Summary:
Departmental organization is an obstacle for coherent interdisciplinary educational program. Curriculum committees should have the responsibility and authority to implement an integrated program of medical education.
A organização departamental com fragmentação em disciplinas, especialidades e subespecialidades culminou na fom1açào de uma estrutura rígida, óbice à interdisciplinaridade. Cabe à Comissão de Ensino de Graduação a missão e a autoridade para planejar, implementar e supervisionar um programa integrado de educação médica. O programa é de responsabilidade da instituição através dessa Comissão, não devendo ser aceito corno uma composição de formulações apresentadas pelos departamentos.
Ao longo do último quarto de século, a educação médica tem sido objeto de múltiplos episódios de escrutínio e reformas. Deixou mesmo de ser assunto interno da academia para tomar-se tópico de interesse público. Apesar da proliferação de contribuições (artigos em periódicos, livros, conferências, simpósios, debates através de veículos de comunicação social), o efeito agregador tem sido pequeno e as reformas sem mudanças. A manutenção do status quo nas escolas médicas, apesar das críticas, é indicativo da precedência de outras prioridades. Como justificar que, a despeito de freqüentes assertivas de que a educação profissional e a formação cultural dos estudantes são a missão básica das escolas médicas, se na prática elas ocupam lugar de baixa prioridade? Como explicar a dissociação entre o discurso e a praxis?
Parece fora de dúvida que ns razões são variadas, mas as evidências apontam para uma origem comum: a estrutura organizacional dos centros acadêmicos.
A organização dos centros acadêmicos em departamentos, em substituição às antigas cátedras independentes, facilitou a coordenação administrativa e criou mecanismos mais justos de progressão acadêmica. Mas, de outro lado, a sua composição em disciplinas, especialidades e subespecialidades culminou na formação de uma estrutura rígida, óbice à interdisciplinaridade.
O conhecimento tomou-se compartimentalizado, em pequenos blocos, criando a situação de estudantes diligentes em micro-soluções, mas geralmente incapazes de compreenderem o conjunto. O currículo tomou-se congestionado à medida que os departamentos identificam mais e mais áreas de conhecimento por eles considerados essenciais.
É necessário provera educação médica do consenso interdisciplinar para o alcance dos objetivos que aproveitem à formação do aluno. Em outras palavras, o ensino de graduação deve ser responsabilidade da instituição e não resultado da composição dos programas apresentados pelos departamentos. A operacionalização desse conceito reclama que se dê à Comissão de Ensino de Graduação a missão e a autoridade para planejar, implementar e supervisionar um programa integrado de educação acorde com os princípios estabelecidos pelo colegiado maior da instituição.
Meritória, não menos que isto, a decisão da Congregação da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto de aprovar a reorganização curricular que subordina o ensino de graduação à instituição, em obediência ao conceito e operacionalização supra referidos. Após décadas, foi rompida a crosta gelada que aconchega o sono dogmático em que estão mergulhadas as escolas médicas. Que a iniciativa seja bem-sucedida a fim de tomar-se um modelo para as suas congêneres.
Um adolescente que, pela primeira vez na vida, deixa a família para enfrentar o desafio de educação universitária, dispõe de alguns anos para descobrir a si mesmo e receber a formação básica para o futuro exercício profissional qualificado.
A situação atual não oferece a ele um estado de organização das ciências e nem tampouco possibilidades opcionais para interessar-se por assuntos culturais que a idade e a curiosidade reclamam. Por quê? Porque as disciplinas convivem como autóctones nos departamento, e porque são adotadas para cumprir uma função rígida à especialidade.
Essa situação leva-nos a refletir sobre o que estamos oferecendo ao jovem para que o julguem cultivado e a indagar qual é a natureza do potencial humano cujo desenvolvimento nos cabe. Se a resposta for para prepará-lo para a recepção de competência especifica, compartimentalizada, para que serve a universidade?
Conclui-se que a dissolução da atual estrutura departamental, por obsoleta, representa o caminho futuro para o ensino de graduação.
Referências Bibliográficas
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1SWANSON, A. G. Medical education reform without change - Mayo Clin Proc. 64: 1173-4, 1989
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2ASSOCIATION OF AMERICAN MEDICAL COLLEGES: Physicians for the twenty-first century. J. Med Educ. 59:1-200, 1984
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3BLOOM, A. O declínio da cultura ocidental: da crise da universidade à crise da sociedade, 1 ed., São Paulo, Editora Best Seller, 1987.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
02 Jul 2021 -
Data do Fascículo
May-Aug 1993