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Experiências em Buscas de Informações por Residentes de Medicina

Experience with Information Searches by Medical Residents

Resumo:

Identíficamos as experiências e necessidade dos médicos residentes matriculados no Programa de Residência Médica da Famema em 2003 quanto ao uso de fontes de informaçõess e bibliotecas durante a graduação. O grupo estudado foi composto por médicos formados por várias escolas de medicina do País e nas metodologias de ensino tradicional e aprendizagem baseada em problemas (ABP). Os resultados mostraram que menos da metade (44,15%) dos médicos está saindo da graduação sem capacitação em buscas de informações. Frente aos resultados sugerimos que as bibliotecas pertencentes às instituições que mantêm cursos de residência médica ofereçam esse serviço aos médicos residentes, como uma forma de sanar as dificuldades daqueles que ainda não contam com essa capacitação durante a graduação.

Palavras-chave:
Educação Médica; Internato e Residência; Bibliotecas Médicas; Aprendizagem Baseada em Problemas

Abstract:

This study identified the expcricnces and needs of medical residents enrolled in the Medical Residence Program at Famema in 2003, conceming the use of information sources and libraries during their undergraduete training. The study group consisted of physicians trained at various schools of medicine in Brasil, both in traditional teaching and problem-based learning (PBL) methodologies. The results showed that less than half (14.15%) of the physicians finish undergraduate education with any training in information searches. Bascd on thesc results, we suggest that the libraries belonging to institutions with medical residency programs offer this service to the medical residents as a way of solving the difficulties of those who have missed such training during their undetgraduate courses.

Key-words:
Educarion, Medical; Learnship and Residency: Libraries, Medical; Problem-Based Learning

INTRODUÇÃO

Neste estudo, pretende-se investigar quais são as habilidades em buscas de informações e uso de bibliotecas, adquiridas durante a graduação por um grupo de profissionais médicos recém-formados - os residentes em Medicina da Faculdade de Medicina de Marília (Famema)-, que ainda não estão no mercado de trabalho propriamente dito, mas se preparando para isto.

Os residentes constituem um grupo de usuários valioso para este estudo, uma vez que são oriundos de variadas escolas de Medicina no Brasil, com realidades e experiências diferentes, o que permite tentar conhecer um pouco de suas experiências em uso de bibliotecas e informações durante a graduação. Outro fator importante é que o grupo é composto por médicos formados pelas metodologias de ensino médico tradicion al e ABP (aprendizagem baseada em problemas), o que nos possibilita verificar se existem diferenças ou não entre as mesmas quanto às habilidades em buscas de informações.

De modo geral, a Educação Médica no Brasil, até recentemente, esteve voltada à doença, à departamentalização do ensino, ao ensino centrado no professor como transmissor do conhecimento que julga ser necessário ao aluno, à especialização médica por áreas ou subáreas e ao uso de novos recursos tecnológicos, principalmentepara diagnóstico. Paralelamente a esse cenário, surgiram tentativas de melhorias e adequação do ensino médico brasileiro ao longo dos anos11. Feuerwerker LCM. Mudanças na educação médica e residência médica no Brasil. São Paulo: HUCITEC; 1998..

Atualmente, os programas de formação profissional devem trabalhar de forma integrada, um apoiando o outro, criando espaços de aprendizagem experimentais, onde os estudantes não sejam apenas observadores22. Venturelli J. Os aspectos educacionais na reforma da educação nas profissõ es da saúde. ln: Almeida M, Feuerwerker L, Llamos CM, org. A educação dos profissionais de saúde na América Latina: teoria e pnHica de um movimento de mudança . São Paulo: I-IU CITEC;1999. p.145-64..

Segundo Lima-Gonçalves33. Lima-Gonça1ves E. Médicos e ensino da medicina no Brasil. São Paulo: EDUSP; 2002. p.59-108., tem sido um desafio para as escolas médicas definir os conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que deverão compor o profissional médico. O mesmo autor afirma que o médico do século 21 deverá reconhecer que, para o bom desempenho profissional, precisará ser um eterno estudimte, sempre carente de informações e de procedimentos, e que a educação durante a grnduação deverá ser apenas o começo de um aprendizado a se desenvolver ao longo da vida. A graduação terá o papel de encorajar o estudante a assumir a responsabilidade pelo próprio aprendizado .

Como é relatado em ampla literatura, as universidades e as profissões, de forma geral, vêem-se atingidas diretamente pela revolução tecnológica. O acesso à informação tomou-se mais fácil e mais rápido, a informação está mais disponível. A preocupação a tual não deve se restringir a passar in formações, deve-se também mostrar como o indivíduo ou a comunidade poderão usar, selecionar, manipular, organizar e, principalmente, transformar essa informação em conhecimento novo44. Masetto MT. Discutindo o processo ensino/aprendizagem no ensino superior. ln: Marcondes E, Lima-Gonçalves E, coord. Educação médica. São Paulo: Sarvier; 1998. p.11-9.. Para Lima et al.55. Lima VV, Komatsu RS, Padilha RQ. Desafios ao desenvolvimento de um currículo inovador: a experiência da Facu1dade de Medicina de Marília. Interface: Comun Saúde Educ 2003: 7(12): 175-84., devido ao desenvolvimento tecnológico, o conhecimento vai se tornando obsoleto, exigindo do profissional de saúde uma atitude contínua de aprender e habilidades para a busca e crítica das informações obtidas.

Almeida66. Almeida MJ. Educação médica e saúde: limites e possibilidades das propostas de mudança. [tese] São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 1997. afirma que, no que se refere às estrntégias educacionais aplicndas à medicina, a metodologia de aprendizagem baseada em problemas vem se fortalecendo nos países da América Latina, pois consegue introduzir maior eficiência nas práticas de ensino-aprendizagem e formar profissionais mais críticos e mais bem preparados para a auto-aprendizagem ao longo do exercício da profissão . A Faculdade de Medicina de Marília, a partir de 1997, introduziu pioneiramente no Brasil a metodologia ABP em seu curso de Medicina.

Segundo Komatsu77. Komatsu RS, coord. Guia do processo de ensino - aprendizagem "aprender a aprender". 2 ed. Marília (SP): Faculdade de Medicina de Marília; 1998., essa metodologia se apóia em quatro concepções de ensino-aprendizagem: aprendizagem autodirigida, baseada em problemas, em pequenos grupos de tutoria e orientada para a comunidade. O mesmo autor afirma que a busca e a aquisição de conhecimentos constituem um processo contínuo ao longo da vida de cada indivíduo. Para isto, nessa nova metodologia, os estudantes são encorajados a definir seus objetivos de aprendizagem e a assumir responsabilidade por avaliar seus progressos pessoais, tomando como parâmetros os objetivos formulados a cada unidade educacional. Menita et al.88. Menita RHG, Lima HMC, Faria JB. Relato de experiência da biblioteca da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA) na metodologia de aprendizagem baseada em problemas (ABP). Anais do 3 Simpósio Internacional de Biblioteconomia "Prof. Dr. Paulo Tarcísio Mayrink"; 1-3 set. 1999; Marília (SP): UNESP; 1999. p.67-73. afirmam que, na metodologia ABP, o estudante é livre e responsável pela escolha das fontes de informação ou dos recursos educacionais que comporão seu aprendizado.

A residêncin médica foi implantada no Brasil em 1945 - 1946 pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, seguindo o modelo americano, que já possuía programas de treinamento/aprendizado para pós-graduados em Medicina desde 1889 e constitui o mais recomendável programa parn a formação do especialista. Nele, o médico recém-formado deverá se aperfeiçoar e trabalhar em serviços hospitalares de áreas específicas, sob a orientação de professores ou de outros médicos de reconhecida experiência e competência33. Lima-Gonça1ves E. Médicos e ensino da medicina no Brasil. São Paulo: EDUSP; 2002. p.59-108..

Em 1977, foi criada a Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), que regulnmcnta a prática da residência médica no Brasil. Atualmente, a residência médica é pré-requisito obrigatório para a pós-graduação stricto sensu, segundo o Conselho Federal de Educação99. Bacheschi LA. A residência médica. ln: Marcondes E, Lima-Gonçalves E, coord. Educação médica. São Paulo: Sarvier ; 1998. p.369-73..

Segundo Feuerwerker11. Feuerwerker LCM. Mudanças na educação médica e residência médica no Brasil. São Paulo: HUCITEC; 1998., 70% dos médicos que se formam no Brasil freqüentam um programa de residência médica, cm que as princi pais funções são: complementação da graduação, especialização e melhor preparo para inserção no mercado de trabalho.

Na Faculdade de Medicina de Marllia, a residuncia médica foi credenciada a partir de 19821010. Faculdade de Medicina de Marília. Manual da residência médica. Marília (SP): FAMEMA; 2002..

Os residentes constituem uma relevante parcela de usuários da Biblioteca da Famema, que, nos últimos anos, oferece cursos de capacitação em buscas de informações a seus usuários, principalmente docentes e discentes. Para os residentes, 05 cursos são oferecidos de acordo com as solicitações de algumas especialidades.

Como ferramenta para melhor planejamento de seus serviços, a biblioteca deve realizar estudos das necessidades informacionais e dificuldades encontradas pelos usuários na recuperação e seleção dos documentos. Estudos de usuários auxiliam a biblioteca na previsão da demanda ou na mudança da demanda de seus produtos e serviços, permitindo adequá-los a cada época. A maioria desses estudos teve início na segunda metade da década de 19401111. Figueiredo N. Avaliação de coleções e estudo de usuários. Brasília (DF): Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal; 1979. p.77-96.,1212. Figueiredo NM. Estudos de usuários como suporte para planejamento e avaliação de sistemas de informação. Cienc lnf 1985; 14(2):127-35.. Figueiredo1111. Figueiredo N. Avaliação de coleções e estudo de usuários. Brasília (DF): Associação dos Bibliotecários do Distrito Federal; 1979. p.77-96. afirma que o que se observa foi uma mudança de atitude em relação aos usuários. Até então, aguardava-se que eles se dirigissem às bibliotecas para buscar informações, e a partir dessa época as bibliotecas passaram a antecipar as necessidades dos usuários, oferecendo-lhes serviços disponíveis pnra uso.

Atualmente, refletindo sobre esse contexto, podemos observar outra renlidade, não diferente das citadas acima, mas que as engloba, pois hoje os usuários buscam a infonnação desejada em várias fontes e de várias maneiras, e a maioria das bibliotecas tem dificuldades em atender essas demandas de forma satisfatória. Estudos de usuários continuam como uma necessidade e carregam as prioridades dos anteriores, não mais apenas para oferecer um serviço novo e "resgatar" usuários, mas também para melhor atendê-los em suas necessidades já explicitadas.

Curty1313. Curty MG. Busca de informação para desenvolvimento das atividades acadêmicas pelos médicos docentes da UEM. Anais do 119 Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias; 1° Simpósio de Bibliotecas Universitárias da América Latina e do Caribe;111 Simpósio de Diretores de Bibliotecas Universitárias da América Latina e do Caribe; 24-28 abr. 2000; Florianópolis: UFSC-BU. 1 CD-ROM. relaciona vários aspectos que permitem verificar a importância dos estudos de usuários, dos quais destacamos alguns que expressam os objetivos de nosso estudo: identificação do uso de recursos de informação; identificação de com· portamentos e hábitos dos usuários quanto ao uso e busca de informações; identificação das necessidades de qualificação de determinada categoria de usuários; e identificação dos fatores que determinam o uso ou não das fontes de informação.

A educação de usuários, segundo Belluzzo1414. Belluzzo RCB. Educação de usuários de bibliotecas universitárias: da conceituação e sistematizaçãoao estabelecimento de diretrizes. [dissertação] São Paulo, Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, 1989., é o processo pelo qual eles devem interiorizar comportamentos adequados de uso de bibliotecas e desenvolver habilidades de interação permanentes com os sistemas de informação.

Dudziak et al.1515. Dudziak EA, Gabriel MA, Villela MCO. A educação de usuários de bibliotecas universitárias frente à sociedade do conhecimento e sua inserção nos novos paradigmas educacionais. Anais do 11º Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias; 12 Simpósio de Bibliotecas Universitárias da América Latina e do Caribe; 12 Simpósio de Diretores de Bibliotecas Universitárias da América Latina e do Caribe 24-28 abr. 2000; Florianópolis: UFSC-BU. ; 1 CD-ROM. afirmam que a educação de usuários reúne várias ferramentas, como instrução, treinamtmto, apresentação de interfaces amigáveis, manuais, tours, cursos de acesso a bases de dados, orientação bibliográfica, entre outras. Esses mesmos autores sustentam que a educação de usu ãrios engloba várias aprendizagens e se constitui em aprender a aprender, aprender a pensar e a ser um usuário eficiente da informação, aprendendo a identificar, buscar, localizar, avaliar e selecionar a informação adequada paro cada necessidade.

Devido aos avanços de novas tecnologias aplicadns ao armazenamento e recuperação da informação, permitindo o aumento de documentos publicados eletronicamente, disponibilidades e acesso a bases de dados e catálogos automatiziados de bibliotecas, várias bibliotecas no Brasil passaram a oferecer cursos de capacitação a seus usuários, conforme relatado na literatura mais recente88. Menita RHG, Lima HMC, Faria JB. Relato de experiência da biblioteca da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA) na metodologia de aprendizagem baseada em problemas (ABP). Anais do 3 Simpósio Internacional de Biblioteconomia "Prof. Dr. Paulo Tarcísio Mayrink"; 1-3 set. 1999; Marília (SP): UNESP; 1999. p.67-73.,1515. Dudziak EA, Gabriel MA, Villela MCO. A educação de usuários de bibliotecas universitárias frente à sociedade do conhecimento e sua inserção nos novos paradigmas educacionais. Anais do 11º Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias; 12 Simpósio de Bibliotecas Universitárias da América Latina e do Caribe; 12 Simpósio de Diretores de Bibliotecas Universitárias da América Latina e do Caribe 24-28 abr. 2000; Florianópolis: UFSC-BU. ; 1 CD-ROM.

16. Cuenca AMB. Usuário da busca automatizada: avaliação do curso MEDLINE/LILACS no contexto acadêmico. [dissertação] São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 1997.

17. Moser EM, Accetta IR. Acesso às bases de dados online: rotina de treinamento para usuários da Biblioteca da Biblio­ teca Central da FURB. Anais do 12º Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias; 21-25out. 2002; Recife: UFPE, 2002. Disponível em: Disponível em: http://www.acd.ufrj.br/sibi/snbu/snbu2002/oral.pdf/62.a.pdf . Acesso em: 26 maio 2003.
http://www.acd.ufrj.br/sibi/snbu/snbu200...

18. Marquetis EM, Ribeiro CM, Lucas CR, Santos GC, Vicente G, Cocconi HM et al. Avaliação do programa de capacitação de usuários do sistema de bibliotecas da UNICAMP. Anais do 12º Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias; 21-25 out. 2002; Recife, UFPE, 2002. 1 CD-ROM.
-1919. Girello M. A utilização do serviço de treinamento e consulta às bases de dados pelos usuários da Biblioteca da Faculdade de Odontologia de Piracicaba - UI\HCAMP. Anais do 12° Seminário Nacional de Biblitecas Universitárias; 21-25 out. 2002; Recife, UFPE, 2002. 1 CD -ROM..

METODOLOGIA

A população-alvo estudada foi constituída por médicos residentes de Medicina da Faculdade de Medicina de Marília, matriculados no Programa de Residência Médica da instituição em 2003, distribuídos entre 1° ano (50 vagas, sendo 10 no Programa Saúde da Família), 2° ano (33 vagas), 3° ano (14 vagas) e 4° ano (8 vagas), perfazendo um total de 105 sujeitos.

A coleta de dados foi realizada por meio de questionário, que permitiu investigar os sujeitos da pesquisa quanto a suas experiências em uso de fontes de informação, enfocando a capacitação de usuários em busca de informações durante a graduação em Medicina. O questionário foi constituído de questões fechadas, algumas com opções de múltipla escolha, bem como possibilidade de justificativas em alguns casos.

Quanto à aplicação do questionário, todos os residentes do l° ano responderam ao mesmo durante uma reunião, na qual 90% estavam presentes. Os demais (2° ao 4° ano) receberam o questionário por intermédio das secretarias de cada especialidade e tiveram um prazo de 20 dias para devolvê-los.

Os dados coletados foram analisados quantitativa e qualitativamente, no intuito de atingir os objetivos propostos.

RESULTADOS

Dos 105 questionários distribuídos, 77 (73,33%) retornaram e foram considerados para análise.

Com relação à metodologia de ensino adotada, 17 alunos (22%) foram graduados pela metodologia ABP e 60 alunos (78%) pela metodologia tradicional de ensino médico.

Quanto à experiência de uso de bibliotecas automatizadas ou não, durante a graduação em Medicina, 58 residentes (75%) indicaram ter experiência com bibliotecas automatizadas e 19 (25%) somente com catálogos manuais de bibliotecas.

No que diz respeito ao acesso físico ao material, 66 residentes (86%) responderam ter experiências no uso de bibliotecas com acervos abertos e 11 (14%) com acervos fechados.

A Tabela 1 mostra os residentes que tiveram capacitação/orientação para uso de bibliotecas durante a graduação em Medicina.

TABELA 1
Residentes que tiveram capacitação/orientação para uso de bibliotecas durante a graduação em Medicina

Sessenta e oito residentes (88%) tiveram indicação de literatura pelos docentes para seus estudos curriculares durante a graduação, e apenas 9 (12%) não tiveram. A maiorfa (60%) a considerou suficiente para os estudos.

A Tabela 2 mostra o resultado quanto ao uso de fontes de informação e bases de dados bibliográficas.

TABELA 2
Uso de fonles de ínfonnação e· bases de dados bibJiográJícas por residentes durante a graduação em Medicina

Com relação ao uso de e-mail pelos residentes, observa-se que somente 6 deles (8%) ainda não possuem cadastro nesses serviços.

No que se refere aos apontamentos de dificuldades ou não em buscas e localização de informação para seus estudos curriculares, verificamos que 51 residentes (66°/o) indicaram não ter encontrado dificuldades, e 26 (34%) sim.

DISCUSSÃO

Considerando nossosobjetivos iniciais e partindo do pressuposto de que as habilidades na recuperação, seleção e uso das informações se destacam cada vez mais corno itens necessários à formação dos profissionais médicos, devendo, portanto, ser conteúdo oferecido aos estudantes de Medicina desde a graduação, destacamos alguns achados relevantes de nossa pesquisa. Lembramos que nossos estudos foram realizados tendo corno sujeitos residentes em Medicina. Contudo, os questionamentos se referem àaquisição de habilidades em busca de informações durante a graduação, com o objetiv o de avaliar as necessidades e experiências relativasao assunto. A distribuição dos sujeitos entre residentes graduados pela metodologia de ensino médico tradicional (78%) e ABP (22%) já era esperada, por ser a Farnema a primeira escola médica no Brasil a implantar a metodologia ABP, sendo que em 2002 tivemos a conclusão do curso pela primeira turma. Dessa forma, não contamos ainda com dados cm literatura que comente essa distribuição.

A maioria (75%) dos médicos recém-formados já possuí experiências de uso de bibliotecas com catálogos automatizados durante a graduação. Entre esses, (21%) afirmaram ter convivido com ambas as formas (catálogos automatizados e manuais), o que deduzimos que sejam bibliotecas em processo de automação. Este resultado é compatível com a previsão feita por Cunha2020. Cunha MB. Construindo o futuro: a biblioteca universitária brasileira em 2010. Cienc Inf 2000; 29(1): 71-89., segundo a qual quase todas, senão todas as bibliotecas universitárias brasileiras estarão automatizadas até o ano 2010. Entretanto, neste estudo, por se tratar de bibliotecas universitárias específicos da área médica, consideramos alto o índice (25%) de médicos graduados recentemente por escolas cujas bibliotecas ainda trabalham somente com catálogos manuais.

Durante a graduação em Medicina, somente 14% dos residen tes conviveram com bibliotecas cujos acervos eram fechados. Para nosso estudo, consideram os importante esse resultado (maioria com acervo aberto), pois esta questão foi abordada por entendermos que a independência do usuário na busca e seleção de informações deverá ser completa, incluindo também a localização físíca dos documentos.

Quanto à capacitação em buscas de informações (Tabela 1), item que consideram os importante para a construção do novo perfil médico, menos da metade (45%) dos residentes apontaram ter sido capacitados por meio de cursos durante a graduação em Medicina (cursos de capacitação: 13%; visita orientada e cursos de capacitação: 32%). A literatura mais atual recomenda que as bibliotecas universitáriasbrasileiras passem a trabalhar para a auto-suficiência ou auto-independência de seus usuários, como apontam Dudziak et al.1515. Dudziak EA, Gabriel MA, Villela MCO. A educação de usuários de bibliotecas universitárias frente à sociedade do conhecimento e sua inserção nos novos paradigmas educacionais. Anais do 11º Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias; 12 Simpósio de Bibliotecas Universitárias da América Latina e do Caribe; 12 Simpósio de Diretores de Bibliotecas Universitárias da América Latina e do Caribe 24-28 abr. 2000; Florianópolis: UFSC-BU. ; 1 CD-ROM., Cuenca1616. Cuenca AMB. Usuário da busca automatizada: avaliação do curso MEDLINE/LILACS no contexto acadêmico. [dissertação] São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 1997., Marquetis et al.1818. Marquetis EM, Ribeiro CM, Lucas CR, Santos GC, Vicente G, Cocconi HM et al. Avaliação do programa de capacitação de usuários do sistema de bibliotecas da UNICAMP. Anais do 12º Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias; 21-25 out. 2002; Recife, UFPE, 2002. 1 CD-ROM., Cunha2020. Cunha MB. Construindo o futuro: a biblioteca universitária brasileira em 2010. Cienc Inf 2000; 29(1): 71-89. e Lima e Souza2121. Lima IF, Souza AB. Uso de bases de dados na biblioteca de pós-graduação em odontologia do CCS/ UFPE. Anais do 12° Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias; 21- 25 out. 2002 Recife, UFPE, ; 2002. 1 CD-ROM ., entre outros. Percebemos, porém, que na literatura ainda são poucas as experiências relatadas sobre a capacitação em buscas de informações específicas para alunos de graduação. Entre elas, estão os trabalhos de Menita et al.88. Menita RHG, Lima HMC, Faria JB. Relato de experiência da biblioteca da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA) na metodologia de aprendizagem baseada em problemas (ABP). Anais do 3 Simpósio Internacional de Biblioteconomia "Prof. Dr. Paulo Tarcísio Mayrink"; 1-3 set. 1999; Marília (SP): UNESP; 1999. p.67-73., Maser e Accetta1717. Moser EM, Accetta IR. Acesso às bases de dados online: rotina de treinamento para usuários da Biblioteca da Biblio­ teca Central da FURB. Anais do 12º Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias; 21-25out. 2002; Recife: UFPE, 2002. Disponível em: Disponível em: http://www.acd.ufrj.br/sibi/snbu/snbu2002/oral.pdf/62.a.pdf . Acesso em: 26 maio 2003.
http://www.acd.ufrj.br/sibi/snbu/snbu200...
e Fernandes et al.2222. Fernandes DMS, Aguiar, IM, Lima LR. Aprendizagem basea­ da em problemas - (PBL) e a Diblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina . Olho Mágico2000; 6(21): 16-7.. Esse fato talvez esteja ocorrendo por se tratar de um serviço que vem sendo implantado nos últimos anos nas bibliotecas brasileiras dando prioridade a grupos de usuários que ''aparentemente" estariam mais envolvidos com pesquisas, como docentes e alunos de pós-graduação. Ressaltamos que todos os graduados pela metodologia A BP foram capacitados para busca de informações por meio de visitas orientada e cursos, num trabalho conjunto da biblioteca e da disciplina de informática em saúde (Famema), e somente um estudante (5,88%) declarou ter tido dificuldades em buscar informações para seus estudos curriculares.

Na metodologia de ensino médico tradicional, normalmente os estudantes contam com indicaçào de literatura para seus estudos por parte dos docentes. Portanto, como em nosso estudo houve maior incidência de residentes graduados pela metodologia de ensino tradicional, houve também alta incidência (88%) de residentes que tiveram indicação de literatura para seus estudos curriculares durante a graduação. Esse achado é confirmado por Peixoto e Matos2323. Peixoto MAP, Matos TM. Fontes de estudo na escola médica: recursos instrucionais utilizados por alunos de medicina da região sudeste do Brasil. Rev Bras Educ Med 2002; 26(1 ):28-34., que investiga­ ram as fontes de estudos em escola médica na Região Sudeste do Brasil e relataram o fornecimento de listas bibliográficas como .o principal tipo de orientação para estudos oferecido aos estudantes pelo conjunto de docentes. Na Famema, nào ocorre indicação de literatura para estudos, existem sugestões de sites e/ou documentos que serviram de base para a construçao das unidades educacionais. Mesmo assim, 7 estudantes graduados pela metodologia ABP (41%) consideraram ser suficiente a indicação de literatura para estudos; os demais responderam não ter indicação e/ ou não ser suficiente para seus eshtdos. Esse resultado requer estudos mais específicos para avaliação, urna vez que o método é centrado no aluno e enfatiza a responsabilidade dele pelo próprio aprendizado, inch1sive na busca de informações.

Como esperado, 60% dos sujeitos apontaram que a indicação de literatura recebida pelos docentes foi suficiente para seus estudos curriculares, pois, na metodologia tradicional de ensino médico, a aprendizagem é centrada no professor, com transmissão passiva do conhecimento.

Quanto ao uso de fontes de informação e bases de dados bibliográficas (Tabela 2), alguns itens se referem ao suporte da informação, como CD-ROMs (a informação armazenada pode ser uma base de dados bibliográfica, um livro, um periódico, etc.) ou SciELO e ProBE, por exemplo, que dão acesso a periódicos eletrônicos. Itens corno esses foram inseridos em nossa investigação porque objetivamos conhecer as habilidades dos sujeitos da pesquisa quanto ao uso de fontes e. recursos informacionais.

Livros e folhetos (98,70%), periódicos impressos (85,71%) e a base de dados Medline (76,62%) aparecem como as mais usadas pelos residentes enquanto alunos de graduação em Medicina. Nos estudos de Peixoto e Matos2323. Peixoto MAP, Matos TM. Fontes de estudo na escola médica: recursos instrucionais utilizados por alunos de medicina da região sudeste do Brasil. Rev Bras Educ Med 2002; 26(1 ):28-34., Rankin2424. Rankin JA. Problem-based leaming medical education: effect on library use. Bull Med Libr Assoc 1992: 80(1): 36-46. e Puga2525. Puga MES. Estudo das necessidades e habilidades de busca de informação de estudantes de medicina em metodologia pedagógica ABP-Aprendizagem Baseada em Problemas. 2000. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado ao Conselho de Curso de Biblioteconomia da UNESP­ Marília, como parte das exigências para a obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia., os livros também foram citados como a principal fonte de estudos por estudantes de Medicina. No estudo de Rankin2424. Rankin JA. Problem-based leaming medical education: effect on library use. Bull Med Libr Assoc 1992: 80(1): 36-46., como em nossa pesquisa, o periódico foi citado em segundo lugar, e a base de dados Medline em terceiro.

As buscas em sites gerais na internet aparecem em quarto lugar em nosso estudo (52%). Por se tratar de fontes utilizadas por meio dos novos recursos aplicados à tecnologia da informação, consideramos bons esses índices de apontamentos. No estudo de Puga2525. Puga MES. Estudo das necessidades e habilidades de busca de informação de estudantes de medicina em metodologia pedagógica ABP-Aprendizagem Baseada em Problemas. 2000. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado ao Conselho de Curso de Biblioteconomia da UNESP­ Marília, como parte das exigências para a obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia., diferentementedo nosso, a internet aparece em segundo lugar.

Em nosso estudo, as apostilas foram fontes utilizadas por 57,14% dos residentes durante a graduação em Medicina. Esse resultado ficou um pouco abaixo do esperado, pois é bastante comum utilizar essa fonte para estudos na metodologia de ensino tradicional. No estudo de Peixoto e Matos2323. Peixoto MAP, Matos TM. Fontes de estudo na escola médica: recursos instrucionais utilizados por alunos de medicina da região sudeste do Brasil. Rev Bras Educ Med 2002; 26(1 ):28-34., as apostilas aparecem em terceiro lugar, apontadas por 70% dos sujeitos investigados. Nesse mesmo estudo, as anotações de aula (própria) aparecem em segundo lugar (80%). Em nosso estudo, esse item não foi abordado e foi citado na opção "outras fontes" em baixa porcentagem, sem significância.

A base de dados Lilacs foi apontada por mais da metade dos sujeitos investigados (55,84%). Mesmo tendo boa utilização, este índice talvez possa ou deva ser melhorado por meio de capacitação, pois a consideramos uma fonte valiosa e imprescindível à área médica, uma vez que ó principalmente através dela que recuperamos os artigos científicos publicados em periódicos nacionais e da América Latina da área de ciências da saúde, além de outros documentos. No estudo de Puga 2525. Puga MES. Estudo das necessidades e habilidades de busca de informação de estudantes de medicina em metodologia pedagógica ABP-Aprendizagem Baseada em Problemas. 2000. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado ao Conselho de Curso de Biblioteconomia da UNESP­ Marília, como parte das exigências para a obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia., a base de dados Lilacs aparece em quarto lugar entre as fontes utilizadas por estudantes de Medicina, não diferindo muito do nosso resultado, pois aquele estudo não aborda o item apostilas, que, no nosso caso, foi mais utilizado do que a base Lilacs.

Observamos que houve inversão de uso entre as bases Lilacs e Medline se compararmos nosso estudo com a pesquisa de Puga2525. Puga MES. Estudo das necessidades e habilidades de busca de informação de estudantes de medicina em metodologia pedagógica ABP-Aprendizagem Baseada em Problemas. 2000. Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), apresentado ao Conselho de Curso de Biblioteconomia da UNESP­ Marília, como parte das exigências para a obtenção do título de Bacharel em Biblioteconomia., pois em nosso estudo a base de dados Medline foi mais usada do que a Lilacs. Não abordamos a guestào da barreira lingüística, porém observamos que a base de dados Medline, em inglês, teve alto índice (76,62%), fazendo crer que, entre os sujeitos estudados, poucos apresentam dificul­ dades com aquele idioma.

A Cochrane foi apontada por 42,86% dos sujeitos investigados, resultado que considernmos além do esperado, por se tratar de uma fonte específica de documentos voltados para estudos de medicina baseada em evidências, que requer do usuário um conhecimento maior sobre análise da qualidade da documentação médica. Por se tratar de uma fonte de grande valor e qualidade para a área médica, acreditamos que ela deva fazer parte do conteúdo de cursos de capacitação para usuários da área. Em nosso estudo, verificamos que 60% dos residentes capacitados para buscas de informações durante a graduação em Medicina, por meio de cursos, indicaram ter usado a Cochrane como fonte de informações para seus estu­ dos curr icul ares.

Na Famema, a medicina baseada em evidências faz parte do conteúdo curricular da medicina, e todos os estudantes são capacitados para o uso da Biblioteca Cochrane. As opções: outras bases de dados da Bireme; anais de eventos; CD-ROMs; slides; fitas de videocassete; teses e dissertações tiveram menos de 50% de indicação de uso. Os itens CD-ROMs (29,88%), slides (24,67%) e fitas de videocassete (20,78%) foram também destacados pela pesquisa de Pugaz., como pouco utilizados. A mesma autora aponta a importância de as bibliotecas estimularem o uso desses materiais que consideramos de boa qualidade para os estudos. A SciELO foi pouca utilizada pelos sujeitos de nossa pesquisa, apenas 10,38% a usaram. As teses e dissertações eletrônicas foram usadas por apenas 5,19% dos sujeitos investigados. Observamos que as teses tiveram baixo índice de uso, mesmo na forma impressa (18,18%). Ovid e ProBE tiveram o mesmo índice de utilização (2,60%) e foram abordados em nosso estudo, conforme apontado acima, para investigar a familiaridade dos sujeitos com os recursos tecnológicos aplicados à informação. No entanto, o pouco uso ou desconhecimento dos mesmos já era esperado, por se tratar de recursos de alto custo e ainda não disponíveis na maioria das bibliotecas. Constatamos também que somente 7 residentes (9,10%) usaram apenas fontes de informações impres­ sas, como livros, folhetos, periódicos e apostilas. Nessa população, todos apontaram não ter tido cursos de capacitação, e somente 1 teve visita orientada à biblioteca.

O cadastro em serviços de e-mail (correio eletrônico) teve alto índice de apontamento pelos residentes: apenas 8% deles ainda não o possuem. Esse item também foi investigado em nosso estudo com o objetivo de avaliar a familiaridade dos sujeitos com os recursos de informática e por ser um meio de comunicação amplamente usado para transferência de infor­ mações, portanto de grande utilidade para esses profissionais. Carvalho Junior2626. Carvalho Junior PM, Menita RHG, Carvalho VCL. Utilização do correio eletrônico por estudantes ingressantes no curso médico da Faculdade de Medicina de Marília: uma comparação entre os anos de 1997, 1998 e 2000. Anais do 38° Congresso Brasileiro de Educação Médica; 5° Fórum Nacional de Educação Médica; 18-22 set. 2000; Petrópolis, ABEM, 2000. p.124.et al. afirmam que o uso do correio eletrônico pode ser tomado como um elemento representati­ vo dos serviços de internet em geral. Em seu estudo, que compara a utilização de correio eletrônico entre estudantes ingressantes no curso médico da Faculdade de Medicina de Marília entre os anos 1997, 1998 e 2000, apontam o crescente índice de estudantes que já possuem cadastro em serviços de e-mail ao ingressarem na faculdade.

Com relação aos apontamentos para dificuldades ou não na busca de informações para seus estudos curriculares, enquanto alunos de graduação, 66% dos residentes indicaram "não" e 34% "sim". Estes resultados, se analisados apenas quantitativamente, discordam de nossas afirmativas de que, para não terem essa dificuldade, os usuários devem ter capacitação/ orientação de uso de bibliotecas. Esta nossa afirmação parte de nossas observações práticas profissionais e dos achados da literatura, que afirmam que as bibliotecas devem capacitar seus usuários para a auto-suficiência em buscas de, informações88. Menita RHG, Lima HMC, Faria JB. Relato de experiência da biblioteca da Faculdade de Medicina de Marília (FAMEMA) na metodologia de aprendizagem baseada em problemas (ABP). Anais do 3 Simpósio Internacional de Biblioteconomia "Prof. Dr. Paulo Tarcísio Mayrink"; 1-3 set. 1999; Marília (SP): UNESP; 1999. p.67-73.,1616. Cuenca AMB. Usuário da busca automatizada: avaliação do curso MEDLINE/LILACS no contexto acadêmico. [dissertação] São Paulo, Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, 1997.,1717. Moser EM, Accetta IR. Acesso às bases de dados online: rotina de treinamento para usuários da Biblioteca da Biblio­ teca Central da FURB. Anais do 12º Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias; 21-25out. 2002; Recife: UFPE, 2002. Disponível em: Disponível em: http://www.acd.ufrj.br/sibi/snbu/snbu2002/oral.pdf/62.a.pdf . Acesso em: 26 maio 2003.
http://www.acd.ufrj.br/sibi/snbu/snbu200...
,1818. Marquetis EM, Ribeiro CM, Lucas CR, Santos GC, Vicente G, Cocconi HM et al. Avaliação do programa de capacitação de usuários do sistema de bibliotecas da UNICAMP. Anais do 12º Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias; 21-25 out. 2002; Recife, UFPE, 2002. 1 CD-ROM.,2222. Fernandes DMS, Aguiar, IM, Lima LR. Aprendizagem basea­ da em problemas - (PBL) e a Diblioteca Central da Universidade Estadual de Londrina . Olho Mágico2000; 6(21): 16-7.. Destacamos que, nesta questão, demos a oportunidade de os sujeitos justificarem suas respostas, e 22 (84,61%) daqueles que responderam "sim" fizeram justificativa. Dos que responderam "não", apenas 15 (29,41%) justificaram. A maioria das justificativas tanto para "sim", como para ''não", menciona a capacitação/ orientação em busca de informações ou uso de bibliotecas como fator determinante da dificuldade/facilidade. Além disso, quando analisamos o conjunto dos resultados da pesquisa e as justificativas fornecidas para a questão, percebemos que a capacitação se faz necessária em maior escala, pois tivemos médio e baixo índice de utilização para várias fontes que poderiam estar sendo utilizadas por esses estudantes. Como já abordamos, a maioria dos sujeitos investigados foi graduada pela metodologia de ensino médico tradicional, na qual ocorre indicação de literatura, e a maioria deles a considerou suficiente, eliminando, portanto, a necessidade de busca de outras informações. Vale lembrar também que nosso objetivo é avaliar as habilidades em buscas de informações por médicos recém-formados, tendo como parâmetros o novo perfil médico exigido e os avanços tecnológicos aplicados à informação.

Outro objetivo de nosso estudo foi verificar se existem diferenças entre médicos graduados pela metodologia de ensino tradicional e ABP com relação a buscas de informações. Concluímos que sim, pois, entl'e os formados pela metodologia ABP, todos capacitados, somente 1 deles (5,88%) apontou ter tido dificuldade para buscas de informações durante a graduação. A utilização de diferentes fontes de informação foi maior também pelos residentes graduados pela metodologia ABP. Esse achado foi também apontado por Puga25, que afirma ciue estes utilizam fontes varia d as devido à necessidade de auto-aprendizagem e conhecem mais os recmsos disponíveis na biblioteca. A mesma afirmação é encontrada em Rankin2424. Rankin JA. Problem-based leaming medical education: effect on library use. Bull Med Libr Assoc 1992: 80(1): 36-46., que sustenta que os graduandos em Medicina pela metodologia ABP relatam maior facilidade no uso dos recur­ sos informacionais em comparação àqueles que se graduaram pela metodologia tradicional de ensino médico.

CONCLUSÃO

Mudanças no perfil do profissional médico e a.vanços tecnológicos aplicados à informação provocam mudanças também nos recursos e serviços oferecidos pelas bibliotecas. Dessa forma, as bibliotecas de medicina ou ciências da saúde deverão conhecer as novas necessidades dos usuários e prepará-los para o novo desafio, capacitando-os e fornecendo-lhes o suporte necessário.

Consideramos também que, diante da expressiva e crescente produção da informação médica, estes profissionais necessitam cada vez mais dominar as técnicas de busca e seleção das informações necessárias às suas práticas profissionais. Portanto, sugerimos que a capacitação dos usuários para a auto-suficiência no uso de bibliotecas e informações seja oferecida a todos os usuários, independentemente da metodologia de ensino ou do nível de graduação.

Os resultados da pesquisa, de forma geral, mostram que estamos passando por uma fase de transição de perfil desses profissionais quanto à capacitação específica para buscas de informações. Muitas bibliotecas de escolas médicas já estão incluindo essa atividade em seus serviços.

Nossos resultados sugerem também a predominância de médicos recém-formados que "parecem" satisfeitos com o aprendizado passivo. Este achado já era esperado e não condiz com as atuais exigências de perfil desses profissionais. Estes devem ser educados para a auto-aprendizagem. No caso do uso de informações, isto significa adquirir independência própria na busca, seleção e utilízação de informações para solução de problemas do dia-a-dia. Portanto, ressaltamos que as bibliotecas pertencentes a instituições que oferecem serviços de residência médica devem estender o serviço de capacitação/ orientação de usuários também aos médicos residentes, como uma forma de sanar as dificuldades daqueles que ainda não contaram com esses serviços durante a graduação. Sabemos que a área de ciências da saúde temsido sempre uma das mais bem organizadas e disponibilizadas no que diz respeito à documentação científica, em âmbito tanto nacional como internacional. Hoje, ela dispõe de recursos e fontes in formacionais extre mamente valiosos, e, portanto, a falt a d e conhecimento ou de orientação de seus usuár ios não deverá ser fator que impeça seu uso.

Frente aos resultados, a biblioteca da Famerna, em conjunto com a Comissão de Residência Médica da instituição, oferecerá cursos de capacitação para todos os seus médicos residentes (1° ao 4° ano). A opção de oferecer o curso a todos se deve principalmente à necessidade de capacitação para uso de nos­ sas bases de dados in ternas e ao resultado que aponta baixo uso de algumas bases de dados que consideramos importantes para a área. Na prática, sabem os que muitos usuários julgam saber usar determinadas fontes de informaç ão e descobrem, durante o curso/orientação, que não as estavnm usando adequadamente. Mesmo assim, acreditamos que alguns residentes poderão eliminar alguns itens do conteúdo do curso de acordo com suas necessidades, segundo aponta nossa pesquisa. Os estudantes de graduação e docen tes dos cursos de Enfermagem e Medicina e estudantes dos cursos de especialização oferecidos pela Famema contam com cursos de capacitação em busca de informações ofe recidos pela biblioteca desde 1997, num trabalho em parceria com a disciplina de informática em saúde e unidades educacionais . Por solicitação de algumas especialidades, alguns residentes também já estão sendo capacitados pela biblioteca nos últimos anos, serviço que pretendemos estender a todo o grupo, como afirmado acima. A biblioteca continua a trabalhar constantemente com seus usuários já capacitados no sentido de auxiliá-los no esclarecimento de dúvidas, levantamentos bibliográficos que exijam maior conhecimento de vocabulários controlados ou refinamento de pesquisa, apresentação de interfaces novas de recuperação de informações e serviços novos, entre outros.

AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. José fütu Moreno, docente da Famema e presidente da Coreme em Marília; a Regina Helena Gregório Menita, bibliotecária chefe da Famema; e à Profa. Dr Mariângela Spotti Lopes Fujita, docente na Unesp/Marília e orientadora deste trabalho, pelo incentivo e colaboração na execução desta pesquisa .

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Abr 2020
  • Data do Fascículo
    Jan-Apr 2005

Histórico

  • Recebido
    07 Jul 2004
  • Revisado
    09 Nov 2004
  • Aceito
    06 Dez 2004
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