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O processo de esportivização do remo na cidade de São Paulo (1899-1949)

The sportization process of rowing in São Paulo city (1899-1949)

El proceso de deportivización del remo en la ciudad de São Paulo (1899-1949)

RESUMO

O objetivo deste artigo é analisar a esportivização do remo na cidade de São Paulo. O período recortado é aquele em que o remo foi praticado prioritariamente no rio Tietê. Parte-se da hipótese de que os clubes de regatas e as federações foram elementos fundamentais na transformação do remo na cidade. A análise das fontes mostra que paulatinamente os torneios ganharam contornos mais competitivos e regulamentados. Em meio a estes processos, o rio Tietê, com suas particularidades geográficas, configurava-se como um grande impedimento à esportivização do remo. Conclui-se que ao mesmo tempo em que as práticas ganhavam características mais esportivizadas, semelhantes àquelas internacionalmente instituídas, elas esbarravam nas conjunturas locais, expressas pela geografia do rio Tietê.

Palavras-chave:
História do esporte; Esportes aquáticos; Esportivização; História local

ABSTRACT

The aim of this article is to analise the rowing’s sportization process in the city of São Paulo. The period of this research is the moment when rowing was primarily realized at Tietê river. The hypothesis of this research is regatta clubs and federations were fundamentals to the transformations of rowing in the city. The sources show that tournaments realized in São Paulo became gradually more competitive and regulated. However, the Tietê river, with its geographic particularities, was a huge impediment to the sportization process. The conclusion is, while this practice became more sportive, it knocked against local characteristics, expressed by the geography of Tietê river.

KEYWORDS:
Sport history; Water sports; Sportization; Local history

RESUMEN

El objetivo de este artículo es analizar la deportivización del remo en São Paulo. El período analizado es aquel en que el remo se practicaba principalmente en el río Tietê. Se supone que los clubes de regatas y las federaciones fueron elementos clave en la transformación del remo en la ciudad. El análisis de las fuentes muestra que, poco a poco, los torneos fueron adquiriendo contornos más competitivos y regulados. En medio a estos procesos, el río Tietê, con sus particularidades geográficas, se configuró como un gran impedimento para la deportivización del remo. Se concluye que, al mismo tiempo que las prácticas ganaron características más deportivas, similares a las establecidas internacionalmente, se chocaron con coyunturas locales, expresadas por la geografía del río Tietê.

PALABRAS-CLAVE:
Historia del deporte; Deportes acuáticos; Deportivización; Historia local

INTRODUÇÃO

A esportivização foi o processo por meio do qual algumas formas de passatempos, praticadas por cavaleiros e aristocratas na Inglaterra do século XVIII, passaram a adotar um código de regras mais bem definido. Neste período foi possível identificar as primeiras transformações de divertimentos mais ou menos espontâneos em práticas mais institucionalizadas e regulamentadas (Elias, 1992Elias N. A gênese do desporto: um problema sociológico. In: Elias N, Dunning E. A busca da excitação. Lisboa: Difel, 1992, p. 39-99.).

Entretanto, esse processo de transformações não se limitou àquele contexto histórico. Ao redor do mundo, ao longo dos séculos seguintes, houve o contato entre diversas práticas de culturas físicas locais e os preceitos esportivos, que se disseminavam. Isso possibilitou a esportivização de inúmeros divertimentos, que ganharam características como burocratização, racionalização e especialização (Guttmann, 2004Guttmann A. From ritual to record. New York: Columbia University Press; 2004.). Houve também transformações no espaço em que tais práticas eram realizadas, que tiveram seus contornos mais bem definidos; os materiais utilizados também sofreram alterações e foram padronizados, com o objetivo de melhorar as performances (Vigarello, 2002Vigarello G. Du jeu ancien au show sportif: la naissance d’un mythe. Paris: Éditions Seuil; 2002., 2006Vigarello G. S’entraîner. In: Corbin A, Courtine JJ, Vigarello G. Histoire du corps. Paris: Éditions Seuil; 2006.).

A partir das definições do processo de esportivização, o objetivo deste artigo é analisar esse fenômeno em relação à prática do remo na cidade de São Paulo. O recorte temporal desta pesquisa engloba o período em que o remo foi praticado prioritariamente no rio Tietê. Em 1899 surgiu, nas margens deste rio, o primeiro clube de regatas da cidade, o Clube Esperia. As regatas foram disputadas no rio até o final da década de 1940, quando foram oficialmente transferidas para outras raias na cidade ou na região.

Parte-se da premissa de que os clubes de regatas e, posteriormente, as federações, foram importantes elementos no processo de esportivização das práticas de remo. Para Chartier e Vigarello (1982)Chartier R, Vigarello G. Les trajectoires du sport: practiques et spectacle. Debat. 1982;2(2):35-58. http://dx.doi.org/10.3917/deba.019.0035.
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a história de cada esporte é, antes de tudo, a construção progressiva de um campo de regulamentos cada vez mais precisos. No período recortado para este artigo, o remo não era institucionalizado e nem burocratizado, e a partir da ação dos clubes, começou a ganhar contornos mais esportivos.

Em São Paulo os clubes foram responsáveis por idealizar e realizar os primeiros torneios na cidade. Foi também a partir de sua união que as primeiras federações foram criadas. Esses clubes, fundados muitas vezes por imigrantes, se dedicavam a realizar uma prática que já tinham as regras bem definidas, estabelecidas por federações internacionais (Halladay, 1990Halladay E. Rowing in England: a social history. The amateur debate. Manchester: Manchester University Press; 1990.; Vivier, 1994Vivier C. L’aventure canotière: du canotage à l’aviron: histoire de la Nautique bisontine (1865-1930) [thèse]. Lyon (FR): Université Lyon 1, Sciences et techniques des activités physiques et sportives; 1994.). Entretanto, a cidade de São Paulo contava com uma característica geográfica particular: o traçado do rio Tietê, único lugar disponível para tal prática. De acordo com Jorge (2006)Jorge J. Tietê, o rio que a cidade perdeu: O Tietê em São Paulo 1890-1940. São Paulo: Alameda; 2006., no início do século XX o rio possuía curvas sinuosas e uma grande quantidade de trechos inavegáveis.

Esse artigo parte da hipótese de que, embora o remo praticado na cidade de São Paulo se inspirasse nas práticas já institucionalizadas e regulamentadas, ele contava com características que tornavam a prática particular na cidade. Assim, houve uma adaptação dos preceitos globais da prática esportiva do remo às necessidades locais, expressas pelo rio. Essa hipótese se apoia nos estudos de Krüger (2014)Krüger M. Global perspectives on sports and movement cultures: from past to present – Modern sports between nationalism, internationalism and cultural imperialism. Int J Hist Sport. 2014;32(4):518-34. http://dx.doi.org/10.1080/09523367.2015.1017473.
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, que afirma que o esporte, embora seja um fenômeno global e universal, se relaciona com a cultura física local, regional e nacional. Tais apontamentos são expressos também nos estudos de Góis (2013)Góis E Jr. O esporte e a modernidade em São Paulo: Práticas corporais no fim do século XIX e início do XX. Rev Mov. 2013;19:95-117.. O autor afirma que a relação entre o ideal esportivo e a cultura física local gerou embates, resistências e ressignificações a respeito do esporte em São Paulo.

Para compreender a esportivização do remo na cidade, o artigo divide-se na análise de três questões distintas. A primeira delas, a realização dos primeiros torneios e disputas. A segunda, a criação de ligas e federações, que tinham o intuito de aumentar a regulamentação sobre a prática. Por fim, analisa-se os embates entre clubes e federações a respeito dos locais escolhidos para as provas de remo, que acabaram por afastar as competições do Tietê no fim da década de 1940.

METODOLOGIA

Este artigo têm um caráter historiográfico. As fontes utilizadas para a pesquisa foram: jornais Correio Paulistano e A Gazeta1 1 O jornal Correio Paulistano conta com mais de 15175 edições na Hemeroteca Digital no período recortado (1899-1949). A seleção de edições a serem analisadas passou pelo uso das palavras-chave “remo”, “rowing”, “regatas”. O jornal A Gazeta conta com edições que vão desde 1914 até 1933, e foi submetido ao mesmo processo de análise, pautado nas mesmas palavras-chave. , encontrados na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional; relatórios e revistas mensais produzidos pelo Clube Esperia, encontrados no acervo do clube; revistas do Clube de Regatas Tietê, encontradas em posse do ex-bibliotecário do clube2 2 A documentação que se encontrava na antiga biblioteca do clube encontra-se em posse do ex-bibliotecário, André Navarenho desde que o clube fechou as portas, em 2013. .

Os jornais são relevantes fontes para o estudo das práticas esportivas e do cotidiano dos clubes. O mercado jornalístico foi, de acordo com Vigarello (2008)Vigarello G. O espetáculo esportivo das arquibancadas às telas. In: Corbin A, Courtine JJ, Vigarello G. História do corpo: as mutações do olhar: o século XX. Petrópolis: Editora Vozes; 2008., um importante meio de difusão dos esportes mundo afora. A eles era possível associar mensagens e propagandas, o que o tornava um meio de focalização poderoso. Ao mesmo tempo, o esporte foi capaz de movimentar o mercado de jornais e revistas, dado seu amplo consumo pela população (Vigarello, 2002Vigarello G. Du jeu ancien au show sportif: la naissance d’un mythe. Paris: Éditions Seuil; 2002.). Dessa forma, foram selecionados dois jornais da época para esta pesquisa.

O jornal A Gazeta foi um importante meio de difusão dos esportes na cidade de São Paulo. O projeto editorial do jornal era voltado à modernidade, e nesse ínterim, o esporte foi um elemento inúmeras vezes associado aos benefícios da vida urbana (Toledo, 2012Toledo LH. A cidade e o jornal: a Gazeta Esportiva e os sentidos da modernidade na São Paulo da primeira metade do século XX. In: Hollanda BBB, organizador. O esporte na imprensa e a imprensa esportiva no Brasil. Rio de Janeiro: 7Letras; 2012. p. 52-79.). Além disso, o jornal dedicava amplo espaço em suas páginas para narrar o cotidiano dos diversos clubes esportivos que nasciam na cidade. Não se pode deixar de mencionar o patrocínio do jornal a três grandes eventos esportivos paulistanos: A Corrida de São Silvestre, a Prova Ciclística 9 de Julho e a Travessia de São Paulo a Nado, esse último diretamente ligado ao cotidiano dos clubes de regatas analisados nesse artigo.

O Jornal Correio Paulistano foi um dos maiores do Brasil e o primeiro a ser publicado diariamente na cidade de São Paulo. Para Góis (2017)Góis E Jr. A institucionalização da educação física na imprensa: a construção da Escola Superior de Educação Physica de S. Paulo na década de 1930. Rev. Mov. 2017;23:701-14. o jornal se associava diretamente a um projeto moderno que se pretendia para a cidade, e considerava relevante o papel dos esportes nesse novo ideário de vida urbana. Nas edições utilizadas nesta pesquisa, encontrou-se, no jornal, um forte apoio às ações dos clubes de regatas paulistanos. Em 1904, poucos anos após a fundação do primeiro clube, foi criada no jornal uma seção chama Rowing, com o objetivo de difundir informações a respeito dos eventos ligados ao remo.

Além dos jornais, foram utilizados documentos encontrados nos acervos dos clubes de regatas. Inúmeras são as dificuldades de pesquisas históricas realizadas nesse tipo de arquivo. Em muitos casos – como o do próprio Clube de Regatas Tietê – os clubes fecham as portas, ou, por outras vezes, se desfazem dos documentos por falta de espaços. Ao mesmo tempo, ao encontrar documentos nesses acervos e interpretá-los na produção de discursos sobre as temáticas estudadas, é preciso ter atenção à transformação desses espaços em metáforas do poder. Para Johnes (2015)Johnes M. Archives and historians of sport. Int J Hist Sport. 2015;32(15):1784-98. http://dx.doi.org/10.1080/09523367.2015.1108307.
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muitas vezes esses acervos têm a única função de reiterar as histórias que os clubes querem contar de si mesmos. Cabe ao pesquisador compreender que os documentos não são inócuos, e interpretar os meandros de produção e salvaguarda dos mesmos.

Com base em tais fontes, foram investigadas as transformações na prática do remo, que ganhou contornos mais esportivos nas primeiras décadas do século XX em São Paulo, a começar pelos primeiros torneios disputados na cidade.

OS PRIMEIROS TORNEIOS DE REMO

O Esperia foi o primeiro clube a se instalar nas margens do rio Tietê, em São Paulo, com o intuito de promover a prática do remo, em 1899. Para além de seu pioneirismo, o clube foi também um dos principais clubes de remo da cidade ao longo do período aqui estudado, membro fundador das federações do esporte e um dos clubes que levou representantes para a disputa do remo nas Olimpíadas (Medeiros, 2021Medeiros DCC. Entre esportes, divertimentos e competições: a cultura física nos rios Tietê e Pinheiros (São Paulo, 1899-1949). [tese]. Campinas (SP): Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas; 2021.; Nicolini, 2001Nicolini H. Tietê: o rio do esporte. São Paulo: Phorte; 2001.). Após sua instalação, demorou algum tempo até que outros clubes surgissem às margens do rio. Até seu estabelecimento, os remadores do Esperia participaram de torneios internos ou realizaram disputas em Santos (Nicolini, 2001Nicolini H. Tietê: o rio do esporte. São Paulo: Phorte; 2001.).

Apenas em 1903 foi realizada a primeira regata no rio Tietê, entre clubes paulistanos e santistas (Gallotta e Porta, 2004Gallotta BC, Porta P. Cronologia: 1890-1954. In: Porta P, organizador. História da cidade de São Paulo. São Paulo: Paz e Terra; 2004. p. 603-17.). No ano seguinte foi realizada a primeira disputa entre clubes da própria cidade (Club, 1904a). Esses eventos não eram caracterizados pelos clubes como competições, mas sim como “festas sociais”. Nessas festas, havia uma profusão de atividades desenvolvidas entre os associados, e, dentre elas, as provas de remo. A ampla gama de atividades realizadas nessas festas aponta para a pequena especialização esportiva existente. Com relação ao remo, nem sequer as regras das disputas eram publicadas nas notas dos jornais, que antecediam tais festas (Club, 1905).

Os primeiros torneios divulgados nos jornais da cidade não contavam, por exemplo, com um consenso em relação à distância que seria percorrida pelas embarcações (Rowing, 1907). Outra questão existente era a possibilidade de mudança das regras da disputa pelo clube que organizava o torneio, sem prévio aviso aos demais concorrentes (Rowing, 1907).

Entretanto, um processo de esportivização das práticas aquáticas se constituía, ainda que de forma não linear. Tratava-se de um movimento de adaptações, interpretações e recriações das regras. Ao mesmo tempo em que disputas não regulamentadas ocorriam e eram noticiadas nos jornais, era possível perceber um aumento na regulamentação de outras provas, realizadas no mesmo período. Por exemplo, em 1907, foi divulgada no jornal Correio Paulistano a relação de árbitros que comporiam uma competição de remo (Ás 4, 1907). Na edição seguinte, foi divulgada publicamente a relação dos vencedores da disputa, com o tempo obtido por cada embarcação (O resultado, 1907). Em 1910 foram introduzidas categorias como juniores e sênior, para a divisão dos participantes das regatas (A regata, 1910). Tais mudanças a respeito dos torneios de remo permitem perceber, ainda que lentamente, a especialização de tais práticas.

Um fator relevante para a transformação na regulamentação das competições realizadas na cidade foi a participação internacional dos clubes. Em 1907 os remadores do Esperia tomaram parte de um evento realizado em Montevidéu (Club, 1907). A presença em tal evento gerou debates a respeito da regulamentação da prática do remo na cidade. Alguns meses depois da viagem, ao definir as regras de uma competição interna, o clube anunciou que seguiria as diretrizes da Federação Brasileira das Sociedades do Remo, mais parecidas com as regras utilizadas internacionalmente (Club, 1907).

É possível perceber que, lentamente, um maior rigor institucional procurava unificar os encontros e regulamentos. Para Vigarello (2006)Vigarello G. S’entraîner. In: Corbin A, Courtine JJ, Vigarello G. Histoire du corps. Paris: Éditions Seuil; 2006. os clubes e as associações eram organizações que tinham como objetivo ordenar e promover as práticas de exercícios físicos e esportes. Eles foram, ao redor do mundo, locais importantes de institucionalização e burocratização das práticas esportivas, e não foi diferente em São Paulo.

Nas primeiras décadas do século XX, foi possível notar a gradual separação entre os festivais, realizados pelos clubes e de apelo mais festivo, e os campeonatos, que eram organizados pelas federações e tinham características mais esportivizadas. Mesmo assim, os eventos organizados pelos clubes ganhavam elementos que os aproximavam da normatização de regras e espaços promovida nas competições federadas (Rowing, 1911).

A associação de clubes a federações objetivava solidificar as necessidades de regulamentação das práticas. A federação era o elemento primordial da burocratização esportiva, da promoção de práticas com igualdade de competição, e esses quesitos atraíam os clubes paulistanos, interessados em ampliar as possibilidades competitivas de seus remadores. Dessa forma, a criação de federações estaduais não demorou a acontecer.

A CRIAÇÃO DAS FEDERAÇÕES

A especialização das práticas aquáticas realizadas na cidade de São Paulo passou, principalmente, pela criação de federações e confederações, que tinham o objetivo de regulamentar esportes como o remo e a natação.

Para Guttmann (2004)Guttmann A. From ritual to record. New York: Columbia University Press; 2004., a burocratização é uma das principais características do esporte moderno. Desde suas primeiras manifestações na Inglaterra, surgiu a necessidade de se estabelecer regras que fossem universais, e, ao mesmo tempo, garantir que elas fossem cumpridas. Ao longo do século XX, as nações esportivizadas criaram burocracias governamentais para reafirmar a necessidade de institucionalização das práticas.

No Brasil, a primeira federação voltada à regulamentação dos esportes aquáticos foi a União de Regatas Fluminense, em 1895, responsável por organizar as regatas no Rio de Janeiro (Melo, 1999Melo VA. O mar e o remo no Rio de Janeiro do século XIX. Estud Hist. 1999;13(23):41-71. PMid:20499465.). Em 1902, a União mudou o nome para Federação Brasileira das Sociedades do Remo. Seu intuito, a partir desse momento, passou a ser controlar todas as entidades náuticas do país com relação ao regimento interno, sistemas de disputa e utilização de barcos. Ela legislava também sobre esportes como a natação e o polo aquático. Entretanto, de acordo com Melo (1999)Melo VA. O mar e o remo no Rio de Janeiro do século XIX. Estud Hist. 1999;13(23):41-71. PMid:20499465., São Paulo foi um dos estados que estabeleceu resistências em relação a essa entidade e acabou por criar sua própria Federação.

Assim, em 1904, os clubes de remo paulistanos e santistas se reuniram para criar a primeira entidade voltada a regulamentar as competições náuticas no estado. Formava-se a União Paulista das Sociedades do Remo. De acordo com relatório produzido pelo clube Esperia, a criação dessa entidade “[...] correspond[ia] a uma necessidade inadiavel, quer para o bom andamento das regatas intersociaes, quer para a escolha uniforme dos typos de embarcações chamadas a concorrer” (Club, 1904b, p.5).

O clube Esperia deixou a União algum tempo depois, e, junto a outros clubes da capital e do litoral, criou a Federação Paulista das Sociedades do Remo (FPSR) (Federação, 1907). Essa federação seria responsável por orientar o calendário de competições, com a definição dos locais, categorias e tipos de embarcação para cada prova.

Em âmbito nacional, o remo também se organizava em ligas e federações. Em 1910, a Federação Brasileira das Sociedades do Remo, no Rio de Janeiro, instituiu o Campeonato de Remadores do Brasil, torneio a ser disputado entre as federações conveniadas brasileiras (Nicolini, 2005Nicolini H. Cluster esportivo do rio Tietê-SP. In: Dacosta L, organizador. Atlas do Esporte no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Shape; 2005. p. 49-51.). Em cidades como Porto Alegre (Silva, 2015Silva CF. Esportes náuticos e aquáticos no Rio Grande do Sul, Brasil: a esportivização e contatos culturais nos clubes [tese]. Rio Grande do Sul (RS): Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2015.; Silva e Mazo, 2013Silva CF, Mazo JZ. O conflito do trapiche preto: um confronto entre as torcidas dos clubes de remo porto-alegrenses. Rev Ed Fis UEM. 2013;24(3):401-12.) o remo também ganhava contornos mais esportivos.

Entre as décadas de 1910 e 1920, a FPSR foi responsável por organizar todas as competições aquáticas oficiais de São Paulo, incluindo a natação, o polo aquático e os saltos. Entretanto, a rápida especialização da natação fez com que surgissem apelos para a retirada da modalidade dessa federação, e criação de uma entidade própria.

A necessidade de separação das modalidades aquáticas não era uma exclusividade de São Paulo, e foi comum em outros lugares do Brasil e no exterior (Love, 2008Love C. A social history of swimming in England, 1800-1918: splashing in the Serpentine. New York: Routledge, 2008.). A crescente especialização das práticas exigia novos formatos burocráticos, que tratassem mais especificamente de suas necessidades. Em São Paulo, tornava-se cada vez mais difícil reger todas essas práticas com apenas uma única entidade. Assim, em 1932, foi criada a Federação Paulista de Natação (Vamos, 1931).

Além da retirada da natação da FPSR, a década de 1930 marcou outras transformações na configuração das entidades esportivas em São Paulo. Em 1936, ano de realização das Olimpíadas em Berlim, diversas federações esportivas do estado romperam relações com a Confederação Brasileira de Desportos (CBD)3 3 O problema com a entidade federativa esportiva nacional foi bastante abrangente. Na década de 1930 uma crise se instaurou entre a CBD e as ligas de futebol, que reivindicavam mais autonomia. Essa problemática se estendeu a outros esportes, e terminou com a criação do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Nos Jogos Olímpicos de 1936, a delegação brasileira, sem entrar em um consenso, tentou participar com os dois comitês, o que era proibido pelas regras vigentes (Souza, 2008). . Apesar dos apelos de diversos clubes filiados à FPSR, a entidade resolveu permanecer acordada com a Confederação nacional, o que gerou atritos entre os presidentes dos clubes de remo. Por conta de tal divergência, os clubes Esperia e Tietê se retiraram da entidade e criaram uma nova, a Federação Paulista do Remo (FPR) (O Tietê-S Paulo, 1936).

Nesta nova entidade, além dos dois clubes paulistanos, se filiaram dois clubes do interior, o Carioba e o E.C. Piracicaba, que aproveitaram a possibilidade para viabilizar práticas mais institucionalizadas no interior. Os clubes santistas e os demais clubes da capital não acataram a nova federação, e seguiram associados à FPSR.

Essa cisão se mostrava problemática para o remo em todo o estado, já que, dentre outras funções, as federações tinham como objetivo selecionar remadores para disputas nacionais e internacionais, incluindo-se em tal lista as disputas olímpicas. A falta de consenso a respeito de regras, dos materiais e dos torneios a serem disputados atrapalhava os ideais de treinamento, que começavam a se desenvolver na cidade.

Aparentemente, as problemáticas relacionadas à duplicidade de federações foram resolvidas em 1937. Neste ano, as duas entidades existentes anteriormente foram extintas e uma nova foi criada, a Federação do Remo de São Paulo, instituída em 1938 (Relatório, 1938).

Entre encontros e desencontros, brigas e novas resoluções, o remo paulistano se organizou ao redor de novas entidades nas três primeiras décadas do século XX. Essas federações objetivavam estabelecer novas regras, fiscalizar o cumprimento das antigas, autorizar ou vetar o uso de novas técnicas e equipamentos e selecionar os locais para a realização de competições.

No próximo tópico, serão discutidos os embates na escolha dos locais para as provas esportivas. Os espaços não eram escolhidos de forma aleatória pelas federações. Engendravam-se nessa disputa questões políticas, geográficas e aquelas relacionadas à melhoria da técnica e dos tempos dos esportes.

A ESCOLHA DO LOCAL DAS PROVAS

Desde o estabelecimento da União Paulista das Sociedades do Remo, em 1904, houve uma disputa entre os clubes filiados a respeito do melhor lugar para a realização de provas oficiais. Os clubes de Santos entendiam que o mar era o local adequado para as disputas. Os clubes paulistanos, por sua vez, preferiam disputas que ocorressem no rio Tietê, pela proximidade e pelo conhecimento que seus remadores já possuíam sobre as curvas e a velocidade da água.

Esse debate ganhou novos contornos em 1925, quando a FPSR escolheu um outro local para as disputas oficiais: a represa de Santo Amaro. De acordo com Jorge (2016)Jorge J. A represa de Guarapiranga e os esportes na região de São Paulo (1905-1963). In: Soares CL, organizador. Uma educação pela natureza: a vida ao ar livre, o corpo e a ordem urbana. Campinas: Autores Associados; 2016. p. 181-204., a criação dessa represa remete ao ano de 1908, quando a Light – empresa de energia elétrica paulistana – construiu o reservatório para a obtenção de maior volume d’água nos períodos de seca.

A escolha dessa represa como local de competições oficiais não foi anódina. Em primeiro lugar, sua localização ficava no caminho entre São Paulo e Santos, o que se configurava em uma possibilidade conciliatória para os clubes das duas cidades. Além disso, suas águas, que não eram correntes, se assemelhavam mais aos espaços utilizados para provas oficiais, tanto no Brasil como em outros lugares do mundo (Cho-Cho, 1931). Essa semelhança era importante, já que proporcionaria aos atletas adaptações nas técnicas realizadas. Dessa forma, eles seriam capazes de competir em igualdade com atletas de outras localidades.

De acordo com Vigarello (2002Vigarello G. Du jeu ancien au show sportif: la naissance d’un mythe. Paris: Éditions Seuil; 2002., 2006Vigarello G. S’entraîner. In: Corbin A, Courtine JJ, Vigarello G. Histoire du corps. Paris: Éditions Seuil; 2006.) a evolução dos espaços de prática esportiva permitiu uma transformação nas técnicas corporais. Os espaços que passaram a ser escolhidos para a prática esportiva, ao longo do tempo, tiveram como características o fato de serem reservados, apartados de ações banais, e capazes de promover vantagens técnicas aos competidores. Nessa perspectiva, a realização de competições de remo em Santo Amaro era mais vantajosa do que no rio Tietê ou no litoral.

Entretanto, após as primeiras competições realizadas no local, grande quantidade de críticas foi feita. As matérias publicadas nos jornais a respeito do evento foram inúmeras, com reclamações que iam da falta de arquibancadas até o erro nos balizamentos. Foi sugerido até mesmo que os tempos cronometrados no evento, que tinha caráter oficial, fossem desconsiderados:

Os tempos feitos em um dos primeiros concursos aquáticos em Santo Amaro, não podem absolutamente ser contados, visto que o balizamento foi feito em poucas horas, e as medidas terem sido aproximadas. Apenas no ultimo concurso em Santo Amaro pôde-se julgar mais ou menos o valor dos tempos, e assim mesmo o vento ainda influía muito. (Tempos, 1925).

As considerações postuladas nos jornais corroboravam a opinião da maioria dos clubes paulistanos. Para eles, a escolha de Santo Amaro como espaço oficial de regatas esbarrava na distância a ser percorrida pelos associados. Isso significava, sobretudo, um problema na divulgação e difusão do esporte, já que as provas na represa atraíam menor quantidade de público do que aquelas realizadas em Santos ou no Tietê.

Esses clubes, que eram maioria na Federação e, desta forma, exerciam mais poder sobre as escolhas, tentavam sempre retomar as disputas no rio Tietê. Uma dessas tentativas ocorreu no concurso aquático oficial de dezembro de 1928. Para justificar tal escolha, inúmeras questões foram argumentadas para negar Santo Amaro como um local apropriado. As críticas o descreviam como “[...] um local em que há agua em abundancia, [mas] muito incommodo para a assistencia, por ser muito longe [...]” (O concurso, 1929, p. 16). O rio Tietê seria, então, o palco adequado para as disputas, especialmente depois que o Clube Esperia colocou sua estrutura à disposição do evento:

O Club Esperia [...] ofereceu sua séde e sua raia para serem realisados os pareos do concurso aquativo, o que fez com que o brilhantismo da competição fosse bem maior, pois não somente a assistencia poude apreciar o desenrolar das corridas, da sahida á chegada, como também os concorrentes tiveram todas as facilidades para se apresentarem na hora, e os juizes quase nenhum trabalho tiveram [...]. (O concurso, 1929, p. 16).

Apesar da insistência dos clubes paulistanos, os constantes fracassos competitivos das embarcações paulistanas colocaram a escolha do Tietê em xeque. Isso ficou evidente após os Jogos Olímpicos de 1932, em que paulistanos representaram o Brasil em modalidades de remo. O mau desempenho dos atletas na competição deixava estampado que a escolha do Tietê não favorecia o treinamento adequado para competições de alto nível:

A experiencia que tivemos nas últimas Olímpiadas ficou bem patente que não é possível praticarmos o esporte náutico para competirmos com os estrangeiros, nas condições em que se acham localizados os nossos clubs e no local em que está sendo praticado (O remo, 1935, p. 27).

Entre as décadas analisadas nesse artigo, não houve um consenso sobre o melhor lugar para a prática do remo competitivo. O rio Tietê não apresentava raias adequadas, e, nos primeiros indícios de especialização esportiva, as provas foram transferidas. O litoral também era preterido, por sua distância de São Paulo e a impossibilidade de se assemelhar às disputas internacionais. A represa de Santo Amaro, aquela que mais se aproximava dos novos requisitos esportivos para a prática, foi geralmente criticada pela impossibilidade de atrair o público, essencial ao esporte moderno.

Para os clubes, o que faltava ao rio Tietê era uma raia adequada, que pudesse receber as competições. E, no início da década de 1940, novas luzes foram jogadas sobre tal possibilidade, com o início das obras de retificação do rio. Essas obras, levadas à cabo pelo então prefeito da cidade, Prestes Maia, tinham como objetivo resolver os problemas das cheias do rio e urbanizar seu entorno (Carpintéro, 2013Carpintéro MVT. Arte, técnica e política na trajetória de Francisco Prestes Maia. Urbana. 2013;5(2):20-46. http://dx.doi.org/10.20396/urbana.v5i2.8635074.
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). Havia a expectativa que essa obra arquitetônica transformasse a prática do remo na cidade; “[...] com a retificação que está aí então o publico esportivo da Capital terá oportunidade de ver o que há de sensacional nos grandes páreos.” (No mundo, 1940, p.3 ).

No entanto, a realidade foi outra. Tais obras demoraram anos para serem terminadas, estreitaram a largura do rio e diminuíram sua profundidade. Além disso, os clubes que ficavam às margens do Tietê foram paulatinamente afastados, separados por novas vias de trânsito (Jorge, 2006Jorge J. Tietê, o rio que a cidade perdeu: O Tietê em São Paulo 1890-1940. São Paulo: Alameda; 2006.; Nicolini, 2001Nicolini H. Tietê: o rio do esporte. São Paulo: Phorte; 2001.). Esse fator acabou, de uma vez por todas, com as disputas de remo no rio, que, no final da década de 1940, foram transferidas para a raia de Jurubatuba. (Efetua-se, 1948).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme analisado nos três itens que compõem esse artigo, a prática do remo realizada pelos clubes paulistanos no rio Tietê esportivizou-se nas primeiras décadas do século XX. Os clubes de regatas, e mais tarde as federações, se incumbiram de realizar torneios, definir as regras de disputa, inserir juízes, marcas e escolher os locais de competição. Além disso, os clubes empreenderam processos de treinamento a seus atletas, visando a melhoria da performance e aumento da competitividade em níveis nacional e internacional.

O conjunto desses elementos, quando analisado na extensão das quase cinco décadas analisadas, acabou por transformar a prática do remo. Tais fatores colaboraram para que ela ganhasse um contorno mais competitivo, institucionalizado e regulamentado, semelhante à prática esportiva realizada ao redor do mundo.

Entretanto, havia um impeditivo à prática do remo na cidade: os espaços aquáticos. O Tietê foi o principal deles, mas suas curvas sinuosas, seu traçado incerto, suas águas correntes não eram adequados à sistematização das ações esportivas. Além do rio Tietê, foram encontrados problemas na utilização da lagoa de Santo Amaro e seus excessos de vento e do litoral, que não comportava práticas esportivas de grande porte, de acordo com as fontes. Guttmann (2004)Guttmann A. From ritual to record. New York: Columbia University Press; 2004. afirma que o rigor e o método são elementos constituintes da racionalização, uma das características mais evidentes do esporte moderno. A impossibilidade de lidar com as imprevisibilidades do rio certamente atrapalhava os métodos racionais de treinamento e preparação dos clubes.

A escolha dos locais em que as provas eram realizadas, bem como o uso dos materiais e o treinamento dos atletas também passava por decisões políticas, principalmente no seio das Federações criadas nesse período. Dessa forma, a somatória dos locais de realização das provas e das decisões tomadas pelas Federações operaram certo entrave no estabelecimento de práticas mais esportivizadas de remo nesse período.

Assim, é possível afirmar que ao mesmo tempo em que as práticas ganhavam características mais esportivizadas, semelhantes àquelas internacionalmente instituídas, elas esbarravam nas características locais, expressas principalmente pela geografia do rio Tietê. Os dados encontrados nesse artigo dialogam com as afirmações de Krüger (2014)Krüger M. Global perspectives on sports and movement cultures: from past to present – Modern sports between nationalism, internationalism and cultural imperialism. Int J Hist Sport. 2014;32(4):518-34. http://dx.doi.org/10.1080/09523367.2015.1017473.
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, que evidenciam as interrelações entre as questões globais e regionais na formação e estabelecimento do esporte moderno. Portanto, conclui-se que o processo de esportivização do remo na cidade de São Paulo seguiu os parâmetros estabelecidos em outros locais do mundo com relação a regras, espaços, materiais e treinamentos, mas ao mesmo tempo teve particularidades expressas nas questões geográficas do Tietê.

Esse processo de esportivização tinha como meta, portanto, obter um novo espaço que não contasse com os impedimentos ocasionados pelo rio Tietê. Ao longo das décadas analisadas neste artigo, foram eleitos o litoral e a represa de Santo Amaro, mas nenhum dos dois espaços obteve o sucesso necessário. Foi depois do final do recorte dessa pesquisa que espaços mais adequados para as disputas, como a raia de Jurubatuba e, posteriormente, a raia da USP (Universidade de São Paulo) foram criados para que enfim tal processo se instaurasse por completo4 4 A raia de Jurubatuba começou a ser utilizada já no final da década de 1940. A raia Olímpica da USP teve sua construção concluída apenas em 1973. .

FONTES DE PESQUISA

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Club Esperia. Correio Paulistano. 1905 fev 5: 4.

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Efetua-se amanhã a terceira regata da temporada. Correio Paulistano. 1948 out 30:8.

Federação paulista do remo. Correio Paulistano. 1907 ago 6: 4.

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O concurso aquatico da Federação foi um sucesso para os nadadores do Esperia. Esperia: Revista Mensal do Club Esperia. 1929; 1(4): 16.

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O resultado dos diversos páreos. Correio Paulistano. 1907 set 30: 4.

O Tietê-S. Paulo venceu a 1.a Regata da Federação Paulista de Remo. A Gazeta. 1936 jul 20: Caderno Esportivo: 11.

Relatório anual. Esperia: Revista Mensal do Club Esperia. 1938; 1-3: 4.

Rowing. Correio Paulistano. 1907 jun 29: 5.

Rowing. Correio Paulistano. 1911 nov 8: 7.

Tempos e recordes em natação. A Gazeta. 1925 fev 19:3.

Vamos fundar a Federação Paulista de Natação? A Gazeta. 1931 jan 13: 11.

  • 1
    O jornal Correio Paulistano conta com mais de 15175 edições na Hemeroteca Digital no período recortado (1899-1949). A seleção de edições a serem analisadas passou pelo uso das palavras-chave “remo”, “rowing”, “regatas”. O jornal A Gazeta conta com edições que vão desde 1914 até 1933, e foi submetido ao mesmo processo de análise, pautado nas mesmas palavras-chave.
  • 2
    A documentação que se encontrava na antiga biblioteca do clube encontra-se em posse do ex-bibliotecário, André Navarenho desde que o clube fechou as portas, em 2013.
  • 3
    O problema com a entidade federativa esportiva nacional foi bastante abrangente. Na década de 1930 uma crise se instaurou entre a CBD e as ligas de futebol, que reivindicavam mais autonomia. Essa problemática se estendeu a outros esportes, e terminou com a criação do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Nos Jogos Olímpicos de 1936, a delegação brasileira, sem entrar em um consenso, tentou participar com os dois comitês, o que era proibido pelas regras vigentes (Souza, 2008Souza DAO. Brasil entra em campo: construções e reconstruções da identidade nacional (1930-1947). São Paulo: Annablume; 2008.).
  • 4
    A raia de Jurubatuba começou a ser utilizada já no final da década de 1940. A raia Olímpica da USP teve sua construção concluída apenas em 1973.
  • FINANCIAMENTO

    O presente trabalho não contou com apoio financeiro de nenhuma natureza para sua realização

REFERÊNCIAS

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    21 Set 2021
  • Aceito
    05 Jan 2022
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