Open-access "No meio do ano letivo tinha uma palestra": a resistência docente vista à luz da "educação pela pedra"

"In the middle of the school year there was a conference": teacher resistance seen in the light of "education by the stone"

"En el medio del año escolar tenía una conferencia": la resistencia del profesor visto a la luz de la "educación por la piedra"

RESUMO

Este artigo pretende conectar dois poemas, "No meio do caminho", de Carlos Drummond de Andrade, e "Educação pela pedra", de João Cabral de Melo Neto, com a situação de resistência dos professores perante as atividades de formação contínua. A consecução deste trabalho partiu de um recorte do estudo de caso realizado no curso de especialização lato sensu em Gestão Escolar, na Universidade de São Paulo (USP), no período de 2018 a 2019. Nesse estudo, um dos resultados obtidos sublinhou, especificamente no segundo capítulo, o descontentamento e a apatia dos professores na participação dessas formações. Logo, o artigo intenciona aprofundar a discussão utilizando-se da poética de nossa literatura a fim de entrelaçar saberes e práticas, cuja observação revisa a reação negativa dos professores às formações ao longo do ano letivo.

Palavras-chave:
Formação Contínua; Professores; Resistência; Poesia

ABSTRACT

This article intends to connect two poems of Brazilian modern literature, "No meio do caminho" [In the middle of the way], by Carlos Drummond de Andrade, and "Educação pela pedra" [Education ‘by the stone’], by João Cabral de Melo Neto, with the situation of teacher resistance to continuous training activities. The conduction of this work was based on an analysis of the case study carried out in the lato sensu specialization course in Gestão Escolar (School Management), at the University of São Paulo (USP), in the period from 2018 to 2019. In this study, one of the results obtained showed, specifically in the second chapter, the discontent and apathy of teachers with regard to participating in these training courses. Therefore, the article intends to deepen the discussion using the poetics of our literature in order to intertwine knowledge and practice, the observation of which examines the negative reaction of teachers to training courses throughout the school year.

Keywords:
Continuous Formation; Teachers; Resistance; Poetry

RESUMEN

Este artículo pretende conectar dos poemas de la poesía modernista brasileña "No meio do caminho", de Carlos Drummond de Andrade, y "Educação pela pedra", de João Cabral de Melo Neto, con la situación de resistencia de los profesores frente a las actividades de formación continua. La realización de este trabajo se basó en un análisis del estudio de caso realizado en el curso de especialización lato sensu en Gestão Escolar (Gestión Escolar), de la Universidad de São Paulo (USP), dado el período de 2018 a 2019. En este estudio, uno de los resultados obtenidos puso de relieve, concretamente en el segundo capítulo, el descontento y la apatía de los docentes en la participación de estas formaciones. Por ello, el artículo pretende profundizar en la discusión utilizando la poética de nuestra literatura con el fin de entrelazar conocimientos y prácticas, cuya observación revisa la reacción negativa de los docentes a las formaciones a lo largo del año lectivo escolar.

Palabras clave:
Formación Continua; Docentes; Resistencia; Poesía

INTRODUÇÃO

Carlos Drummond de Andrade, em No meio do caminho (1967), e João Cabral de Melo Neto, em A educação pela pedra (1994), possuem na literatura a culpa da pedra. Assumem a complicada travessia em versos cuja inércia do sujeito encontra amparo na cômoda consciência — provocada pela pedra — que o impede de mudar, desviar e avançar seu trajeto.

A insistência no provável acerto parado, haja vista o temor do passo que encaminharia a atividade subjetiva da própria mudança, permanece naquilo a que se sujeita errando e, disso, nada mais resta à sua consciência, em um corpo já "de retinas fatigadas" (Andrade, 2013, p. 36), do que a lembrança da oportunidade arrojada de um novo acontecimento a partir da pedra. Da lembrança desta emerge a dificuldade para um sistema educacional que, na fleumática reação de abraçar o foco comunitário ofertado pela escola, desfere a utopia de uma promoção curricular jogada às traças da falácia incompreendida daqueles que se incumbem da tarefa, embora sem a devida formação presente e continuada.

N’A Educação Pela Pedra, Melo Neto (1994) vislumbra poemas sem nexo às suas experiências. Desde já, apenas a estrutura do livro pode testemunhar a incomunicabilidade entre professores e gestores relatada na pesquisa de Santos (2019). Não há um conjunto partilhado, mas uma aceitação comum que claudica no diálogo, cuja apatia vence a prática de ideias e o manifesto dessas vozes. Especificamente no poema ao qual este artigo se refere, é possível intuir que a pedra reflete o que se passa com professores perante o brilhantismo platônico de um diploma inicial, assumindo eles a prostrada postura que arrefece seu dever profissional nas condições impostas. Nada mais cético que o peremptório juízo do imutável para o qual apenas se retém no corpo primário a transmissão do conhecimento.

Com base em um estudo de caso em que foi assinalado que a escola deve ser vista como ferramenta de processos evolutivos, os quais implicam mudanças e reavaliações significativas e periódicas, o presente artigo confere ao trabalho realizado na especialização uma dedicada atenção no que concerne à postura docente diante das formações contínuas. Sendo a escola esse organismo vivo que, para seu total desenvolvimento, necessita e deve mobilizar-se, reformular-se conforme planos solucionadores para impedir a inércia de seu funcionamento, foi observado que é de total responsabilidade gestora — escolar e educacional — ofertar ao corpo docente cursos formadores cujo aprendizado viabilizará propostas de emancipação do ensino. Por meio de uma entrevista aplicada aos educadores, cujas perguntas aludiram às atividades formadoras aplicadas durante o período de 2010 a 2018, o diagnóstico demonstrou o que a base teórica desta monografia descreveu: professores foram subestimados nas escolhas internas de formação profissional, embora sejam os responsáveis em sua totalidade pelo desenvolvimento da classe escolar. Como reflexão, o estudo trouxe à tona a necessidade de um recurso que estimule a participação dos docentes visando ao reconhecimento de suas experiências e desenvolvendo neles a capacidade analítica, encorajada e criativa de pautar resoluções aos problemas da escola, bem como o aperfeiçoamento do seu ensino (Santos, 2019).

Além dos argumentos que descreveram os enfrentamentos na relação entre professores e gestores, revelou-se que a formação continuada se tornou um desafio para o esforço da voz docente, limitada quanto à sua autonomia e à sua resistência. Na escola em que foram aplicadas entrevistas aos educadores — professores e coordenadores —, delinearam-se isolados descontentamentos entre ambos. Os estudos realizados após o levantamento dos dados esclareceram essa observação no local de trabalho, cuja dificuldade hermenêutica sobre a construção do poder decisório do professor é, em contrapartida, enraizada pela concepção de hierarquia vivida pelos gestores. Neste esforço rematado pela elaboração objetiva de avaliar os aspectos de autonomia dos professores na decisão da pauta na escola, foram destaques os trabalhos que definem de maneira sistêmica, mas completa, a formação continuada como um suporte de criação dos professores, embora ainda desconectado do grande engenho da gestão escolar, tornando necessária a inclusão da autoafirmação docente que determina sua liderança no exercício da responsabilidade sobre e para a escola (Santos, 2019).

Apesar desta comparação entre pedras e formações, alicerçada em duas bases de trabalho, um poético e outro acadêmico-formativo, o presente escrito apregoa a necessidade da formação contínua para professores. Com atenta disposição para que a fala docente seja emancipada, a referência aos poemas enlaça o atributo de que a resistência dos professores tem de ser ressignificada de acordo com um viés de negociação (Foucault, 2010). Os estudos desenvolvidos por Imbernón (2001; 2009; 2010) acerca da emancipação da docência reiteram o estímulo de sua liderança dentro da escola alicerçada no resgate do seu perfil de pesquisador e contribuinte com base no exercício de formação em seu local de atuação docente.

A seguir, os elementos que discorrem acerca do entrelace entre os poemas e o estudo produzido encontram-se assim dispostos: a apresentação do capítulo em que há o recorte para a comparação e a análise dos poemas de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto, atribuindo-lhes, na sequência, um estudo comparado entre a situação encontrada na prática por meio das verves que dialogam em consonância com ela. Neste mesmo item será pontuada a concepção de voz docente, dada a referência na relação entre os professores no local de trabalho, bem como a recepção da pesquisa realizada.

No encerramento deste texto, como reflexão, o termo foco será expandido para além do professor e do aluno, mencionando-se a necessidade de que o instituto educacional e o conhecimento mereçam expressiva atenção na lapidação das práticas de ensino, assim visada pelas formações contínuas. Também é de intento informar, nesta mesma seção, que a concorrência pela importância da palavra está entre os quatro elementos citados — professor, aluno, escola e conhecimento — revelando logo o preciso campo de estudo a fim de uma reformulação organizacional para verificar as atividades propostas, assim tratadas em concordância entre professores e gestores, para a outorga de melhores cursos formadores.

A SALA DOS PROFESSORES E A EXPRESSÃO DA INDIFERENÇA

Desde a escola de preceitos oitocentistas, Raul Pompéia n’O ateneu (1998) propunha que a educação deveria exercitar almas, não apenas fazê-las. Mesmo que a voz do Dr. Cláudio nesta obra se refira aos alunos, observa-se que a ideia também se prolonga aos professores, quando apontados os atritos com as circunstâncias e que disso parta o exercício do conhecimento. Os encaminhamentos pelo século XX e o testemunho atual no século XXI sobre a aprendizagem docente, na urgência de uma presença de equipe que assegure a voz plural, retratam ensaios, segundo Santos (2019), de como fazer uma formação a fim de que

os professores condicionem seus aprendizados iniciais à capacidade de valorizar seu desempenho profissional através de uma construção focada nas pessoas envolvidas com a motivação de influenciar diretamente na criação do comportamento líder e decisivo na escola. (p. 11)

Seguindo o raciocínio da autora, no capítulo dedicado, primeiramente, a ressaltar o convívio na sala dos professores, observa-se que o ambiente é, na verdade, um local de espera por liderança. De acordo com as conversas analisadas, os assuntos refletiam o descontentamento da profissão, a perda de confiança no grupo e o receio de expressar seu argumento e ponto de vista. Na escola, a identidade social apática, resultada de insistentes contextos perturbadores, influenciou diretamente no desenvolvimento profissional docente: baixo rendimento dos alunos, conflitos internos e resultados avaliativos aquém de outras escolas.

Quando ouvidos na entrevista sobre as práticas formadoras contínuas, segundo o estudo de Santos (2019), os professores confirmaram sua prostração diante das formações, havendo interesse apenas em ter um certificado ou cumprir horas. Foi comprovado que as formações colocaram os professores na forma passiva de aquisição de conhecimento, sem qualquer projeto de prática posterior, orientado pelos coordenadores pedagógicos. Assim, com a insatisfação, esta pedra no meio do caminho é visualizada tal qual a poesia drummondiana em que é possível viver e relacionar se sentindo tedioso e seguindo a monotonia (Achcar, 2000). Outra situação agregada ao poema e que assim podemos relacionar ao testemunho dos professores é "um problema de identidade […] e falta de naturalidade" (Candido, 2011, p. 68) — significar nesta pedra o obstáculo, o desencontro, a frustração e a falta de transcendência (Achcar, 2000). Como n’O Inferno, de Dante Alighieri, as ressonâncias de abertura "[n]o meio do caminho da nossa vida"1 (Alighieri, 2019, p. 25) traduzem a declaração de Drummond em um argumento interativo com a passagem e o período perdidos (Saraiva, 1967; Achcar, 2000).

A desmotivação, a postura inerte, a desvalorização de seu profissionalismo, a evasão do assunto corroboram a negligência de exercer qualquer atividade que exija mais que do cumprimento do horário, bem como o envolvimento com outros colegas e suas disciplinas. O resultado é uma educação pela pedra, pela qual se acostumou o destino de suas aulas, sem qualquer determinação que coloque suas práticas em reavaliação.

Drummond e Cabral, poetas do século XX, com professores cuja lassidão manifesta a turbulência educacional atualmente, dispõem nas suas "pedras" a descrição do significado de tradição e memória por meio da peleja dos professores para sobreviver ao novo. Formas imediatas de formação, executando palestras rápidas apenas para somar certificados, têm sido a resposta para a incoerente situação destoante da escola plural com protagonismo docente. As "pedras" que se fixam no caminho da educação sustentam os apontamentos dos docentes sobre a má aplicação da formação contínua ao longo dos anos. Formações que perderam o interesse do grupo para serem criadas e praticadas. Imbernón (2010) concerne à preparação dessa formação o questionamento sobre os problemas cotidianos e, em conjunto, o cultivo de um espaço incentivador de pesquisa no caminho do ensinar ao aprender. Da poesia à educação, portanto, suas imagens se cruzam nesta criativa alusão em que "constitui a representação mental de objetos sensíveis" (Moisés, 1992, p. 282).

Os testemunhos das pedras relatados pelos poetas conferem a aproximação em que professores, atividades formadoras e gestores classificam suas ações "no meio do caminho". À luz de Drummond, o meio do ano letivo, assim utilizado para cumprir os cursos, encontra suas pedras na imposição das atividades, nas palestras não correspondentes à realidade da escola, na resistência dos professores. Um meio do caminho que poderia ser traduzido igualmente para "formação" torna-se um estagnado impasse entre os grupos, por vezes litigantes, em cujo lugar sobram apenas os testemunhos cansados do acontecimento em que se reclama dele por intermédio de "retinas fatigadas". Consideremos o poema:

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.

(Andrade, 2013, p. 36)

A leitura encena uma vagarosidade daquilo que é constante na vida e conformado com seus percalços, ora acostumado com a trajetória. Em sua estrutura:

Trata-se de um poema de apenas 10 versos e, curiosamente, de outrostantos semantemas, colhidos na linguagem quotidiana: meio –caminho – tinha – pedra – nunca – esquecerei – acontecimento – vida – retinas – fatigadas. (Saraiva, 1967, p. 9)

O próprio Drummond declara que escreveu o poema conforme a "chateação que estava sentindo" (Saraiva, 1967, p. 10) e que o considerava "insignificante em si" (Saraiva, 1967, p. 18). Um poema repetitivo cujas palavras simples e cotidianas parecem não entrar em divergência. No entanto, esse poema causa, conforme as palavras de Mario de Andrade, "o mais forte exemplo de que conheço, mais bem frisado, mais psicológico de cansaço intelectual" (Andrade, 1982, p. 17).

A conversa, anterior ao estudo de caso, revelou que os professores temeram participar da entrevista, haja vista a insegurança de expressar suas opiniões em desacordo com as propostas formadoras atribuídas pela gestão da escola. No paralelo com o "meio do caminho" e suas possibilidades audaciosas de leitura e ressignificação, percebe-se como determinado texto, quando sedimentado na memória de um grupo social, pode traduzir diferentes formulações, aproximando-se de seu significado e se abrindo a novas perspectivas, embora emerja o estranhamento, tal como a intenção do poema drummondiano.

As retinas fatigadas conferem ao poeta, aos professores e à pesquisa a imagética de um problema agravado nesta memória que se estagna com constância. Ora, ao interpretar-se o poema como um fastio ou uma lassidão, assim opinado por Mário de Andrade, é plausível observar, entretanto, que há uma ruptura a partir do termo "acontecimento", indicando algo ou um futuro inusitado. O acontecimento, portanto, realçado na estrutura do poema, articula o cansaço e o estranhamento. Do poeta aos professores, o deslocamento focal suscita um fenômeno de desconexão (ora desligamento) do eu para consigo. Quiçá sugira formular aos protagonistas, poeta e professores, uma autonomia de seus papéis essenciais. Ou ainda confira aos professores um desdobramento em outro em que caiba sua importância dentro do ver com olhos fatigados a desmontagem de sua formação.

O estranhamento da pedra formadora se repete e se duplica para outro fato, consequência deste procedimento. O vocábulo "fatigadas", ao encerrar a estrofe de ligação, volta-se ao início: ao ato de olhar com as retinas, que em seu conceito anatômico capta o objeto e o transporta, em imagem, para a reflexão e para a consciência — que também se encontra fatigada. Esse interesse remete à ideação apresentada por Baudelaire (2010): o significado de olhar do convalescente. Logo, as retinas fatigadas dos professores parecem confirmar esse sentido que encerra e retoma a poesia em sua rotina.

Outra consideração que desperta o apreço a uma interessante nota: "fatigadas" está logo abaixo de "acontecimento". Isso confere ao poema um elo indissociável no mesmo complexo: o de ser total, nascer e renascer dentro desse constante e infinitamente em si e de si e para si mesmo. Que não haja fim ao distinguir o começo e o meio, a casualidade e o efeito, a forma e o fundo, o ser e o não ser. Que não seja o fim forma-se da pedra casual, que em si é retida apenas pelo olhar e pelo estar na consciência.

Poder-se-ia espelhar o texto em uma atenção aos cursos contínuos aos professores, que para esta situação, no poema e para os professores, levaria a uma ruptura em sua vida pessoal e profissional (tal qual afirmado na expressão "Nunca me esquecerei"). Embora o verbo "esquecer" apareça no futuro, ele vem impregnado do passado, de modo que a intenção no poema é a de se conservar rígido à pedra e aos versos durante o escrito. No entanto, ele torna-se justamente o entrave, que provoca enfado e desapontamento, lástimas reforçadas por indeléveis repetições do poema e das atividades formadoras dos docentes. Constata-se, portanto, que o esperado "acontecimento" é para fazer a diferença na consecução deste caminho, algo que quebre a rotina e o desengano.

Eis o poema! Eis a formação! Por si e de si e para si estruturados. Os professores, segundo o relato, se juntam à posição do poeta que se acomoda em um segundo plano. Neste espaço, carrega-se a voz inaudível a pedir que se rompa o escudo do cotidiano melancólico e existencial. Entretanto, disso é propagada tamanha amplitude de um senso, primeiramente vazio e sem imposição. Entre os professores o que há, porém? Através da constância deste assunto que lhes gera paragem, observa-se o apontamento de algo que é particular, mas que é coletivo e se generaliza.

Logo, a partir da confiança no desenvolvimento do estudo de caso tratado na especialização, como também da promessa de um retorno da pesquisadora para a aplicação de uma pesquisa-ação,2 houve empenhada colaboração dos professores na realização da entrevista, visto que alguém estava disposto a ouvi-los. A contribuição dos professores pulsou como este "algo" inovador deste poema que se expande no espaço escolar em que: "no meio do caminho tinha uma pedra/tinha uma pedra no meio do caminho/tinha uma pedra/no meio do caminho". Assim, enfatiza-se a esperança de que os professores comentem, apropriados com poder e autonomia, sua profissão: "nunca me esquecerei…" — retomando a acepção de particular/coletivo, uma vez que o estado dialógico destine o reflexo de uma condição de um eu-coletivo para um eu-sujeito em que se consigam a ressignificar a docência e sua atuação pedagógica. Desde a efervescência (ou ansiedade) poética ao contexto educacional, as formações docentes se confrontam ao mesmo tempo que se amalgamam e se copulam em saberes.

Inserindo este recorte na observação de Richter (2008), percebe-se que a cada professor falta, como grupo, um discurso interno e organizador que manifeste o seu dever de valorizar-se no lugar social próprio para práticas construtivas e exercício de relações ético-profissionais entre pares por meio de práticas articuladas para os benefícios da escola e, portanto, práticas sociais amparados na legislação. Embora haja empenho da gestão, não deixa de ser grave o fato de o corpo docente estar na maioria das vezes alheio às pautas da programação, embora fossem aplicadas apenas formações permanentes com palestras breves, contrariando a ideia de Destro (1995) e Candau (1997), em citação de Soares (2013), de que a formação não deve se tornar apenas um treinamento em que o acúmulo de certificados se restringe à simples participação por intermédio da aparência, mas sim havendo condução permanente sobre sua identidade profissional.

Isso remete à afirmação de Fullan e Hargreaves (2001) de que seus direitos docentes não são postos em causa quando trabalhados sem ligação com a formação nas questões de liderança. Seguindo a linha de raciocínio desses autores, comprova-se logo que o contexto de trabalho para as iniciativas dos professores quanto à formação continuada não considera a integração da escola como instituição complexa e necessária de intenção dialogada, visto que as formações continuadas bem como a reflexão para a construção das atividades direcionam o olhar para a avaliação de suas práticas a fim de aprimorar as ações em sala de aula, de acordo com Soares (2013).

Na voz da Educação pela pedra, paralelamente a esta pesquisa, observa-se a partida de como a escola se encontrava na época em que a pesquisa foi realizada, período em que foram coletados os dados sobre a aplicação de atividades formadoras aos docentes. Aludindo à escola, objeto da pesquisa, ressalta-se que o poema demonstra, na íntegra, as duas grandes lições da pedra nesta escola: a primeira, de fora para dentro, na qual seu construto se basta em frequência, convivência e conexão.

Uma educação pela pedra: por lições;

para aprender da pedra, frequentá-la;

captar sua voz inenfática, impessoal

(pela de dicção ela começa as aulas).

A lição de moral, sua resistência fria

ao que flui e a fluir, a ser maleada;

a de poética, sua carnadura concreta;

a de economia, seu adensar-se compacta:

lições da pedra (de fora para dentro,

cartilha muda), para quem soletrá-la.

(Melo Neto, 1994, p. 338)

É a pedra que origina a palavra contundente, de peso. A voz da pedra, então, chamada escola. Demonstra-se também que entre o poema e a pesquisa há semelhante reflexão sobre o significado do valor da resistência. Dos professores e dos diretores que se conservam frios àquilo que é pretendido modificar; e, assim, tornam-se uma pedra, este objeto que afunda para sentir-se seguro. Também que a pedra em si, na necessidade de ter esse trabalho compacto, sem adorno, uma simples cartilha muda sem o desenvolvimento progressivo de ideias para conservar-se, portanto, na sua integridade, sem abalo pelo momentâneo ou por encantos efêmeros.

A lição seguinte da "pedra educadora", que muito se relatou na pesquisa, é aquela que vem da palavra "sertão":

Outra educação pela pedra: no Sertão

(de dentro para fora, e pré-didática).

No Sertão a pedra não sabe lecionar,

e se lecionasse, não ensinaria nada;

lá não se aprende a pedra: lá a pedra,

uma pedra de nascença, entranha a alma.

(Melo Neto, 1994, p. 338)

Embora Melo Neto (1994) se refira à condição geográfica, é possível resgatar esse significado traduzindo nele todo o contexto em que o corpo docente desta escola apresentava: afastado do coletivo e do desenvolvimento de seus estudos. A escola que tem a pedra que aceita ser pré-didática, dura e resistente, dos professores, mesmo que iludida, estática, estoica para apoiar-se na nascença de um diploma criado e adensado na dureza da vida profissional. A "pedra", tanto para o sentido poético como para o sentido educacional, é a pedagogia ideal, segundo o poeta, que a descreve em seu caráter seco, duro, enquanto visão, e insensível, concreto e conciso enquanto pensamento. Isso o ensinaria a trabalhar a poesia com frieza e objetividade, assim como os professores, tornando sua atividade direta, linear e afastada do "sentimentalismo" ao construí-la, transmitindo objetividade na visão.

As representações materiais neste poema se sobressaem carregadas de significados cujos conteúdos semânticos alvitram mais que o objeto, mas os tornam plausíveis de metáforas para questionamentos literários e sociais e, claro, educacionais. Logo, "A educação pela pedra", poema constituído por 16 versos distribuídos em duas estrofes, com dez e seis versos respectivamente, carrega a imagem da pedra que oferta outras leituras por meio da intenção social da associação metapoética.

A pedra em seu ambiente de aridez, representante da escola, repassa sua imagem de ríspida secura e de difícil sobrevivência. Nessa construção de pedras se incorporam os professores, que também em metamorfose com a seca aprendem empiricamente, desde sua formação inicial e agruras da carreira, a serem pessoas firmes, duras e resistentes, assim moldados em seus trejeitos psicológicos e físicos.

Assim como o poeta recorre à concretude da realidade, trazer à tona, portanto, o presente retrato da sala dos professores viabiliza uma consulta para além dos conceitos educacionais. A criatividade da poesia, dotada de elaboração social crítica, fornece a observação afirmada por Bosi (2000):

A experiência da imagem, anterior à da palavra, vem enraizada no corpo. A imagem é afim à sensação visual. […]. A imagem é um modo da presença que tende a suprir o contato direto e a manter, juntas, a realidade do objeto em si e a sua existência em nós. (p. 19)

FOCO NO PROFESSOR. FOCO NO ALUNO. E O FOCO NA ESCOLA? E O FOCO NO CONHECIMENTO?

Eis o quaterno que também se exemplifica em "No meio do caminho", este encontro entre a pedra, o caminho, o narrador e a poesia, que disputam entre si do exercício da palavra. A pedra que conversa com o caminho, o caminho que aponta o detalhe da pedra e o narrador desse encontro monótono que transmite em lira ao leitor a estática pedra, que pode ser movida por força externa, e o caminho, que pode ser traduzido como incerteza, refletindo assim os receios perante a determinação e/ou a indeterminação.

O discurso literário que se faz presente por meio da educação traz à tona o espelhamento entre os itens nos elementos formativos de sua bagagem cultural, em que são observados os momentos em que esse fenômeno ocorre e como eles se (res)significam. O poema, portanto, consegue provocar a plenitude de plurissignificação. Se, por um lado, "No meio do caminho" expressa a indeterminação, esta também é observada na resistência dos professores. Coloca-se nessa indeterminação a pauta sobre a falta de atendimento aos docentes nas formações contínuas, colaborando para que as atividades ocorram sem a prática e o retorno esperados.

Ao detalharmos como determinada situação ocorre com base no alinhamento com o texto literário, o problema não apenas ecoa, como também é analisado tendo em vista as promessas que possam fundamentar e explorar as soluções. O trabalho da poesia poderá, então, debruçar-se sobre a análise do conflito em um meio que comumente se dedica a discutir os fundamentos teóricos concernentes ao discurso educacional. Tanto o poema quanto a situação repercutem, como também atuam em soluções.

A observação de Antonio Candido em Direito à Literatura, por exemplo, ao referir-se ao poema "Educação pela pedra", confere às imagens apresentadas a importância de textos que abordem as condições periclitantes das massas e a influência exercida na leitura:

Nestes casos a literatura satisfaz, em outro nível, à necessidade de conhecer sentimentos e a sociedade, ajudando-nos a posição em face deles. É aí que se situa a "literatura social", na qual pensamos quase exclusivamente quando se trata de uma realidade tão política e humanitária quanto a dos direitos humanos, que partem da análise do universo social e procuram retificar as suas iniquidades. (Candido, 1995, p. 249)

A indagação provocativa no subtítulo deste texto reconhece que o significado de objetivo urge passar do indivíduo para o coletivo em construção de conhecimento. García (2009) também analisa que, trazendo os conhecimentos dos professores para o projeto, o desenvolvimento profissional se encaminha para o crescimento profissional por meio das condições compartilhadas que os ajudam a evoluir. Vista a situação de estar vivenciando uma conversa na sala dos professores e com professores que compartilham reclamações de suas ideias não serem ouvidas enquanto contribuição para a organização do ensino, ocorreu observar que o corpo docente pouco se sentira recompensado com as formações ofertadas pela sua escola. Demostrando notória reação taciturna, muitos afirmam que "já" se acostumaram, ao longo da carreira na escola, a deixarem de lado suas considerações porque a fala do especialista convidado, segundo a direção da escola, ia ao encontro do que os professores necessitavam em sua formação, com orientação baseada em transmissão de conhecimentos acadêmicos generalizados, apenas. Assim, o fazer-se professor na escola tornou-se ao longo do tempo motivo de descrença e de conformismo com aquilo que vem de fora, assim implementado como verdade absoluta para a personalidade docente, testemunha da concreta situação daquela escola.

Para ratificar o parágrafo anterior, a formação educacional dos professores, cuja engrenagem do funcionamento harmônico ainda se encontra na generalidade pedagógica, tentadoramente prevê equidade e eficiência, mas retira da linha da democratização a experiência do professor e o empenho da escola como atributos essenciais de construção formadora.

Entre os poemas, portanto, a pedra e a formação encontram-se a caminho da palavra do professor, que assim se resume a um sujeito estoico, cético e de consciência infeliz, referindo-se à passagem de Butler (2017). Estoico por suportar as decisões prévias, cético por essas decisões serem atividades de perpétua negação da melhoria educacional e de descrença no campo da alteridade, e de consciência infeliz que traz a reflexividade de voltar-se sobre si mesmo marcando um processo autossubjugador baseado na obstinação do trabalho prestado sem os resultados esperados (Santos, 2019).

Ainda sobre a consciência infeliz, logo o tropeço diante das "pedras", há nela o provado sentimento de "fracasso" pelos professores, visto que isso os coloca em algo repetitivo e revivido indefinidamente ao longo de suas histórias individuais de sujeitos e de profissionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pedra: que pode possuir aspecto definido ou indefinido e que traduz a figura rude marcada por ângulos e pela visão bruta. Entretanto, passível de lapidação. Com base nos poemas "No meio do caminho", de Carlos Drummond de Andrade, e "Educação pela pedra", de João Cabral de Melo Neto, a consoante lira permeia um encontro com professores, estes com resistência às formações contínuas, práticas de polidez profissional. Ao sugerir que professores transgridam a própria "pedra", a atividade formadora requer uma condição de pensamento "fora da pedra" para que a educação, como caminho, articule mais que uma atenta sensibilidade à mudança.

Na afirmação de que "tinha uma pedra", é possível denotar uma passagem entre o passado, dado no recorte do estudo de caso, e sua solução futura, ao se propor uma pesquisa-ação. Logo, o obstáculo que prevalecia cede espaço para uma convicção "esperançosa" de algo a ser superado, uma vez que o poema, enquanto arte literária, e os professores, enquanto agentes de formação, reiteram suas posições de existência: a de dar sentido à construção de uma pedra em forma de professora, aquela cuja fortaleza oferta as lições de segurança pautada na experiência.

Desta forma, a "educação pela pedra" converte a posição estática ao tornar o professor firme e inquebrável diante das adversidades, mesmo que "o meio do caminho" o abata. Assim se constrói o conhecimento e sua exigência de aprendizado; e, portanto, cabe a compreensão de que a "pedra vinda de dentro" alicerçará o reforço de uma polidez e lapidação de acordo com formações mantidas a cada dia.

  • 1
    No original: Nel mezzo del cammin di nostra vita […]. Tomo a liberdade de alterar a tradução, deixá-la literal e o mais aproximada possível do verso que compõe o poema base deste trabalho.
  • 2
    O resultado do trabalho monográfico da especialização rendeu um novo projeto de pesquisa-ação no curso de Mestrado em Ensino de Humanidades e Linguagens da Universidade Franciscana (UFN). Santos (2022) prossegue com o seu trabalho ao retornar à escola e, com o apoio de professores e gestores, aplicar dois novos modelos de formação contínua — indagativo e de foco na escola —, alicerçados por Imbernón (2001). O novo estudo, portanto, entra em acordo com o desejo, revelado pelos entrevistados, de que a formação atenda prioritariamente à voz dos professores, trazendo para a discussão a necessidade daqueles que vivenciam o cotidiano da sala de aula bem como os incentivando ao ato da pesquisa a fim de aperfeiçoarem suas práticas, condicionando-os a contribuírem para o desenvolvimento da escola e, ainda levando-os a atuar junto com a gestão escolar por meio da liderança situacional.
  • Financiamento:
    O estudo não recebeu financiamento.

REFERÊNCIAS

  • ACHCAR, Francisco. Carlos Drummond de Andrade São Paulo: Publifolha, 2000.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Mar 2025
  • Data do Fascículo
    2025

Histórico

  • Recebido
    28 Jul 2023
  • Aceito
    16 Fev 2024
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