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Editorial

Uma das características principais da Educação Médica no Brasil nos últimos anos é que vivemos tempos de avaliação e de mudança. A avaliação feita pela Comissão Inter-Institucional Nacional de Avaliação da Educação Médica (Cinaem) teve um papel fundamental nesse processo. Com a participação das escolas médicas, docentes, estudantes e representantes das principais entidades médicas brasileiras, a Cinaem realizou um amplo diagnóstico da situação das escolas médicas e do ensino médico, que revelou a necessidade de uma ampla transformação da escola médica, com o desenvolvimento de currículos que levem em conta, seriamente, as necessidades de saúde de nossa população. Deslocar o centro do processo de ensino-aprendizagem da transmissão de conhecimentos para a aprendizagem baseada na prática da assistência às pessoas e às comunidades foi uma proposta central da Cinaem. Outra conclusão foi a necessidade de mudanças nas áreas da gestão dos cursos, capacitação docente, processo de formação e avaliação.

Com a experiência adquirida com os trabalhos da Cinaem, a Associação Brasileira de Educação Médica (Abem) teve uma participação importante na elaboração das Diretrizes Curriculares para os Cursos de Medicina, que hoje constituem os princípios gerais para a formação de um método e para a estruturação de um currículo de formação em Medicina. A partir da definição das Diretrizes Curriculares, as escolas médicas brasileiras devem formar um médico "com formação generalista, humanista, crítica e reflexiva. Capacitado a atuar, pautado em princípios éticos, no processo de saúde-doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à saúde, na perspectiva da integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso com a cidadania, como promotor da saúde integral do ser humano".

Praticamente todas as escolas médicas brasileiras estão em processo de transformação curricular: mudaram recentemente, estão em processo de mudança ou planejam fazer mudanças curriculares. Muitas dessas mudanças têm como objetivo principal a implantação das Diretrizes Curriculares.

As Diretrizes Curriculares contêm vários princípios gerais que levam à necessidade de profundas revisões em muitos currículos. O eixo do desenvolvimento curricular deve estar baseado nas necessidades de saúde dos indivíduos e das populações, as metodologias utilizadas devem privilegiar a participação ativa do aluno na construção do conhecimento, e a integração entre os conteúdos, a aprendizagem baseada na prática deve ser priorizada, em diferentes cenários de prática profissional. A interação do aluno com usuários e profissionais de saúde deverá ocorrer desde o início do processo de formação, proporcionando ao aluno responsabilidades crescentes como agente prestador de cuidados, compatíveis com seu grau de autonomia. Essas são algumas das propostas contidas nas Diretrizes Curriculares, e as escolas médicas têm diante de si o enorme desafio de transformar essas diretrizes em realidade. Em todo esse processo de mudanças curriculares em curso, a produção do conhecimento, a pesquisa em Educação Médica assume um papel de enorme relevância. Felizmente, a produção acadêmica nessa área vem aumentando no Brasil, tanto em quantidade como em qualidade. O número de trabalhos apresentados nos congressos brasileiros de Educação Médica é cada vez maior, assim como o número de artigos submetidos à Revista Brasileira de Educação Médica.

Aumentar a produção científica na área de Educação Médica deve ser uma prio ridade de todas as escolas médicas brasileiras. Trata-se de necessidade estratégica para nosso país. As escolas médicas que ainda não poss uem núcleos de pesquisa em Educação Médica deveriam criá-los e incentivar e valorizar os docentes que se dedicassem a essa área.

Como em toda área do conhecimento,a pesquisa em Educação Médica exige sólida formação científica do pesquisador ou do grupo de pesquisa. Entretanto, essa área tem especificidades em relação a muitas outras áreas da Produção acadêmica em Medicina. Com frequência, é preciso combinar abordagens quantitativas e qualitativas. Muitas vezes, a interferê ncia e a participação do pesquisador no processo em estudo são inevitáveis e devem ser levadas em conta na análise dos resultados. Não raro, as comparações possíveis são apenas com a situação anteriorà intervenção,sendo difíceis desenhos experimentais com grupos de "controle".

Incentivar a produção de conhecimento na área de Educação Médica é uma das prioridades da Abem, e tanto o Congresso Brasileiro de Educação Médica como a Revista Brasileira de Educação Médica têm prestado significativa contribuição nesse sentido.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Abr 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2005
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