Acessibilidade / Reportar erro

Propósitos e Objetivos da Educação Médica Contemporânea

É indispensável situar a tarefa e responsabilidade das Escolas de Medicina dentro da missão universitária e, neste quadro geral, precisar seus propósitos. Neste sentido, existe anuência entre os educadores de que a função básica da Universidade é contribuir para a formação de profissionais selecionados, capazes de compreender e servir ao ser humano e à sociedade e de participar no desenvolvimento nacional. Assim, saberão assumir suas responsabilidades sociais e ajudarão ao bem-estar do homem e ao melhor aproveitamento dos recursos naturais necessários ao desenvolvimento econômico e social.

A Universidade não só deve conservar, incrementar, difundir a cultura e preservar os valores humanos, espirituais e éticos, como promover a criação científica, artística, literária e filosófica. Não se concebe, hoje em dia, um genuíno profissional universitário que não alcance uma completa formação de sua personalidade, uma adequada capacidade para criar, estudar e prosseguir sua autoformação, assim como uma compreensão cabal de suas responsabilidades para com seus semelhantes e a sociedade.

A autêntica Universidade desfruta de uma autonomia que lhe permite realizar suas tarefas com liberdade, em ambientes de livre expressão do pensamento e comunhão entre professores e alunos. Trabalha na busca e no culto da verdade, num diálogo livre e num intercâmbio racional de idéias, sem interferências de fatores alheios à sua essência moral e social. Todo plano de divisão que se baseia na imposição de “verdades”’ ou de “ordens políticas”, no emprego da violência ou de recursos emocionais para captar partidários, é profundamente contrário ao espírito de unidade do saber que constitui a essência da vida universitária.

Já não é possível dissociar os propósitos e objetivos da educação médica dos princípios universitários enunciados. A tendência contemporânea orienta-se para a volta de alguns dos valores que caracterizavam a medicina do passado, seguindo a marcha acelerada e crescente das ciências e proporcionando aos estudantes os atributos de personalidade e caráter, aliados aos mais sólidos fundamentos para seu futuro desempenho, a fim de contribuir para o progresso da medicina durante o exercício de sua atividade profissional.

Neste sentido, consideramos, sem dúvida, que ao sair da Escola, o jovem médico possua grande capacidade para resolver os problemas dos doentes e, ainda, uma justa compreensão do comportamento humano, principias éticos e morais e atitude social, que são indispensáveis para a melhor aplicação de seus conhecimentos em benefício das pessoas, dos grupos sociais e da comunidade.

Devemos reconhecer que as Escolas de Medicina da América Latina esforçaram-se por cumprir, nas melhores condições, sua elevada missão e que, nos últimos decênios, graças ao esforço conjunto de suas autoridades, corpo docente e colegiado, introduziram-se modificações fundamentais em seus currículos, metodologia e orientação. Destacamos, entre outros, a criação de cargos docentes com tempo integral, os esforços tendentes à limitação e seleção dos alunos e a revisão dos estudos com a finalidade de proporcionar aos estudantes uma visão mais geral e unitária da medicina, procurando uma maior integração entre as cadeiras básicas, pré-clínicas e clínicas. Se no princípio deste século optou-se por limitar as preleções para, gradualmente, dar maior ênfase à atividade clínica dos estudantes no hospital e ao trabalho nos laboratórios científicos, agora estendê-la ao seio das coletividades e aos ambulatórios, para abrir novas perspectivas docentes à formação integral da personalidade do futuro médico.

As Escolas de Medicina deste Continente não somente estão formando mais médicos a cada ano, mas também fazendo com que estes profissionais se preparem com um fundamento biológico e clínico mais sólido e integral. Acentuou-se, também, a noção de que a educação médica não termina com a graduação mas continua por toda a vida. A especialização e o aperfeiçoamento contínuo dos profissionais adquiriram uma crescente ênfase.

Mas, ao mesmo tempo, os enormes e acelerados progressos científicos e as inevitáveis mudanças sociais determinaram modificações na medicina e, portanto, nos estudos médicos. Novas e pode­ rosas forças econômicas, sociais, culturais e políticas repercutiram e seguiram influindo sobre a medicina contemporânea. Aos educadores médicos cabe a tremenda responsabilidade de reconhecer oportunamente estes fatores e introduzir as reformas necessárias, pois sua missão educativa deve projetar-se no futuro.

Em consonância com isto, destaca-se entre os objetivos básicos da educação de nível de Escola de Medicina, contribuir para formar médico não especializado, de acordo com as necessidades de saúde, com a evolução das ciências médicas e com os requisitos derivados da natureza e responsabilidade de suas funções e de sua posição na sociedade. Muito importante é capacitá-lo para aprender por si mesmo, estimulando o aprendizado ativo, através da procura da informação científica e de experiências adquiridas pelo próprio estudante e todas aquelas atitudes que lhe permita desenvolver seu juízo crítico, espírito de observação e raciocínio correto. Também pretende-se obter um equilibrado desenvolvimento dos diversos aspectos educativos: dos conhecimentos essenciais; do método científico; das técnicas profissionais e sua integração com atividades destinadas ao fortalecimento da vocação, ao desenvolvimento da personalidade e à formação do caráter.

Importância primordial tem a utilização de métodos ativos de ensino tanto nos laboratórios de ciências básicas como nos hospitais e na comunidade que deveria considerar-se como um laboratório bio-social. Em todos esses âmbitos aplicar-se-á o método científico para investigar os problemas biomédicos e de saúde, avaliá-los e procurar sua solução racional.

O crescimento vertiginoso das informações e dos conhecimentos científicos conduz a uma nova e séria responsabilidade educacional para as Escolas de Medicina: já não poderá deixar de capacitar o médico para a procura de informação nas fontes de referências habituais mas, também naquelas oferecidas, agora, pela moderna tecnologia dos computadores e das telecomunicações, como o Sistema “Medline” e outros.

Entre os diversos meios para o cumprimento de tais propósitos, é essencial que o ambiente geral dos serviços e cátedras sirva de exemplo pela qualidade do trabalho científico e assistencial, pela relação harmoniosa da atividade da equipe docente; da demonstração de respeito à dignidade do próximo e pela utilização racional dos recursos.

Agora, procura-se dar maior destaque às ciências da conduta: aos aspectos bio­ lógicos, psicológicos e sócio-culturais da pessoa humana. O jovem médico, ao graduar-se, além de possuir uma sólida bagagem científica é atributos intelectuais e culturais que o capacite a resolver os problemas dos doentes, deve aprender a investigar os problemas de saúde das famílias e da comunidade. O médico para o futuro possuirá hábitos essenciais, atitudes e ideais que lhe permita desenvolver-se como autêntico profissional universitário com atitude social.

Deverá estar preparado para assumir seu papel diretivo na equipe de saúde, encarregado do cuidado da saúde dos indivíduos, das famílias e da comunidade. Para isso, deverá estar capacitado para planejar, adestrar e bem utilizar os recursos humanos, analisar e avaliar os problemas de saúde, estabelecer prioridades, encontrando soluções para o bem-estar social e para melhorar a qualidade de vida de seus semelhantes.

Em resumo, considerará a medicina como ciência social e sua primordial responsabilidade será a proteção de pessoas expostas ao risco de adoecer em um ambiente físico e psico-social.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Abr 2022
  • Data do Fascículo
    May-Aug 1978
Associação Brasileira de Educação Médica SCN - QD 02 - BL D - Torre A - Salas 1021 e 1023 | Asa Norte, Brasília | DF | CEP: 70712-903, Tel: (61) 3024-9978 / 3024-8013, Fax: +55 21 2260-6662 - Brasília - DF - Brazil
E-mail: rbem.abem@gmail.com