Open-access Interação entre os filiados e o partido: a participação política interna e externa à organização do Partido dos Trabalhadores (PT) 1

Interaction between members and the party: political participation inside and outside the workers’ Party (PT)

Interacción entre miembros y el partido: partipación política interna y externa a la organización del Partido de los (PT)

Resumo:

Este artigo investiga a interação entre filiados antigos e novos e a organização do Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil. A partir de dados originais dos filiados, são aplicadas técnicas estatísticas descritivas, bivariadas e multivariadas para identificar as atividades intrapartidárias e sociais mobilizadas por ambos os grupos. Os resultados revelam diferenças nos padrões de ativismo, destacando a participação simultânea dos filiados antigos em atividades sociais e partidárias. Esse achado contribui para os estudos nacionais e internacionais ao mostrar o PT como uma exceção no sistema multipartidário brasileiro, dado seu contínuo engajamento dos filiados na organização partidária.

Palavras-chave:
filiação partidária; partidos políticos; Partido dos Trabalhadores; Brasil

Abstract:

This article investigates the interaction between long-standing and new party affiliates and the organization of the Workers’ Party (PT) in Brazil. Using original data on affiliates, descriptive, bivariate, and multivariate statistical techniques are applied to identify intraparty and social activities mobilized by both groups. The results reveal differences in patterns of activism, highlighting the simultaneous participation of long-standing affiliates in both social and party-related activities. This finding contributes to national and international studies by positioning the PT as an exception in Brazil’s multiparty system due to the continued engagement of affiliates in party organization.

Keywords:
party affiliation; political parties; Workers’ Party; Brazil

Resumen:

Este artículo investiga la interacción entre nuevos y antiguos afiliados y la organización del Partido de los Trabajadores (PT) en Brasil. A partir de datos originales de los afiliados, se aplican técnicas estadísticas descriptivas, bivariadas y multivariadas para identificar las actividades intrapartidarias y sociales movilizadas por ambos grupos. Los resultados revelan diferencias en los patrones de activismo, destacando la participación simultánea de los afiliados antiguos en actividades sociales y partidarias. Este hallazgo contribuye a los estudios nacionales e internacionales al mostrar al PT como una excepción en el sistema multipartidario brasileño, dado su continuo compromiso de los afiliados con la organización del partido.

Palabras clave:
afiliación partidista; partidos políticos; Partido de los Trabajadores; Brasil

Considerações iniciais4

Os velhos petistas, filiados ao Partido dos Trabalhadores (PT) entre os anos de 1980 e 2002, e os novos petistas, filiados ao PT entre os anos de 2003 e 2014, distinguem-se na forma como interagem com o partido? Embora seja um tema clássico da Ciência Política avaliar o papel desempenhado pelos filiados na organização partidária (Scarrow, 2015), esse objeto foi pouco estudado no Brasil (Ribeiro, 2014). Esse artigo tem o objetivo de contribuir para sanar parte dessa lacuna, analisando a interação entre os velhos e os novos petistas e a organização do partido tanto pela perspectiva do seu ativismo interno, isto é, a participação em reuniões e eleições partidárias, quanto externo ao partido, isto é, a distribuição de panfletos e a doação de dinheiro ao partido (Paludo, 2017).

A queda nas taxas de filiações nas últimas cinco décadas levou ao desinteresse pelo estudo dos filiados (Mair, 2003). Devido ao seu escopo comparado e a utilização de dados agregados, essas análises não detalham se quem se desfilia são filiados ativos ou inativos em partidos, o que torna imprecisa a comparação e a generalização do seu declínio (Scarrow, 2015). Assim, equivocam-se ao universalizar a sua irrelevância e desconsiderar as particularidades de cada caso. O Brasil é um exemplo disso: as taxas de filiações sempre foram estáveis e o PT, após o Processo Eleitoral Direito (PED), alterou a lógica de interação com seus filiados elevando a sua base de filiados (Ribeiro, 2008).

Nesse sentido, embora a taxa de filiação permaneça elevada e estável, é razoável supor que os filiados participam em determinadas atividades em função do seu tempo de filiação e características sociodemográficas. Esse trabalho avalia a implicação dessas diferenças de papeis exercidos ao longo do tempo na interação entre a organização do PT e seus filiados, por meio dos padrões de ativismo dos velhos e novos petistas. Deste modo, o artigo preenche tanto uma lacuna teórica, ao analisar a relação entre partido e sociedade pelo ativismo dos filiados, quanto empírica, apresentando dados originais sobre os filiados ao PT, que ainda são raros na agenda partidária brasileira (Assis et al, 2023; Ribeiro, 2014).

Com isso questionamos se o tempo de filiação é um marcador atitudinal que distingue o tipo de interação entre os filiados e a organização do partido. Portanto, avaliamos se os velhos e os novos filiados diferenciam-se em seus padrões de ativismo interno e externo ao PT. Argumentamos, junto a outros referenciais teóricos, que comparar os padrões de ativismo dos filiados pelo seu tempo de filiação é uma forma de avaliar o processo de envelhecimento e dispersão de poder partidário pela relação entre os partidos e seus filiados (Scarrow, 2015).

A fonte de dados deste artigo é o survey com os filiados do PT no Brasil (Paludo, 2017), cujo questionário foi elaborado a partir de documentos da Secretaria de Organização Partidária (SORG). O tamanho da amostra (n = 625) foi definido com base na população do universo estudado (1,7 milhão de filiados ao PT em 2014) com uma margem de erro de 4% e com grau de confiança de 95%. A coleta de dados foi realizada de forma mista: questionários foram enviados pelos Correios na data do Processo Eleitoral Direito (PED) de 2013 e, em março de 2014, foram disparados e-mails aos filiados. A composição final da amostra considerou respostas aos questionários completos entre aqueles que compuseram cotas de proporcionalidade com relação ao sexo, faixa etária e macrorregiões, configurando uma amostra original dos filiados petistas.5

Com esses dados, este estudo avalia um tema clássico aos estudos inaugurais sobre o PT, a interação entre os filiados e o partido. Ao combinar duas perspectivas analíticas (interna e externa) sobre os ativistas partidários (Heidar, 2006), este artigo fornece um novo elemento à leitura sobre as transformações sofridas pelo PT nos últimos anos, com foco na sua ascensão ao Governo Federal, ao avaliar se os velhos e os novos filiados petistas distinguem-se em seu ativismo partidário. Assim, da questão introdutória deste manuscrito desdobram-se duas: O período de filiação é distintivo para a participação dos petistas ou é o decorrer do tempo que impacta o engajamento? Os filiados combinam modalidades internas e externas de participação partidária? A partir das respostas a essas questões, apresentamos um balanço da interação entre a organização e os filiados do PT até o ano de 2014.

Em termos de contribuições, destacamos que o artigo avança em dois aspectos perante as pesquisas anteriores sobre filiados ao PT (Faeti, 2020; Paludo, 2017; Paludo; Borba; Gimenes, 2018). Primeiro, adota uma perspectiva analítica distinta para discutir a interação entre os filiados e a organização partidária. Segundo, compara empiricamente a adequação de leituras concorrentes na explicação da participação partidária de filiados (Scarrow, 2015; Whiteley; Seyd, 2002).

Nossos resultados sugerem haver uma parcial distinção na atuação interna e externa entre os velhos e os novos filiados ao PT, uma questão de papeis executados por esses atores ao longo do tempo vinculados ao partido, no sentido de que os velhos filiados são mais ativos na organização partidária e desempenham menos atividades externas ao partido enquanto os novos filiados são menos engajados e dedicam-se mais à atuação em atividades externas à organização do partido.

O artigo está dividido em cinco partes, esta introdutória e mais quatro, sendo que, na próxima, apresenta-se o quadro teórico da crise do ativismo partidário com foco nos filiados. Depois, expõem-se os aspectos metodológicos, o banco de dados e as hipóteses do trabalho. Na seção empírica, detalham-se os dados, os testes e avaliam-se às hipóteses. Concluímos sugerindo agendas futuras de pesquisa.

Participação dos filiados

A discussão da participação política de filiados em uma organização partidária coloca-nos a necessidade de definir o que entendemos por organização partidária, por filiação partidária e por participação política. Definimos um partido político como uma organização que disputa eleições para influenciar e implementar políticas voltadas ao setor social que visa representar distribuindo incentivos para seus filiados e eleitores (Scarrow, 2015). Já a filiação é o meio pelo qual o indivíduo formaliza o seu vínculo com um partido, o que envolve tanto obrigações como deveres de ambas as partes (Scarrow, 2015). Por fim, a participação política é uma modalidade de ação cujo objetivo final é o de influenciar os resultados políticos (Verba, Schlozman e Brady, 1995). Portanto, os filiados ativos são indivíduos que buscam os partidos políticos e desempenham atividades para influenciar resultados políticos.

Os estudos sobre filiados dividem as modalidades de participação na organização partidária em dois ângulos (Heidar, 2006; Pizzorno, 1966): o primeiro foca na dimensão interna do partido, como o comparecimento a reuniões e aos encontros partidários, a colaboração na formação política dos filiados, a dedicação à organização de atividades do dia a dia do partido, a fiscalização das eleições do partido e o trabalho no recrutamento dos partidários. O segundo foca na dimensão externa do partido, como a participação em campanhas políticas, a distribuição de panfletos, a doação de dinheiro e o estabelecimento de comunicação entre as lideranças e os eleitores (Scarrow, 2015).

Justamente por desempenharem todas essas funções, centrais às modernas organizações partidárias, Duverger (1970) atribuiu ao filiado um papel de agente ativo na dinâmica partidária. Contudo, há divergência sobre a sua relevância organizacional. Para Kirchheimer (2012), o desenvolvimento da comunicação política levou a diminuição de sua relevância como mediador da relação entre as lideranças e os eleitores e, consequentemente, como recursos de campanha eleitoral, enquanto Katz e Mair (1995) imputam isso a abundância de subsídios estatais, que alterou a lógica de recrutamento partidário voltado a políticos profissionais e não mais a filiados voluntários.

Scarrow (2015) crítica essas leituras baseadas na funcionalidade dos filiados para a organização partidária. Segundo a autora, tanto os estudos sobre a demanda como aqueles sobre a oferta pautam-se na utilidade da filiação (seus custos e benefícios) e ignoram as dinâmicas internas que moldam as escolhas organizacionais. Na sua visão, as normas que regem os partidos são importantes e representam a visão dos partidos sobre os filiados, refletindo as estratégias de sua inclusão intrapartidária ou não. Assim, seria um erro generalizar a perda de importância da filiação para todos os casos, pois isso se altera conforme os objetivos oficiais que são próprios de cada partido.

Scarrow (2015) ilustra seu argumento com exemplo dos partidos que, atualmente, apresentaram inovações organizacionais voltadas ao fortalecimento de laços com seus eleitores, combinando subsídios públicos e estratégias para aumentar suas afiliações. Com isso, esses partidos responderam às insatisfações dos eleitores e ao advento de novas tecnologias com a inclusão partidária, isso é, alternativas formais de filiação para indivíduos que buscam aproximação e não integração partidária. Os custos organizacionais disso seriam baixos - através das redes sociais - e os benefícios seriam altos, com ativação de uma base eleitoral online e offline no momento das eleições.

Esse artigo aborda os filiados interessados em influenciar o resultado político. Esse tipo de ativista tende a integrar-se e a desenvolver uma trajetória partidária em que o tempo de filiação e o ativismo são valiosos recursos de poder organizacional (Gaxie, 2005). Assim, perante os demais filiados, aqueles com histórico de militância social e partidária são mais propensos a ascender na máquina partidária, pois essa experiência o credencia a assumir posições estratégicas no interior do partido. Justamente por isso, enquanto os novos filiados tendem a engajar-se em atividades externas e subsidiárias, os velhos filiados engajam-se em atividades internas e centrais a organização partidária.

Portanto, comparar as atividades desempenhadas pelos filiados conforme seu tempo de filiação é uma medida para avaliar o processo de envelhecimento dos partidos, por meio de um tipo de interação entre os partidos e seus filiados (Bruter; Harrison, 2009; Scarrow, 2015). E se o filiado é um ativista em vias de extinção, entender essa relação é ainda mais importante, pois trata-se das futuras lideranças partidárias e representativas em contexto de desfiliação global (Poletti; Webb; Bale, 2019).

Contudo, o Brasil contraria essa tendência internacional. As taxas de filiação mantêm-se altas e estáveis sem um correspondente interesse dos estudiosos pelo tema (Speck, 2013). Embora estável, é provável que a participação partidária e as características dos filiados tenham mudado com o tempo, especialmente o tempo de filiação e a idade. Assim, esse trabalho avalia a implicação dessas mudanças na interação entre a organização do PT e seus filiados, por meio dos padrões de ativismo interno e externo dos velhos e novos petistas, tema não abordado pela literatura partidária brasileira.

Nesse sentido, Speck, Costa e Braga (2015) avaliaram a pertinência da filiação partidária para explicação do comportamento eleitoral no Brasil a partir de três perfis de filiados: o não identificado; o identificado e filiado a um mesmo partido; e o identificado e filiado a outro partido. Ao constatarem que esse perfil de ativista não seria representativo do eleitorado por causa de suas características sociais - homens, brancos, mais velhos e escolarizados - os autores analisaram a filiação como preditora de outras atividades participativas. Sem abordar as atividades internas, seus resultados apontaram que a filiação à esquerda associar-se-ia à participação em associações civis e movimentos sociais. A partir disso, sugeriram que a filiação não seria um ato sem significado, na medida em que o perfil sociodemográfico e comportamental dos filiados não seria semelhante ao eleitorado em geral.

Ao analisar os filiados altamente engajados - que dedicam mais horas ao ativismo - em um conjunto de dez partidos paulistas, Amaral (2014, p. 9) aponta que “em nenhum deles a porcentagem de filiados que participavam de alguma atividade foi menor do que 69%” e, no caso do PT, o número chega a 91%. Com base nisso, sugere que o caso brasileiro é desviante em perspectiva internacional e que seria imperioso avançar na compreensão dos padrões de ativismo dos filiados brasileiros.

Em publicação recente sobre a participação de alta intensidade entre as bases partidárias dos dez maiores partidos paulistas, Ribeiro e Amaral (2019) apenas descreveram que 53% destes filiados participam de encontros locais, 44% encontram-se com titular do cargo, 43% frequentam as conferências partidárias, 33% ajudam no recrutamento partidário, 32% atuam em atividades da organização partidária e 24% organizam os comícios eleitorais. Os autores sugerem que esse padrão de ativismo deveria ser maior no PT, historicamente, a exceção do sistema partidário brasileiro ao cultivar a sua base de filiados. Contudo, não discutem a quais atividades esses filiados dedicam suas horas e nem se elas se diferem de acordo com seu tempo de filiação.

Em partes, Paludo (2017) e Paludo, Borba e Gimenes (2018) avançam sobre esse tema ao juntarem as modalidades de participação - campanhas eleitorais, reuniões partidárias, circulação de abaixo assinado, pagamento de dinheiro, contato com lideranças e organização do partido - em uma escala de intensidade de participação e analisarem a sua variação conforme dois recortes temporais. Ambas as pesquisas sugeriram que o tempo de filiação, recurso de poder e indicador da fase da organização no momento da filiação, e a idade, recurso individual aliado ao ciclo de vida do indivíduo, poderiam ser combinadas na elaboração de dois perfis geracionais de petistas: os velhos (filiados de 1980 até 2002) e os novos (filiados de 2003 adiante). Os resultados mostraram que os velhos petistas são mais intensamente engajados do que os novos, tomando as formas de participação agrupadas em índice. Contudo, as investigações não avaliaram se esses perfis diferenciar-se-iam no ativismo interno e externo ao PT, principalmente entre as atividades de participação social.

Em síntese, a literatura apresentada aponta que uma parcela de filiados ao PT é engajada em atividades partidárias e que existem ao menos três marcadores temporais atrelados ao ativismo de filiados: o tempo de filiação (Bruter; Harrison, 2009), o recorte geracional (Paludo, 2017) e a idade dos filiados (Speck; Costa; Braga, 2015). Contudo, as atividades que esses ativistas desempenham são tratadas apenas de maneira descritiva e indireta em índices de intensidade de participação e, à exceção parcial em Speck, Costa e Braga (2015), não se avalia o ativismo de filiados em modalidades individuais internas e externas à organização partidária (Heidar, 2006).

A partir desse quadro teórico, este artigo analisa a interação entre o PT e seus filiados por meio da combinação entre os dois eixos analíticos sugeridos pela literatura: a participação dos filiados pela lógica interna e externa ao partido e os marcadores temporais associados a ele, para entender os padrões de ativismo dos filiados ao PT até o ano de 2014. Assim, assumimos como hipóteses:

H1 - Existe diferenciação entre as atividades desempenhadas pelos filiados ao PT conforme marcadores temporais distintos;

H2 - As atividades desenvolvidas pelos filiados, separados conforme seu período de filiação ao PT e ao longo do tempo, revelam diferenciação entre engajamento interno e externo ao partido;

H3 - A idade dos filiados é determinante às suas formas de participação política; e

H4 - Dentre os filiados, aqueles que mais atuam em atividades intrapartidárias tenderiam também ao maior engajamento social.

A seguir, apresentamos o banco de dados, a operacionalização das variáveis para os testes de hipóteses, a construção dos perfis e os demais aspectos técnicos que relacionam os elementos teóricos e empíricos do trabalho.

Procedimentos metodológicos6

A falta de dados é a principal razão da baixa produção sobre os filiados na literatura de partidos no Brasil. Os dados de natureza oficial, como os disponibilizados no portal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pelos partidos, carecem de sistematização e atualização. Quanto aos dados de opinião pública, o problema é anterior, pois geralmente o número de respondentes é baixo quando se trata de amostras representativas da população nacional e não há questões específicas de ativismo de filiados. Com intuito de entender as dinâmicas internas e externas da organização dos partidos, a literatura internacional sobre filiação partidária tem conduzido surveys com os membros partidários (Scarrow, 2015; Van Haute e Gauja, 2015). Seguindo essa perspectiva analítica, utilizamos o primeiro survey de filiados a um partido político no Brasil, o PT, para avaliar a interação entre o partido e seus filiados, por meio do ativismo partidário e de marcadores temporais associados a ele.

Apesar desse tipo de desenho de pesquisa ser mais comum no cenário internacional, são poucos os trabalhos sobre organização partidária que se utilizam de surveys com membros partidários (Eldersveld, 1983; Whiteley; Seyd, 2002). Atualmente, a literatura de comportamento de filiados tem se utilizado desta técnica, com a coleta de dados realizada de forma mista ou totalmente online, mediante e-mail, carta postal e plataformas especializadas (Scarrow, 2015). De acordo com Ansolabehere e Schaffner (2014), essas técnicas possuem níveis de consistência e de confiabilidade análogas a técnicas tradicionais de coletas de dados, sendo que eventuais vieses devido ao perfil dos indivíduos dispostos a responderem esses questionários não inviabilizam a amostra.7

Conforme apresentado na introdução deste artigo, o material empírico deste estudo é o survey com filiados do PT no Brasil. Em termos descritivos, o perfil da amostra assemelha-se a distribuição de filiados ao PT por região, sexo e idade, de acordo com os dados da Secretaria Nacional de Organização do Partido no ano de 2014. Conforme demonstram os nossos dados: 41,4% residentes na região Sudeste, 19,4% no Sul, 24,6% no Nordeste e 14,6% na macrorregião que agregou Norte e Centro-Oeste; 58% de homens e 42% de mulheres; e para a idade dos filiados há concentração na faixa etária entre os 45 e 59 anos (41%), seguido por 30 e 44 anos (30%) e entre os extremos, com os jovens entre 16 até 29 anos (16%) e idosos com 60 anos ou mais (13%) (Paludo, 2017).8

Com relação aos procedimentos de análise, a nossa primeira variável independente é o perfil de novos e velhos petistas (Paludo, 2017).9 A nossa amostra é composta por 44% de velhos filiados e 56% de novos filiados. Conforme discutido na seção teórica, Paludo (2017) definiu como os “velhos petistas” aqueles filiados ao partido de 1980 até 2002, entre o ano de fundação até a primeira vitória na eleição presidencial do PT, e os “novos petistas” aqueles filiados ao partido de 2003 até 2014, entre o primeiro governo Lula até o segundo governo Dilma. Nesse sentido, encontrou diferenças no grau de intensidade de participação, medido a partir de um índice somatório de atividades internas.

Dentre seus achados, destaca-se que inicialmente haveria três perfis, distinguindo filiados entre 1995 e 2002 dos mais antigos, remetendo àqueles que ingressaram no partido após a definição de sua segunda alma, menos progressista e mais dialógica com o capital, das convenções no Anhembi (Singer, 2012). Contudo, tal diferenciação não se revelou empiricamente consistente. Assim, grosso modo, considerar a existência de três distintos períodos de filiação não impactou a participação de filiados petistas, de modo que a expectativa de que os filiados que ingressaram no partido quando de sua fundação e no primeiro período - a primeira alma, mais socialista, do Colégio Sion - ocupariam determinadas funções e desempenhariam conjunto específico de atividades não se confirmou estatisticamente, o que suscita investigações sobre o tema da participação de filiados.

Para avançar nessa direção, a partir das questões que permeiam nossas hipóteses de investigação, a próxima seção apresenta análises de estatística descritiva e bivariada, testes de redução de dados e modelos de regressão linear. Deste modo, as tabelas 1 e 2 sistematizam as análises descritivas e bivariadas, com testes de associação decorrentes da utilização da técnica de Kendaull’s Tau b, indicado para cruzamentos em que ambas as variáveis apresentam o mesmo número de categorias de respostas, ou seja, conformam distribuições de casos em tabelas de contingências “quadradas” (Barbetta, 2011). Para nossos testes, ambas as variáveis são dicotômicas.

A segunda e a terceira hipóteses exploraram redução de dados. Assim, por um lado, permitiram a criação de índices que agregam os conjuntos de atividades de participação interna e externa e, por outro, modelos de regressão que buscaram identificar o perfil de quem participa considerando duas variáveis explicativas: o perfil (velho/novo), o tempo de filiação e a faixa etária.10 Tais medidas foram inicialmente consideradas em distintos modelos, que buscaram identificar seus efeitos separadamente e, posteriormente, em modelos que denominamos como completos, em que constam perfil, tempo de filiação e índices de participação específicos. Adicionalmente, todos os modelos contêm variáveis de controle com potencial capacidade explicativa (escolaridade, renda familiar e sexo). A seguir, detalhamos nossos modelos e as justificativas teóricas desses indicadores.

Com relação às variáveis explicativas, esperamos que os velhos petistas atuem mais nas modalidades de participação internas ao partido em comparação aos novos petistas, por tratar-se de um importante recurso de poder posicional, ou seja, relativo à ocupação de cargos estratégicos. Assim, é preciso apontar a diferença entre a trajetória do velho e do novo petista: enquanto o primeiro perfil filiou-se no contexto de redemocratização e conciliou uma agenda multimilitante, o segundo perfil formalizou laços com o partido já na presidência, com uma trajetória mais restrita à institucionalidade (Paludo, 2017). Incluiu-se a variável no modelo tendo como o grupo de referência os “velhos filiados” = 0 para que formalizaram os vínculos partidários entre 1980 e 2002 e os “novos filiados” = 1, que buscaram os vínculos partidários entre 2003 e 2014.

Testamos ainda - primeiro em modelos rivais e depois em um modelo ampliado - o impacto do tempo de filiação sobre a participação, a fim de identificar possíveis efeitos contínuos da persistência longitudinal do vínculo com o PT sobre o engajamento dos filiados. Nesse sentido, avançamos também no debate presente em Paludo (2017) e Faeti (2020), seja por explorar essa perspectiva relacionada aos ciclos de vida e trajetórias como rival aos perfis definidos a partir de um marco histórico, seja pelo refinamento dos testes com relação à existência de colinearidade entre as medidas.

Por outro lado, os modelos apresentam as faixas etárias de jovens “Até 29 anos” = 1, adultos “de 30 a 59 anos” = 2 e idosos com “60 anos ou mais” = 3 por conta das trajetórias de ciclos de vida dos indivíduos. Incluímos a variável idade respaldados no processo de socialização e no ciclo de militantismo dos filiados petistas. Sendo assim, considerando a literatura do comportamento político, os indivíduos, em sua maioria, alteram suas crenças políticas (dentre estas a partidária) somente entre as duas primeiras décadas de socialização (Easton, 1965). Na mesma linha de raciocínio, uma vez cristalizada a crença política, dificilmente esta se modifica (Dahl, 1997). A partir desta discussão teórica, utilizou-se a variável idade em faixas etárias, na medida em que os ciclos de vida dos filiados implicam (ou não) alteração nos processos de socialização e no desempenho de atividades de participação política. Apoiados na literatura sobre intensidade de participação, acredita-se que quanto mais velho, menor a quantidade de atividades mobilizadas pelos filiados, em função da sua fase de vida e trajetória de militância (Gimenes, 2017; Paludo, Borba e Gimenes, 2018).11

Por fim, incorporamos aos modelos os índices que abordam conjuntos de modalidades de participação, tanto internas quanto externas. Essa inclusão dialoga com estudos sobre a participação de filiados, especialmente no contexto do PT, e visa verificar se a característica histórica de os filiados também atuarem socialmente em movimentos populares persiste até o momento da coleta dos dados.

Com relação às variáveis de controle incluídas nos modelos lineares, justifica-se sua inclusão baseado na teoria do voluntarismo cívico, em vista de trabalharmos com dados individuais de amostra representativa de um grupo restrito da sociedade, os filiados, que reconhecidamente possuem elevado perfil social. Nesse sentido, argumenta-se que o acúmulo de recursos incide na participação dos petistas, sendo que esperamos que a composição da amostra não seja representativa da população, seja em razão do viés de pesquisa online, seja pela conformação do perfil médio dos filiados petistas: homens, brancos, velhos, com elevados rendimentos e escolaridade.

Assim, inserimos: sexo codificado como feminino = 0 e masculino = 1 em virtude do contexto de sub-representação de mulheres na política (em geral e partidária);12 escolaridade como variável binária com “Até Ensino Médio Completo” = 0 e “Curso Superior” = 1 pela relação entre escolarização e refinamento cognitivo e político;13 e renda familiar, por representar um recurso de centralidade social recodificada em “Não tem renda” = 0, “Até 1 salário mínimo (SM)” = 1, “1 a 2 SM” = 2, “2 a 5 SM” = 3, “5 a 10 SM” = 4, “10 a 20 SM” = 5 e “Mais 20 SM” = 6.14

Como atuam os filiados do PT

A primeira pergunta contida nas considerações iniciais deste artigo foi: Há diferenças no desempenho de atividades internas e externas à organização partidária por indivíduos que se filiaram em distintos períodos históricos? Nesse sentido, a tabela 1 apresenta o desempenho de atividades dos filiados petistas no âmbito intrapartidário, o que nos permite avaliar a primeira hipótese deste artigo, que postula que os velhos e os novos filiados petistas distinguem-se no engajamento partidário. Para tanto, expomos dados descritivos de frequência e utilizamo-nos de testes de associação Tau b, anteriormente descritos na seção metodológica, a fim de identificar a existência de relação entre a atuação nas atividades partidárias (ausência x presença) e [I] o perfil dos filiados (velhos x novos) e [II] o tempo de filiação.

Tabela 1.
Atividades partidárias mobilizadas pelos filiados petistas

A análise descritiva aponta a maior recorrência de engajamento naquelas atividades relacionadas ao período eleitoral, pois independentemente do nível da eleição, seja nacional, estadual ou municipal, há expressiva atuação dos petistas. Em seguida, destaca-se que pouco mais da metade dos filiados participam de reuniões, enquanto as demais atividades envolvem a minoria dos membros, sendo que, na sequência, vemos aquelas que exigem atuação pontual, quais sejam: assinar abaixo-assinados, distribuir panfletos, realizar contatos com políticos do partido, ajudar na fiscalização das eleições e doar dinheiro para a legenda ou campanhas. Por fim, a organização do partido, que conforme a literatura de partidos seria responsável pela singularidade petista como a principal legenda do sistema partidário nacional, destaca-se como a atividade com menor número de atuantes, inferior a um quarto do total (Amaral, 2010; Meneguello, 1987; Ribeiro, 2008).

Os dados apontam que os filiados petistas focam nas disputas eleitorais, em detrimento à própria organização do partido, ainda que, em alguma medida, tal informação possa ser matizada pelo fato de as atividades de campanha exigirem mais indivíduos em comparação à gestão partidária (Amaral, 2010; Ribeiro, 2008). Uma possível explicação a este resultado remete às escolhas das lideranças petistas no período Campo Majoritário (1995 - 2005), pela profissionalização da estrutura partidária que levou o partido a prescindir dos filiados, exceto no período eleitoral, em razão de exigirem elevados recursos humanos na campanha política. Assim, o PT substituiu a lógica partidária basista baseada em Encontros Nacionais (EN) pelo Processo Eleitoral Direto (PED) e concedeu o direito de escolha de lideranças partidárias a todos os filiados. Essa estratégia foi interpretada de maneira semelhante por especialistas: Ribeiro (2008) classificou este processo como a “pá de cal” na lógica partidária baseada em encontros de todos os níveis para escolha das lideranças do partido, o que causou declínio no engajamento intrapartidário, ao passo em que para Amaral (2010) a maior inclusão levou a uma menor intensidade da participação dos filiados ao PT.

Em se tratando dos testes bivariados, inicialmente cabe destacar como se interpretar os seus resultados: para a variável “perfil”, o sinal negativo indica maior recorrência da participação entre velhos filiados [0] do que entre novos filiados [1], ao passo que para a variável “tempo” o sinal negativo indica maior participação daqueles com menor número de anos como filiados. Com isso, dentre as nove atividades intrapartidárias apresentadas na tabela 1, constatamos a existência de relacionamento significativo tanto para “perfil” quanto para “tempo” com relação a cinco modalidades - fiscalização das eleições, participação em campanhas estaduais e nacionais, distribuição de panfletos, doação de dinheiro ao partido e/ou para campanhas e estabelecimento de contato social com políticos do PT. Além disso, encontramos associação entre participação na organização partidária e o tempo de filiação. Os resultados dos testes de associação com significância são uníssonos: velhos filiados desenvolvem mais atividades partidárias e a diferenciação na realização dessas atividades é maior conforme o maior tempo de filiação ao PT.

Temos, portanto, o protagonismo dos filiados anteriores à vitória na eleição presidencial de 2002 nas atividades partidárias, o que dialoga, em alguma medida, com os achados da literatura internacional que apontam que o tempo de filiação é um valioso recurso de poder simbólico para ascensão na estrutura partidária (Bruter; Harrison, 2009). No caso do PT, a maioria dos quadros de liderança são ocupados por petistas históricos (Ribeiro, 2008). Ademais, a participação dos velhos filiados nas atividades relativas à organização partidária evidencia o seu poder posicional, o que implica argumentar que os velhos petistas não apenas coordenam, mas também controlam as atividades partidárias, indicativo de que há uma tendência de envelhecimento do partido.

Uma maneira de aprofundar esse argumento é avaliar se esse padrão de comportamento repete-se no ativismo de seus filiados nas organizações sociais historicamente ligadas ao PT. Em nossa hipótese, esperamos que os novos filiados sejam mais ativos nesses movimentos, visto que essa experiência prévia seria um importante recurso simbólico para uma trajetória interna ao partido. Com o intuito de testar isso, replicamos a análise anterior para a atuação social de filiados ao PT, cujos resultados descritivos e bivariados são apresentados na tabela 2, junto aos vínculos sociais decorrentes de atividades das quais os indivíduos participavam quando da aplicação do questionário.

Amparado no mesmo banco de dados, Faeti (2020) identificou, de maneira descritiva, o engajamento prévio dos filiados nas mesmas atividades abordadas neste trabalho, considerando o seu vínculo social quando da filiação dos respondentes ao partido. Segundo o autor, os dados reiteram Meneguello (1987) e Keck (1991) ao destacar a recorrência de vínculos com os movimentos sociais, sindicatos e a igreja, setores que participaram da constituição histórica do PT.

Tabela 2.
Atividades e vínculos sociais mobilizadas pelos filiados petistas

Ao analisarmos os vínculos atuais, constata-se a manutenção da maior frequência de participação em movimentos sociais por parte dos filiados, superior à metade dos respondentes. Ademais, também se destacam vínculos associativos entre 30 e 40% da amostra para as demais formas de participação social, à exceção de movimentos estudantis (que tem uma questão geracional per se) e encontram-se muito acima das médias nacionais de engajamento social.

Em comparação com dados descritivos de vínculos anteriores, houve redução na interação com setores tradicionais do PT, como a igreja católica, os sindicatos, as associações comunitárias e o movimento estudantil e aumento no engajamento em movimentos com pautas pós-materiais, especialmente ambientalista e de direitos de minorias referentes às mulheres e à população LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis - denominação utilizada no questionário). Diante deste cenário, argumentamos que houve alterações no perfil associativo da base de filiados ao PT, com a redução do associativismo tradicional e fortalecimento das pautas dos novos movimentos.

Com relação aos testes de associação, é importante observar que os resultados significativos devem ser interpretados de maneira oposta àqueles apresentados na tabela anterior. Associações positivas com o “perfil” indicam que os novos filiados participam mais do que os velhos em sindicatos, associações comunitárias, movimentos de mulheres e estudantis. O maior ativismo sindicalista entre os novos petistas remete ao papel do novo sindicalismo na fundação do partido. Assim, mesmo perdendo força durante a década de 1990, parte dos novos petistas ainda são sindicalizados, conforme confirmado em um trabalho recente de Ribeiro e Amaral (2019), cuja análise da filiação destacou que 24% dos petistas filiaram-se ao partido, estimulados pelo movimento sindical.

A atuação de novos petistas em atividades comunitárias assenta-se na influência de setores progressistas do catolicismo na constituição do partido, sobretudo nas comunidades eclesiais de base (Sader, 1988). Quanto à participação de novos filiados no movimento estudantil, justifica-se tal condição pelo ciclo de vida e a idade dos ativistas e a relação do movimento estudantil com os partidos da esquerda nacional (Okado, 2018). Por fim, a maior recorrência de novos filiados no movimento de mulheres remete à sua ligação histórica com o partido (Ayres, 2018).

Ao analisarmos a relação entre as modalidades de participação social e o “tempo” de filiação, os resultados significativos negativos indicam que os filiados mais jovens envolvem-se mais nas mesmas quatro modalidades destacadas para o “perfil” e também nos movimentos LGBTT e em outros tipos de movimentos e iniciativas sociais. Esse resultado sugere uma pequena alteração no vínculo entre o partido e os atores sociais, refletindo na interação entre o partido e seus filiados por meio da escolha de formas menos hierarquizadas e tradicionais de participação (Heidar, 2006).

Considerando os resultados apresentados nas tabelas 1 e 2, verificamos a existência de diferenciação - ainda que parcial - no engajamento de filiados ao PT em atividades partidárias e vínculos sociais, tanto considerando os perfis caracterizados pelo marco histórico da chegada de Lula à presidência quanto em se tratando do tempo de persistência da filiação. Isto posto, confirmamos nossa primeira hipótese (H1), de que existe diferenciação entre as atividades desempenhadas pelos filiados ao PT conforme marcadores temporais distintos.

Com intuito de colocar a prova esse resultado, avaliamos: é o período de filiação que seria distintivo para a participação dos petistas, ou é o decorrer do tempo que impactaria o seu engajamento? Para tanto, realizamos análises com vistas à redução dos conjuntos de modalidades em medidas únicas, os quais autorizaram-nos a criação de duas variáveis a partir de análises fatoriais: o Índice de Participação Partidária (IPP) e o Índice de Participação Social (IPS).15 Tal operacionalização decorre do fato de buscarmos avançar sobre o entendimento da interação entre partido e filiados (Heidar, 2006), mensurando o acúmulo de atividades dos filiados, no sentido de verificar se a quantidade de atividades que os filiados desenvolvem teria alguma relação com o tempo de filiação ou tipo de perfil (velho x novo).

Na tabela 3, apresentamos descritivamente a distribuição dos índices de participação partidária e social dos filiados ao PT. Inicialmente destacamos que, a despeito da diferença entre as médias e os desvios, há aspectos comuns a ambas as medidas.

Tabela 3.
Frequências do IPP e do IPS

Em resumo, no que diz respeito às atividades intrapartidárias, cerca de um terço dos membros do Partido dos Trabalhadores (PT) tem pouca ou nenhuma participação partidária, enquanto metade dos filiados envolvem-se em até três das atividades mencionadas. A média de engajamento mostra que cada filiado petista participa ativamente em quase quatro das nove modalidades listadas na tabela 1. Esse resultado é significativo e positivo, especialmente quando comparado a democracias consolidadas, onde estudos encontraram uma média de ativismo partidário inferior entre os filiados (Scarrow, 2015; Van Haute e Gauja, 2015).

Na esfera da participação social, é relevante notar que 39,3% dos filiados não se envolvem ou participam apenas de uma atividade associativa. Isso indica um percentual maior daqueles com pouco ou nenhum envolvimento na participação política na esfera social em comparação com a atuação intrapartidária. De maneira semelhante, cerca de dois terços dos filiados estão envolvidos em até três formas de atuação social, o que é respaldado pela média do índice, também menor do que o Índice de Participação Partidária (IPP). Os filiados, em média, participam de cerca de três das nove atividades sociais possíveis. Assim, ao analisar a perspectiva da agenda dos filiados no engajamento em modalidades de participação social, os dados sugerem a manutenção do vínculo entre o PT e a sociedade. Mesmo que a maioria dos filiados esteja envolvida em poucas modalidades sociais, entre os demais há participação em múltiplas instâncias sociais.

Diante da composição dos índices, avançamos aos modelos de regressão que nos permitiram testar as demais hipóteses deste artigo, quais sejam: de que as atividades desenvolvidas pelos filiados, separados conforme seu período de filiação ao PT e ao longo do tempo, revelam diferenciação entre engajamento partidário e social; de que filiados petistas engajam-se em múltiplas atividades partidárias e sociais; e de que a idade dos filiados é determinante às suas formas de participação. Para isso, testamos regressões lineares apresentadas nas tabelas 4 e 5, as quais apresentam - cada uma - três modelos com distintas combinações de variáveis preditoras: [1] “perfil” e faixa etária; [2] “tempo” e faixa etária; e [3] “perfil”, “tempo”, faixa etária e o outro indicador de participação (IPP ou IPS). Em todos os modelos foram inseridos como controles sexo, escolaridade e renda. Assim, os modelos 1 e 2 de cada conjunto de regressões respondem à H2, os modelos 3 avaliam a H3 e, em conjunto, todos os modelos nos permitem testar a H4.16

Tabela 4.
Preditores do Índice de Participação Partidária

Primeiramente, detemos nossa análise às variáveis explicativas, relacionadas às hipóteses deste artigo. Para o IPP, no primeiro modelo, tanto faixa etária quanto o perfil de filiação têm significância estatística negativas. Deste modo, quanto mais velhos, menor a associação com o engajamento em atividades intrapartidárias, mas, apesar disso, os velhos filiados desenvolvem mais tais ações do que filiados a partir de 2003.

No segundo modelo, repete-se a associação negativa da faixa etária dos filiados com relação ao IPP, ao passo que o tempo de filiação tem associação positiva com a variável dependente. Com isso, a elevação média do número de anos desde o ingresso formal no PT associa-se, em alguma medida, à maior predisposição para a participação em atividades intrapartidárias.

No terceiro modelo - completo - observamos que a faixa etária e o tempo de filiação estão associados à participação em atividades intrapartidárias. Não há significância entre os perfis (velhos x novos), indicando que, diante das medidas de perfis e tempo de filiação, apenas a segunda variável tem efeito sobre a participação partidária. Além disso, foi identificada uma correlação positiva entre o Índice de Participação Social (IPS) e o Índice de Participação Partidária (IPP), sugerindo que aqueles que se envolvem mais em atividades no âmbito partidário tendem a engajar-se mais socialmente.

Tabela 5.
Preditores do Índice de Participação Social

Após analisar os preditores da participação intrapartidária, vamos agora nos deter ao entendimento das variáveis preditoras do IPS. No primeiro modelo, destaca-se que apenas a faixa etária dos indivíduos está relacionada com o envolvimento nesse conjunto de modalidades. Assim como para o IPP, observa-se uma relação em que quanto menor a faixa etária, maior o envolvimento em modalidades sociais. Nota-se que a diferenciação entre velhos e novos filiados não afeta significativamente esse conjunto de formas de atuação social.

De maneira diferente, no segundo modelo, a faixa etária não apresenta capacidade explicativa, enquanto identificamos uma associação negativa do tempo de filiação sobre o IPS. Em nossa interpretação, isso implica que os filiados com menor tempo de vinculação formal ao PT tendem a ser mais participativos socialmente.

Esse resultado mantém-se no terceiro modelo completo, em que também observamos uma correlação entre o IPP e o IPP, reiterando a conclusão expressa na Tabela 4 de que há uma relação entre o volume de participação nas duas dimensões, intrapartidária e social. Isso sugere uma consistência nas tendências de engajamento dos filiados, indicando que aqueles que se envolvem mais em atividades partidárias também tendem a ter uma participação mais expressiva em atividades sociais.

Diante do conjunto de resultados expostos nas tabelas 4 e 5 à luz de nossas hipóteses H2, H3 e H4, cabem considerações. Acerca da H2 - de que as atividades desenvolvidas pelos filiados, separados conforme seu período de filiação ao PT e ao longo do tempo, revelam diferenciação entre engajamento interno e externo ao partido - identificamos a confirmação parcial da hipótese, uma vez que, com relação à medida contínua de tempo de filiação, os dados retornaram associações significativas e com sinais opostos entre os conjuntos de modelos, o que nos permitiu inferir que conforme aumenta a quantidade de anos dos filiados ao PT tende a ser maior o número de atividades intrapartidárias que desenvolvem e menor o número de atividades e vínculos sociais estabelecidos.

Por outro lado, os resultados são menos consistentes em relação ao perfil dos filiados. Apenas em um dos quatro modelos nos quais essa variável foi incluída pudemos identificar significância estatística. Isso demonstra que a diferenciação entre velhos e novos filiados não explica de modo expressivo o envolvimento dos petistas em atividades partidárias e sociais. Assim, o “corte” em dois períodos tem um impacto menor sobre a atuação dos petistas do que o continuum temporal de sua trajetória. Essa constatação sugere que a análise do tempo de filiação como uma variável contínua pode ser mais informativa do que uma divisão dicotômica entre velhos e novos filiados.

Sobre a H3, de que a idade dos filiados é determinante às suas formas de participação política, nossos resultados também confirmam parcialmente nossa hipótese. Expusemos nesta seção testes elaborados sob a perspectiva de ciclo de vida, ao que identificamos resultados expressivos para as modalidades de participação partidária, em que persiste - independentemente do conjunto de preditores incluídos nos modelos - o efeito negativo das faixas etárias como indicativo de relação negativa no sentido de que, em geral, com o passar do tempo de vida, os filiados reduziriam seu engajamento intrapartidário. Quanto à participação social, a faixa etária teve resultado no mesmo sentido identificado para o IPS, porém apenas em um dos três modelos testados, o que implica inferirmos que os vínculos sociais dos filiados tendem a distribuir-se de maneira mais homogênea (com relação à quantidade de engajamentos) ao longo de seu ciclo de vida.

Por fim, nossa última hipótese era de que, dentre os filiados, aqueles que mais atuam em atividades intrapartidárias tenderiam também ao maior engajamento social. Testamos H4 com a inserção dos índices IPS e IPP como preditores nos terceiros modelos das Tabelas 4 e 5, respectivamente, sendo que tal hipótese foi confirmada, o que indica que os filiados petistas combinariam, em alguma medida, o desenvolvimento de atividades intrapartidárias e sociais, no mesmo sentido que a população nacional, para a qual pesquisas de opinião pública e comportamento político demonstram que quem se engaja política e socialmente tende a fazê-lo por meio de múltiplas formas e/ou espaços.

Para além dos resultados relacionados às nossas hipóteses, cabe-nos destacar a recorrência de efeitos do sexo sobre a participação partidária e social, uma vez que em todos os modelos apresentados nas tabelas 4 e 5 identificou-se impacto significativo e positivo, o que nos permite inferir que filiados homens tendem ao maior envolvimento tanto em atividades internas quanto externas ao PT, em comparação com filiadas.

A despeito da importância da paridade em instâncias diretivas do partido (Ayres, 2018), entre os membros partidários reproduz-se a sub-representação feminina que é historicamente apontada por pesquisas internacionais e nacionais no âmbito da política e de diversas modalidades de participação, decorrentes da desigualdade política existente entre homens e mulheres (Gimenes, 2017; Heidar, 2006; Inglehart; Norris, 2003; Norris, 2004, 2011; Ribeiro, 2011; Van Biezen; Mair; Poguntke, 2012; Whiteley, 2011), o que se coloca como aspecto limitante à própria legitimidade das democracias, conforme expresso por Norris (2011) ao expor que a sub-representação feminina no espaço público implica em déficit de qualidade ao funcionamento do regime.

Considerações finais

Neste artigo, conduzimos análises com o objetivo de investigar um conjunto de hipóteses que orientam as relações estabelecidas pelos filiados ao PT com as atividades dentro do partido e no âmbito social. Essas análises estão em diálogo com uma extensa literatura que aborda a importância do engajamento partidário por parte dos cidadãos e sua relação com fatores temporais específicos, como trajetórias de filiação (considerando marcos importantes e anos de vínculo) e faixas etárias (ciclos de vida). Além disso, procuramos compreender se há um modo preferencial de atuação desses atores ou se combinam as distintas formas de participação.

Ante ao diagnóstico de que, ainda que o PT seja o partido mais estudado pelos politólogos brasileiros, pouco sabemos sobre os seus filiados, buscamos avançar de modo a oferecer respostas que contribuam com o preenchimento de lacunas dessa literatura. Para tanto, testamos empiricamente hipóteses que visaram responder aos questionamentos que apresentamos nas considerações iniciais deste artigo e replicamos aqui: Há diferenças no desempenho de atividades internas e externas à organização partidária por indivíduos que se filiaram em distintos períodos históricos? O período de filiação é distintivo para a participação dos petistas ou é o decorrer do tempo que impacta o engajamento? Os filiados combinam modalidades internas e externas de participação partidária?

Os resultados de nossas análises, derivados de uma amostra da população de filiados ao PT no ano de 2014, revelaram que ao longo do tempo e conforme os ciclos de vida dos filiados, sua atuação no âmbito partidário é afetada, ao passo que o engajamento social sofre menos impactos dessas medidas temporais. Isso indica que há diferenciação entre o envolvimento nos repertórios mobilizados em atividades intrapartidárias e de vínculos associativos dos petistas.

Diante do exposto, à luz do quadro teórico mobilizado e de nosso conjunto de análises empíricas, concluímos que o panorama acerca da fragilidade dos partidos políticos frente à difusão de novas práticas de ativismo em democracias consolidadas não impactaria o PT da maneira negativa como tem sido afirmada internacionalmente. O fato de os filiados petistas mobilizarem diferentes formas de atuação política combinando atividades partidárias e sociais em seu ativismo revela a conciliação entre atuação tradicional e pós-materialista, o que significa que o engajamento no partido renova-se em paralelo ou conjuntamente, em alguma medida, ao fortalecimento de laços entre aqueles que permanecem atuando no interior da legenda e no âmbito social.

Assim, a relação temporal dos filiados com os distintos tipos de vínculos poderia indicar, ainda que parcialmente, uma perspectiva explicativa para a manutenção da expressividade do PT entre o eleitorado brasileiro e o reconhecimento de seus filiados enquanto atores políticos envolvidos em campanhas eleitorais e em outros momentos e formas de atuação política e social. Isso é evidenciado pela persistência da penetração social do PT entre o eleitorado nacional, apesar das crises políticas que envolveram o partido, como o escândalo do “mensalão” em 2005 e, posteriormente à aplicação do questionário, o impeachment de Dilma Rousseff, a prisão de Lula e a derrota eleitoral nas eleições presidenciais de 2018. Essa persistência reflete-se ao longo do tempo e teve impacto, inclusive, nas mobilizações sociais em torno da campanha eleitoral de Lula nas eleições de 2022, que foram novamente vencidas pelo PT.

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  • 1
    Para replicação dos dados: https://doi.org/10.7910/DVN/FOKIEO
  • 4
    Filipe Vicentini Faeti é pesquisador visitante do Instituto Ibero América da Universidade de Salamanca e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP - Processo no 2020/11888-6). Éder Rodrigo Gimenes é bolsista pesquisador do UniCV.
  • 5
    Na seção metodológica, discutimos os possíveis vieses contidos no desenho de pesquisa, o que limita, mas não invalida, as principais conclusões deste manuscrito.
  • 6
    Para promover maior transparência, aprimorar a prática da pesquisa e facilitar a replicabilidade, disponibilizamos o script em linguagem R contendo as variáveis, suas codificações e os testes estatísticos empregados nas análises das hipóteses. Para aqueles que não possuem afinidade com a linguagem R, disponibilizamos também um R-Markdown, relatório contendo o passo a passo de todo desenho empírico da pesquisa. A base de dados pode ser solicitada aos autores.
  • 7
    Paludo (2017) aponta que a amostra do survey com filiados do PT assemelha-se à distribuição dos seus filiados por região, sexo e idade no ano de 2014. Contudo, devido à natureza do desenho de pesquisa, assume-se a existência de viés de seleção. Por exemplo, os indivíduos predispostos a responderem o questionário são mais propensos a possuir mais disponibilidade de tempo, serem mais escolarizados e mais engajados no partido.
  • 8
    Paludo (2017) disponibiliza uma tabela com a distribuição dos filiados, diretórios municipais, número de municípios sorteados e número de questionários por Unidade Federativa (UF). Esses dados são apresentados no quadro 1 em anexo. No entanto, o número total de filiados contidos na tabela (n = 831) foi calculado levando-se em consideração que a amostra seria preenchida com questionários enviados pelos correios aos diretórios no dia de realização do PED. O autor não fornece mais detalhes sobre a correspondência entre essas distribuições e a amostra preenchida pelas respostas por meio de e-mail (n = 625), embora sugira que as utilizou na ponderação amostral.
  • 9
    recorte temporal da variável dependente, o ano de 2002, proposto por Paludo (2017) fundamenta-se em Ribeiro (2010), que propõe três recortes temporais representando diferentes fases da organização do PT. A primeira fase seria a fundação do partido, entre 1980 e 1995; a segunda, a institucionalização do partido, de 1996 a 2002; e a terceira, o período do partido no governo, de 2002 a 2010. Embora o PT já tivesse experiências governando em nível municipal e estadual, o autor destaca que o número de assessores aumentou em dez vezes com o partido na presidência, indicando uma oportunidade para a profissionalização política dentro do partido. Por outro lado, sob uma perspectiva teórica diferente, Amaral (2010) relaciona essas fases a diferentes padrões de engajamento dos militantes do PT, encontrando que, os filiados petistas após o ano de 2001 seriam menos engajados do que os filiados anteriores, enquanto Singer (2012) associa esses períodos a mudanças nas bases eleitorais petistas, encontrando uma diferenciação nas características sociais, atitudinais e valorativa dos eleitores identificados com o PT antes e depois de 2002.
  • 10
    Realizamos teste de Correlação de Pearson entre o Índice de Participação Partidária e o Índice de Participação Social, o que resultou em um coeficiente de correlação (r) de 0.1358, sendo que o teste de hipótese indicou uma correlação estatisticamente significativa (t = 3.4224, df = 623, p = 0.0006614) e o intervalo de confiança de 95% para a verdadeira correlação foi de 0.058 a 0.212. Esses resultados sugerem uma correlação positiva inexpressiva entre as variáveis. Com relação ao tempo de filiação e o perfil (velhos e novos filiados), o mesmo teste resultou em coeficiente de correlação de Kendall (tau) de -0.718942, de modo que o teste de hipótese indicou uma correlação estatisticamente significativa (z = -21.381, p < 2.2e-16) que sugere correlação negativa forte entre as variáveis, indicando uma relação monotônica, o que sustenta o nosso argumento de tratar-se de duas dimensões analíticas temporais distintas.
  • 11
    Conforme sugerido pelos pareceristas, foram inseridos termos quadráticos para avaliar o comportamento da variável idade em nossos seis modelos de regressões múltiplas, admitindo o pressuposto de que o envolvimento com as atividades partidárias iniciaria com nível baixo, aumentaria no decorrer do tempo e reduzir-se-ia na fase idosa dos indivíduos, o que implica assumir a expectativa de que a variável idade deveria se comportar como uma parábola. Contudo, não houve significância estatística em nenhum modelo e, mais do que isso, sua inserção retirou a significância da variável faixa etária dos modelos. Tais resultados constam no R-Markdown.
  • 12
    A sub-representação das mulheres no ambiente político e público significa um déficit na qualidade do regime democrático. Por conseguinte, tomou-se o sexo masculino como grupo de referência nas análises que se seguem, visto que as desigualdades estruturais privilegiam os homens e constrangem a atuação política de mulheres (Ayres, 2018; Gimenes, 2017; Ribeiro, 2008, 2011; Whiteley e Seyd, 2002). De modo específico, os trabalhos de Ribeiro (2008) e Amaral (2010) destacam a sub-representação das mulheres entre os delegados petistas, enquanto Paludo (2017) relata homogeneidade na base de filiados e Ayres (2018) aponta as políticas afirmativas petistas para inclusão de mulheres como a criação de setoriais, ainda que os cargos centrais da organização sejam ocupados majoritariamente por homens.
  • 13
    Em Faeti (2020), destaca-se a singularidade do perfil sociodemográfico em questão, uma vez que se trata de um grupo restrito da população com elevados recursos sociais, políticos e econômicos, dentre os quais a escolaridade. Nesse sentido, a sua inclusão decorre em função da distribuição desigual dos recursos econômicos entre a população e da sua centralidade na explicação do comportamento político, por ser um atributo essencial para o engajamento político dos cidadãos. Além disso, seria uma dentre as características destacadas pela teoria do voluntarismo cívico responsáveis pelo acúmulo de habilidades durante o processo de socialização dos indivíduos (Gimenes, 2017; Milbrath, 1965; Paludo, 2017; Putnam, 2002; Ribeiro, 2014; Verba, Schlozman e Brady, 1995).
  • 14
    Acerca da variável renda, Paludo (2017) identificou o elevado perfil socioeconômico dos partidários e filiados petistas em comparação à população brasileira. Assim, os membros petistas seriam um grupo singular por possuírem elevada renda mensal, passível de traduzir recursos materiais e intelectuais. Neste cenário, a renda deveria atuar como um forte preditor estimulante da participação em atividades intrapartidárias (Paludo, 2017; Ribeiro, 2014).
  • 15
    As cargas fatoriais e os resultados de Overall MSA autorizaram a criação do IPP e do IPS e estão disponíveis nas tabelas anexadas A e B, assim como o relatório contendo as suas respectivas construções.
  • 16
    Foram feitos testes para verificar se haveria multicolinearidade entre as variáveis independentes do modelo, especialmente entre as faixas etárias e medidas de filiação (perfil e tempo) por meio do teste de Fator de Inflação da Variância (VIF). Conforme apresentado na Tabela A do apêndice, em todos os modelos os valores de VIF foram adequados para o conjunto de variáveis, uma vez que Wooldridge (2017) indica que quanto mais próximos de 1, menor a relação entre uma variável do modelo com as demais e que somente a partir de valores superiores a 4 deve-se atentar a possíveis colinearidades que podem afetar a parcimônia dos modelos.

Apêndice

Tabela A.
Análise fatorial para participação partidária
Tabela B.
Análise fatorial para participação social
Tabela C.
Valores dos fatores de inflação da variância de todos modelos de regressões
Quadro 1.
Dados para a definição da amostra

Editado por

  • Debora Rezende de Almeida
  • Rebecca Neaera Abers

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    31 Jan 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    02 Jul 2023
  • Aceito
    28 Ago 2024
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