Open-access Ideologia e preferência de política externa dos parlamentares brasileiros (2015-2022)

Ideology and foreign policy preferences of Brazilian legislators (2015-2022)

Resumos

Resumo  Este artigo explora a evolução do papel do Legislativo brasileiro na Política Externa Brasileira (PEB) desde a Nova República. Destacando a participação ativa do Congresso Nacional em assuntos internacionais, a pesquisa procura responder a seguinte pergunta: “há correlação entre ideologia e as opiniões dos parlamentares brasileiros em Política Externa, especialmente em integração regional e orientação de política externa?”. Utilizando dados do Parliamentary Elites Survey Latin America Brasil (PELA), referentes a 55ª e 56ª legislaturas, a metodologia inclui a construção de 25 modelos de regressão para analisar esta correlação, abrangendo tópicos como integração regional (Mercosul e Unasul), cooperação internacional (Brics) e orientação preferencial (Sul global versus Norte global). A introdução contextual destaca a transformação do papel tradicional do Itamaraty e a crescente influência do Legislativo. Isso sinaliza uma mudança nas dinâmicas da PEB e motiva a investigação sobre a influência ideológica nos posicionamentos parlamentares em temas internacionais. A pesquisa visa contribuir para a compreensão contemporânea da política externa brasileira, explorando as implicações da atuação do Legislativo nesse cenário. O estudo oferece uma análise detalhada, apresentando uma metodologia robusta para examinar as correlações entre ideologia e as posturas dos parlamentares na esfera internacional.

Palavras-chave:
Política Externa Brasileira; PELA; ideologia; Legislativo e Política Externa


Abstract  This article explores the evolution of the Brazilian legislature's role in Brazilian Foreign Policy (BFP) since the New Republic. Highlighting the active participation of the National Congress in international affairs, the research seeks to answer the question: “is there a correlation between ideology and the opinions of Brazilian legislators in Foreign Policy, especially in regional integration and foreign policy orientation?” Utilizing data from the Parliamentary Elites Survey Latin America Brazil (PELA) for the 55th and 56th legislatures, the methodology involves constructing 25 regression models to analyze this correlation, covering topics such as regional integration (Mercosur and Unasur), international cooperation (Brics), and preferential orientation (Global South versus Global North). The contextual introduction emphasizes the transformation of the traditional role of Itamaraty and the growing influence of the legislature. This signals a shift in the dynamics of BFP and motivates an investigation into the ideological influence on parliamentary positions on international issues. The research aims to contribute to the contemporary understanding of Brazilian foreign policy, exploring the implications of the legislature's involvement in this scenario. The study provides a detailed analysis, presenting a robust methodology to examine correlations between ideology and parliamentary stances in the international sphere.

Keywords:
Brazilian Foreign Policy; PELA; ideology; Legislative and Foreign Policy


1. Introdução1

O Legislativo brasileiro mostra um interesse crescente em matéria de política externa na Nova República. Como reflexo disso, análises que buscam mostrar os instrumentos, as possibilidades de ação e os determinantes dos votos desses políticos para questões relativas à ação internacional brasileira estão cada vez mais presentes. Assim, ainda que falar sobre a participação do Legislativo na Política Externa Brasileira (PEB) não seja uma empreitada relativamente inédita, ainda é incipiente (Oliveira e Onuki, 2010). De acordo com esses autores, uma das agendas de pesquisa ainda não satisfeitas nessa área é justamente entender, de forma empírica, o que determina a preferência desse grupo, o que corrobora a realização do presente artigo. Portanto, dentro desse contexto, entende-se que são necessárias análises que busquem mostrar quais os determinantes das preferências legislativas para as temáticas de política externa, dado o foco da literatura em análises voltadas para entender mecanismos de atuação, determinantes de votos ou história da participação legislativa.

Assim, o principal objetivo aqui é buscar compreender se um dos preditores mais utilizados na Ciência Política para preferências, a ideologia, é determinante para opiniões dos parlamentares brasileiros em temas de política externa, uma dimensão muitas vezes tratada como eleitoralmente irrelevante e, por isso, sem importância para os deputados. Além disso, tem-se por objetivo mostrar, caso a ideologia seja determinante, a partir de qual dimensão ou forma de mensuração ela se torna relevante. Diante do exposto, o presente artigo busca responder à seguinte pergunta: “há correlação entre ideologia e a opinião dos parlamentares brasileiros em Política Externa em integração regional e orientação de política externa?”. A principal hipótese é de que a ideologia política exerceria influência na visão de Política Externa dos deputados federais, com deputados de esquerda sendo mais favoráveis aos processos de integração regional e priorizando uma Política Externa Sul-Sul, com o inverso (Norte-Sul) ocorrendo com deputados de direita.

Ainda que exista um crescente reconhecimento da importância do Legislativo brasileiro para se entender a política externa do país, este nem sempre foi o caso. Historicamente, Política Externa e diplomacia têm sido interpretadas como sinônimos pelo público em geral (Lopes, 2020). Nesse sentido, via de regra, a principal explicação para as ações externas brasileiras é a figura do Ministério das Relações Exteriores (MRE), conhecido como Itamaraty. Composto por uma elite escolhida de forma rigorosa e versada em uma tradição diplomática centenária, os diplomatas brasileiros formariam “uma aristocracia republicana”, interessada apenas no interesse nacional brasileiro, detendo o monopólio do processo de formulação e implementação dessa política (Lopes, 2014; Burges e Bastos, 2017). Obviamente, tal recurso narrativo foi historicamente instrumentalizado e propagado pelos próprios diplomatas, desejosos de manter seu status como “guardiões do interesse nacional” e afastar, com isso, possíveis competidores pelo prestígio nessa dimensão política, ou até mesmo ignorar demandas por maior transparência e accountability (Lopes, 2014).

Com o início da Nova República, em 1985, a afirmação do monopólio do Itamaraty no processo de formulação e implementação da PEB passou a ser cada vez mais questionado (Lima, 2000). A abertura econômica e política pela qual o país passou, a partir da década de 1990, aumentou os efeitos distributivos de diversas decisões de Política Externa, impactando diretamente diferentes setores sociais, econômicos e políticos (Lopes, 2017). Assim, a demanda para que a dimensão da atuação externa do país se adeque ao regime político vigente, tendo em vista seu caráter de política pública,2 com maior participação de outros atores políticos, é cada vez maior. Nesse sentido, um dos atores que passou a ter maior relevância foi o Legislativo brasileiro (Alexandre, 2006; Anastasia et al., 2012).

Tradicionalmente, o Parlamento foi visto como mero ratificador de acordos internacionais e desinteressado em assuntos internacionais, por conta do baixo valor eleitoral que eles possuem no Brasil (Alexandre, 2006). Entretanto, os exemplos a seguir mostram que, recentemente, os deputados se engajam cada vez mais nos debates sobre as estratégias brasileiras de inserção internacional: a recusa do Senado em sabatinar Guilherme Patriota (Santos e Lopes, 2023); discussões sobre a entrada ou não do país na Área de Livre Comércio das Américas (Oliveira, 2003); debates sobre as relações entre o Partido dos Trabalhadores e o regime bolivariano na Venezuela (Santos e Vilarouca, 2011); o rechaço prévio do Legislativo à indicação de Eduardo Bolsonaro para o cargo de embaixador (Santos e Lopes, 2023); a demissão do chanceler Ernesto Araújo por pressões dos presidentes das duas casas legislativas (Coletta et al., 2021).

Para responder à pergunta de pesquisa, serão utilizados os dados do Parliamentary Elites in Latin America – PELA Brazil. Através deste survey pudemos coletar as opiniões dos deputados federais brasileiros, referentes às legislaturas de 2015-2018 e 2019-2022 (Alcántara, 2021). Com base nos dados coletados, serão desenvolvidas diferentes formas de mensurar a ideologia, que, em seguida, serão contrastadas com quatro tópicos relacionados ao posicionamento dos parlamentares em relação à política externa. Foram escolhidas duas organizações de integração regional, uma de caráter mais comercial (Mercosul) e uma de caráter mais político (Unasul); um agrupamento internacional de países em desenvolvimento (BRICS) e o direcionamento a ser dado à PEB, no que diz respeito ao eixo de preferência entre o Sul Global (países em desenvolvimento) e o Norte Global (países desenvolvidos). Assim, foram construídos ao todo 25 modelos de regressão a fim de estimar a correlação entre ideologia e o posicionamento nestes tópicos.

Para responder à pergunta de pesquisa e testar as hipóteses, o artigo será dividido em cinco seções. Após esta introdução, faz-se um levantamento bibliográfico. Na terceira seção, será apresentada a metodologia da pesquisa, com mais detalhes sobre o desenho da pesquisa e a estratégia de análises dos dados. Na quarta seção, serão apresentados os resultados dos modelos estatísticos construídos para testar as hipóteses. O artigo se encerra com algumas considerações a respeito dos resultados.

2. Legislativo, Política Externa Brasileira e Ideologia

Tradicionalmente, predominaram análises que preconizam uma visão da PEB como uma “política de Estado” (Ricupero, 2017; Cervo e Bueno, 2011). Nesse sentido, esses autores, alguns diretamente ligados ao Itamaraty, salientam a existência de determinados princípios universais na condução diplomática brasileira, como o multilateralismo, a resolução pacífica de controvérsias, a busca pelo desenvolvimento e o apoio à autodeterminação dos povos. Em resumo, a premissa básica é que o Brasil é uma potência média e, como tal, não possui capacidade de alterar sozinho a correlação das estruturas de poder do Sistema Internacional. Logo, para alcançar seus objetivos internacionais, o país investiu capital diplomático em temas considerados mais jurídicos e pacíficos (Ricupero, 2017). Parte fundamental dessa lógica foi a construção da imagem de um corpo diplomático altamente técnico e independente no que tange à influência doméstica, sendo capaz de representar de forma ímpar o interesse nacional (Lopes, 2014). Essa estratégia foi implementada por meio da criação da imagem do Brasil como um país cuja política externa é constante e apartada de interesses econômicos, políticos e partidários que não sejam identificados como os “interesses nacionais”.

A tese de insulamento itamarateca deve ser entendida e problematizada sob a luz de uma forte defesa institucional do próprio ministério. Não parece ser mera coincidência o fato de que os principais propagadores dessa visão, historicamente, sejam os diplomatas brasileiros (Lopes, 2014). Cientes de sua importância histórica na consolidação dos limites territoriais brasileiros (Ricupero, 2017), os membros do Ministério sempre buscaram reafirmar seu monopólio no processo de produção das políticas cujo caráter envolviam as relações interestatais brasileiras. Essa defesa se tornou cada vez mais frequente a partir da formação do Instituto Rio Branco, em 1945, como forma de sistematizar a formação do corpo diplomático brasileiro (Lopes, 2014). Com o passar do tempo, essa versão diplomática sobre o monopólio da política externa sob a égide do MRE passou a ser mais internalizada e legitimada por outros grupos políticos, que passaram a reproduzir a noção de que, no Brasil, diplomacia e política externa são sinônimos (Lopes, 2011). Assim, se, como mostra Rocha (2009), era lugar-comum que os legisladores brasileiros participassem das tratativas sobre política externa, o mesmo não pode ser dito no período posterior.

Contudo, há uma visão mais recente que se baseia nas contribuições teóricas e analíticas do campo da Análise de Política Externa. Essa bibliografia questiona e problematiza os pressupostos de “insulamento” de um Itamaraty, supostamente apolítico, coeso, isolado e voltado ao “interesse nacional”. Para os que empregam a APE, a política externa do país deve ser estudada como uma política pública, ou seja, sujeita às influências de vários atores e determinada por fatores ideológicos e acontecimentos político-econômicos. Seu avanço se dá em um contexto de crescente “politização” da Política Externa, iniciado com a abertura política e econômica da década de 1990, com multiplicação de temas, atores e dinâmicas relacionadas ao fim da Guerra Fria e a retomada do regime político democrático (Silva, 2018; Lopes, 2017; Lopes, 2011; Lima e Milani, 2016; Lima, 2000). A abertura permitiu que a PEB tivesse maiores efeitos distributivos sobre a população, passando a afetar de forma desigual diversos segmentos, que, por meios diretos ou indiretos, buscaram aumentar sua participação nos temas internacionais de acordo com seus interesses (Lima, 2000). Partindo do pressuposto de que regimes poliárquicos levam à multiplicação de grupos de interesses desejosos de influenciar as políticas públicas, pode-se entender que o Itamaraty passou a ter que lidar com mais atores em uma dimensão em que, anteriormente, possuía monopólio (Lopes, 2011).

Assim,

à medida que um espaço público internacional se vai consolidando, a diplomacia passa a ser perturbada pelos agentes da sociedade – mesmo quando os atores sociais não se dão conta, ao fazerem demandas que se anunciam como domésticas, mas que remetem a processos de negociação travados para além das fronteiras nacionais (Lopes, 2011, p. 83).

No contexto de poliarquização da PEB, expandiram-se, portanto, análises buscando compreender o papel exercido por outros atores nessa dimensão. Os estudos sobre o Legislativo brasileiro e a Política Externa aumentaram a partir da incorporação dos preceitos da Análise de Política Externa.3 Os autores partem do diagnóstico de que, historicamente, a compreensão do papel do Legislativo foi sub-representada nas análises sobre a política externa brasileira. Conforme indicam Silva e Spohr (2016), Santos e Lopes (2023) e Alexandre (2006), constituiu-se na literatura a visão dominante de que o Legislativo possui baixo interesse nos temas de Política Externa, principalmente por motivos como a força institucional do Itamaraty, a tecnicidade das discussões internacionais, a sua ausência no debate público comum e, sobretudo, as baixas possibilidades de ganhos eleitorais advindas da participação nessas temáticas. Com isso, houve a delegação de funções para o Executivo, principalmente na figura do Itamaraty. No máximo, quando as questões de Política Externa Brasileira extrapolavam o escopo do Ministério das Relações Exteriores, o foco recaiu principalmente sobre a forma como diferentes presidentes as conduziram, especialmente com o aumento da chamada “diplomacia presidencial” (Burges e Bastos, 2017).

Como as obras supracitadas mostram, o Legislativo brasileiro possui interesse na discussão das temáticas de Política Externa e, inclusive, é respaldado pela Constituição Federal para tomar parte como um dos atores responsáveis no processo. Interessante notar que, conquanto o interesse de estudos sobre o papel do Legislativo na Política Externa seja relativamente recente, há algumas obras que mostram o interesse ativo desses políticos na condução externa do Brasil ao longo da história, buscando indicar como, na realidade, os parlamentares brasileiros sempre foram atores importantes nessa temática, o que reforça a noção de que a tese do “insulamento” é muito mais retórica do que necessariamente uma realidade (Rocha, 2009; Manzur, 2014; Cervo, 1981).

De acordo com Santos e Lopes (2023) e Anastasia et al. (2012), a principal prova da “abdicação” seria o elevado percentual de acordos internacionais aprovados pelo Congresso e de chefes de embaixada pelo Senado, o que representaria uma atuação apenas pro-forma em favor da vontade do Executivo. Todavia, os autores argumentam que apenas isso não é válido para confirmar a ausência de influência por parte dos legisladores na Política Externa, principalmente porque a “não-ação” não implica recusa de interesse. Não se pode descartar a hipótese de que o que na realidade ocorre é uma antecipação por parte do Executivo, isto é, sabendo dos possíveis custos políticos de ver suas ações barradas nas câmaras legislativas, os negociadores já levam em consideração os possíveis desejos dos legisladores no momento da negociação (Santos e Lopes, 2023; Anastasia et al., 2012; Alexandre, 2006; Silva e Spohr, 2016).

Conforme indicado, a maior parte da bibliografia mobilizada acima discute sobre a existência ou não de um interesse do Legislativo em discutir temáticas de Política Externa e, a partir disso, indica quais são os mecanismos existentes para a ação do legislador. Se, em 2010, ano de publicação do artigo de Oliveira e Onuki, ainda eram escassos os estudos que buscavam compreender as motivações e os comportamentos dos legisladores brasileiros em política externa, como ambos afirmam, o cenário contemporâneo é mais promissor para essa área de estudos, com várias agendas de pesquisa a serem preenchidas.

Ribeiro (2019) aponta que, pelo menos no que tange às votações envolvendo questões de política externa, o comportamento dos legisladores brasileiros não difere do comportamento clássico apresentado pela Ciência Política brasileira, isto é, que o principal preditor dos votos não é a ideologia, mas sim o posicionamento do partido em relação ao governo no poder, em termos de situação/oposição (Moreira, 2020). Dessa forma, analisar o voto desses parlamentares com base na ideologia não seria tarefa frutífera. Todavia, de acordo com Moreira (2020), não se pode reduzir a política apenas ao processo decisório do voto, visto que parlamentares se comunicam, possuem opiniões a respeito dos assuntos e mesmo que a disciplina partidária os force a se comportar, isso não elimina a necessidade de compreender as visões desses políticos. Por isso, o presente trabalho não foca na questão das votações, mas sim na formação de preferência dos deputados. Como a ideologia é um dos fatores mais importante para predizer comportamentos e preferências no âmbito político, esses autores consideram que uma importante agenda de pesquisa é aquela que verifica, empiricamente, se há ligação entre ideologia e os parlamentares brasileiros, seja em questão de preferências ou de votos. Em conclusão, a principal contribuição aqui oferecida é o aprofundamento da compreensão dos principais elementos formadores das preferências dos legisladores brasileiros em questões da PEB, analisando criticamente a relação de diferentes ideologias com tais pensamentos.

Para tanto, são testadas as seguintes hipóteses em relação à preferência dos parlamentares:

  • H1: parlamentares cuja ideologia pode ser classificada como de esquerda apoiam mais o arranjo dos BRICS.

  • H2: parlamentares cuja ideologia pode ser classificada como de esquerda apoiam mais organizações de integração regional.

  • H3: parlamentares cuja ideologia pode ser classificada como de esquerda apoiam mais o direcionamento da política externa Sul-Sul.

Essas hipóteses se baseiam em alguns achados de estudos contemporâneos sobre o processo geral de formulação e implementação de política externa na América Latina, envolvendo atores como o Executivo, os partidos políticos e as elites. Merke e Reynoso (2016) mostram que, na região, há uma correlação direta entre ideologia e posicionamentos de Política Externa no caso dos chefes do Executivo. Dessa forma, presidentes de esquerda seriam mais inclinados a se afastar dos Estados Unidos e a preferir uma política externa com foco nos países em desenvolvimento do Sul global, enquanto suas contrapartes de direita teriam tendências contrárias.

Oliveira e Onuki (2010) ventilam a possibilidade de que, embora existam temáticas de Política Externa em que há grande concordância por parte dos partidos brasileiros, a ênfase no relacionamento Sul/Sul ou Norte/Sul, assim como o posicionamento acerca dos processos de integração regional são as dimensões em que há maior distanciamento nos programas de governo de acordo com a ideologia do partido. A esquerda tenderia a se posicionar a favor de uma política externa Sul-Sul e a favor de processos de integração regional; enquanto a direita preferiria uma Política Externa Norte-Sul e teria maiores ressalvas aos processos regionais de integração. Entretanto, os autores afirmam a necessidade de testes empíricos mais robustos para testar a validade de tais achados.

Santos et al. (2020), em um dos poucos estudos sobre a temática em voga, indicam que a ideologia é importante para se compreender as preferências das elites parlamentares latino-americanas em matéria de integração regional. Os autores se utilizam da autoidentificação dos parlamentares para aferir suas ideologias entre esquerda e direita. A partir da enumeração de quais países os legisladores acreditam ser mais importantes para parcerias políticas e econômicas de seus Estados, os autores mostram que, mesmo que existam nuances e outros fatores, a ideologia apresenta alguma relevância, principalmente na escolha dos parceiros políticos. Assim, os legisladores de esquerda tendem a ser mais favoráveis a esses processos do que suas contrapartes de direita.

Contrera e Hebling (2017) se inserem na mesma discussão, analisando em que medida é possível separar, em termos ideológicos, os partidos brasileiros com base em suas propostas de Política Externa nas campanhas presidenciais, encontrando uma resposta positiva. Isso é feito utilizando-se de uma escala própria para classificar os partidos em alguma das ideologias por meio de seus posicionamentos em questões específicas de Política Externa. Assim, eles mostram, posteriormente, que a classificação empregada é relativamente congruente com a forma como a literatura brasileira classifica os partidos. Partidos localizados à esquerda tenderiam a preferir uma política externa com foco nas regiões em desenvolvimento, enquanto os mais ligados à direita priorizariam a aproximação com as regiões desenvolvidas do globo.

Com base nisso, o estudo aqui realizado busca ver se esta lógica teórica se reproduz também para as preferências dos parlamentares brasileiros, um ponto ainda não debatido a fundo na literatura, apenas superficialmente explorado. Como seu voto é ditado por questões institucionais/partidárias de oposição/situação e não de ideologia, foram analisadas suas preferências. Parte-se agora para uma apresentação da metodologia utilizada para aferir os resultados.

3. Dados e Métodos

Para testá-las, utilizaremos os dados coletados pelo survey do Parliamentary Elites in Latin America – PELA (Alcántara, 2021), em sua edição brasileira, conduzida pelo Centro de Estudos Legislativos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O projeto realiza entrevistas estruturadas com deputados federais ao longo de diferentes legislaturas, utilizando uma amostragem de população finita, fornecendo dados sobre posicionamento político, opiniões, atitudes e crenças das elites políticas. Nesta pesquisa, trabalhamos com as ondas realizadas em 2018 (onde 109 parlamentares da 55ª Legislatura foram entrevistados) e 2019 (que conta com 125 parlamentares da 56ª Legislatura), totalizando 234 observações.4

Para aferir o posicionamento em matérias de política externa utilizamos quatro perguntas que foram desdobradas em cinco variáveis dependentes. As três primeiras perguntas se referem ao apoio a agrupamentos de países (BRICS, Mercosul e Unasul). Este apoio varia em uma escala de 1 a 10, em que 1 significa que a participação nesses fóruns não é nada importante e 10 significa que a participação é considerada muito importante. A pergunta foi feita em formato de lista, seguindo essas três organizações. A última pergunta se refere diretamente à opinião do parlamentar frente a direção da política externa, isto é, se ela deveria ser direcionada no sentido Norte-Sul, Sul-Sul, ou se não faz diferença. Esta pergunta foi transformada em duas variáveis binárias, a primeira opondo aqueles que escolheram a posição Norte-Sul contra todas as outras opções e a segunda opondo aqueles que optaram por Sul-Sul com todos os outros.

Já para a mensuração de ideologia, escolhemos cinco medidas diferentes. Primeiramente, aferimos o auto posicionamento do parlamentar em uma escala de 1 a 10, usando esta medida diretamente, e também manipulamos essa variável concatenando as respostas de 1 a 4 em esquerda, de 5 a 6 em centro e de 7 a 10 em direita. A terceira medida consiste na ideologia partidária aferida pelo partido ao qual o deputado é vinculado. Para a classificação, utilizamos as categorias propostas por Telles e Freitas (2020), classificando os partidos em esquerda, centro e direita.

Por fim, utilizamos o que ficou conhecido como ideologia operacional (Jost et al., 2009), que parte da ideia de que a manifestação da ideologia ocorre diante dos seus posicionamentos frente a issues. Desse modo, o posicionamento do indivíduo frente a problemas reais e pautas específicas trazem uma mensuração mais adequada de seu posicionamento ideológico do que a autodeclaração. Também dividimos a ideologia operacional em três variáveis: uma que pressupõe apenas uma dimensão que varia entre direita e esquerda; e as outras duas dividem a ideologia em duas dimensões, uma econômica e outra moral, trabalhando com a ideia de ideologia multidimensional já aplicada para a análise dos indivíduos (Silva, 2017) e da oferta ideológica dos partidos (Dalton et al., 2011) na literatura recente. Contudo mantemos a medida unidimensional na análise, visto que há motivos teóricos para acreditarmos que as elites políticas possuem um sistema de crenças mais organizado, como trabalhado nos clássicos do comportamento político (Converse, 2006).

Para operacionalizar essa medida, usamos dois blocos de perguntas, sendo sete questões referentes a tópicos econômicos e seis referentes a tópicos morais. Todas as perguntas variam em uma escala de 1 a 10. Os testes de validade apontam para a coerência interna das perguntas (escala unidimensional KMO = 0,85, onde o α de Cronbach é 0,82; escala econômica KMO = 0,87, α de Cronbach igual a 0,90; escala moral KMO = 0,80, α de Cronbach igual a 0,76), atendendo aos pressupostos da análise fatorial (Figueiredo Filho e Silva Júnior, 2010; Kim e Mueller, 1978) que gerará os scores latentes a serem analisados. A modelagem, tanto a baseada na mensuração unidimensional, quanto na abordagem multidimensional, apresentou forte consistência interna, justificando o emprego de ambas as estratégias.5 Os scores foram padronizados a fim de variar em uma escala de 0 a 10, em que 10 reflete um posicionamento considerado à direita e 0 um posicionamento relacionado à esquerda. Ao final, tivemos uma média de 4,5 na escala unidimensional, 5,7 na escala moral e 3,7 na escala econômica.6

Como estratégia de análise, utilizamos uma série de modelos de regressão multivariados, totalizando 25 (cinco modelos para cada variável dependente). Nas três primeiras variáveis dependentes, referentes às organizações internacionais, utilizamos modelos de regressão linear, do tipo de Mínimos Quadrados Ordinários (MQO), adequado para a análise de variáveis com uma distribuição normal. Já nas duas últimas, por se tratar de variáveis binárias, utilizamos modelos lineares generalizados com ligação do tipo logit, adequado para a distribuição binomial, caso de ambas as variáveis. Assim, os resultados destes últimos foram interpretados como razões de chance, calculados pela exponenciação do coeficiente da regressão. Todos os modelos também foram controlados pela Legislatura (referência = 56ª Legislatura), a fim de separar os efeitos do tempo e da mudança dos parlamentares e pelas clivagens de governo, oposição e independentes (se autodeclarar como governo como referência), a fim de testar os resultados contra a maior hipótese rival.7 Também controlamos os modelos por sexo e idade dos parlamentares. Todas as análises foram realizadas no software R e podem ser replicadas dado o mesmo banco de dados.

4. Resultados

Como podemos ver na Tabela 1, que demonstra a relação entre a ideologia e o apoio à participação no BRICS, apenas uma variável apresenta significância estatística quando nos referimos à ideologia operacional em uma única dimensão, com o aumento de um ponto na escala, levando a uma redução de 0,24 na escala de suporte ao BRICS (p-valor < 0,05), com os controles constantes. Assim, quanto mais de direita na medida atitudinal unificada, menor o suporte. Por consequência, quanto mais à esquerda, maior o suporte. Dado o caráter contestatório da ordem multilateral vigente que o agrupamento possui, se não nos resultados, pelo menos retoricamente (Becard et al., 2019), faz sentido que parlamentares de esquerda expressem um maior suporte, enquanto os de direita, não. Fernandes et al. (2021) apontam que, na opinião pública brasileira, o BRICS possui uma imagem relativamente positiva, como um contrapeso às Grandes Potências, sem implicar o antiamericanismo.

Tabela 1
Modelos BRICS

A tradição reformista da esquerda brasileira, focada em um Sistema Internacional mais favorável às Potências Médias (Jakobsen, 2016), passando por uma reforma das instituições internacionais, pode ser vista como principal motivo para o suporte que presta ao agrupamento. Já parlamentares conservadores, defensores da ordem vigente, mostram menor apoio devido à visão negativa que possuem da associação do agrupamento com o reformismo. Ainda que se argumente que o menor suporte dado é fruto da presença de autocracias como China e Rússia, em oposição a regimes democráticos, recentes pesquisas de opinião demonstram visões mistas sobre a China e existe uma aproximação de líderes justamente conservadores, como Trump, Orbán e Bolsonaro, com Putin (Armony e Velásquez, 2016; Luchenko, 2024). Assim, as preferências dos parlamentares parecem mais refletir sua aceitação ou rejeição ao caráter reformista do BRICS do que ao regime político de alguns de seus membros.

Na Tabela 2, referente ao apoio ao Mercosul, encontramos efeitos similares em variáveis, direções e magnitudes com relação ao BRICS. Contudo, o que passa a importar é a ideologia operacional econômica e não moral, o que é esperado, dado o caráter econômico do bloco. O aumento de 1 ponto de ideologia operacional unidimensional está relacionado a uma redução de 0,21 na escala de apoio (p-valor < 0,05). Quando destrinchamos a ideologia unidimensional, o aspecto econômico obteve significância, o aumento de um ponto na escala está correlacionado a uma redução de 0,25 na escala de apoio (p-valor < 0,01). Tal achado se relaciona com o fato apontado na literatura de que parlamentares de esquerda são mais propensos a apoiar organismos de integração regional em geral. No caso específico do Mercosul, a guinada que o bloco deu em direção aos países bolivarianos, com economias em que o Estado atua fortemente, a partir de 2010, parece ser uma boa explicação para os resultados obtidos, dada a maior presença de uma agenda ideológica desenvolvimentista (Gouvea e Montoya, 2014). Já na visão dos parlamentares ligados à direita nessa dimensão ideológica, o bloco passou a representar um impedimento para o crescimento econômico do país e para o fechamento de acordos com outros atores por conta de suas posturas excessivamente ideológicas pró-bolivarianismo, com constantes afirmações de políticos de direita de que a participação brasileira deveria ser revista, ou que o Mercosul deveria retroceder de uma união aduaneira incompleta para uma zona de livre comércio apenas (Perosa, 2016).

Tabela 2
Modelos MERCOSUL

A relevância da ideologia econômica para compreender o apoio ao Mercosul é confirmada nas conclusões de Santos et al.:

O legado histórico regionalista da esquerda latino-americana continua a moldar as preferências dos seus parlamentares, ao passo que os parlamentares mais liberais continuam a preferir relações com as grandes potências econômicas, especialmente os Estados Unidos (Santos et al., 2020, p. 667, ênfase nossa).

Por fim, na Tabela 3, referente ao apoio à UNASUL, nenhuma dimensão ideológica apresentou significância. Essa falta de efeito pode estar relacionada à considerável perda de importância da UNASUL contemporaneamente, em que houve um esvaziamento do bloco, inclusive com a saída brasileira em 2019 (Antunes, 2021), com a consequência de que as discussões políticas sobre integração passaram a se concentrar no Mercosul. Assim, quando se trata de organismos de integração regional, obtemos evidências mistas de H2, pois encontramos resultados significativos apenas para uma das instituições. Além disso, apenas medidas operacionais apresentaram significância dos resultados, demonstrando a importância de diferentes formas de mensurar um conceito.

Tabela 3
Modelos UNASUL

Passamos agora a discutir os determinantes ideológicos relacionados à determinação da direção da Política Externa. Na Tabela 4, que apresenta os resultados referentes ao apoio a uma política externa direcionada no sentido Norte-Sul, nenhuma forma de mensurar apresentou significância estatística. Este achado é contraintuitivo e interessante, mas pode estar relacionado com um movimento recente da política externa brasileira: divisões na forma de entender a inserção internacional do Brasil entre uma direita mais tradicional e a direita bolsonarista. Nesse sentido, o crescimento da importância dos mercados chinês e dos países árabes para os produtos brasileiros pode ter um efeito moderador nas preferências de alguns parlamentares de direita, mais interessados em uma inserção pragmática e não ideológica do país (Saraiva e Silva, 2019). Assim, como não há distinção entre a dimensão econômica e política da preferência, pela inserção na forma como a pergunta é feita, pode-se imaginar que esses deputados, ainda que politicamente prefiram o Norte global, entendem que a inserção internacional brasileira deve levar em conta a importância dos mercados citados, que fazem parte do Sul global, e que o foco no Norte já não satisfaz mais seus interesses econômicos. Logo, no que tange ao eixo Norte-Sul, rejeitamos parcialmente a H3.

Tabela 4
Modelos de Política Externa Norte-Sul

Por outro lado, na Tabela 5, três mensurações de ideologia apresentaram significância estatística na direção esperada. O aumento de um ponto na escala de autodeclaração ideológica se relaciona a uma redução de 29% da chance de se posicionar a favor de uma política externa Sul-Sul (p-valor < 0,01) quando comparado a se autodeclarar de centro; se autodeclarar de direita não apresentou significancia nos resultados. Nas mensurações de ideologia operacional, uma posição à direita está relacionada com uma diminuição da chance de apoiar uma Política Externa Sul-Sul. O aumento de um ponto na escala unidimensional está relacionado a uma diminuição de 33% da chance de apoiar essa direção (p-valor < 0,01). As escalas econômica e moral obtiveram resultados semelhantes em magnitude e significância. O aumento de um ponto na escala moral está relacionado a uma diminuição de 23% da chance de assumir esse posicionamento (p-valor < 0,05). Já na escala econômica essa diminuição é de 27% (p-valor < 0,01). O fato de que deputados de esquerda tendem a preferir relações Sul-Sul não surpreende, dados os sentimentos mais negativos em relação aos Estados Unidos, a preferência por uma América Latina mais unida, a contestação da ordem multilateral desenhada pelo Norte e a busca por reduções na desigualmente do comércio internacional entre centro e periferia (Jakobsen, 2016). No que diz respeito ao menor suporte da direita à inserção Sul-Sul, os resultados também não surpreendem, dadas as pesadas críticas feitas à política externa implementada pelo PT, por seu caráter excessivamente Sul-Sul, que, para esse grupo, privilegiava vínculos ideológicos em detrimento do “interesse nacional” (Almeida, 2010). Assim, no apoio à dimensão Sul-Sul, os resultados demonstram suporte para H3.

Tabela 5
Modelos de Política Externa Sul-Sul

4. Discussão final

O suposto insulamento do Itamaraty no processo decisório da PEB se mostra insuficiente para compreender a ação internacional do país. Passado está o tempo em que o Ministério das Relações Exteriores, calcado no seu corpo diplomático de notáveis, poderia afirmar deter o monopólio dessa temática. Cada vez mais atores buscam expressar seus desejos e aspirações por meio da influência nas ações de Política Externa. Como se buscou mostrar na revisão bibliográfica, ainda que os determinantes de suas preferências de política externa ainda sejam um assunto pouco estudado, o Legislativo é um deles. Portanto, buscou-se compreender se a ideologia possui impacto na formação dessas preferências e, se sim, qual forma de mensuração ideológica melhor representa esse impacto.

No que tange aos BRICS, o agrupamento possui, desde seu início, um sentido de redesenhamento da arquitetura multilateral vigente em diversas organizações internacionais (Fernandes et al., 2021), além de aproximar o Brasil com outras grandes nações emergentes (Bernal-Meza, 2019). Ainda que seja possível questionar tal capacidade, principalmente após a segunda metade da década de 2010, por uma série de questões, o agrupamento ainda é socialmente reconhecido como uma instância eminentemente política de contestação (Becard et al., 2019). Dessa forma, e até mesmo pela associação à figura das presidências do PT, parlamentares de esquerda apresentam maior suporte ao agrupamento, visto que o entendem como forma de avançar a agenda Sul-Sul na política externa brasileira. Já aqueles ligados à direita, mais conservadores e, portanto, mais afeitos à manutenção da ordem vigente (Rathbun et al., 2016), mostraram-se mais propensos a dar menos suporte aos BRICS. Tais achados se comunicam com as conclusões de Becard et al. (2019), sobre uma perda da importância do agrupamento pós-impeachment como um fórum político e sua instrumentalização como forma de atrair capital chinês, mas com uma diminuição considerável da participação brasileira.

A relação entre ideologia e o suporte a organismos de integração regional se mostrou mista. Por um lado, no caso do Mercosul, a ideologia econômica está ligada a um maior ou menor suporte ao bloco: deputados à esquerda tendem a dar maior suporte, enquanto ser de direita se relaciona a um menor suporte, confirmando os achados de Santos et al. (2020). Embora tal organismo tenha sido criado na década de 1990 com o intuito de estimular o livre comércio entre os países do Cone Sul, sob a guisa do “regionalismo aberto”, atualmente recebe mais apoio de setores à esquerda. Esse maior suporte provavelmente está ligado à expansão do Mercosul, ocorrida a partir de 2010, em direção aos países bolivarianos, como a Venezuela e a Bolívia, que apresentam economias de forte presença estatal, algo em linha com as preferências de parlamentares à esquerda (Gouvea e Montoya, 2014), visto que se encaixaria em um “âmbito reformista” de integração regional (Santos et al., 2020). Já o menor suporte à direita se relaciona a essa mesma guinada, reputada por seus críticos como ideológica e improdutiva, já que o Mercosul impediria a realização de acordos de livre comércio vantajosos para o Brasil, se tornando um empecilho para a maior integração econômica brasileira na economia internacional, com repetidas afirmações a favor de um retorno a uma área de livre comércio entre os países membros, o que daria mais liberdade ao Brasil (Perosa, 2016). Nessa visão, o Brasil deveria trilhar um caminho mais similar aos Estados que integram a Aliança para o Pacífico (Santos et al., 2020).

No caso da Unasul, entretanto, nenhuma forma de mensuração ideológica representou significância estatística, embora esteja diretamente ligada ao contexto da Onda Rosa na região (Antunes, 2021), de forma a se esperar maior suporte da esquerda e menor da direita. Entretanto, o esvaziamento do bloco com o fim da Onda Rosa, a própria saída brasileira em 2019 e a falta de entusiasmo dos presidentes sul-americanos, tanto de esquerda, quanto de direita, com a sugestão de Lula da Silva, em 2023, para reanimar o bloco (BBC Brasil, 2023), indicam sua decadência e perda de relevância contemporânea (Santos et al., 2020) de forma que não há preferências claras em torno do suporte a um organismo visto como fraco atualmente.

Por fim, o suporte ideológico à preferência por uma determinada forma de inserção internacional do Brasil em termos de eixo Norte ou Sul também mostrou resultados mistos, de forma que os achados da literatura revista devem ser melhor delimitados. No que tange ao eixo Sul-Sul, os resultados obtidos estão de acordo com a teoria, dada a preferência de setores à esquerda pela aproximação com as demais nações em desenvolvimento, com foco na América Latina e diminuição do foco nas relações com os Estados Unidos, com vistas a recriar uma ordem internacional mais igualitária (Jakobsen, 2016). A direita, por outro lado, apresenta um menor suporte a tal noção, dado seus constantes ataques à política externa implementada pelos governos do PT que, de acordo com esses críticos, seria demasiadamente ideológica e focada em parcerias não vantajosas ao país com outras nações do Sul global (Almeida, 2010).

Entretanto, no caso do eixo Norte-Sul, nenhuma medida ideológica apresentou significância estatística. Esse achado é contraintuitivo e interessante, se levarmos em consideração a noção de que, historicamente, setores à direita enxergaram na aproximação com os países desenvolvidos a melhor forma de inserção internacional dos países da América Latina (Merke e Reynoso, 2016), não sendo o Brasil uma exceção (Cervo e Bueno, 2011; Lopes, 2020). Tal resultado pode indicar uma evidência de um movimento recente na história da política externa brasileira: o fortalecimento da China e dos mercados dos países árabes, pertencentes ao Sul global, como um moderador das preferências da direita tradicional em termos de inserção internacional (Saraiva e Silva, 2019). Saraiva e Silva (2019), por exemplo, citam a existência de grupos “pragmáticos” e “ideológicos” na política externa de Jair Bolsonaro e pode-se perceber que grande parte daqueles reputados como pragmáticos são justamente membros de uma direita tradicional, preocupada com as consequências econômicas das afirmações sinofóbicas e sionistas do ex-presidente brasileiro. Grande parte das “batalhas” internas que Bolsonaro precisou travar, inclusive em termos de política externa, não se deu contra setores à esquerda, mas sim contra políticos de direita, como mostram Lopes et al. (2022).

Nesse sentido, uma possível explicação para a não significância da ideologia de direita na preferência pela inserção Norte-Sul pode estar relacionada com o fato de que os ganhos econômicos advindos das trocas comerciais que setores agropecuários, tradicionalmente ligados à direita e com ampla representação no Congresso Nacional, realizam com esses países pode ter um efeito de diminuir a ênfase em uma política externa direcionada totalmente para o Norte global, ainda que isso não signifique uma adesão direta a uma política externa Sul-Sul nos termos implementados pelo PT, por exemplo (Lopes, 2020; Saraiva e Silva, 2019). Não significa dizer um abandono da preferência cultural ou política pelo modelo dos Estados Unidos ou da Europa Ocidental, mas talvez o indício de uma inicial compreensão de que, na atual composição do comércio exterior brasileiro, uma política externa exclusivamente Norte-Sul já não atende mais os interesses desse grupo, por alienar mercados importantes. Logo, tal proposição explicaria, de certa forma, a simultânea rejeição da direita por uma política Sul-Sul, sem que isso represente uma preferência pela política Norte-Sul automaticamente, mostrando um processo de complexificação das visões sobre as estratégias de inserção internacional do Brasil.

É importante considerarmos as limitações deste estudo. Primeiramente, estamos medindo as atitudes dos parlamentares frente à política externa. Portanto, apesar de serem excelentes preditores, elas não necessariamente se transformam em comportamento, como votos e posicionamentos no congresso, mais comumente estudados pela literatura. Em segundo lugar, devido ao baixo número de entrevistados, os achados sofrem de falta de poder estatístico, de modo que poderiam ser alterados caso houvesse mais casos para serem analisados. Essa limitação também reduz o número de controles que podemos inserir em nossos modelos, além de uma série de fatores externos como a influência de lobbies, pressões internacionais ou eventos geopolíticos que ocorrem fora do período de coleta de dados. Por fim, é importante destacar que os termos “esquerda” e “direita” podem ser problematizados, apresentando significados diferentes para cada indivíduo.

A partir disso, como possível futura agenda de pesquisa, são necessários mais estudos comparativos do período pré e pós-Bolsonaro, principalmente no que diz respeito a uma distinção, também em política externa, entre a direita tradicional e a direita bolsonarista. Pode ser que nossos resultados em relação às escolhas de alinhamento no Sistema Internacional sejam explicados por uma diferenciação não-captada pelo trabalho, mas que, aos poucos, é explorada pela literatura, entre a direita tradicional e a bolsonarista. Para além disso, é importante investigar os possíveis efeitos da polarização política na atual conjuntura brasileira nessa dinâmica de formação de preferências em política externa, impulsionando cada vez mais posicionamentos claros dos parlamentares. Por fim, recomendam-se também pesquisas sobre como diferentes grupos de interesse agem como possíveis moderadores do efeito da ideologia na preferência desses deputados, a exemplo do agronegócio, dos grupos empresariais e movimentos sociais.

Anexo 1. Estatísticas da Análise Fatorial.

Fator Unidimensional Fator Econômico Fator Moral
Estado dono de empresas estratégicas 0,324 0,305
Estado como principal responsável pelo bem-estar 0,628 0,685
Estado como provedor da previdência 0,731 0,774
Estado como provedor de serviços de saúde 0,745 0,776
Estado como provedor de educação superior 0,798 0,797
Estado como redução da desigualdade de renda 0,799 0,824
Estado como redução da desigualdade entre os gêneros 0,703 0,754
Redução da maioridade penal -0,373 -0,748
União Civil de pessoas do mesmo sexo 0,397 0,623
Pena de morte -0,248 -0,356
Descriminalização do uso de drogas 0,308 0,676
Proibição de venda de armas de fogo 0,264 0,406
Legalização do aborto 0,337 0,754
Proporção da variância 0,307 0,521 0,377
Cargas SS 3,994 3,646 2,264
Tucker Lewis 0,61 0,876 0,917
RMSEA 0,156 0,142 0,088
BCI 80,13 3,71 -23,67
  • Fonte: elaborado pelos autores com base em PELA (Alcántara, 2021).
  • Anexo 2. Frequência e redação das variáveis utilizadas.

    Tipo de variável Bloco Pergunta/Origem Tipo Valor Erro padrão
    Contínua Ideologia contínua Levando em conta as suas ideias políticas, onde o(a) Sr.(a) se posicionaria na escala seguinte, onde 1 indica “esquerda” e 10 “direita” Média 5,5157 0,1595
    Variáveis econômicas O estado, no lugar do setor privado, deveria ser o dono das empresas e indústrias mais importantes do país (1 totalmente de acordo, 10 totalmente em desacordo) Média 5,5309 0,1886
    O estado, mais do que os indivíduos, deveria ser o principal responsável pelo bem-estar dos cidadãos (1 totalmente de acordo, 10 totalmente em desacordo) Média 3,9341 0,1762
    O estado, mais do que o setor privado, deve ser o responsável por garantir as aposentadorias (1 totalmente de acordo, 10 totalmente em desacordo) Média 3,8591 0,1591
    O estado, mais do que o setor privado, deve ser o principal responsável por prover os serviços de saúde (1 totalmente de acordo, 10 totalmente em desacordo) Média 3,4989 0,172
    O estado, mais do que o setor privado, deve ser o responsável por prover a educação universitária (1 totalmente de acordo, 10 totalmente em desacordo) Média 3,7278 0,1759
    O estado, mais do que o setor privado, deve ser o responsável pela redução da desigualdade de renda entre ricos e pobres (1 totalmente de acordo, 10 totalmente em desacordo) Média 3,654 0,1711
    O estado, mais do que o setor privado, deve ser o responsável pela redução das desigualdades entre homens e mulheres (1 totalmente de acordo, 10 totalmente em desacordo) Média 3,7992 0,1671
    Variáveis morais Redução da maioridade penal [agora vou enumerar uma série de temas debatidos na sociedade brasileira. Utilize a escala a seguir, onde 1 significa a favor e 10 significa contra] Média 4,7343 0,2366
    União Civil de pessoas do mesmo sexo [agora vou enumerar uma série de temas debatidos na sociedade brasileira. Utilize a escala a seguir, onde 1 significa a favor e 10 significa contra] Média 5,049 0,2249
    Pena de morte [agora vou enumerar uma série de temas debatidos na sociedade brasileira. Utilize a escala a seguir, onde 1 significa a favor e 10 significa contra] Média 7,336 0,2158
    Descriminalização do uso de drogas [agora vou enumerar uma série de temas debatidos na sociedade brasileira. Utilize a escala a seguir, onde 1 significa a favor e 10 significa contra] Média 6,331 0,2017
    Proibição de venda de armas de fogo [agora vou enumerar uma série de temas debatidos na sociedade brasileira. Utilize a escala a seguir, onde 1 significa a favor e 10 significa contra] Média 5,863 0,2003
    Legalização do aborto [agora vou enumerar uma série de temas debatidos na sociedade brasileira. Utilize a escala a seguir, onde 1 significa a favor e 10 significa contra] Média 7,0662 0,209
    Dependentes Unasul [qual a importância da participação do Brasil nos seguintes Fóruns Multilaterais (escala: 1 significa nada importante e 10, muito importante)] Média 6,2456 0,1665
    Mercosul [qual a importância da participação do Brasil nos seguintes Fóruns Multilaterais (escala: 1 significa nada importante e 10, muito importante)] Média 7,5049 0,1526
    BRICS [qual a importância da participação do Brasil nos seguintes Fóruns Multilaterais (escala: 1 significa nada importante e 10, muito importante)] Média 7,6632 0,1491
    Categóricas Na opinião do Sr. (a), a orientação da Política Externa Brasileira deveria ser predominantemente: Freq/De estreitamento da cooperação Sul-Sul 0,3296 0,0345
    Freq/De estreitamento da cooperação Norte-Sul 0,379 0,0358
    Freq/Depende da situação e Não Sabe/Não Respondeu 0,2914 0,0341
    Bloco Ideológico Partido do respondente Freq/Direita 0,5752 0,0354
    Freq/Centro 0,1725 0,0275
    Freq/Esquerda 0,2524 0,0276
    Controles O (a) Sr. (a) se considera do governo ou da oposição? Freq/Governo 0,5137 0,0391
    Freq/Oposição 0,242 0,0286
    Freq/Independente 0,2441 0,0372
    Ano Freq/2015-2018 0,465 0,0369
    Freq/2019-2022 0,535 0,0369
    Sexo Freq/Masculino 0,901 0,0209
    Freq/Feminino 0,099 0,0209
    Idade Freq/Média 53,779 0,8522
  • Fonte: elaborado pelos autores com base em PELA (Alcántara, 2021).
  • Anexo 3. Modelos sem controles.

    Variável Dependente: BRICS
    1 2 3 4 5
    Autoidentificação ao centro -0,869**
    (0,397)
    Autoidentificação à direita -0,783**
    (0,365)
    Autoidentificação contínua -0,101
    (0,067)
    Bloco ideológico ao centro -0,760
    (0,491)
    Bloco ideológico à direita -0,773**
    (0,306)
    Ideologia operacional unidimentional -0,237***
    (0,079)
    Ideologia operacional moral -0,131**
    (0,057)
    Ideologia operacional economia -0,166*
    (0,087)
    55ª Legislatura -0,117 -0,076 -0,026 0,225 0,120
    (0,323) (0,332) (0,300) (0,322) (0,339)
    Constante 8,308*** 8,261*** 8,250*** 8,628*** 8,970***
    (0,326) (0,466) (0,267) (0,378) (0,385)
    Observações 206 206 233 213 213
    Log Likelihood -458,692 -460,739 -513,540 -466,621 -466,092
    Akaike Inf. Crit. 925,383 927,477 1,035,080 939,242 940,184
    Variável Dependente: MERCOSUL
    1 2 3 4 5
    Autoidentificação ao centro -1,001***
    (0,375)
    Autoidentificação à direita -1,401***
    (0,404)
    Autoidentificação contínua -0,244***
    (0,076)
    Bloco ideológico ao centro -0,844*
    (0,451)
    Bloco ideológico à direita -0,985***
    (0,316)
    Ideologia operacional unidimentional -0,259***
    (0,071)
    Ideologia operacional moral -0,124*
    (0,065)
    Ideologia operacional economia -0,191**
    (0,077)
    55ª Legislatura 0,213 0,216 0,273 0,583* 0,492
    (0,337) (0,340) (0,313) (0,313) (0,340)
    Constante 8,203*** 8,698*** 8,092*** 8,391*** 8,683***
    (0,333) (0,492) (0,267) (0,362) (0,423)
    Observações 205 205 232 213 213
    Log Likelihood -458,525 -459,244 -515,018 -470,030 -469,802
    Akaike Inf. Crit. 925,051 924,488 1,038,037 946,061 947,604
    Variável Dependente: Unasul
    1 2 3 4 5
    Autoidentificação ao centro -0,885**
    (0,420)
    Autoidentificação à direita -1,133***
    (0,424)
    Autoidentificação contínua -0,209**
    (0,082)
    Bloco Ideológico ao centro -0,571
    (0,567)
    Bloco Ideológico à direita -0,909**
    (0,350)
    Ideologia operacional unidimentional -0,167**
    (0,080)
    Ideologia operacional moral -0,135*
    (0,069)
    Ideologia operacional economia -0,096
    (0,081)
    55ª Legislatura 1,098*** 1,098*** 1,087*** 1,441*** 1,319***
    (0,356) (0,353) (0,330) (0,354) (0,363)
    Constante 6,367*** 6,808*** 6,363*** 6,251*** 6,685***
    (0,358) (0,496) (0,325) (0,390) (0,457)
    Observações 206 206 233 213 213
    Log Likelihood -482,888 -482,977 -540,388 -496,433 -495,471
    Akaike Inf. Crit. 973,775 971,953 1,088,777 998,866 998,941
    Variável Dependente: Política Externa Norte-Sul
    1 2 3 4 5
    Autoidentificação ao centro -0,027
    (0,404)
    Autoidentificação à direita 0,251
    (0,425)
    Autoidentificação contínua 0,067
    (0,071)
    Bloco ideológico ao centro 0,833*
    (0,451)
    Bloco ideológico à direita 0,223
    (0,351)
    Ideologia operacional unidimentional 0,050
    (0,070)
    Ideologia operacional moral 0,171**
    (0,082)
    Ideologia operacional economia -0,030
    (0,075)
    55ª Legislatura -0,312 -0,286 -0,472 -0,554 -0,390
    (0,343) (0,349) (0,334) (0,358) (0,366)
    Constante -0,684** -0,988** -0,782** -0,594* -1,333**
    (0,338) (0,461) (0,304) (0,346) (0,526)
    Observações 206 206 234 213 213
    Log Likelihood -143,969 -143,638 -160,347 -150,903 -146,553
    Akaike Inf. Crit. 295,939 293,276 328,695 307,805 301,105
    Variável Dependente: Política Externa Sul-Sul
    1 2 3 4 5
    Autoidentificação ao centro -0.890**
    (0.405)
    Autoidentificação à direita -0.934**
    (0.455)
    Autoidentificação contínua -0.260***
    (0.080)
    Bloco ideológico ao centro -1.383**
    (0.598)
    Bloco ideológico à direita -0.648*
    (0.354)
    Ideologia operacional unidimentional -0.348***
    (0.093)
    Ideologia operacional moral -0.246***
    (0.084)
    Ideologia operacional economia -0.218**
    (0.095)
    55ª Legislatura 0.588 0.582 0.987*** 1.398*** 1.226***
    (0.371) (0.380) (0.371) (0.396) (0.419)
    Constante -0.486 0.280 -0.819** -0.076 0.633
    (0.338) (0.445) (0.316) (0.430) (0.510)
    Observações 206 206 234 213 213
    Log Likelihood -136.097 -133.163 -148.535 -129.476 -125.509
    Akaike Inf. Crit. 280.194 272.325 305.070 264.951 259.017
  • Nota: *p<0,1; **p<0,05; ***p<0,01.
  • Fonte: elaborado pelos autores com base em PELA (Alcántara, 2021).
  • Anexo 4. Modelo Multinomial

    Variável Dependente: Direção da Política Externa
    1 2 3 4 5
    Sul-Sul Norte-Sul Sul-Sul Norte-Sul Sul-Sul Norte-Sul Sul-Sul Norte-Sul Sul-Sul Norte-Sul
    Autoidentificação ao centro -0,437 0,629
    (0,577) (0,633)
    Autoidentificação à direita -0,711 0,700
    (0,682) (0,712)
    Autoidentificação contínua -0,265** 0,166
    (0,130) (0,128)
    Bloco ideológico ao centro -1,356* -0,303
    (0,736) (0,687)
    Bloco ideológico à direita -0,340 0,360
    (0,546) (0,574)
    Ideologia operacional unidimentional -0,335*** 0,144
    (0,124) (0,111)
    Ideologia operacional moral -0,274 -0,686
    (0,154) (0,121)
    Ideologia operacional economia -0,240** 0,136
    (0,136) (0,102)
    Independente -0,992 1,259** -1,075 1,383** -0,578 0,852* -0,495 1,030** -0,679 0,991**
    (0,754) (0,567) (0,735) (0,582) (0,622) (0,479) (0,718) (0,495) (0,784) (0,505)
    Oposição 0,096 0,565 -0,354 0,694 0,244 0,238 0,243 0,619 -0,319 0,413
    (0,532) (0,636) (0,586) (0,648) (0,516) (0,611) (0,530) (0,498) (0,702) (0,581)
    Sexo (feminino) 1,194* 0,677 0,954 0,792 1,461** 0,939 1,472* 0,510 1,358* 0,477
    (0,720) (0,749) (0,730) (0,758) (0,675) (0,695) (0,797) (0,750) (0,745) (0,760)
    Idade -0,037** -0,000 -0,040** 0,002 -0,036** -0,003 -0,043** 0,000 -0,043** 0,000
    (0,018) (0,019) (0,018) (0,019) (0,018) (0,016) (0,020) (0,018) (0,021) (0,018)
    55ª Legislatura 0,963** 0,177 0,901* 0,157 1,293 0,134 1,701*** -0,204 1,579*** -0,225
    (0,463) (0,414) (0,472) (0,427) (0,481) (0,413) (0,528) (0,496) (0,553) (0,483)
    Constante 1,859 -1,034 3,228*** -1,663 1,562 -0,314 2,585** -1,140 3,784** -0,686
    (1,220) (1,317) (1,466) (1,487) (1,144) (1,076) (1,283) (1,151) (1,817) (1,474)
    Observações 193 193 210 191 191
  • Nota: *p<0.1; *p<0.05; ***p<0.01.
  • Fonte: elaborado pelos autores com base em PELA (Alcántara, 2021).
  • Observações: os modelos devem ser comparados com a categoria de referência, nesse caso a posição não sabe/ não respondeu à pergunta ou que o apoio depende da situação, de modo que estamos comparando os grupos com aqueles que não tem uma preferência declarada.
    • 1
      Agradecemos aos comentários de Thales Carvalho, Haroldo Ramanzini Júnior, Ítalo Sposito e Rafael Moreira, bem como os membros do Centro de Estudos Legislativos da Universidade Federal de Minas Gerais (CEL - UFMG), os participantes do 9º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais e aos revisores anônimos pelos comentários que ajudaram no desenvolvimento desta pesquisa.
    • 2
      Para uma introdução incipiente ao debate, ver: Lopes (2017); Lima (2000); Lopes e Faria (2016); Lima e Milani (2016).
    • 3
    • 4
      Vale ressaltar que apenas sete parlamentares da base de dados se encontram na Comissão Parlamentar de Relações Exteriores e Defesa Nacional.
    • 5
      As cargas fatoriais de cada pergunta utilizada para construir os fatores podem ser encontradas no Anexo 1. Vale destacar que a dimensão unidimensional possui maior força dos itens econômicos quando comparados com os morais. Assim, a estatística justifica a separação em duas dimensões, mas mantemos devido ao construto teórico a ser mensurado. Utilizamos uma rotação oblíqua.
    • 6
      As estatísticas descritivas de todas as variáveis utilizadas estão disponíveis no Anexo 2.
    • 7
      Os resultados dos modelos sem controles estão disponíveis no Anexo 3. No Anexo 4 estimamos os modelos para a direção da política externa como um modelo logístico multinomial.

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    Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Dez 2024
    • Data do Fascículo
      2024

    Histórico

    • Recebido
      19 Fev 2024
    • Aceito
      11 Out 2024
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