RESUMO
A integração ensino-serviço é considerada pelo Ministério da Saúde (MS) uma importante estratégia para a formação de profissionais que atendam aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Este artigo descreve um relato de experiência acerca da promoção de integração entre estudantes de Medicina e uma equipe Estratégia Saúde da Família (ESF). A partir das Visitas Domiciliares (VD) às famílias acompanhadas pelos estudantes, elaborou-se o desenho de trajetórias assistenciais que posteriormente foram discutidas com os profissionais da ESF. As trajetórias evidenciaram o agravo de doenças crônicas, o mix público-privado na utilização dos serviços de saúde e a busca de atendimento apenas quando surgem os sintomas. A equipe de saúde confirmou as dificuldades relatadas pelos usuários em relação ao atendimento especializado, ao acesso a procedimentos cirúrgicos e à realização de alguns exames. Por outro lado, os profissionais também relataram cuidados que não apareceram nas trajetórias informadas pelo usuário, como a realização de consultas médicas na ESF e atendimento realizado pela equipe de enfermagem. Observou-se que muitos usuários percebem a atenção primária (AP) como uma extensão do atendimento emergencial, não compreendendo as atribuições desse nível de atenção. Esta situação, somada à dificuldade da equipe na realização da promoção em saúde e de VD, contribui para a frustração dos trabalhadores da ESF. Esta análise permitiu aos estudantes identificar tanto as dificuldades do usuário no acesso à saúde como as da equipe para promover a integralidade do cuidado. Além disso, verificou-se certo distanciamento entre o preconizado pelas políticas públicas e os processos de trabalho, apesar dos esforços dos trabalhadores para atender às necessidades dos usuários, evidenciando também as falhas na gestão e na rede de atenção à saúde. Constatou-se a importância desta metodologia para a formação interprofissional em saúde, visto que promove a análise de situações encontradas no cotidiano de uma equipe de saúde.
–Trajetórias Clínicas; –Educação Médica; –Equipe Interdisciplinar de Saúde; –Atenção Primária à Saúde
Legenda: 1. APS (Bairro Centro); 2. Médico do trabalho (plano privado com vínculo trabalhista); 3. Exames; 4. Retorno à APS; 5. Requisição especialista SUS; 6. Consulta especialista SUS; 7. Requisição de cirurgia (Secretaria de Saúde); 8. Cirurgia em hospital de referência; 9. Retorno à APS (agora ESF no bairro de residência da usuária). Fonte: Desenvolvido pelos autores.
Legenda: 1. Consulta na ESF; 2. Solicitação de exames; 3. Autorização Sesa; 4. Realização de ecografia; 5. Resultados de exames; 6. Encaminhamento ao especialista (cardiovascular SUS); 7. Especialista cardiovascular (privado); 8. Consulta ao especialista (SUS); 9. Novos exames; 10. Agendamento de cirurgia; 11. Cirurgia em hospital de referência; 12. Agendamento pós-operatório. Fonte: Desenvolvido pelos autores.