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Hidrodinâmica relativística: a representação de diversos fluidos em relatividade geral

Relativistic hydrodynamics: the representation of several fluids in general relativity

Resumo

O tensor de momento-energia é a entidade matemática que representa de forma unificada as fontes de momento e energia no formalismo covariante, tanto em espaços planos, como em espaços curvos. Em espaços curvos o tensor de momento-energia fica conectado a curvatura do espaço-tempo via equação de campo de Einstein. O tensor de momento-energia caracteriza os campos de matéria do sistema. Por sua vez as condições de energia estabelecidas por Hawking e Ellis classificam os diversos tipos de fluidos quanto a atratividade/repulsividade, a causalidade, interação com o vacuo e a positividade. Tambem abordamos a conservação do tensor de momento-energia via equação Tolemam-Openhaimer-Volkov(TOV), que é um importante formalismo para o estudo de estruturas e modelos estelares. Vamos estudar o tensor momento-energia nas suas versões isotrópicas e anisotrópicas, bem como a sua conservação e relação com a constante cosmológica.

Palavras-chave:
Hidrodinâmica; Fluidos Relativísticos

Abstract

The energy-momentum tensor is the mathematical entity that represents the sources of momentum and energy in a covariant formalism, both in flat and curved spaces. In curved spaces the energy-momentum tensor is connected tBo the space-time curvature via the Einstein field equation. The energy-momentum tensor characterizes the matter fields of the system. In turn, the energy conditions established by Hawking and Ellis classify the various types of fluids according to their attractiveness/repulsiveness, causality, interaction with the vacuum and positivity. We also address the conservation of the energy-momentum tensor via the Tolemam-Openhaimer-Volkov (TOV) equation, which is an important formalism for the study of stellar structures and models. We will study the energy-momentum tensor in its isotropic and anisotropic versions, as well as its conservation and relation to the cosmological constant.

Keywords:
Hydrodynamics; Relativistic Fluids

1. Introdução

Historicamente desde a Grécia antiga, que a humanindade tem interesse pelo estudo de fluidos [1][1] V. A. Bezerra, Revista Latino americana de filosofia e história da ciência 4, 177 (2006).. Uma história muito popular e quase folclórica foi o famoso “Eureka” de Arquimedes após resolver um problema ligado ao empuxo, supostamente durante um banho de imersão.

O estudo dos fluidos e seu escoamento foi por séculos uma área de grande importância para o desenvolvimento da tecnologia, nomes como Stokes e Mach construiram conceitos matemáticos capazes de entender o movimento de fluidos, sendo extensíveis aos campos gravitacionais e eletromagnéticos [2][2] G. A. ToBkaty, A history and philosophy of fluid mechanics (Dover Publications, New York, 1994)..

O eletromagnetismo tratava os campos eletromagnéticos como fluidos, a própria idéia de corrente conservada, já continha em si a idéia de escoamento, onde o campo elétrico estaria associado ao fluxo por uma região determinada e o campo magnético associado aos vórtices em torno da corrente. As cargas seriam as fontes e os sorvedouros dos campos. Essa idéia foi incrementada com o advento da relatividade restrita, campos elétricos e magnéticos passaram a ter uma drescição unificada.

Em relatividade geral e algumas sub-áreas como cosmologia e astrofísica um dos principais debates é acerca do tipo de matéria, que está gerando o campo gravitacional. Nas equações de Einstein [3[3] L. D. Landau and E.M. Lifschitz, The Classical Theory of Fields (Pergamon Press, Oxford, 1975). [4] J. Frenel, Principios da Eletrodinâmica Clássica (EDUSP, São Paulo, 2005).5[5] S. Carroll, Spacetime and Geometry: An Introduction to General Relativity (Addison-Wesley Professional, Boston, 2004).] a fonte do campo é a o tensor de momento-energia o tipo de matéria é um fluido caracterizado por sua equação de estado, que seria uma limitação imposta sobre o tensor de momento-energia. Contudo até o trabalho de Hawking-Ellis [6[6] S. W. Hawking and G.F.R. Ellis, The Large Scale Structure of Space-Time (Cambridge University Press, Cambridge, 1973)., 7[7] C. S. Santos, Condições de Energia de Hawking-Ellis e as equações de Raychaudhury. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (2011).] não havia qualquer limitação às equações de estado. Hawnking-Ellis introduziram as chamadas condições de energia que são imposições sobre o tensor de momento-energia quanto a propagação do fluido por ele descrito. Estudar essas condições de energia é hoje uma tarefa importante para pesquisadores, que trabalham com inflação [8][8] A. R. Liddle, arXiv:astro-ph/9901124v1 (1999)., estrelas estranhas [9][9] M. Kalam, F. Rahaman, S. Ray, S.K.M. Hossein, I. Karar and J.Naskar, arXiv:1201.5234 (2012)., energia escura, [5[5] S. Carroll, Spacetime and Geometry: An Introduction to General Relativity (Addison-Wesley Professional, Boston, 2004)., 10[10] S. M. Carroll, Living Rev. Relativ. 4, 5 (2001). [11] S. M. Carroll, arXiv:astro-ph/0107571 (2001). [12] S. M. Carroll, M. Hoffman and M.Trodden, Phys.Rev. D 68, 023509 (2003).13[13] R. Chan, M.F.A. da Silva and J.F. Villas da Rocha, Modern Physics Letters A 24, 1137 (2009).], campos escalares [14][14] F. M. Santos, Fluidos Ideias em Relatividade Geral e Cosmologia. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória (2016)., matéria de quark [15][15] F. S. Bemfica, M.M. Disconzi and J. Noronha, Phys. Rev. D 98, 104064 (2018). e uma vasta quantidade de temas. Não existe limite para a violação das condições de energia, na verdade todas podem ser violadas, mas a violação de cada uma delas implica um tipo de fluido. O tensor de momento-energia mais simples que existe é o chamado tensor de poeira, que se trata de um fluido não interagente. Assim cada interação requer um termo a mais. A introdução de um termo proporcional à métrica implica energia do vácuo [5[5] S. Carroll, Spacetime and Geometry: An Introduction to General Relativity (Addison-Wesley Professional, Boston, 2004)., 10[10] S. M. Carroll, Living Rev. Relativ. 4, 5 (2001).], propriedades de anisotropia implicam uma quadrivelicdade com componente radial, porém sem quebra da simetria esférica, em geral esta é associada a introdução de campos eletromagnéticos [16][16] N. K. Glendenning, Compact Stars: Nuclear Physics, Particle Physics, and General Relativity (Springer Verlag, New York, 1997).. Todos estes tipos de tensores de fluido relativístico ideal, obedecem à conservação de momento e energia, derivada da simetria de Bianchi do tensor de Einstein. Essa simetria é importante no estudo de fluidos que compõem estrelas, sendo uma das mais ativas áreas da astrofísica atualmente [17][17] H. Rodrigues, S.B. Duarte and J.C.T. Oliveira, The Astrophysical Journal 30, 1 (2011)..

Propriedades de superfluidos têm sido observada [18][18] G. E. Volovik, Phys.Rept. 351 195 (2001). em sistemas gravitacionais, o que levou ao surgimento de uma nova área de pesquisa que seria o estudo da estrutura causal da propagação de ondas em colóides, com o intuito de gerar analogias à estrutura causal em campos gravitacionais de objetos colapsados [19][19] R. Dey, S. Liberati and R. Turcati, Phys. Rev. D 94, 104068 (2016).. O trabalho está dividido da seguinte forma: Seção 2: Estudamos os campos eletromagnéticos como fluidos, explicando as relações com vórtices e escoamentos. Seção 3: Deduzimos o tensor de Maxewell, aprofundando as propriedades de fluidos e observando a equação da continuidade. Seção 4: Construímos o tensor de de momento-energia associado ao campo eletromagnético. Seção 5: O tensor de momento-energia é estudado como formalismo para descrever um fluido ideal, as restrições às equações de estado associadas às condições de energia são estabelecidas. Estudamos ainda a conservação do tensor de momento-energia para uma métrica genérica e para um objeto esférico. Seção 6: Estudamos um tensor de momento-energia com propriedade de anisotropia, estudamos as condições de energia associadas a esse tipo de fluido e demonstramos a conservação do tensor de momento-energia anisotrópico Seção 7: É construido um tensor de momento-energia associado a constante cosmológica e estudada a sua conservação.

2. A eletrodinâmica como uma teoria de fluido

Os experimentos originais do eletromagnetismo concebiam a corrente como um fluido de portadores de carga, que se propagava pelos condutores. A própria idéia de campos também trazia em seu cerne o conceito de fluido, sendo o caso do campo elétrico um fluido, o fluxo era calculado pela lei de Gauss

(1) E = ρ ϵ 0

e carga q=VρdV. Vórtices associados a esse fluido são descritos pela lei de Faraday

(2) × E = t B ,

onde o campo magnético é associado à propriedade de circulação do fluido. Além disso divergente do campo magnético é nulo

(3) B = 0 ,

que mostra a inexistência de fontes magnéticas (monopolos), completando a simetria entre os campos, temos a lei de Ampere-Maxwell

(4) × B = μ 0 J + μ 0 ϵ 0 t E ,

sendo μ0ϵ0tE a corrente de deslocamento descoberta por Maxwell. Na ausência de fontes q=0,j=0, temos

(5) E = 0 ,
(6) × E = t B ,
(7) B = 0 ,
(8) × B = μ 0 ϵ 0 t E .

Portanto o vórtice de um campo elétrico implica na variação temporal do campo magnético, assim como o vórtice magnético implica na variação temporal do campo elétrico. Aplicando o rotacional em (8), temos:

(9) 2 B 1 c 2 t 2 B = 0 ,

logo vemos, a equação de onda para o campo magnético, podemos da mesma forma deduzir para o campo elétrico aplicando o rotacional na equação (6)

(10) 2 E 1 c 2 t 2 E = 0.

Embora os campos sejam similares a fluidos, a onda eletromagnética não se propaga em nenhum meio, essa foi uma das maiores revoluções da ciência, pois colocou fim a ideia do éter luminífero , que mais tarde a experiência de Michelson-Morley demonstrou não existir.

3. O Tensor de Maxwell

Podemos definir os campos auxiliares, chamados potenciais eletromagnéticos Φ e A. Em seguida escrevemos os campos elétrico e magnético em termos dos potenciais,

(11) E = Φ 1 c t A ,
(12) B = × A .

Esses potenciais tem um papel importante por exemplo no efeito Aharonov-Bohm. Podemos unificar os campos e contruir o formalismo tensorial. Definimos então o quadrivetor potencial

(13) A μ = ( A 0 , A 1 , A 2 , A 3 ) ,

onde A0=Φ, e A1,A2,A3, são as componentes do vetor potencial, unificando tambem as derivadas μxμ=(1ct,). Devemos notar que os índices subscritos e sobrescritos se referem à propriedades de transformação de coordenadas, tais propriedades são conhecidas como contravariância e covariância respectivamente. A relação entre essas quantidades é dada pelo tensor métrico gμν que é definido pelo produto escalar da base de um determinado espaço. Podemos definir o tensor de Maxwell

(14) F μ ν = μ A ν ν A μ .

Explicitamente escrevemos, usando i = 1,2,3:

(15) F 0 i = E i = 0 A i i A 0 ,
(16) F i j = i A j j A i = B k ϵ i j k .

Escrevemos finalmente a matriz associada ao tensor Maxwell

(17) F μ ν = [ 0 E 1 E 2 E 3 E 1 0 B 3 B 2 E 2 B 3 0 B 1 E 3 B 2 B 1 0 ] .

Conhecendo a equação da continuidade

(18) j + c t ρ = 0 ,

onde j,ρ são a densidade de corrente vetorial e a carga, podemos generalizar essa corrente (18) usando a equação da continuidade (18)

(19) μ J μ = 0 ,

temos então a quadridivergencia da quadri-corrente Jμ=(ρ,j). Se agimos com o operador derivada no tensor de Maxwell

(20) μ F μ ν = μ 0 J ν ,

de forma mais explicita, se agimos iF0i=iEi=A0=ρϵ0, e ainda, iFij=μ0jj onde Jj=j.

4. Tensor de momento-energia: fluido relativistico

Vamos definir a ação seguindo [3][3] L. D. Landau and E.M. Lifschitz, The Classical Theory of Fields (Pergamon Press, Oxford, 1975).

(21) S = ξ ( q , q x i ) d V d t = 1 c ξ d Ω

onde, q,iqxi são variáveis generalizadas.

Minimizando a ação (22)

(22) δ S = 1 c ( ξ q δ q + ξ q , i δ q , i ) d Ω = 1 c [ ξ q δ q x i ( ξ q , i ) ( δ q ) x i ξ q , i ] d Ω = 0 ,

o segundo termo se anula sobre a integração em todo o espaço. Podemos então escrever a equação do movimento como

(23) x i ξ q i ξ q = 0 ,

aqui assumimos a soma sobre indices repetidos. Seguindo agora um procedimento similiar ao usado para verificar a conservação da energia

(24) ξ x i = ξ q q x i + ξ q , k q , k x i ,

substituindo na equação de movimento , considerando que q,k,i=q,i,k, temos:

(25) ξ x i = x k ( ξ q , k ) q , i + ξ q , k q , i x k = x k ( q , i ξ q , k )

usando a seguinte propriedade

(26) ξ x i = δ i k ξ x k .

O tensor de momento-energia em termos das variáveis canônica é:

(27) T i k = q , i ξ q , i δ i k ξ .

Seguindo esta forma do tensor de momento-energia, o mais simples [3[3] L. D. Landau and E.M. Lifschitz, The Classical Theory of Fields (Pergamon Press, Oxford, 1975). [4] J. Frenel, Principios da Eletrodinâmica Clássica (EDUSP, São Paulo, 2005).5[5] S. Carroll, Spacetime and Geometry: An Introduction to General Relativity (Addison-Wesley Professional, Boston, 2004)., 10[10] S. M. Carroll, Living Rev. Relativ. 4, 5 (2001)., 11[11] S. M. Carroll, arXiv:astro-ph/0107571 (2001).]

(28) T μ ν = U μ P ν ,

sendo Uμ=c1v2c2[1.vαc] a quadri-velocidade de um observador em movimento junto com o fluido e Pμ=m0cUμ o quadri-momentum. Usualmente especificamos as componentes do tensor de momento-energia também definimos nominalmente temos a normalização

(29) g μ ν U μ U ν = 1 ,

a densidade de energia

(30) T 00 = ρ ,

o fluxo de energia

(31) T i 0 = c P i

o tensor das tensões

(32) T i j = u i p i ,

aqui índices latinos limitam se a i,j=1,2,3 e índices gregos a μ,ν=0,1,2,3. O tensor de momento-energia é uma matriz simétrica, ou seja

(33) T μ ν = T ν μ .

Relacionando o tensor de momento-energia energia momentum a estrutura cinemática da relatividade especial , temos

(34) T μ ν = m 0 c 1 v 2 c 2 U μ U ν .

A conservação do tensor de energia momentum de poeira tem uma consequência fundamental,

(35) μ T μ ν = m 0 c 2 ( μ U μ ) U ν = 0.

Podemos definir a quadri-força como

(36) f μ = t ( m U μ ) .

A força de Lorentz é também um quadri-vetor

(37) f ν = q c U μ F μ ν ,

pela lei de Newton chegamos a

(38) m 0 c t U μ = q c U μ F μ ν ,

substituindo (38) em (35), temos

(39) μ T μ ν = q c U μ F μ ν ,

a quadri-corrente pode ser escrita como Jμ=qUμ, ficamos então:

(40) μ T μ ν = 1 c J μ F μ ν

pela equação (20) chegamos que a

(41) μ T μ ν = μ 0 c ( α F α μ ) F μ ν

usando as propriedades da derivada do produto

(42) α ( F α μ F μ ν ) = ( α F α μ ) F μ ν + F α μ α F μ ν
(43) α ( F α μ F μ ν ) F α μ α F μ ν = ( α F α μ ) F μ ν

e evocando a propriedade de simetria

( α F α μ ) F μ ν = [ α ( F μ ν F α μ ) F α μ α F μ ν ] F α μ α F μ ν = 1 2 ( F α μ α F μ ν + F μ α μ F ν α ) = 1 2 F α μ ( α F α μ + μ F α μ ) = 1 2 F α μ α F μ α = 1 4 ν ( F α μ F μ α ) ,

temos

(44) 1 c F μ ν J μ = 1 4 [ ( F α μ F α μ ) 1 4 ν ( F μ α F μ α ) ]

logo

(45) μ T μ ν = 1 4 π α ( F ν μ F μ α 1 4 g ν α F μ ρ F μ ρ ) .

Finalmente o tensor de momento-energia para o campo eletromagnético é

(46) T e m ν α = 1 4 π ( F ν μ F μ α 1 4 g ν α F μ ρ F μ ρ ) ,

operando com gνα, verificamos facilmente que o traço desse tensor eletromagnético é nulo. Matricialmente escrevemos o tensor de momento-energia como

(47) T μ ν = [ T 00 T 01 T 02 T 03 T 10 T 11 T 12 T 13 T 20 T 21 T 22 T 23 T 30 T 31 T 32 T 33 ] .

Sabendo da propriedade de anti-simetria do tensor de Maxwell Fμν=Fνμ, facilmente verificavel em (17), aplicando essa mesma propriedade em (48) notamos que Tμν=Tνμ. As componentes Tij com i,j=1,2,3 formam o chamado tensor das tensões. Já as componentes T0i

(48) T e m 0 i = 1 4 π F 0 μ F μ i

deotam o vetor de Poyting S=E×B que é a densidade direcional de propagação de energia.

5. Fluido isotrópico

Inspirados em (27) definimos o tensor de momento-energia de um fluido ideal o mais geral possivel (sem anisotropia) [5[5] S. Carroll, Spacetime and Geometry: An Introduction to General Relativity (Addison-Wesley Professional, Boston, 2004)., 10[10] S. M. Carroll, Living Rev. Relativ. 4, 5 (2001)., 11[11] S. M. Carroll, arXiv:astro-ph/0107571 (2001).] como

(49) T μ ν = ( ρ + p ) U μ U ν + p g μ ν
(50) T μ ν = [ ρ 0 0 0 0 p 0 0 0 0 p 0 0 0 0 p ] .

O traço do tensor de energia momento é

(51) T = ρ 3 p

e a fonte de densidade de energia é dada por

(52) ρ = T μ ν U μ U ν .

Podemos definir o projetor Pμν=gμνUμUν. Assim achamos a pressão

(53) 1 3 P μ ν T μ ν = p .

O tensor de momento-energia pode ser reenscrito em termos do projetor como

(54) T μ ν = ρ U μ U ν + p P μ ν .

Temos ainda os casos de um tensor de momento-energia Tμν=ρUμUν, que é chamado de tensor de momento-energia de poeira, neste caso temos pressão p = 0, e um fluido de radiação é descrito Tμν=p(UμUν+gμν) neste caso temos equação de estado p=3ρ. Definimos então o fator bariotrópico

(55) ω = p ρ

onde esse fator constante assume valores de acordo com o tipo de matéria [5][5] S. Carroll, Spacetime and Geometry: An Introduction to General Relativity (Addison-Wesley Professional, Boston, 2004)..

matéria ω ordinária 0 radiação 1 3 curvatura 1 3 vacuo 1

Nenhuma imposição sobre o tensor de momento-energia é feita a priori [7[7] C. S. Santos, Condições de Energia de Hawking-Ellis e as equações de Raychaudhury. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (2011)., 14[14] F. M. Santos, Fluidos Ideias em Relatividade Geral e Cosmologia. Tese de Doutorado, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória (2016).]. Alguns fluidos são repulsivos, outros podem violar causalidade, ou serem ultra-relativisticos essas condições de energia classificam os fluidos quanto a estes critérios que vamos abordar a seguir (Figura 1) Seja um dado vetor tipo tempo tμ=γ(1,a,b,c),γ=11a2b2c2,com gαβtαtβ portanto a2+b2+c2<1, tenhamos TμνUμUν0 e para um vetor nulo lμ=(1,a,b,c),1=a2+b2+c2, temos Tμνlμlν0. Deduzimos disso que

(56) ρ = T μ ν U μ U ν , T μ ν l μ l ν = ( ρ + p ) ( U μ l μ ) 2 .
Figura 1
As condições de energia são aplicadas a fluidos perfeitos. Representando valores possiveis de densidade de energia e pressão. [5][5] S. Carroll, Spacetime and Geometry: An Introduction to General Relativity (Addison-Wesley Professional, Boston, 2004).

Isso implica ρ0 e (ρ+p)0. Surge então a chamada condição de energia Fraca

5.1. Condição de energia fraca

Vamos analisar a condição de eneria fraca

(57) T μ ν t μ t ν = ( ρ + a 2 p + b 2 p + c 2 p ) 0 ,

se fazemos a=b=c=0 temos ρ0, alternativamente fazemos duas das constantes nulas, por exemplo b = c = 0 e a = 1 temos (ρ+p)0. Escrevemos então

(58) ρ 0 ; ( ρ + p ) 0.

Podemos ainda fazer ρ+pρ=1+pρ, fluidos barotrópicos são conhecidos pela equação de estado p=ωρ, então reescrevemos a condição de energia fraca

(59) ω 1

Essa condição esta associada a causalidade do escoamento do fluido. Portanto o fluido escoa respeitando o cone de luz [12][12] S. M. Carroll, M. Hoffman and M.Trodden, Phys.Rev. D 68, 023509 (2003).. Existe uma versão mais fraca dessa condição de energia, que passamos abordar agora

5.2. Condição de energia nula

Procedendo da mesma forma que procedemos para a condição de energia fraca [10[10] S. M. Carroll, Living Rev. Relativ. 4, 5 (2001). [11] S. M. Carroll, arXiv:astro-ph/0107571 (2001).12[12] S. M. Carroll, M. Hoffman and M.Trodden, Phys.Rev. D 68, 023509 (2003).], porém usamos vetores tipo luz, assim

(60) T μ ν l μ l ν 0 ,

onde Tμνlμlν=ρ+a2p+b2p+c2p0, se fizermos a2+b2+c2=1 então

(61) ρ + p 0 ,

essa condição admite densidade negativa ρ<0, em casos de fluidos ultra-relativisticos, por isso lμlμ=0 Usamos vetores tipo luz.

5.3. Condição de energia dominante

Um observador com quadri-velocidade Uμ, vera uma quadri-corrente TνμUν, ou seja, temos que TνμUν não pode ser tipo-espaço, que é equivalente a dizer TμνTλνtμtλ0 então temos

(62) T μ ν t μ t ν 0 ; T μ ν T λ ν t μ t λ 0.

De Tμνtμtν0, obtemos ρ0. A quadri-corrente não ser um vetor tipo-espaço, o que implica que γ2(ρ2+(a2+b2+c2)p2), se fizermos b=c=0, ficamos com ρ2a2p2 e a<1, isso implica que ρ|p|. Escrevemos finalmente

(63) ρ 0 ; ρ | p | .

As condições de energia acima não são as únicas, vamos enunciar mais duas condições de energia, que são associadas à presença de campo gravitacional. Faremos isso depois de algumas considerações sobre o tensor de momento-energia em espaços curvos

6. Tensor de momento-energia como fonte para o campo gravitacional

A ação dos campos gravitacionais em relatividade geral é associada à curvatura do espaço-tempo, estes espaços-tempos são associadas à variedades riemaninas [5][5] S. Carroll, Spacetime and Geometry: An Introduction to General Relativity (Addison-Wesley Professional, Boston, 2004).. A curvatura dessas variedades é medida pelo tensor de Riemaann que definimos a seguir

(64) R μ ν κ λ = ν Γ μ κ λ κ Γ μ ν λ Γ σ κ λ Γ μ ν σ + Γ σ ν λ Γ μ κ σ ,

temos que a conexão define a variedade sob a qual estamos trabalhando, no caso os simbolos de Christoffel

(65) Γ μ ν λ = 1 2 g λ σ ( μ g ν σ + ν g σ μ σ g μ ν ) .

O tensor de Ricci é encontrado fazendo a contração λ=ν, ou seja

(66) R μ κ = R μ ν κ ν .

O escalar de Ricci é então

(67) R = g μ κ R μ κ ,

esses objetos caracterizam a curvatura do espaço-tempo. Podemos agora definir a ação de Hilbert-Einstein [5][5] S. Carroll, Spacetime and Geometry: An Introduction to General Relativity (Addison-Wesley Professional, Boston, 2004).

(68) S H = R g d 4 x ,

usando o acoplamento minimo com uma ação de matéria Sm, temos

(69) δ S = δ S H + 8 π δ S M = 0 ,

onde G=c=1 ou seja

(70) δ S = ( δ ( g R ) δ g μ ν + 8 π g δ ( g L M ) δ g μ ν + 8 π g ( g L M ) ( k g k ν ) δ ( k g k μ ) ) ) δ g μ ν d 4 x = 0 ,

sendo M=gLM a densidade de lagrangiana de matéria. Rearranjando os termos, temos

(71) δ S = ( δ g δ g μ ν R 2 g δ R δ g μ ν + 8 π g δ ( M ) δ g μ ν ) ) × g δ g μ ν d 4 x

chamamos o tensor de momento-energia

(72) T μ ν = 1 g δ ( M ) δ g μ ν ,

onde Rμν=δRδgμν, chegamos então a equação de Einstein

(73) R μ ν R 2 g μ ν 8 π T μ ν = 0 ,

escrevendo o tensor de Einstein Gμν=RμνR2gμν, temos

(74) G μ ν = 8 π T μ ν

com G=c=1

Pela idêntidade de Bianchi temos [5][5] S. Carroll, Spacetime and Geometry: An Introduction to General Relativity (Addison-Wesley Professional, Boston, 2004).:

(75) g ν σ g μ λ ( λ R ρ σ μ ν + ρ R σ λ μ ν + σ R λ ρ μ ν ) = 0

se contrairmos essa expressão, temos

(76) μ R ρ μ ρ R + μ R ρ μ = 0 ,

ou seja,

(77) μ R ρ μ = 1 2 ρ R ,

assim chegamos a a conservação do tensor de momento-energia

(78) μ G μ ν = μ [ R μ ν R 2 g μ ν ] = 8 π μ T μ ν = 0.

A conservação do tensor de momento-energia gera a chamada equação de Tolemam-Opennhaimer-Volkov.

Podemos agora estudar duas condições de energia, associadas a regimes gravitacionais.

6.1. Condição de energia nula dominante

Consideremos agora duas condições de energia

(79) T μ ν l μ l ν 0 ; T μ ν T λ ν l μ l λ 0 ,

a primeira Tμνlμlν, ja foi mencionada e implica ρ+p0, por sua vez TμνTλνlμlλ=ρ2+(a2+b2+c2)p. Sabemos que a2+b2+c2=1, logo ρ+p0. Logicamente a única condição restante é p=ρ. Essa condição de energia exclui todas as fontes, excluidas pela Condição de energia dominante, exceto a energia do vácuo [12][12] S. M. Carroll, M. Hoffman and M.Trodden, Phys.Rev. D 68, 023509 (2003).

(80) p = ρ .

Da equação (49), vemos que Tμν=pgμν A condição de energia nula está associada à constante cosmológica. A solução da equação de Einstein para este tipo de tensor de momento-energia, implica em um espaço-tempo dito maximal Rμνgμν [5[5] S. Carroll, Spacetime and Geometry: An Introduction to General Relativity (Addison-Wesley Professional, Boston, 2004)., 10[10] S. M. Carroll, Living Rev. Relativ. 4, 5 (2001). [11] S. M. Carroll, arXiv:astro-ph/0107571 (2001).12[12] S. M. Carroll, M. Hoffman and M.Trodden, Phys.Rev. D 68, 023509 (2003).].

6.2. Condição de energia forte

Essa condição está ligada à gravidade atrativa, usando a equação de Einstein Rμν=(Tμν12Tgμν), temos

(81) R μ ν t μ t ν = ( T μ ν 1 2 T g μ ν ) t μ t ν 0 ,

Tμνtμtν0 implica ρ+p0, já 12Tgμνtμtν=12(ρ3p) pela equação (51). Entao Rμνtμtν=(Tμν12Tgμν)tμtν=ρ+p+12(ρ3p)0, como ρ+p0 so nos resta escrever que ρ3p0. Escrevemos finalmente

(82) ρ + p 0 ; ρ 3 p 0.

A violação dessa condição gera gravidade repulsiva.

6.3. Demonstração da TOV isotrópica: fluido ideal em uma métrica genérica

Partimos da equação (49) e derivamos μTμν, então

(83) μ T μ ν = μ ( p + ρ ) U μ U ν + ( ρ + p ) ( ( μ U μ ) U ν + U ν μ U μ ) + μ p g μ ν .

A equação da continuidade, ou de conservação de massa é μ(ρUμ)=Uμμρ+(ρ+p)μUμ=0, vemos então que

(84) μ T μ ν = ( μ p ) U μ U ν + ( ρ + p ) U ν μ U μ + ( μ p ) g μ ν .

Sabemos que μUν=μUν+ΓαμνUα, e que temos quadri-velocidade Ut=g00,U1=0. Portanto a única componente diferente de zero da derivada da 4-velocudade é rUt=r(gtt)+Γtrtgtt, escrevemos pois

(85) ( μ p ) g 00 + ( ρ + p ) g 00 μ g 00 + ( μ p ) g 00 = 0 ,

contraindo com a métrica

(86) 2 μ p + ( ρ + p ) g 00 Γ 00 ν g t t g μ ν g 00 = 0 ,

finalmente

(87) μ p = ( ρ + p ) g 00 Γ 00 ν g 00 g μ ν ( g 00 ) 1

chegamos então a equação que representa a conservação da massa-energia

(88) μ p = ( ρ + p ) g 00 Γ 00 ν g μ ν .

6.4. Demonstração da TOV Isotrópica: métrica de um objeto esférico

Vamos estudar a equação de Tolemam-Openhaimer-Volkov (TOV) para uma dada distribuição de massa esférica. A TOV é a equação que corresponde ao equilibrio hidroestático de um fluido relativístico. Podemos também interpretar a TOV como a conservação do tensor de momento-energia [16][16] N. K. Glendenning, Compact Stars: Nuclear Physics, Particle Physics, and General Relativity (Springer Verlag, New York, 1997).. A métrica de uma distribuição esférica de massa m

(89) d s 2 = e Φ ( r ) d t 2 + ( 1 2 m r ) 1 d r 2 + r 2 ( d θ 2 + sin ( θ ) d ϕ 2 ) ,

sendo a métrica dada em forma matricial

(90) g μ ν = [ e Φ ( r ) 0 0 0 0 ( 1 2 m r ) 1 0 0 0 0 r 2 0 0 0 0 r 2 sin ( θ ) ] .

Podemos então calcular os símbolos de Christoffel associados à métrica de uma distribuição esférica

(91) Γ t r t = Φ ,
(92) Γ t t r = Φ e 2 Φ ( 1 2 m r ) ,
(93) , Γ r r r = r m m r 2 2 m r ,
(94) Γ r θ θ = Γ r ϕ ϕ = 1 r ,
(95) Γ θ ϕ ϕ = sin ( θ ) cos ( θ ) ,
(96) Γ θ θ r = Γ ϕ ϕ θ = csc 2 ( θ ) ,
(97) Γ ϕ ϕ r = 2 m r .

Aqui é preciso dizer que estamos usando um sistema de unidades em que massa e raio tem a mesma unidade. O tensor de Ricci associado a essas conexões têm as seguintes componentes

(98) R t t = e 2 Φ [ ( Φ + Φ 2 ) ( 1 2 m r ) + Φ ( 2 r 3 m r m r 2 ) ] ,
(99) R r r = ( 1 2 m r ) 1 [ ( r m m ) ( 2 + r m ) r 3 ] Φ Φ 2 ,
(100) R θ θ = csc 2 ( θ ) R ϕ ϕ = ( 2 m r ) Φ + m + m r .

O escalar de Ricci é

(101) R = g μ ν R μ ν = 2 [ 2 m r + Φ ( 3 m 2 r + r m ) ( 1 2 m r ) ( Φ + Φ 2 ) ] .

Usando a componente rr da equação de Einstein que se lê

(102) G r r = 2 r ( Φ m 1 2 m r ) = 8 π p 1 2 m r ,

achamos então

(103) Φ = m + 4 π r 3 p r ( r 2 m ) .

A componente tt é

(104) G t t = 2 m e 2 Φ r 2 = 8 π ρ e 2 Φ

onde m=dmdr=4πρr2, é a equação da continuidade. Podemos escrever o tensor de momento-energia

(105) T μ ν = [ ρ e 2 Φ 0 0 0 0 ( 1 2 m r ) p 0 0 0 0 p r 2 0 0 0 0 p csc 2 ( θ ) r 2 ] .

Dado que as funções são dependentes da coordenada r, temos a derivada covariante do tensor de momento-energia.

(106) r T r ν = r T r ν + T σ μ Γ σ μ r + T r σ Γ σ ν ν r T r r + T r r ( Γ r ν ν + Γ r r r ) + T θ θ Γ θ θ r + T ϕ ϕ Γ ϕ ϕ r = ( 1 2 m r ) [ d p d r + ( ρ + p ) Φ ] = 0 ,

assim a TOV

(107) d p d r = ( ρ + p ) m + 4 π p r 3 r ( r 2 m ) ,

junto com a equação da continuidade,

(108) d m d r = 4 π ρ r 2 ,

formam as chamadas equações de estrutura para uma estrela [16][16] N. K. Glendenning, Compact Stars: Nuclear Physics, Particle Physics, and General Relativity (Springer Verlag, New York, 1997)..

7. Fluido anisotrópico

Definindo o tensor de momento-energia de um gás ideal anisotrópico [9[9] M. Kalam, F. Rahaman, S. Ray, S.K.M. Hossein, I. Karar and J.Naskar, arXiv:1201.5234 (2012)., 13[13] R. Chan, M.F.A. da Silva and J.F. Villas da Rocha, Modern Physics Letters A 24, 1137 (2009).]

(109) T μ ν = ( ρ + p t ) U μ U ν + p g μ ν + ( p t p ) s μ s ν

onde sμ é perpendicular a quadri-velocidade de escoamento do fluido Uμ=(1,0,0,0), sμUμ=0, Em termos matriciais

(110) T μ ν = [ ρ 0 0 0 0 p 0 0 0 0 p t 0 0 0 0 p t ] .

O Elemento

(111) Δ = p t p

é o chamado fator anisotrópico, Δ>0,pt>p, ou seja, um fator repulsivo, ou Δ<0,pt<p, neste caso a anisotropia colabora com a ação gravitacional O traço do tensor de momento-energia é

(112) T = ρ p 2 p t .

Vamos agora estudar as limitações conhecidas como condições de energia [?, 13[13] R. Chan, M.F.A. da Silva and J.F. Villas da Rocha, Modern Physics Letters A 24, 1137 (2009).]. Vamos gerar condições de energia semelhantes as condições para o caso isotrópico, semellhantes no sentido que os vetores tipo-tempo e tipo-luz, serão escolhidos para se adequarem ao tensor de momento-energia com componentes diferentes.

7.1. Condição de energia fraca

Como nas seções anteriores a condição de energia fraca é

(113) T μ ν t μ t ν 0

sendo tμ vetor tipo-tempo, estabelecemos que tμ=(1,a,b,c), então Tμνtμtν=ρ+ap+bpt+cpt. Escolhendo a=b=c=1 chegamos à positividade do traço

(114) ρ + p + 2 p t 0.

Aqui o fator barotrópico fica modificado 1+ω+2ptρ0

(115) ω 1 2 p t ρ

a causalidade fica então modificada, passando a levar em conta a pressão tangencial.

7.2. condição de energia nula

Usando os vetores nulos lμ=1.a,b,c a condição de energia nula é

(116) T μ ν l μ l ν 0.

Verificamos pois que, Tμνlμlν=ρ+a2p+(b2+c2)pt, escolhendob=c=0, obrigatóriamente temos a=1, ficamos com ρ+p0, alternativamente fazemos a=0 ficamos com ρ+pt0, então

(117) ρ + p 0 , ρ + p t 0.

Ficamos com duas inequações semlhantes, que represetam condições para fluidos ultra-relativísticos.

7.3. condição de energia dominante

A condição de energia dominante é

(118) T μ ν t μ t ν 0 , T μ ν T λ ν t μ t λ 0.

De Tμνtμtν0, obtemos ρ0. A quadri-corrente não ser um vetor tipo-espaço implica que γ2(ρ2+(a2p2+(b2+c2)pt)), se fizermos b=c=0, ficamos com ρ2a2p2 e a<1, implica que ρ|p|. Seguindo um raciocionio similar a=0, chegamos a ρ|pt|. Escrevemos finalmente

(119) ρ 0 ; ρ | p | ; ρ | p t | .

7.4. condição de energia nula-dominante

A condição de energia nula dominante é expressa

(120) T μ ν l μ l ν 0 ; T μ ν T λ ν l μ l ν 0

Tμνlμlν, já foi calculada e implica ρ+p0,ρ+pt0, por sua vez TμνTλνlμlν=ρ2+a2p+(b2+c2)pt. Sabemos que a2+b2+c2=1, fazendo b=c=0 logo ρ+p0. Logicamente a única condição restante é p=ρ. Podemos ainda fazer a=0, implicando que ρ+pt0. Portanto temos tambem pt=ρ, logo a energia do vácuo não é anisotrópica. Resumindo

(121) p t = p = ρ

expressa os resultados.

7.5. condição de energia forte

Essa condição esta ligada à gravidade atrativa, usando a equação de Einstein temos Rμν=(Tμν12Tgμν)

(122) R μ ν t μ t ν = ( T μ ν 1 2 T g μ ν ) t μ t ν 0 ,

novamente Tμνtμtν0, implica ρp2pt0, já 12Tgμνtμtν=12(ρp2pt) pela equação (112). Entao Rμνtμtν=(Tμν12Tgμν)tμtν=ρ+p+2pt+12(ρp2pt)0, como ρ+p+2pt0 só nos resta escrever que ρp2pt0. Escrevemos finalmente

(123) ρ + p + 2 p t 0 ; ρ p 2 p t 0.

A violação dessa condição gera gravidade repulsiva.

7.6. Demonstração da TOV anisiotrópica

A exemplo do que fizemos no caso isotrópico, escrevemos aqui a métrica em termos de funções métricas ν(r),λ(r) [9][9] M. Kalam, F. Rahaman, S. Ray, S.K.M. Hossein, I. Karar and J.Naskar, arXiv:1201.5234 (2012)..

(124) d s 2 = e ν ( r ) d t 2 + e λ ( r ) d r 2 + r 2 ( d θ 2 + sin 2 ( θ ) d ϕ 2 ) ,

podemos agora usar a equação de Einstein (78). A componente tt é

(125) e λ ( r ) ( λ r 1 r 2 ) + 1 r 2 = 8 π ρ

e a componente rr

(126) e λ ( r ) ( 1 r 2 + ν r ) 1 r 2 = 8 π p ,

a componentes angular θθ gera

(127) 1 2 ( 1 2 ( ν ) 2 + ν 1 2 λ ν + 1 r ( ν λ ) ) = 8 π p t .

A equação para pt representa a pressão anisotrópica, aqui se manifesta a diferença com o caso isotrópico. Esse é o modelo usual para estrelas estranhas anisotrópicas.

Consideremos o equilibrio hidroestático [20][20] J. R. Oppenheimer and G.M. Volkoff, Phys. Rev. 55, 374 (1939).

(128) F g + F H i d r o + F a n i s i o = 0 ,

onde Fg=12(ρ+p)drν(r) é a força gravitacional, Fhidro=dpdr a força hidroestática e a força anisotrópica Fani=2(ptp)r. Podemos então escrever a TOV na sua versão anisotrópica como

(129) d p d r = m ρ + p r 2 d ν ( r ) d r + 2 r ( p t p )

A primeira parcela da TOV é idêntica ao caso isotrópico, pois as equações (102) são muito similtares a equação (126). ν(r)=Φ(r). Temos escrevemos finalmente a TOV. Assim como

(130) d p d r = ( ρ + p ) m + 4 π p r 3 r ( r 2 m ) + 2 r ( p t p )

que é a TOV isotrópica.

8. A constante cosmológica

Também é possível construirmos um tensor de momento-energia levando em conta a interação da matéria com a constante cosmológica. Neste caso a equação de Einstein é modificada para

(131) R μ ν R 2 g μ ν + Λ g μ ν = 8 π T μ ν ,

a versão homogênea desta equação seria a equação de Einstein para o vácuo, conhecida como equação de De Sitter [5[5] S. Carroll, Spacetime and Geometry: An Introduction to General Relativity (Addison-Wesley Professional, Boston, 2004)., 10[10] S. M. Carroll, Living Rev. Relativ. 4, 5 (2001). [11] S. M. Carroll, arXiv:astro-ph/0107571 (2001).12[12] S. M. Carroll, M. Hoffman and M.Trodden, Phys.Rev. D 68, 023509 (2003)., 21[21] O. Zubairi, A. Romero and F. Weber, Journal of Physics: Conference Series 615 (2015).],

(132) R μ ν R 2 g μ ν + Λ g μ ν = 0

tem como solução

(133) R μ ν = Λ g μ ν

um tensor de Ricci proporcional a métrica, poderiamos alternativamente pensar em um tensor energia momento proporcional a métrica Tμν=Λgμν, essa condição, é associada a métrica de De Sitter

(134) d s 2 = ( 1 Λ r 2 3 ) d t 2 + 1 1 Λ r 2 3 d l 2 + r 2 ( d θ 2 + sin θ d ϕ 2 )

e o tensor energia momento proporcional a métrica, implica em uma equação de estado (49)

(135) p = ρ

[10[10] S. M. Carroll, Living Rev. Relativ. 4, 5 (2001)., 11[11] S. M. Carroll, arXiv:astro-ph/0107571 (2001).], tendo um fator barimétrico ω=1, uma equação de estado deste tipo, obedece a condição de energia NDEC

Para efetivamente calcularmos a TOV precisamos de uma métrica [21][21] O. Zubairi, A. Romero and F. Weber, Journal of Physics: Conference Series 615 (2015). assim usamo

(136) d s 2 = e ν d t 2 e λ ( r ) d r 2 r 2 ( d θ 2 + sin 2 θ d ϕ 2 ) ,

explicitando as componentes da métrica gtt=eν,grr=eλ,gθθ=r2,gϕϕ=r2sin2(θ) e usando a relação

(137) g μ ν g ν λ = δ λ μ ,

escrevemos então a métrica na forma matricial

(138) g μ ν = [ e ν 0 0 0 0 e λ 0 0 0 0 1 r 2 0 0 0 0 1 ( r sin θ ) 2 ] ,

aqui as funções métricas ν=ν(r) e λ=λ(r). Calculamos o tensor de Ricci Rμν=αΓμνανΓμαα+ΓβααΓμνβΓβμαΓανβ, lembrando sempre que Rβα=gαμRμβ. Escrevemos as componentes da equação de Einstein.

Componente tt:

(139) G t t = 8 π T t t
(140) 8 π ρ = e λ ( λ r 1 r 2 ) + 1 r 2 Λ ,

Componente rr:

(141) G r r = 8 π T r r ,
(142) 8 π p = e λ ( ν r + 1 r 2 ) 1 r 2 + Λ

para uma estrela estática consideramos

(143) d ρ d t = d p d t = 0.

Assim a derivada covariante do tensor de momento-energia que induz o seguinte resultado

(144) ( ρ + p ) ( μ u σ ) u μ + σ p + μ p u μ u σ = 0.

Lembramos a componente rr da métrica grr=eλ, então

(145) ( ρ + p ) ( μ u t ) u μ r p = 0 ,

assim

(146) r p = ( ρ + p ) 2 d ν d r .

Definimos agora a massa para uma casca esférica de raio r como

(147) m ( r ) = 4 π 0 r ρ ( r ) r 2 d r ,

diferenciando a massa e substituindo na componente temporal da equação de Einstein (140) obtemos

(148) d m d r = 1 2 d d r [ e λ r r + Λ r 3 3 ] ,

integrando temos

(149) 2 0 r d m d r d r = 0 r 1 2 d d r [ e λ r r + Λ r 3 3 ] d r ,

assim chegamos finalmente que a componente rr da métrica

(150) e λ ( r ) = 1 2 m ( r ) r Λ r 3 3 ,

somando as componentes radial e temporal da equação de Einstein, respectivamente as equações (140), (142), temos:

(151) 8 π ( ρ + p ) = λ e λ r + e λ ν r .

Derivando a equação (150) com respeito a coordenada radial temos

(152) λ e λ = 2 m r 2 m r 2 + 2 Λ r 3

substituimos agora as equações (146), (150) na equação (151) obtemos

(153) 8 π ( ρ + p ) = ( 2 m r 2 m r 3 + 2 Λ 3 ) + 1 r d ν d r ( 1 2 m r Λ r 2 3 )

substituindo (146) na equação (153) chegamos finalmente a TOV com constante cosmologica:

(154) d p d r = ρ ( 1 + p ρ ) m + 4 π p r 3 Λ r 3 3 r 2 ( 1 2 m r Λ r 2 3 ) .

A introdução da constante cosmológica gera um efeito interessante, se fizermos m=0, termos um efeito associado à pressão do vácuo

(155) d p d r = ρ ( 1 + p ρ ) 4 π p r 3 Λ r 3 3 r 2 ( 1 Λ r 2 3 ) .

Costumamos considerar que a equação de estado do vácuo é p=ρ, obdecendo a condição de energia (79), induziria a equação acima a ser (155) idênticamente nula, logo a pressão do vacuo fosse uma constante. Contudo se considerarmos o efeito do termo da constante cosmologica como uma pressão extra, de forma semelhante ao que fazemos na presença de pressão tangencial, poderiamos considerar que a parte associada à constante (Λ>0) cosmológica fosse uma anisotropia. Uma pressão extra negativa, que tenta compensar os efeitos da pressão radial.

9. Conclusão

O estudo do tensor de momento-energia é um tópico fundamental em relatividade, a revisão das condições clássicas de energia é uma necessidade dado a sua relevância para diversas linhas de pesquisa em astrofísica e cosmologia. O surgimento de fluidos relativisticos escuros e exóticos, traz a necessidade de revisarmos a suas condições de energia em especial quanto a causalidade. A anisotropia do tensor de momento-energia é um tema que ainda suscita muitas duvidas entre os discentes e a constante cosmológica vem cada vez mais sendo associada a objetos ultra-densos. Revisamos estes temas calculando a conservação do tensor de momento-energia, buscamos contribuir com a discussão acerca das condições de energia, tanto no caso isotrópico como anisotrópico, identicando exatamente qual a condição de energia associada à energia do vácuo.

Pretendemos no futuro estender essa revisão a fluidos com simetria esférica e a fluidos exóticos, assim como o fenômeno da superfluides, que cada vez mais se torna importante tanto no estudo de matéria de quark, quanto no estudo de fluidos escuros.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Nov 2019
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    06 Jan 2019
  • Revisado
    08 Jul 2019
  • Aceito
    10 Set 2019
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