Resumo
A partir de reflexões produzidas no contexto de duas pesquisas etnográficas, este artigo aborda o desenvolvimento de uma tecnologia nacional para gestão dos corpos de desaparecidos políticos pela Ditadura (1964-1985) no Brasil. Mobilizando método histórico processual, exploro a construção da vala clandestina de Perus como caso forense, destacando o enredamento entre dois domínios de saber e poder sobre os mortos: o médico-legal institucionalizado na esfera policial e o humanitarismo forense transnacional. O objetivo é tratar as tensões interpostas ao desenvolvimento e ao exercício de um poder identificador humanitário como resultantes de disputas pelas autoridades que dele se desdobram, iluminando os aspectos disciplinares da identificação. Argumento que, ao constituir sujeitos a partir de atos analíticos e práticas de escrita, a identificação humanitária também os circunscrevem como geridos por saberes e fazeres que dão lugar a atos de governo.
Palavras-chave:
desaparecimento forçado; identificação; giro forense; burocracia; estado