Implementação da Campanha Choosing Wisely no Internato de Clínica Médica

Mendonça, Dilton Rodrigues; Aguiar, Carolina Villa Nova; Lins-Kusterer, Liliane; Correia, Luis Cláudio Lemos; Vieira, Adriane Veloso Andrade; Menezes, Marta Silva

doi:10.1590/1981-5271v44.3-20190277

Resumo:

Objetivo:

avaliar a implementação de estratégias da campanha Choosing Wisely (CW) no internato de clínica médica.

Métodos:

Este estudo de intervenção envolveu professores e alunos do internato, por meio de questionários on-line na plataforma SurveyMonkey e atividades presenciais. Usando a técnica Delphi, os professores identificaram três situações desnecessárias que geralmente ocorrem na prática. As recomendações foram agrupadas por frequência e assunto e adaptadas ao formato CW. Utilizou-se uma escala Likert para classificar a opinião dos especialistas, obtendo-se a lista final de recomendações. Antes da introdução da campanha da CW, realizamos um Exame Clínico Objetivo Estruturado (OSCE). Foram comparados dois grupos de estudantes: um grupo que realizou a avaliação OSCE antes da implantação da campanha CW (110) e outro que participou de todas as ações educativas (n = 98). Implementamos a campanha da CW, desenvolvendo ações educativas usando as recomendações durante oficinas, banners e avaliação teórica, além de um Exame Clínico Objetivo Estruturado (OSCE).

Resultados:

após o agrupamento das recomendações, restaram 24 itens. Os especialistas selecionaram oito recomendações, abordando comportamentos desnecessários como solicitação de vários exames, uso excessivo de anti-inflamatórios não hormonais, indicação de endoscopia digestiva para pacientes mais jovens com dispepsia, excesso de radiografia de tórax em unidade de terapia intensiva, prescrição de profilaxia antibiótica por mais tempo do que o recomendado, indicação de rotina de testes alérgicos, triagem inicial inadequada para avaliação da tireóide e espirometria em pacientes assintomáticos. As ações educativas resultaram em conscientização e discussão entre os participantes, evidenciado por meio de avaliação teórica (> 95%), bem como no OSCE, onde o nível de sucessos foi maior no grupo exposto quando comparado ao grupo não exposto (p = 0,001).

Conclusão:

a implementação da campanha CW melhorou as habilidades clínicas dos estudantes do internato em clínica médica e permitiu discussões positivas sobre custo-consciência em saúde.

Palavras-chave:
Educação Médica; Internato e Residência; Medicina Geral; Custos de Cuidados de Saúde

[1] ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA
Dilton Rodrigues Mendonça. Av. Dom João VI, nº 275, Brotas, Salvador/BA, Brasil. CEP: 40290-000. Fone: 557132768200. E-mail: diltonmendonca@bahiana.edu.br

N.	Itens*	Escore Total (escala do tipo Likert)	Concordo fortemente % (n)	Concordo Moderadamente % (n)	Discordo Moderadamente % (n)	Discordo fortemente % (n)
1	Evitar prescrever vários testes a pacientes internados cujos resultados não influenciarão o tratamento terapêutico.	52	100 (13)	0 (0)	0 (0)	0 (0)
2	Evitar prescrever medicamentos anti-inflamatórios não esteroidais na maioria das situações clínicas com evolução autolimitada.	52	100 (13)	0 (0)	0 (0)	0 (0)
3	Não solicitar endoscopia digestiva alta para pacientes com menos de 50 anos com dispepsia de início recente e sem sinais de alerta.	52	100 (13)	0 (0)	0 (0)	0 (0)
4	Não solicitar radiografias diárias de tórax em uma unidade de terapia intensiva para pacientes que não estão em ventilação mecânica e apresentem um curso clínico estável.	52	100 (13)	0 (0)	0 (0)	0 (0)
5	Não prescrever profilaxia com antibióticos por mais tempo do que o recomendado.	52	100 (13)	0 (0)	0 (0)	0 (0)
6	Não solicitar testes cutâneos de alergia rotineiramente e sem critérios clínicos bem estabelecidos.	52	100 (13)	0 (0)	0 (0)	0 (0)
7	Evitar solicitar exames na triagem inicial para pacientes com risco de doença da tireoide, priorizando os níveis de TSH primeiro.	52	100 (13)	0 (0)	0 (0)	0 (0)
8	Não solicitar espirometria para pacientes assintomáticos sem fatores de risco para doença pulmonar.	52	100 (13)	0 (0)	0 (0)	0 (0)
9	Não solicitar colonoscopia ou não repetir o exame a intervalos curtos, especialmente em menos de cinco anos, sem considerar critérios clínicos e fatores de risco bem estabelecidos.	51	92 (12)	8 (1)	0 (0)	0 (0)
10	Evitar estudos de imagem para o diagnóstico de lombalgia aguda na unidade de emergência.	51	92 (12)	8 (1)	0 (0)	0 (0)
11	Não prescrever antibióticos para infecções respiratórias agudas sugestivas de etiologia viral.	51	92(12)	8 (1)	0 (0)	0 (0)
12	Não solicitar tomografia computadorizada de tórax em pacientes com pneumonia não complicada.	51	92 (12)	8 (1)	0 (0)	0 (0)
13	Não prescrever ácido acetilsalicílico como prevenção primária a todos os pacientes diabéticos.	50	85 (11)	15 (2)	0 (0)	0 (0)
14	Não solicitar radiografias de tórax no final do tratamento como controle para pneumonia não complicada com bom resultado clínico.	50	85 (11)	15 (2)	0 (0)	0 (0)
15	Não solicitar rotineiramente culturas de urina para todos os pacientes, exceto para mulheres grávidas assintomáticas.	50	85 (11)	15 (2)	0 (0)	0 (0)
16	Não prescrever rotineiramente medicamentos hipolipemiantes para pacientes com mais de 75 anos de idade, sem considerar as comorbidades e a expectativa de vida.	49	77 (10)	23 (3)	0 (0)	0(0)
17	Não realizar testes de avaliação cardíaca pré-operatória de rotina em pacientes assintomáticos antes de procedimentos cirúrgicos de baixo risco.	49	77 (10)	23 (3)	0 (0)	0 (0)
18	Não solicitar radiografia sinusal para o diagnóstico de rinossinusite aguda.	48	77 (10)	15 (2)	8 (1)	0 (0)
19	Não prescrever inibidores de bomba de prótons para prevenir lesões mucosas agudas em pacientes sem fatores de risco.	48	84 (11)	8 (1)	0 (0)	8 (1)
20	Evitar solicitar medições glicêmicas pré e pós-capilares de rotina para ajustes de insulina.	47	69 (9)	23 (3)	8 (1)	0 (0)
21	Evitar solicitar análises diárias de gases no sangue em uma unidade de terapia intensiva para pacientes sem insuficiência respiratória aguda.	47	69 (9)	23 (3)	8 (1)	0 (0)
22	Não solicitar exames cardiológicos complementares (teste ergométrico e ecocardiograma) para pacientes assintomáticos.	46	61 (8)	31 (4)	8 (1)	0 (0)
23	Não solicitar exame de urina para o diagnóstico de uretrite ou cistite em mulheres não grávidas em caso de atendimento de emergência.	45	54 (7)	38 (5)	8 (1)	0 (0)
24	Evitar solicitar rotineiramente exames complementares para um check-up, sem correlação clínica.	43	77 (10)	0 (0)	0 (0)	23 (3)

Recomendação da Clínica Médica	Acertos n (%)	Erros n (%)
Não solicite endoscopia digestiva alta para pacientes com menos de 50 anos com dispepsia de início recente e sem sinais de alerta.	98 (100,0)	-
Evite prescrever vários testes a pacientes internados cujos resultados não influenciarão o tratamento terapêutico.	95 (97,0)	3 (3,0)

Recomendação da Clínica Médica	Não exposto à campanha CW (N=110)		Exposto à campanha CW (N=98)		⁺P-valor
Recomendação da Clínica Médica	Acertos n (%)	Erros n (%)	Acertos n (%)	Erros n (%)
Evite solicitar rotineiramente exames complementares para um check-up, sem correlação clínica.	45 (40,9)	65 (59,1)	93 (94,9)	5 (5,1)	0,001