma realidade que não podem ser quantificados, com vistas a descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis e se caracteriza também como uma pesquisa descritiva. E, do ponto de vista dos procedimentos técnicos, classifica-se como levantamento, pois usou a interrogação direta dos agentes envolvidos com o fenômeno.

Para dar sentido lógico ao trabalho, é necessário pensar que as técnicas precisam estar articuladas com os procedimentos e métodos. Portanto, a de maior relevância para a pesquisa é a técnica de entrevista semiestruturada, aplicada aos agentes responsáveis pelo processo de ensino e disseminação do Taekwondo no Brasil – os "mestres".

A técnica de entrevista semiestruturada busca oferecer respostas às questões factuais de como se exerce a imposição de uma violência simbólica por parte desses professores – "mestres" – em seus alunos; a questões evolutivas, tais como a existência de um possível padrão e mesmo reprodução de imposição de ditames morais exigidos ao longo do período em que tais práticas se inserem no contexto brasileiro; e a questões teóricas, como o por que essa imposição se faz necessária.

As entrevistas foram feitas em 2006 como necessárias para a dissertação de mestrado defendida em 2007 no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Paraná.

A análise dos dados obtidos nas entrevistas pautou-se pelo referencial teórico de Pierre Bourdieu no sentido de respeitar-se o objetivo de analisar o campo das artes marciais como um possível espaço de constantes imposições simbólicas. O uso de seu referencial teórico é capaz de evidenciar que: "[...] As relações sociais não poderiam ser reduzidas a relações entre subjetividades animadas por intenções ou ‘motivações’ porque se estabelecem entre condições e posições sociais e porque, ao mesmo tempo, são mais reais do que os sujeitos que estão ligados a elas" (Bourdieu et al., 2004Bourdieu P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero; 1983., p. 28).

O critério de inclusão dos entrevistados parte de suas experiências na área – mais de 20 anos de prática. Analisaram-se três entrevistas. Todos os entrevistados são atuantes no Estado de São Paulo, ícones do Taekwondo mundial, têm o grau de "mestre" – denominação simbólica legítima no interior do campo das artes marciais de elevado reconhecimento, que classifica hierarquicamente o agente específico que tem muitos anos de prática no campo – e têm em seus currículos a autoridade de serem técnicos da seleção brasileira, paulista e um deles ser um dos responsáveis pela introdução do Taekwondo no Brasil.

No presente artigo são identificados como "mestre A", "mestre B" e "mestre C". Os procedimentos empregados estão de acordo com os princípios éticos que norteiam as pesquisas com seres humanos.

A economia das trocas simbólicas no campo do Taekwondo

A história da modalidade já está repleta de elementos passíveis de serem observados no que contempla as estruturas de manutenção de postos no campo esportivo.

Após sua criação oficial em abril de 1955, o primeiro campeonato de Taekwondo do mundo foi feito na Coreia do Sul em 1964. Em 1965 criou-se a Korean Taekwondo Association, que teve como primeiro presidente o general Choi Hong Hi, que em 1966 fundou a International Taekwondo Federation (ITF), a primeira federação de Taekwondo. Em 1968 inicia-se um processo de ocidentalização dessa arte marcial com sua divulgação para Europa e Estados Unidos e em 1970 há sua introdução no Brasil. Em 1971, o presidente da Coreia do Sul, Park Chung-hee, proclama o Taekwondo como esporte nacional coreano.

Percebe-se uma ordem cronológica de acontecimentos não muito distantes que caminham para um fim: a criação e legitimação de um esporte. As artes marciais coreanas saem de uma esfera bélica e contemplativa para inserir-se em um locus de concorrência por formas de apropriações de espaços definidos em um campo agora mais secular: o esportivo.

É possível afirmar, portanto, que para que o Taekwondo fosse propagado mundialmente como um esporte, de forma rápida, seria necessária uma ruptura da Coreia do Sul – país de influência capitalista – a qualquer espécie de "mancha" comunista, o que demandaria uma série de acordos e guerras.

O meio que os agentes responsáveis por essa arte marcial encontraram foi muito mais simbólico. A partir desse ínterim a história do Taekwondo começa uma fase conturbada, permeada por contradições e suposições referentes ao seu criador.

A história relata que general Choi Hong Hi, criador do Taekwondo, é obrigado a sair da Coreia do Sul em 1972 por supostas ligações com o comunismo e estabelecer-se no Canadá. Kim (2000, p. 20)Kim Y. Taekwondo: arte marcial coreana. 1ª ed. Sorocaba: Thirê; 2000., em seu livro, explica como a imagem de Choi Hong Hi é estigmatizada no interior do subcampo do Taekwondo: atualmente o general é criticado na Coreia, como marginal, comunista e traidor da pátria por alguns dirigentes; porém devemos reconhecer sua importância por ter sido ele o grande responsável pela reformulação do Taekwondo moderno.

Mas referenciais orais relatam que sua fuga para outro país possa ter ocorrido por motivos muito mais enraizados no imaginário coreano do que políticos propriamente: "Eu acho que esse simples político, eu não entendo bem por que, como, qual atrito tenha... Ele tinha atrito com presidente da Coreia aquela época por que... [...] Choi Hong Hi é mais velho do que o presidente Park, então a hierarquia, ele era general, ele era ainda, por exemplo, coronel, não sei... [...] E general já era general na época porque mais novo do que o presidente. Então, como estava falando, aquela hierarquia, aquele sistema coreano dos filhos, entre os filhos tem hierarquia que se obedece e tal. Mas acho que é esse atrito que tinha, outro chegou presidente da nação e Choi Hong Hi entrou lá, era jovem o presidente, então ele queria ser, receber aquele respeito de velho e o outro queria receber aquela postura do presidente, então acho que... Então pode ser mal entendido, não sei de situação, que gente fala. É falava que ‘faltou respeito’. Então assim começou um tipo de dissidência. 2 2 Entrevista fornecida pelo "mestre" A em março de 2006.

As palavras do "mestre A", discípulo do próprio general Choi Hong Hi, explicam que o motivo pelo qual se deu sua saída da Coreia poderia ter sido permeado por fatores que estão intrinsecamente presentes na cultura e na identidade coreana: o respeito à hierarquia etária e militar como fator preponderante em suas ações cotidianas, frutos de uma contingência simbólica.

O presidente Park Chung-hee, que assumiu o poder na Coreia do Sul em 1963 até 1979, exigia "respeito" por parte do general, que hierarquicamente encontrava-se em posição inferior à do presidente e o general Choi Hong Hi, que já ocupava o cargo de embaixador na Malásia desde 1963, por sua vez, exigia respeito por parte do presidente, que era mais novo em idade e de posição militar inferior.

A motivação da saída de seu país natal pode ter sido maquiada pela afirmação de suas possíveis relações com o comunismo, ou ocasionada por uma "confusão" hierárquica nos padrões de ordem estabelecidos pela sociedade coreana, ou, mais ainda, por uma estratégia calculada que pressupunha a saída do general por sua provável relação conturbada presidencial.

Mas descobrir evidências de possíveis conspirações que culminaram com o exílio do criador do Taekwondo de seu país e, por consequência, com a retirada de seu nome dos registros oficiais referentes ao Taekwondo, não é intento deste trabalho, e sim, a partir do reconhecimento de atos como esse, procurar elaborar uma linha de raciocínio que permita distinguir uma lógica no exercer do poderio simbólico e reconhecer que os agentes sociais não fazem atos desinteressados. Para Bourdieu (2005, p. 138)Bourdieu P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero; 1983., há uma razão para os agentes tomarem determinadas atitudes: "[...] razão que se deve descobrir para transformar uma série de condutas aparentemente incoerentes, arbitrárias, em uma série coerente, em algo que se possa compreender a partir de um princípio único ou de um conjunto coerente de princípios. Nesse sentido, a sociologia postula que os agentes sociais não fazem atos gratuitos.

Posteriormente o reconhecimento do Taekwondo como modalidade esportiva e sua consideração pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) em 1980 dão o elemento simbólico necessário para sua afirmação oficial no campo esportivo de alto rendimento, pois exerce uma violência simbólica sobre seus espectadores, praticantes e nos praticantes de outras artes marciais, uma vez que a aquisição do status de esporte nacional e de esporte olímpico é legitimado pelos mecanismos legais que amparam a existência de um campo esportivo, por sua vez, de um subcampo do esporte.

De imediato, torna-se imprescindível observar como o poder simbólico pode ser evidenciado na introdução do Taekwondo no Brasil. Para você se tornar um faixa preta, você tem que ter o diploma da federação mundial, o taekwondista só é considerado taekwondista quando ele se forma, faixa colorida só é um curso, um estágio até você se tornar um taekwondista, faixa preta é taekwondista, faixa colorida não é considerado, entendeu? Quando você tem o diploma da federação mundial, você é reconhecido e isso faz entrar divisas, setenta dólares o primeiro dan, até quinhentos, que é o sexto dan, o meu. Então imagina o mundo todo, estão entrando divisas para a federação mundial e você está divulgando o nome da Coreia também. Então, quer dizer, esse era o intuito de você divulgar, colocar um pouco da cultura coreana em todos os países [...]. 3 3 Entrevista fornecida pelo "mestre" B em março de 2006.

É possível constatar que o Taekwondo articulou sua estrutura para angariar os fundos necessários para a formação de uma base técnica que represente seu país como uma manifestação que se faça presente e reconhecida: o esporte.

Estudos anteriores (Pimenta e Marchi Jr., 2009Pimenta T, Marchi W Jr. A constituicão de um subcampo do esporte: o caso do Taekwondo. Movimento 2009;15(1):193-215.) já trataram do tema referente ao processo histórico de pertencimento do Taekwondo no campo esportivo, portanto intenta-se observar no presente momento como os agentes do Taekwondo variam de acordo com as quantidades e a capacidade de articular os capitais simbólicos de acordo com seus interesses no interior do campo, o que evidencia a maleabilidade do campo, o que o particulariza: "[...] Como um espaço onde se manifestam relações de poder, o que implica afirmar que ele se estrutura a partir da distribuição desigual de um quantum social que determina a posição que um agente específico ocupa em seu seio. [...] A estrutura do campo pode ser apreendida tomando-se como referência dois polos opostos: o dos dominantes e dos dominados" (Ortiz, 1983, p. 21).

Já as manifestações de ordens religiosas orientais aparentemente não se constituíam como o fator preponderante em sua criação. A função de transmitir a cultura coreana por meio do bélico constitui-se em uma forma de manifestação simbólica de violência. A história da introdução do Taekwondo no Brasil confirma: por que 1968? Porque o Brasil acha que estava sofrendo por causa de terrorismo. Aí nessa época coreano ficou famoso por causa de guerra do Vietnã: um soldado matou 28 vietcongues sem arma, assim, notícia no mundo inteiro. Então como é? "Ah, eles estão treinando Taekwondo." Cabeça do soldado coreano tem preço igual ao de um oficial americano para o vietcongue, se corta e se leva cabeça porque eles recebiam prêmio. Então estava valorizado. 4 4 Entrevista fornecida pelo "mestre" A em março de 2006.

Os representantes dominantes das estruturas esportivas (empresários, dirigentes, "mestres" de alto grau hierárquico) usam a violência simbólica como estratégia de mercado, pois a venda dos produtos esportivos se legitima na medida em que o comprador encontra um valor –simbólico – no produto com a marca da federação, marca da modalidade a qual representa, ou seja, a qual lhe confere habilidades e características que ele reconhece no atleta ou representante como peculiares.

A violência simbólica exercida pela modalidade torna-se ferramenta de imposição dos ideais dominantes por meio das manifestações específicas desse fenômeno social. Tanto manifestações advindas do interior do campo para seus próprios agentes – dos dirigentes, "mestres" para os atletas, como do campo para fora dele (das estruturas esportivas para a mídia, posteriormente para o público): "Para além de sua vontade e da consciência que possam ter a esse respeito, tal definição se lhes impõe como um fato e passa a comandar sua ideologia" (Bourdieu, 2004aBourdieu P. A economia das trocas simbólicas. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva; 2004a., p. 154).

Com essa perspectiva é possível afirmar que os códigos não são imutáveis, mas seguem processos de readaptação, pois são criados por agentes repletos de interesses específicos e sua manutenção no jogo dependerá da quantidade de jogadores ao seu favor. Nesse sentido, Sanfelice (2010, p. 144)Sanfelice G. Campo midiático e campo esportivo: suas relações e construcões simbólicas. Rev Bras Ciênc Esporte 2010;31(2):137-53. lembra como tais códigos podem ser móveis e validados. Os códigos atualizam-se, ganham existência pública, visibilidade social, e na medida em que são postos em funcionamento pelas práticas dos sujeitos e pela mídia a partir das regras instituídas, elaboram e constroem novas estratégias para produzir sentidos.

Reconhecendo-se a força coerciva das estratégias e da imposição de um poder simbólico –desempenhado de cima para baixo no processo educativo usado pelos agentes do campo esportivo – é possível afirmar que ele exerce a função de linha norteadora para o conhecimento imediato ou para um conformismo lógico. Bourdieu (2004c, p. 7-8)Bourdieu P. O poder simbólico. 7ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2004c. ressalta a necessidade de: "[...] Descobri-lo onde ele se deixa ver menos, onde ele é mais completamente ignorado, portanto, reconhecido: o poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem".

Evidencia-se de forma pertinente tal relação entre o professor, o aluno e o espectador que vê esse agente como detentor de diversos outros valores, além das qualidades necessárias para a feitura de seu trabalho. Esse "poder carismático" transmitido pelo "mestre" e mesmo pelo atleta advém das manifestações do poder simbólico exercido e mantido pelos agentes no topo da hierarquia burocrática do campo esportivo. E esse poder carismático é: "[...] Conferido a indivíduos supostamente dotados de qualidades especiais que lhes asseguram uma irradiação social excepcional, está baseado numa delegação de poder dos dominados em benefício do dominante, que só faz exercer sobre aqueles o poder que eles próprios depositaram em suas mãos" (Bonnewitz, 2003Bonnewitz P. Primeiras lições sobre a sociologia de P. Bourdieu. Petrópolis: Vozes; 2003., p.103-104).

A influência da hierarquia militar e o conceito de respeito às graduações formam o imaginário do praticante de Taekwondo e dos leigos, que encontram nessa manifestação corporal uma forma de prática que exerça influência na formação de indivíduos "completos": Pois bem, minha história, basicamente, eu era um garoto meio rebelde, apesar de não parecer assim na minha fisionomia, eu era meio rebelde, meio bagunceiro? E meus pais resolveram, falaram "vou procurar alguma coisa para ele fazer, mas tem de ser alguma arte marcial", porque sempre arte marcial os pais lembram que envolve uma filosofia hierárquica, um respeito mútuo [...]. 5 5 Entrevista fornecida pelo "mestre" C em março de 2006.

Muitos são os que iniciam a prática acreditando que a estrutura dessa manifestação corporal pauta-se pelos preceitos de defesa pessoal e da disciplina às exigências militares e religiosas orientais, o que evidencia que essas influências contribuíram para o estabelecimento de uma pedra marcial e espiritual que será responsável pela formação do conteúdo simbólico das subsequentes artes marciais coreanas, que aparentemente reproduzem a necessidade de imposição e visualização das estruturas constituídas desse subcampo do esporte.

A influência simbólica desses agentes, essencialmente no interior do campo religioso, foi sendo deixada à margem do "jogo" à medida que o movimento social foi marginalizando o místico e sua ligação com as artes marciais: Eu acho que ainda não formou filosofia do Taekwondo, porque o de que estamos falando é de filosofia de artes marciais da Coreia. [...] Quem colocou nome foi mestre Choi, general Choi colocou princípios: tem de ter integridade, perseverança, espírito indomável, ele escreveu com o nome dele, eu vi que ele estava escrevendo, certo? Mas é definido de Taekwondo um pensamento, uma pessoa dele. 6 6 Entrevista fornecida pelo "mestre" A em março de 2006.

"Mestre" A é enfático ao reconhecer que tais princípios, além de ser frutos de um processo evolutivo social, são a criação de um indivíduo isolado, dotado de alto capital simbólico no interior do campo das artes marciais coreanas que, ciente de uma necessidade de concepção de uma tradição que exaltasse a nacionalidade dos coreanos e divulgasse sua cultura, criou o alicerce "filosófico" que ainda hoje paira sobre o Taekwondo.

O movimento das ideias na teia de inter-relacionamentos do campo jurídico, político, esportivo, do campo das artes marciais coreanas e do subcampo esportivo Taekwondo foi dado por um grupo de agenciadores de capitais, liderados por um indivíduo com o objetivo de divulgar a Coreia do Sul.

Fazer parte do corpo de agentes de um esporte nacional coreano de alto nível e com auxílio do governo parece ser uma ideia interessante para agentes sociais que resolveram orientar suas vidas ao ensino do Taekwondo. A massificação do esporte é conhecimento completo das pessoas, você só consegue isso por meio da mídia e da arte marcial, você não vai conseguir colocar na mídia, só quando é competição. A primeira página que a pessoa lê no jornal é esporte, certo? A pessoa vai lá e lê no esporte, mas ninguém quer anunciar na página esportiva, mas eles gostam de ler a página esportiva, então temos de ir atrás do esporte, isso nós temos de ter, para poder manter o Taekwondo vivo. Se for só arte marcial não vai continuar vivo. Não dá, não vive. 7 7 Entrevista fornecida pelo "mestre" B em março de 2006.

A integração do Taekwondo e seu reconhecimento como modalidade esportiva parecem receber seus méritos pela necessidade de adaptação ao universo de uma economia globalizada, na qual o acúmulo de capital por meio da evidência do mérito pessoal torna-se a constante, afinal: [...] como você vai poder divulgar uma arte marcial em um jornal? Dizendo que é para defesa pessoal? Isso todo mundo sabe, agora se tem uma competição, duas pessoas lutaram, foi campeão pan-americano, aí você tem notícia. 8 8 Entrevista fornecida pelo "mestre" B em março de 2006.

Os elementos simbólicos exercidos por uma modalidade esportiva passam a ser o cerne que liga o Taekwondo à valorização do capital econômico.

Portanto, o desenvolvimento atual de um lado espiritual pela prática da arte marcial torna-se uma busca secular de apropriação de títulos e bens simbólicos, encontra no esporte o meio funcional para tal, deixa alguns praticantes e admiradores confusos quanto à transmissão dos valores religiosos filosóficos orientais associados aos treinamentos físicos, metódicos e racionais exigidos pelo esporte de alto nível. [...] Você faz o esporte, lança as competições e por meio das competições o esporte fica conhecido, por meio das competições você traz o aluno para dentro da academia, aí é que você vai começar a aplicar os princípios filosóficos, a filosofia toda do esporte. 9 9 Entrevista fornecida pelo "mestre" B em março de 2006.

Posteriormente à seleção racional dos praticantes que "aparentam" ser os mais preparados para uma rotina incessante de treinos e abstinência, os "mestres", concomitantemente ao treino racional e metódico, transmitem os valores do Taekwondo arte marcial, uma vez que sua divulgação direta inspirada em preceitos religiosos orientais não se demonstrará lucrativa, mas são de extrema necessidade para a atração dos novos praticantes, bem como para a estratégia de manutenção de posições.

Considerações

Parece certo que os sujeitos buscam a prática do Taekwondo invariavelmente por motivos distintos, mas a essa manifestação corporal atribuem funções características repletas de significados que os sujeitos esforçam-se por agregar em suas vidas para dar sentido à sua interpretação de mundo, uma interpretação que, não por ser uma possível reprodução de um cotidiano marcial, oriental, ancestral, deva ser considerada "globalizada", mas, pelo contrário, é extremamente única, pessoal e intransferível, reproduzida pelos gestos e requerida pelas normas de pertencimento ao grupo de praticantes.

O que se tornou fundamental aqui foi a compreensão da formação de um espaço específico que se caracteriza como um conjunto estruturado de licitações e de solicitações, um espaço que atua como um sistema de possibilidade e até mesmo impossibilidade de expressão, proíbe e encoraja processos psíquicos diferentes entre si e inteiramente diferentes do mundo cotidiano, faz tudo isso por meio de um sistema de satisfações que o próprio espaço propõe (Lins, 2005, p. 16).

Esse espaço dos possíveis forma-se por um processo de ressignificação, recíproca entre agente divulgador e agente receptor, dos valores atribuídos às artes marciais orientais, nesse caso o Taekwondo. Portanto, esse subcampo, herdeiro de uma filosofia encantada mística, não secular, agrega-se a um campo próprio e impõe o seguimento de códigos de condutas e regras de comportamento que apenas os que estão no campo conhecem e reproduzem, ou seja, são definidas por meio de um conjunto de imposições objetivas de ordenamentos simbólicos, pela imposição de um formato de corpo específico por meio da reprodução de exercícios impostos ao mando do "mestre". Os incontáveis atos de reconhecimento que são a moeda de adesão constitutiva do pertencimento e no qual se engendra continuamente o desconhecimento coletivo são ao mesmo tempo a condição e o produto do funcionamento do campo e representam, portanto, muitos dos investimentos na empresa coletiva de criação do capital simbólico que não pode se fazer senão sob a condição de que a lógica de funcionamento do campo como tal permaneça desconhecida (Bourdieu, 2009Pimenta T, Marchi W Jr. A constituicão de um subcampo do esporte: o caso do Taekwondo. Movimento 2009;15(1):193-215., p. 111).

Observa-se que as construções simbólicas de tais práticas não podem ser ministradas sem a conivência de quem as busca. Esse poder simbólico exigido não deixa de constituir-se em um conjunto subjetivo de hipóteses tais como processos de mudanças sociais substantivas que exercem a função de conduzir os padrões de senso comum que são transmitidos pelo extrato dominante, detentor dos meios necessários de transmissão, para a consecução do objetivo fundamental dominante: a manutenção do status quo. É enquanto instrumentos estruturados e estruturantes de comunicação e de conhecimento que os "sistemas simbólicos" cumprem a sua função política de instrumentos de imposição ou de legitimação da dominação, que contribuem para assegurar a dominação de uma classe sobre a outra (violência simbólica) e dão o reforço da sua própria força às relações de força que as fundamentam e contribuem assim, segundo a expressão de Weber, para a "domesticação dos dominados" (Bourdieu, 2004cBourdieu P. O poder simbólico. 7ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2004c., p. 11).

É nesse sentido que o campo de produção simbólica é um microcosmo da luta simbólica entre os grupos – dominantes e dominados – ou seja, é evidente em um pequeno espaço-tempo social reflete as diversas manifestações de poder. Por isso optar-se pelo Taekwondo como recorte metodológico do presente estudo.

O poder simbólico exercido tem a capacidade de modificar e criar as visões do mundo, fundamentar-se como ferramenta essencial de imposição de ideais dominantes transfigurados nas manifestações da indústria cultural e esportiva e das instituições educacionais. Assim, não são possíveis de ser evidenciados facilmente, na medida em que controlam a absorção de capital cultural pela população, pois: "O poder simbólico, poder subordinado, é uma forma transformada, quer dizer, irreconhecível, transfigurada e legitimada, das outras formas de poder: [...] poder simbólico, capaz de produzir efeitos reais sem dispêndio aparente de energia" (Bourdieu, 2004cBourdieu P. O poder simbólico. 7ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2004c., p. 15).

É possível considerar que no campo do Taekwondo a economia das trocas simbólicas pode ser observada em sua conjuntura própria, nos diversos atos de pertencimento ao campo que se processam como as trocas de faixas, as trocas de vestimentas, os testes para aumentar a hierarquia, bem como as posturas corporais que demonstram respeito e submissão ao mais graduado e formas de falar e agir que seriam consideradas incomuns fora do campo em questão.

As análises dos processos que envolvem a imposição do poder de manipular novas visões de mundo por meio de práticas corporais tão características, vêm a se tornar fundamentais para a sociologia do esporte, pois contribuem de forma considerável para compreender a evolução dos gostos e das necessidades dos praticantes por tais manifestações corporais, avança em estudos de práticas populares, mas ainda tão pouco estudadas pela sociologia, e afasta essas práticas corporais do plano de um conformismo lógico.

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    Reconhece-se a pluralidade do termo. Provavelmente "esporte de combate" insere-se mais apropriadamente no Taekwondo, mas o termo arte marcial escolhido aqui revela-se também pertinente mais pelas estratégias usadas pelos agentes para divulgação da modalidade, o que será evidenciado com mais propriedade ao longo do trabalho.
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    Entrevista fornecida pelo "mestre" A em março de 2006.
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    Entrevista fornecida pelo "mestre" B em março de 2006.
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    Entrevista fornecida pelo "mestre" A em março de 2006.
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    Entrevista fornecida pelo "mestre" C em março de 2006.
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    Entrevista fornecida pelo "mestre" A em março de 2006.
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    Entrevista fornecida pelo "mestre" B em março de 2006.
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    Entrevista fornecida pelo "mestre" B em março de 2006.
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    Entrevista fornecida pelo "mestre" B em março de 2006.

Referências

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  • Bourdieu P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero; 1983.
  • Bourdieu P. A economia das trocas simbólicas. 5ª ed. São Paulo: Perspectiva; 2004a.
  • Bourdieu P, Chamboredon JC, Passeron JC. Ofício de sociólogo. 4ª ed. Petrópolis: Vozes; 2004.
  • Bourdieu P. O poder simbólico. 7ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil; 2004c.
  • Bourdieu P. Razões práticas: sobre a teoria da acão. 6ª ed. Campinas: Papirus; 2005.
  • Bourdieu P. O senso prático. 1ª ed. Petrópolis: Vozes; 2009.
  • Durkheim E. As regras do método sociológico. 5ª ed. São Paulo: Nacional; 1968.
  • Kim Y. Taekwondo: arte marcial coreana. 1ª ed. Sorocaba: Thirê; 2000.
  • Pimenta T, Marchi W Jr. A constituicão de um subcampo do esporte: o caso do Taekwondo. Movimento 2009;15(1):193-215.
  • Sanfelice G. Campo midiático e campo esportivo: suas relações e construcões simbólicas. Rev Bras Ciênc Esporte 2010;31(2):137-53.
  • Sautchuk C. Jogando com símbolos: notas para uma antropologia da regulamentacão da profissão de educacão física. Rev Bras Ciênc Esporte 2002;23(2):179-93.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2015

Histórico

  • Recebido
    6 Jul 2012
  • Aceito
    5 Set 2012
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