Resumos
A retirada de corpo estranho intravascular por técnica percutânea é um procedimento cada vez mais utilizado e que tem se mostrado seguro e eficaz, mesmo em crianças e lactentes. Relatamos o caso de retirada de corpo estranho em ramo arterial pulmonar direito em um neonato prematuro de 18 dias de idade.
Corpos estranhos; Migração de corpo estranho; Cateterismo; Artéria pulmonar
The removal of intravascular foreign body by percutaneous interventional technique is a highly safe and effective procedure that has a low rate of complications even in children and premature infants. We describe a case of foreign body retrieval from the right branch pulmonary artery in an 18-day-old premature newborn.
Foreign bodies; Foreign-body migration; Catheterization; Pulmonary artery
RELATO DE CASO
Retirada de corpo estranho na artéria pulmonar de neonato por técnica intravascular
Percutaneous removal of foreign body from the pulmonary artery in a premature newborn
Márcio Antônio dos Santos; Achilles G. Silva; Flávio C. Pivatelli; Moacir F. Godoy
Serviço de Hemodinâmica do Hospital de Base - Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) - Fundação Regional de Medicina (Funfarme) - São José do Rio Preto, SP
Correspondência Correspondência: Márcio Antônio dos Santos Rua Prof. Carlos Roberto de Oliveira, 67 - Jd. Vivendas São José do Rio Preto, SP - CEP 15090-380 Tel.: (17) 3201-5007 E-mail: marcioadosantos@terra.com.br
RESUMO
A retirada de corpo estranho intravascular por técnica percutânea é um procedimento cada vez mais utilizado e que tem se mostrado seguro e eficaz, mesmo em crianças e lactentes. Relatamos o caso de retirada de corpo estranho em ramo arterial pulmonar direito em um neonato prematuro de 18 dias de idade.
Descritores: Corpos estranhos/terapia. Migração de corpo estranho. Cateterismo. Artéria pulmonar.
SUMMARY
The removal of intravascular foreign body by percutaneous interventional technique is a highly safe and effective procedure that has a low rate of complications even in children and premature infants. We describe a case of foreign body retrieval from the right branch pulmonary artery in an 18-day-old premature newborn.
Descriptors: Foreign bodies/therapy. Foreign-body migration. Catheterization. Pulmonary artery.
O primeiro relato de retirada de corpo estranho intravascular embolizado por técnica nãoinvasiva ocorreu em 19641. Com o advento e progresso das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), com a monitorização hemodinâmica e com o aumento do número de acessos venosos centrais, a embolização de fragmentos de cateteres tornou-se responsável pela maioria dos casos de corpos estranhos intravasculares. É responsável por 1% das complicações associadas a acesso venoso central2-4, podendo levar a tromboembolismo, sepse, arritmia e lesão miocárdica em até 71% dos pacientes5 e morte em 24% a 60% dos casos6. A retirada percutânea do corpo estranho tem sido considerada relativamente simples, segura e efetiva, mesmo em crianças e lactentes2-10.
RELATO DO CASO
Recém-nascido prematuro de 33 semanas e peso de 1.920 g, com 18 dias de idade (data de nascimento: 5 de julho de 2007), internado na UTI neonatal em decorrência de insuficiência respiratória associada à presença de membrana hialina e infecção pulmonar, apresentando-se em ventilação mecânica e fazendo uso de antimicrobianos e drogas vasoativas. Providenciado acesso venoso central por inserção periférica (PICC) em 10 de julho de 2007. Esse acesso foi retirado alguns dias após, não tendo sido notados problemas com o cateter. No dia 23 de julho de 2007, o radiograma de tórax demonstrou a presença de corpo estranho em topografia cardíaca (Figura 1). Solicitado ecocardiograma, que indicou a localização de fragmento de cateter em ramo arterial pulmonar direito.
Após discussão sobre a melhor abordagem (cirúrgica ou percutânea) para retirada do fragmento, em face da posição em que o mesmo se encontrava, optouse pela tentativa percutânea, apesar das possíveis dificuldades de manipulação do cateter-laço.
PROCEDIMENTO
Paciente admitido no Laboratório de Hemodinâmica e Angiografia vindo da UTI em ventilação mecânica e sendo submetido ao procedimento sob cuidados anestésicos. Por meio de acesso venoso femoral, atingiram-se as câmaras cardíacas direitas, com abordagem seletiva do ramo direito da artéria pulmonar com cateter Lehman 6F (Woven), através do qual passou-se o laço metálico do sistema goose-neck. Após várias tentativas, conseguiu-se a captura da extremidade do corpo estranho e pull-back do fragmento para dentro do cateter (Figura 2), tracionando-se o conjunto até a veia femoral, por onde foi retirado.
O procedimento foi realizado sem intercorrências, sendo o tempo para captura do corpo estranho resultante da necessidade de múltiplas manobras a maior dificuldade observada. Após o procedimento, o neonato foi reencaminhado à UTI, recebendo alta para enfermaria em 1º de agosto de 2007 e alta hospitalar em 3 agosto de 2007.
DISCUSSÃO
A retirada de corpos estranhos por técnica percutânea é realizada há mais de quatro décadas e seu uso tem se tornado cada dia mais freqüente. Apesar da realização com freqüência, poucos estudos estão disponíveis na literatura. Com o desenvolvimento de cateteres e endopróteses (coils, stents), aumentou o número de complicações causadas por corpos estranhos intravasculares6.
Vários tipos de cateteres já foram utilizados para retirada de corpo estranho, sendo atualmente o processo de laçamento com o sistema goose-neck o método de escolha (Figura 3). A indicação para retirada de corpo estranho é muito variável e deve levar em conta a localização do fragmento e o perigo de ocorrência de choque séptico, contaminação, trombogenicidade e isquemia, além de perfuração da parede de vasos, principalmente com fios-guia e filtros de veia cava6.
A localização cardiopulmonar (com maior freqüência o átrio direito, a veia cava superior e a artéria pulmonar) é responsável pelas complicações mais graves, que incluem arritmia e perfuração da parede5.
A técnica percutânea é o método de escolha para retirada de fragmentos intravasculares, sendo seguro e efetivo, mesmo em crianças e neonatos. No presente caso, julgamos que a opção de utilizar a via percutânea foi adequada, apesar da relativa demora do procedimento, uma vez que evitou a abordagem cirúrgica bem mais invasiva e com potencial de complicação em recém-nato prematuro gravemente comprometido. Deve-se ressaltar que, do nosso conhecimento, este foi o primeiro procedimento dessa natureza em paciente prematuro de tão baixo peso e idade.
Recebido em: 14/6/2008
Aceito em: 18/7/2008
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Correspondência:
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
15 Ago 2012 -
Data do Fascículo
2008
Histórico
-
Aceito
18 Jul 2008 -
Recebido
14 Jun 2008